Daslan Melo Lima
Volto aqui a focalizar a figura do cearense Indalécio Wanderley (1928-2001) , o maior fotógrafo brasileiro de Misses. Na semana passada, o motivo da crônica foi o seu casamento com a carioca Elenice Barreto, Miss Clube Militar 1955. Desta vez, resgatei confissões que ele fez na revista O Cruzeiro, de 20/06/1959, em entrevista ao jornalista Ubiratan de Lemos.
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Com a "rivalidade" entre Indalécio Wanderley e Gervásio Batista, entre O Cruzeiro, Manchete e Fatos & Fotos, lucravam os missólogos e todos aqueles que religiosamente acompanhavam os certames de beleza. Em muitas ocasiões, as reportagens de Manchete e Fatos & Fotos superavam em quantidade e qualidade as de O Cruzeiro, mas em outras momentos dava-se o contrário. Contudo, o nome de Indalécio Wanderley era uma legenda, e como legenda continua.
Vamos às perguntas de Ubiratan de Lemos e às respostas de Indalécio Wanderley.
Ubiratan : Miss Brasil, rapaz, deverá falar bem inglês?
Indalécio: Deve, pelo menos, ter noções de inglês. É claro que ela não deverá manejar o idioma bretão como Shakespeare ou Bacon. Deve safar-se com frases feitas, mas corretas. Lembro, a propósito, Maria José Cardoso. Ao enfrentar o Municipal Auditorium, ela largou um "good night" fora de oportunidade. E quase que o Municipal vem abaixo de gargalhadas americanas. Deveria ter dito "good evening", pois ela estava chegando ali.
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Ubiratan :Quais as nossas Misses mais desembaraçadas nos seu "speaches" e na passarela?
Indalécio: Terezinha Morango e Adalgisa Colombo, sem dúvida. Ambas conquistaram a taça do melhor discurso em inglês. Na pasarela, Morango e Colombo também brilharam. Adalgisa um pouco mais. Mostrou maior cancha, haja vista que perdeu por um ponto.
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Ubiratan:Você faria um paralelo entre Martha Rocha e Adalgisa Colombo?
Indalécio: Aproveito esta oportunidade para desmentir uma lenda, seja a de que Martha foi quem mais perto esteve do título de Miss Universo. Esta gloria cabe a Adalgisa, cuja plástica não teve uma só jaça. O ponto que perdeu foi em virtude dos juízes acharem a nossa Miss um pouco afetada: certas gamas de esnobismo. Adalgisa descontraiu-se até demasiado. Fez piadas com o Prefeito de Long Beach, mandando que ele fizesse voltinhas. Ela foi soberana na passarela.
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Ubiratan: O júri de Long Beach tem preferências especiais pelo tipo louro?
Indalécio: É outro engano nosso. Não há preferências quanto a tipos de beleza. O júri é de uma honestidade fria. É um juri cronométrico, impessoal. A Miss vencedora é sempre a mais bela.
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Ubiratan: E o caso da altura?
Indalécio: Christiane Martel (França) foi Miss Univero com 1 metro e 58. Apenas porque apresentava proporções excepcionais, mesmo sendo uma mulher baixa. Mas só venceu porque não existia outra candidata, alta, com proporções semelhantes à de Christiane. Em igualdade de condições, o júri penderá para a alta, certamente.
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Ubiratan: Qual a maneira de julgar em Long Beach?
Indalécio : O júri tem 8 dias de contato com as Misses. Observa-as na piscina, nos jantares, cocktails , almoços e passeios. É uma obervação demorada e criteriosa. Entretanto, o preto no branco é quando as moças são colocadas de frente, de costas e de lado, em relação aos membros do júri. É da análise do conjunto das misses, umas ao lado das outras, que "salta" a Miss Universo. O termo "salta" pertence a Alberto Varga, membro vitalício do júri, ex-desenhista das garotas do "Squire", peruano de nascimento.
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Ubiratan: Você poderia explicar isto melhor?
Indalécio: Repetirei o que Varga me disse, quando lhe formulei uma pergunta, nesse sentido. Quem tem sensibilidade e bom gosto, em matéria de beleza feminina, percebe que sempre a mais bela (proporcional) dá um simbólico " passo à frente" do seu grupo. Este método de Varga eu o experimentei com sucesso. Assim tenho antecipado Misses e finalistas, com grande proveito para as minhas reportagens, quer no Brasil, quer em Long Beach.
Finalizando a entrevista, Indalécio Wanderley citou o fato mais pitoresco que tinha presenciado em Long Beach.
Aconteceu com Maria José Cardoso, em New York, quando a bela gaúcha desfilava nas Lojas Macys. A faixa verde-amarela, de porta-bandeira, escorregou do busto da Miss. A roseta, enorme, deslocou-se demasiadamente. Foi quando o cômico Jerry Lewis exclamou: " What does that kind of meses on her back? "
Nas duas fotos que ilustram esta matéria, extraídas do mesmo exemplar de O Cruzeiro, de 20/06/1959, de onde transcrevi a entrevista acima, vemos Indalécio Wanderley orientando a postura de um grupo de Misses de 1959, durante um ensaio fotográfico.
" O que faz esse tipo de confusão sobre a sua volta? ". O espanto de Jerry Lewis faz parte do passado. Mas será que faz mesmo parte do passado ? Eu diria que não. Faz parte do presente. O hoje, em nossas vidas e no planeta Terra, é uma consequência do ontem, com todos os seus encontros e desencontros.
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