No passado, onde uma Miss estivesse, quase sempre, estava sua mãe, orgulhosamente acompanhando a filha, que para ela, independente da classificação nos certames, era a mais bela do mundo. Era a época em que as mães tinham livre acesso aos bastidores e das histórias de revoltas, lágrimas , sabotagens... Fui encontrar na revista Fatos & Fotos, de 1º/07/1971, a matéria prima para a Sessão Nostalgia da semana, em clima de Dia das Mães.
O editorial da citada Fatos & Fotos tem o seguinte título Se todas fossem iguais às mães das Misses, de Zevi Ghivelder. Na mesma edição, outro artigo sobre o assunto: Nós elegemos as mães das Misses, de João Luiz de Albuquerque, ilustrado por uma foto feita por Antonio Rudge. A imagem mostra oito senhoras, mães de algumas candidatas à coroa de Miss Gunabara 1971, ostentando com orgulho as cobiçadas faixas de suas filhas. Ambos os textos são primorosos e bem humorados. Senti que valeria a pena resgatá-los, como homenagem às mães das misses de ontem, de hoje e de sempre.
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SE TODAS FOSSEM IGUAIS ÀS MÃES DE MISSES
Quem circula pelo mundo dos espetáculos conhece dois tipos tradicionais de mãe: a da bailarina clássica e a da candidata a miss qualquer coisa. A primeira, ao que consta, é um tipo universal e tem sido assinalada através dos anos. A mãe da bailarina está assustadoramente presente quando a filha vai à aula de balé , quando ensaia e, no dia da estreia, mal se conforma em ficar sentada na plateia, puxando a claque. Enquanto a filha se equilibra nas pontas, faz intrigas, encuca as rivais da menina, corteja os coreógrafos, o diabo.
A vantagem da mãe da bailarina é que ela pode torcer sempre baseada em dados concretos: a técnica e o talento de seu produto são medidos na hora, em função direta das virtudes das concorrentes. Não há muito o que errar, apesar das eventuais decepções. Já com a mãe da miss a situação fica dramática. Para ela, a filha é a mulher mais bonita do clube, da cidade, do país, ou do mundo, e está acabado. Como é possível medir critérios subjetivos de beleza? A mãe da candidata tem livre acesso aos bastidores dos concursos e, sem dúvida, sabe tirar vantagem disso. Também faz as suas intriguinhas e, enquanto a filha desfila na passarela, elabora planos a longo prazo - no mínimo, o lugar-comum de um rico casamento.
Um caso a parte são as mães inconformadas com as derrotas de suas meninas. Para elas, o concurso continua pelo menos uma semana depois de encerrado. Elas procuram os repórteres para fazerem declarações “sensacionais” e algumas vão ainda mais longe. A história que se segue é verdadeira e aconteceu há alguns anos na redação de um vespertino carioca. Proclamadas no sábado as vencedoras de Miss Guanabara, ou de Miss Brasil, a mulher foi na segunda-feira ao jornal e pediu para falar com o chefe da reportagem. Estava irritadíssima. Sua filha era apontada como favorita e, na contagem de votos, não passara de um modesto sétimo lugar. E aquele mesmo jornal, que tanto tinha falado da menina, nem ao menos publicara a sua fotografia na longa matéria sobre o concurso. No auge da raiva, cercada pelo pessoal da redação, ela apontou o dedo para o chefe e gritou :
“ – Foi a maior injustiça do mundo ! Sétimo lugar eu não engulo de jeito nenhum ! O senhor sabe a beleza de busto que a minha filha tem ? Pois, olha: eu vou trazer a menina aqui só para o senhor ver os seios dela ! E vai ter que ver, ouviu? Vai ter que ver ! “
E lá se foi, escadas baixo, os sonhos desfeitos, mas com a tristeza transformada em agressivo orgulho.
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NÓS ELEGEMOS AS MÃES DAS MISSES
Elas são sempre eternas figuras esquecidas nos concursos de beleza. Se tudo já foi dito sobre a miss, desde seu nascimento, infância, namoro, eleição, consagração e casamento, porque não falar daquela que foi, afinal de contas, a responsável por tudo isso: a mãe da miss? Dentro do colorido mundo encantado dos concursos de beleza é ela, a mãe da miss, a figura mais esquecida. Quando lembrada, ela é sempre personagem de histórias de bastidores: ela está tentando esconder a bolsa de maquilagem de uma outra candidata, sujando de café com leite o vestido de gala da candidata mais bonita do concurso ou escondendo o cocar de penas da sempre morena e bela Miss Amazonas.
É chegada a hora de acabar com essas injustiças. Viva a mãe da miss! De uma coisa podem estar certos: maternidade a parte, se não existisse a mãe da miss, o concurso de Miss Brasil já teria acabado há muito. Não venham com a história de que o sucesso do concurso está no público que lota o Maracanãzinho na grande noite, nem no dinheiro dos patrocinadores ou na promoção dada pela imprensa. Tudo isso junto, mais a transmissão para todo o Brasil via TV, não carregam nem a metade da força gerada por uma mãe de miss, ao reclamar contra alguma injustiça feita à sua filha.
Afinal, quem preparou, desde a maternidade, aquela linda criancinha para ser miss? Quem ensinou desde a tenra idade bons modos à menininha? A não se descuidar do penteado, a saber posar com a pontinha do pé virado para fora, ”como a Adalgisa”, quem comprou, tão logo a menina aprendeu a ler, o “Pequeno-vocês-já-sabem-o-que?” Foi você, fui eu? Nada, foi ela, a mãe da miss. Ela quem incutiu na mente da linda criança a necessidade de vir a ser um dia, eleita Rainha da Beleza Brasileira e, quem sabe, até Universal? A mãe da miss, claro. Errada está a famosa psicóloga Edna van der Henst quando diz que as mães projetam nas filhas, sonhos e desejos frustrados.
Por isso tudo e, mais o álbum de fotografias que elas organizam logo que a futura miss nasce esta singela, porém, sincera, homenagem que presto a todas vocês, esquecidas mães das misses de todo este meu Brasil.
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