Aizita Nascimento |
Rio de Janeiro, Maracanãzinho, junho de 1963. Entre mais de duas dezenas de concorrentes, oito jovens lindas foram anunciadas como finalistas do concurso Miss Guanabara 1963 : Aizita Nascimento, Lea Soares, Eliane Silveira, Vera Lúcia Maia, Vilma Thomaz Pereira, Maria da Penha Cotrim, Cecília Rangel e Sônia Madeira de Lei. Um público estimado em 25 mil pessoas, isso mesmo, 25 mil pessoas , queria o título para Aizita Nascimento, Miss Clube Renascença, e grita em uníssono, como se tivesse ensaiado, QUEREMOS A MULATA ! QUEREMOS A MULATA ! QUEREMOS A MULATA ! Para os jornalistas presentes ao evento, aquele foi o mais emocionante concurso já visto até então no Maracanãzinho. Vera Lúcia Maia, Miss Fluminense , e Eliane Silveira, Miss Clube Riachuelo, ambas com 50 pontos, empataram para o primeiro lugar. No desempate, venceu Vera Lúcia Maia. Quando o resultado foi anunciado , inexplicavelmente, o sexto lugar foi dado a Aizita Nascimento. Gritos. Vaias. Assovios. Ninguém se conformou e as 25 mil pessoas continuaram gritando QUEREMOS A MULATA !
Vera Lúcia Maia, Miss Fluminense, vencedora do Miss Guanabara 1963, era uma morena de 1,72 de altura, 58 Kg, 92 cm de busto, 60 de cintura e 93 de quadris, além de 59 de coxa e 22 cm de tornozelo. Sim, naquele tempo a fita métrica abrangia também coxas e tornozelos. Ela freqüentava a Praia do Arpoador, no ponto próximo ao famoso Castelinho, onde se reunia a juventude sofisticada de Ipanema e tinha uma mãe famosa, a cantora Nora Ney (1922-2003), Vera foi a terceira colocada no Miss Brasil e semifinalista no Miss Mundo 1963.
Aizita Nascimento, Miss Clube Renascença, era uma jovem simples. Depois do concurso, com talento e carisma, ingressou na televisão e participou de excelentes programas musicais e humorísticos, além de ter gravado um disco. Aizita Nascimento foi a percussora de grandes misses negras que marcaram o Miss Guanabara: Vera Lúcia Couto Santos, Miss Clube Renascença, Miss GB, vice-Miss Brasil e terceira colocada no Miss Beleza Internacional 1964; Maria da Conceição e Silva, a Marina Montini (1948-2006) , Rainha Mulata do IV Centenário do Rio de Janeiro (1965); Miss Grêmio Recreativo Cacique de Ramos, finalista do Miss GB 1966; Elizabeth Santos, Miss Clube Renascença, terceira colocada no Miss GB 1966.
Henrique Pongetti (1898 - 1979), autor de peças teatrais comercialmente bem-sucedidas, publicou na revista Manchete, de 06/07/1963, uma crônica com o título de QUEREMOS A MULATA. Quarenta e cinco anos depois, vale a pena mergulhar e refletir no primoroso texto de Henrque Pongetti, que abaixo transcrevo, na íntegra. Ele fala do drama de quem é jurado de um concurso de beleza, de biótipos, do gosto popular...
Como quase todo mundo sabe, fiz parte dos olheiros que escolheram a Miss Guanabara deste ano. Doce tarefa! Sobretudo muito melhor do que fazer parte do júri para eleger um daqueles gigantes bolotudos, de músculos pulando fora do corpo, tipo Mister Universo, nos quais a robustez chega a parecer um abuso contra a natureza, e dos quais as próprias mães que os tiveram pequeninos, iguais aos outros, devem levar constantes sustos.
Mas se doce é a tarefa, nem por isso deixa de ser difícil. Entre seis mulheres de uma beleza equivalente, você, juiz, fica num drama de consciência terrível. Tem vontade de escrever o nome delas em papelinhos e de fazer o sorteio. Saiu a Riachuelo no lugar da Flamengo? Ou a Madureira no lugar da Fluminense ? Quem manda não haver uma esmagadoramente bela para ganhar à primeira vista e deixar sem sentimento de culpa o júri e sem pretexto de vaias a torcida?
