Julieta Strauss, uma loura linda de olhos azuis, formada em Secretariado, inteligente, culta, poliglota e cheia de personalidade, só tinha um sonho em 1962 : ser um dia capa de revista. Carioca de nascimento, nascida no Posto 2-Rio, paulista de coração, descendente de húngaros, Julieta Strauss tinha 1,67 de altura, 56 quilos, 93 cm de busto e quadris, 61 cm de cintura , 56 de coxa e 21 de tornozelo. Vestia-se com as peças elegantes e cheias de glamour de Madame Boriska e foi eleita Miss São Paulo representando o Círculo Israelita.
Com um rosto que lembrava o da atriz Romy Schneider,a Sissi do cinema (foto em tom sépia de Ronaldo Moraes, O CRUZEIRO, 16/08/1962), Julieta Strauss pisou na passarela do Maracanãzinho naquele sábado frio de 16 de junho , véspera da final da Copa do Mundo,como uma das favoritas ao título de Miss Brasil 1962. Trinta mil pessoas viram Miss São Paulo - a mais animada de todas as concorrentes, escolhida Miss Fotogenia pelos fotógrafos - ficar com o segundo lugar, perdendo apenas para a baiana Maria Olívia Rebouças Cavalcanti. Naquela época, as segundas e terceiras colocadas recebiam a denominação de Miss Brasil nº 2 e representava o Brasil no Miss Beleza Internacional,enquanto a terceira colocada era chamada de Miss Brasil nº 3 e representava o Brasil no Miss Mundo,em Londres.
Julieta Strauss estudou dois anos na Suíça e se comunicava em inglês tão bem com em português. Adorava colecionar peixinhos em aquários e tinha três paixões : teatro,literatura e ballet, que dançava muito bem. Adorava sorvete de chocolate, sua cor preferida era o preto e seus bichos de estimação eram um cachorro Skindô e o periquito Pancho. Quando o assunto era amor e casamento, ela dizia que amor era o do pai,da mãe e da irmã Irene, e alegava que casar era fácil, casar bem e por amor era difícil.
Uma coisa Julieta não queria: ser chamada de falsa baiana. Quando ela obteve o segundo lugar no concurso de Miss Brasil, contraindo a obrigação de representar nosso país no certame de beleza de Long Beach, ficou preocupada com a fantasia que levaria aos Estados Unidos.
Tenho a impressão - dizia – de que a baiana estilizada, superluxuosa e superenfeitada, já não atrai a atenção do público. Assim falou Julieta e, sem dúvida, com muita razão. Cismada, foi conversar com Márcio Paulete, organizador do concurso em São Paulo. Após horas de confabulações, surgiu a luminosa idéia: como ela era a miss paulista, nada mais lógico do que desfilar na passarela de Long Beach com um original traje de colhedora de café.
Da idéia à execução, foi um pulo. O costureiro Amalfi inspirou-se em gravuras de Debret e criou uma belíssima fantasia, com noventa metros de renda, oito metros de tecido branco e oito metros de surah em tonalidades café e amarela. A linda Julieta Strauss, por seu turno, bolou o toque final da roupa: usará colares e brincos feitos de grão de café.Novidade. (Regina Helena, MANCHETE, 04/08/1962).
Tenho a impressão - dizia – de que a baiana estilizada, superluxuosa e superenfeitada, já não atrai a atenção do público. Assim falou Julieta e, sem dúvida, com muita razão. Cismada, foi conversar com Márcio Paulete, organizador do concurso em São Paulo. Após horas de confabulações, surgiu a luminosa idéia: como ela era a miss paulista, nada mais lógico do que desfilar na passarela de Long Beach com um original traje de colhedora de café.
Da idéia à execução, foi um pulo. O costureiro Amalfi inspirou-se em gravuras de Debret e criou uma belíssima fantasia, com noventa metros de renda, oito metros de tecido branco e oito metros de surah em tonalidades café e amarela. A linda Julieta Strauss, por seu turno, bolou o toque final da roupa: usará colares e brincos feitos de grão de café.Novidade. (Regina Helena, MANCHETE, 04/08/1962).
Julieta Strauss chegou aos Estados Unidos como uma das favoritas ao título de Miss Beleza Internacional. Voluntariamente, atuou como intérprete das concorrentes e por isso ganhou o título de Miss Dinamismo. Dulce Damasceno de Brito, a famosa correspondente dos Diários Associados em Hollyood, que acompanhou todos os certames de beleza de Long Beach, de 1954 a 1962, conta no livro Hollywood Nua e Crua (Edições O Cruzeiro-1968, reeditado anos depois pela Edições Símbolo) que os americanos ficaram encantados com o seu inglês. Sempre alegre e simpática, ela adorou a comida doce da Califórnia, muito embora tenha passado pelo constrangimento de se engasgar com um talo de alface.
Ninguém entendeu a sua não inclusão entre as 15 semifinalistas, inclusive Vincent Trotta, um dos membros do júri. Deão dos juizes internacionais dos concursos de beleza, ele tinha feito parte da comissão julgadora do Miss Brasil e achou Julieta Strauss com o perfil ideal para Long Beach, tanto que tinha dado a ela o segundo lugar. Para ele, os juizes latino-americanos e orientais prejudicaram Miss Brasil : Jorge Sueldo Pineyro, da Argentina: Alberto Varga,do Peru; Dirma Pardo de Carugatti, do Paraguai; Chang Key-Young,da Coréia, e a atriz japonesa Miiko Taka, que trabalhou no filme Sayonara ao lado de Marlon Brando. O título de Miss Beleza Internacional ficou com Tânia Verstak, Miss Austrália,companheira de quarto de Miss Brasil.
Decepcionada com o resultado, Julieta Strauss chegou a fugir dos repórteres brasileiros, evitou dar entrevistas e precisou de muita conversa da mãe para esquecer a ideia de não voltar ao Brasil.
Julieta Strauss tinha um sonho naquele distante 1962 : ser um dia capa de revista. E a realidade superou seu sonho. Foi capa não apenas de uma revista, porém das mais importantes revistas brasileiras da época: MANCHETE e O CRUZEIRO. Em MANCHETE, pronta para viajar a Long Beach, posou ao lado do seu cachorrinho Skindô, em foto de Sérgio Jorge. Na revista O CRUZEIRO, de 18/08/1962, foi capa vestindo um saiote e fazendo pose de bailarina, em foto de Ronaldo Moraes. E a mesma O CRUZEIRO, de 1º/09/1962, em foto de Indalécio Wanderley, mostrou na capa Julieta Strauss e Tânia Verstak em trajes típicos.
No ano seguinte, em São Paulo, ao dirigir seu próprio carro, foi vítima de um acidente ao bater em uma árvore. Sua beleza não foi atingida, conforme o noticiário. Há uns três anos, soube que ela tinha ficado com uma discreta seqüela e por isso claudicava um pouco. Mesmo assim, ao entrar no seu restaurante preferido acompanhada do esposo, chamava a atenção de todos pela classe, elegância e beleza, atributos que fizeram de Julieta Strauss, Miss Brasil beleza Internacional 1962, capa das mais importantes revistas brasileiras e ícone eterno dos anos 60, um mágico tempo que se foi, para sempre se foi.
*****