sábado, 25 de outubro de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - NORMA NOLAN E MARIA OLÍVIA, O QUE A ARGENTINA TINHA E A BAIANA NÃO TINHA

Julho de 1962. Uma baiana de Itabuna chamada Maria Olívia Rebouças Cavalcanti, Miss Brasil, conquistou o quinto lugar no concurso Miss Universo. Desde que a também baiana Martha Rocha tinha sido vice-Miss Universo em 1954 que o Brasil brilhava no famoso certame. Em 1957 e 1958, Teresinha Morango e Adalgisa Colombo, respectivamente, classificaram-se em segundo lugar. Vera Ribeiro, em 1959, ficou em quinto lugar. Todas as outras obtiveram classificação entre as quinze semifinalistas (Emília Corrêa Lima-1955, Maria José Cardoso-1956 e Gina Macpherson-1960), com exceção de Stael Rocha Abelha, em 1961.

A argentina Norma Beatrice Nolan não era uma das favoritas ao título de Miss Universo 1962 e acabou vencendo, deixando para trás Maria Olívia, uma das concorrentes cogitadas para o primeiro lugar.
O que aconteceu?
Na revista FATOS & FOTOS, de 28/07/1962, da qual reproduzi as fotos desta matéria, o repórter Gervásio Batista explicou tudo.


Não falar inglês teria sido um sério obstáculo. E tanto Maria Olívia quanto Norma Beatrice haveriam de enfrentá-lo. A baiana só fala português; a argentina, só espanhol e italiano. Mas Norma, apesar dessa dificuldade, mostrou uma extraordinária capacidade de comunicar-se com todos, revelando uma extrema simpatia logo aplaudida, principalmente pelas outras misses. Essa irradiante capacidade de cativar contagiou o júri.

Já Maria Olívia teve dificuldades. Horas antes do desfile decisivo, ela recebera, dos expertos que orientam as misses, o conselho de que não deveria sorrir muito, para não realçar um defeito: seus dentes são muito separados. Com isso, ela terminou por parecer sisuda demais, pouco simpática, pouco cativante.

Fotogenia tem uma enorme influência. Antes de verem as candidatas ao vivo, na passarela, os juízes cansam-se de vê-las em fotografias, por toda parte. Maria Olívia tem uma figura exuberante, ao vivo. Tanto assim que, logo, impressionou os fotógrafos internacionais. Mas, reveladas as chapas, descobriu-se que ela não era a melhor em fotogenia. Norma Beatrice, ao contrário, fotografa muito bem.


Norma (que, por sinal, com seus 24 anos completos era a mais velha do concurso) é modelo profissional, embora trabalhasse numa casa modesta, em Buenos Aires. Já tinha, portanto, muita experiência em desfiles. A passarela não a assustava. Maria Olívia, porém, não estava habituada a desfiles desse tipo. É verdade que ela fez progressos notáveis, desde que, escolhida Miss Brasil, começou a fazer treinos intensivos para a passarela. Seu desembaraço e sua inteligência colocaram-na, também, bastante á vontade. Apesar de tudo, não conseguiu perder um certo ar bisonho, ao desfilar diante dos juízes. Além disso, depois de tirar o maiô e vestir o traje de gala, não teve tempo de retocar o penteado, o que serviu para acentuar a sua inexperiência, aos olhos do júri.



A minha paixão pelas Misses começou na infância, exatamente com Maria Olívia Rebouças Cavalcanti, minha Miss Brasil inesquecível. Não me perguntem o porquê. As paixões não se explicam.
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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - Jane Macambira, o feitiço da vila

Daslan Melo Lima



Quem nasce lá na Vila
Nem sequer vacila
Ao abraçar o samba
Que faz dançar os galhos darvoredo 
e faz a lua nascer mais cedo.

Lá, em Vila Isabel, 
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba.
São Paulo dá café, Minas dá leite,
E a Vila Isabel dá samba.

A vila tem um feitiço sem farofa;
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem
Tendo nome de princesa transformou o samba
Num feitiço decente que prende a gente.