Acresce que a beleza, para a maioria do povo, não obedece a cânones: é uma opinião, ou melhor dizendo, uma sensação. Se tiver quadris bem roliços, se estiver mais para a tanajura do que para a Miss Universo, ganhará aplausos frenéticos ao longo de toda a passarela. O público não quer Donas Estátuas: quer Donas Boas.
É issso mesmo, meu amigos. Eu sou um esteta., vi de perto a Vênus de Milo, estou em excelentes relações com Fídias e outros “ cobras” da estatuária, sei de cor as medidas julgadas ideais para um corpo feminino, tomei banho de sol com as mais certinhas de Saint-Tropez e de Portofino, mas o homem da arquibancada do Maracanãzinho não tem nada com isso. Se eu aprovo a cara, ele aprova a coroa. Jogamos com a mesma moeda de forma inconciliável: numa face a minha Vênus, na outra face a sua alucinante tanajura.
- É bonita, não resta dúvida, mas repare como é defeituosa de quadris.
- Defeituosa? O senhor acha defeito aquela generosidade de Deus? Então viva o defeito e fique com aquelas achatadas, aquelas tábuas de passar a ferro!
- Um momento: o senhor conhece os cânones da beleza mulata?
- Defeituosa? O senhor acha defeito aquela generosidade de Deus? Então viva o defeito e fique com aquelas achatadas, aquelas tábuas de passar a ferro!
- Um momento: o senhor conhece os cânones da beleza mulata?
Havia uma mulata do Renascença Clube na passarela do Maracanãzinho. Uma cara bonita, com um sorriso desses que dão vontade de pegar a mulher no colo e sair com ela sorrindo entre filas de angustiados e de vencidos. Um sorriso para cartazes de campanhas contra a depressão, pró planos trienais, ou muito mais. Contagioso, sedativo, euforizante. Eu votei nela para uma das oito finalistas. Pelo seu sorriso, pela sua maneira de olhar deixando mel na menina dos olhos da gente, pela sua humanidade em não se sentir diferente das outras vinte e três por ter a pele mais escura.
Não poderia vencer o primeiro lugar porque havia outras de corpo mas bem feito e de rosto igualmente bonito, e certamente mais harmonioso. Era um pouco baixa e pecava também por aquele excesso característico da acima referida espécie de formigas. Que pensava o povo a respeito?
Ora, o povo! O povo acabou, como sempre, que num caso desses, antes tanajura do que tábua de passar a ferro, e esquecendo seus clubes e suas candidatas passou a pedir em coro o primeiro lugar para ela: - Queremos a mulata ! Queremos a mulata! Queremos a mulata!
Tem, havido vários queremos na história deste país, inclusive o queremos Vargas, mas queremos, assim, inflamado e imperativo, duvi-d-o-do. Era o grito do instinto, do sangue, e, em o percebendo, a mulata cada vez apurava mais o dengo e o ritmo do molejo, aumentando atrás de si as palmas que conquistara à sua frente, gloriosa na cara e ultra gloriosa na coroa.
Ah, meu caro Embaixador Lincoln Gordon ! Que pena não estar ao meu lado, na mesa julgadora, um daqueles racistas ferozes dos Estados Unidos do Sul do seu país, para ver a escurinha vencendo vinte três brancas diante do júri extra-oficial de uns quinze mil homens, quase todos brancos! De toda aquela noite eu não guardo tanto a silhueta esportiva da filha de Nora Ney, a vencedora, como guardo o sorriso da mulatinha, símbolo do nosso anti-racismo. Da nossa cristianidade igualitária. E em verdade vos digo que, nesta terra de gente igual pela alma, e não pela pele, a humanidade verá um dia ser proclamada mais bela do mundo uma negra cor de ébano ou uma mulata cor de canela. A musa de um Ataulfo, a musa de um Jamelão, pela vontade de Deus.
Releiam o último parágrafo da crônica de Henrique Pongetti . Ele morreu em 1979, mas antes disso, teve a satisfação de ver uma linda negra ser coroada Miss Universo, Janelle Penny Commissiong, Miss Trinidad Tobago 1997. É uma pena que no Brasil, país com milhares de belíssimos afrodescendentes, quase ninguém encontra “Aizitas “ nas passarelas dos nossos concursos de beleza. Por quê? Vamos entrar no túnel do tempo. Vamos perguntar àquelas 25 mil pessoas que torciam por Aizita Nascimento. Elas sabem a resposta e continuam gritando: QUEREMOS A MULATA! QUEREMOS A MULATA! QUEREMOS A MULATA!