O sol da Vila é triste
Samba não assiste
Porque a gente implora:
Sol, pelo amor de Deus, não vem agora 
que as morenas vão logo embora.

Eu sei tudo o que faço
sei por onde passo
paixão não me aniquila
Mas, tenho que dizer, 
modéstia à parte, meus senhores,
Eu sou da Vila!



               Os versos do famoso samba Feitiço da Vila, de Noel Rosa (1910-1937) e Osvaldo Gogliano, o Vadico (1910-1962), inspiraram os repórteres Tarlis Batista, Maria Cláudia e Mounir Safatli a dar o seguinte título à reportagem do concurso Miss Guanabara 1972, da revista Manchete, de 1º/07/1972: MISS GB 72 - JANE MACAMBIRA - O FEITIÇO DA VILA.

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Jane Macambira
 Senhorita, Miss e Rainha

               Jane Vieira Macambira era morena, tinha cabelos e olhos castanhos, 19 anos de idade, estudante de um curso pré-vestibular para Psicologia, 1,69 de altura, 54 quilos, 91 cm de busto, 60 de cintura, 91 de quadris, 54 de coxa e 21 cm de tornozelo. Era natural de Santos, São Paulo, morava no bairro de Santa Tereza, Rio de Janeiro, torcia pelo Vasco da Gama, tinha conquistado o título de Senhorita Rio 1970, e representou a Associação Atlética Vila Isabel no concurso Miss Guanabara 1972.  A preferida do público era a loura Fátima Nascimento, Miss Clube dos Advogados, que ficou em segundo lugar. Venceu Jane Macambira, que já tinha muita experiência de passarela, pois além do Senhorita Rio, também venceu o Rainha das Praias Brasileiras 1971.

E para os que acham Jane Macambira uma gracinha, lá vai um aviso: a moça não tem namorado, e nem quer saber de compromisso mais sério, porque o negócio dela é o pré-vestibular - está trocando qualquer príncipe encantado por um livro. É o seu atual amor. Aliás, Jane é o tipo da menina que não deixa para amanhã o que pode dizer hoje:
- Por que vou fazer um rapaz perder tempo comigo, se ainda pretendo estudar, tornar-me independente, para só depois pensar em casamento, em filhos? Sou contra o gênero de mulher que depende de homem para tudo. Ela tem que ser companheira e não empregada doméstica.
Jane Macambira tem lá suas certezas. E jura que nunca ouviu falar nesse tal de Women´s Lib.
(Manchete)


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TOP 3 - MISS BRASIL 1972 - Da esquerda para a direita: Ângela Maria Favi (1954-2003), Miss São Paulo, segundo lugar, representante brasileira no Miss Mundo; Rejane Vieira da Costa, Miss Rio Grande do Sul, primeira colocada, segundo lugar no Miss Universo; Jane Macambira, Miss Guanabara, terceira colocada, quarto lugar no Miss Beleza Internacional, sendo eleita depois em Oranjestad, Aruba, Miss Intercontinental 1972. 

Jane Macambira vem sendo comparada a um belo carro de Fórmula-1: modelo aerodinâmico, chassis último tipo, máquina incrementada. Sem cessar, ela acumula títulos. Primeiro, foi Rainha das Piscinas de Santa Catarina, depois Senhorita Rio e em seguida Miss Guanabara. Colocando-se em terceiro lugar no concurso para Miss Brasil, ela ficou automaticamente classificada para ser a representante brasileira no concurso Miss Internacional que se realiza, anualmente, em Tóquio. E, agora, o resultado mostra que Jane Macambira continua em plena forma: ela ganhou um honroso 4º lugar, numa competição duríssima, onde havia candidatas de grande beleza. A inglesinha Linda Hooks sagrou-se Miss Internacional, seguida de perto pela segunda colocada, a australiana Nola Christine Clark. Escassas polegadas separavam esta da morena classificada em 3º lugar, Iolanda Dominguez, das Filipinas. E só por uma questão de milímetros – talvez devido a uma derrapagem do júri, desacostumado a curvas brasileiras - Iolanda venceu Jane Macambira. (As Curvas Cariocas no Oriente-Manchete)

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        Jane Macambira deve ter casado e tido filhos, mas só depois de ter se formado em Psicologia e de virar uma mulher independente, como sempre foi o seu desejo.
       Imagino um neto seu ou uma neta sua navegando na Internet, descobrindo esta Sessão Nostalgia e falando emocionadoo:
       - Minha mãe continua tão linda como no tempo em que foi o Feitiço da Vila!