Aizita Nascimento - Foto: revista O Cruzeiro
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Leia também Soy Loco por Ti, Aizita
Que maravilha Daslan, trazer Aizita Nascimento para nós, você se supera a cada domingo, considero-me agora um ser hebdomadário, antes e depois de sua sessão nostalgia. (risos)
ResponderExcluirAbraços alencarinos!
Raimundo Junior
Amei a reportagem com a exuberante Aizita Nascimento. Desde aos 12 de idade tive uma imensa paixão por ela, a todo instante falava e sonhava com ela. Tenho um carinho muito especial por ela até hoje aos 59 anos. O tempo passoue guardo em minha mente e coração o verdadeiro show e os celebres pivôs na passarela do Maracananzinho através de fotografias das revistas O Cruzeiro, Manchete e Fatos e Fotos. Certa vez assistir uma cena em documentários dos acontecimentos do rio de janeiro, antes de começar a matinê, e saiu cenas de Aizita desfilando na passarela do Maracananzinho em 1963 no concurso de Miss Guanabara. Amei, Adorei como esta criatura esbanjava categoria, elegancia,beleza, exuberancia,classe uma obra de arte que Deus colocou neste mundo.Por isso, o meu tributo a esta Deusa de Ébano.
ResponderExcluirEm tempo: gostaria de manter contato com a mesma
Crei um albúm no Orkut chamado "As mulheres da minha vida" e faltava a Aizita. Até então não tinha achado nenhuma boa foto dela. Passou uns tempos e fui questionado que não havia mulheres negras na minha vida, melhor, no albúm. Voltei à caça! E achei no seu blog a foto(que já está postada) e um belo texto sobre essa linda negra! Voltei aos meus tempos de menino!
ResponderExcluirParabéns pela postagem e me fazer brilhar os olhos!
Abração,
Nestor Figueiredo
este anonimo que deixou a opinião sobre Aizita Nascimento vai se declarar agora: Quem deixou as opiniões a exuberante Aizita Nascimento foi o João Cordeiro o maior fã da Deusa de Ébanodo Brasil: Aizita Nascimento desde aos 12 anos de idade.
ResponderExcluirAs revistas com fotografias dela eu tinha todas. Com a minha ida para em estudar em Belo Horizonte no inicio dos anos 70 a minha familia residente em Itabuna-Bahia, descartou muitas revistas e jornais do meu acervo particular
Aizita Nascimento formou-se em Enfermagem.
ResponderExcluirDepois do concurso, surgiram oportunidades para Aizita estrear no cinema, e foi em “Cristo de Lama” de 1966, que sua carreira de atriz começou.
Depois de anos foi convidada para estrelar a novela “Passo dos Ventos” na Rede Globo, que contava com nomes como Joana Fomm e Mário Lago em seu elenco.
E logo após surgiu mais um papel em outra novela da extinta TV Excelsior, “Vidas em Conflito”, onde Aizita participou no papel da personagem Ângela.
Aizita também participou de um humorístico da TV Excelsior, chamado “Times Square”, onde ao lado de Grande Otelo fazia piadas ao som das músicas famosas da época, como as de Luiz Iglesias e Ary Barroso.
Em 1983, apresentou o programa “Olhar Eletrônico” que ia ao ar na TV Gazeta.
C. Rocha de Floripa
Cara que saudades dessa mulher, que negra linda, que lábios, que olhos enfim que tudo. O tudo nela era perfeito, que saudades do Time Square. Boneca de piche, do cor do azeviche assim cantava Grande Otelo que teve a sorte de estar ao lado desta linda mulher. Por onde anda Aizita Nascimento?
ResponderExcluirNÃO SE VE MISSES AFRO-DESCENDENTES POR AQUI PORQUE AQUI É A ESCANDINAVIA. KKKKKKKKKKKKKKKKK
ResponderExcluir....
ExcluirNota mil para Aizita Nascimento que foi para mim uma verdadeira Deusa Grega.
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