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sábado, 11 de outubro de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - IEDA MARIA VARGAS, TUDO COMEÇOU BEM EM CAPÃO DA CANOA



 

Daslan Melo Lima




          



















Era uma vez uma adolescente que adorava jogar peladas com os três irmãos. Chamava-se Ieda Maria Vargas e estava destinada a ser um dos maiores ícones brasileiros. Um dia, aceitou concorrer ao título de Miss Capão da Canoa, um balneário distante 132 km de Porto Alegre. Caso ganhasse, iria disputar o cobiçado título de Rainha do Atlântico Sul. O pai da garota achava que ela iria fazer um papelão, classificando-se em último lugar, mas enganou-se e ela foi a segunda colocada.

      A jovem ganhou gosto pelas passarelas e deixou de lado as brincadeiras de bola com os irmãos. Representando o Cantegril Clube , foi eleita Rainha das Piscinas do Rio Grande do Sul 1962. No ano seguinte, representando o mesmo clube, venceu o Miss Porto Alegre, e em Novo Hamburgo, derrotando 17 candidatas, foi coroada Miss Rio Grande do Sul. No Maracanãzinho, conquistou o júri e o público e foi eleita Miss Brasil. Seguiu pra Miami Beach e trouxe o título de Miss Universo 1963.


      Um velho ditado do Rio Grande do Sul diz que Tudo aquilo que começa bem em Capão da Canoa termina - e bem –lá mesmo. Foi em Capão da Canoa que Ieda Maria Vargas conheceu José Carlos Athanásio, o grande amor da sua vida.



Seus longos cabelos negros já receberam a consagração máxima à beleza da mulher brasileira: a coroa de Miss Universo. Para Ieda Maria Vagas, contudo, sonho maior é aquele de toda miss, de toda moça: usar, um dia, a grinalda de noiva. Namorada do Brasil, ela elegeu José Carlos, estudante de Direito, como o feliz jovem que a levará ao altar. Agora ele é seu namorado, logo mais será seu noivo. E o casamento ainda este ano.

Ieda Maria revela a notícia com olhar alegre, radiante. José Carlos abraça-a docemente e sorri. O cenário é belo e adequado para um romance de amor. Na ampla e ensolarada areia de Capão da Canoa, um dos mais bonitos recantos praianos do Sul, eles passeiam de mãos dadas, e são reconhecidos pelos freqüentadores do balneário, que os saúdam com alegria. Alguns tentam, a um primeiro instante, aproximar-se do parzinho para saciar a curiosidade. Mas Ieda Maria e José Carlos, como todo casal que se ama, formam para si uma muralha de ventura que mesmo os fãs mais afoitos não ousam perturbar.


Dos tempos de Miss Universo, diz ela que tem boas recordações. Mas também lembranças de atribulações, pequenas tristezas, que agora são superadas pela realização de suas esperanças. Encontrou seu príncipe encantado – é o que lhe basta para ser feliz. E quando as perguntas se tornam mais insistentes sobre seus planos de vida, onde pretende casar, passar a lua-de-mel, morar futuramente, ela prefere olhar para José Carlos e sorrir:
- Vamos correr na areia?
E saem os dois, levando em suas mãos enlaçadas a afetividade que, mesmo à moça mais bela do mundo, o mundo não poderia dar. Para José Carlos, que reparte seus estudos com a vida rotineira de funcionário público, não é Miss Brasil nem Miss Universo que está a seu lado: é apenas a sua Ieda Maria. E fica no ar uma frase dela:
-Melhor que ser miss, é ser Ieda, namorada de José Carlos.


(Texto da reportagem Ieda, meu reino por um lar, de Jairo Brandebursky, revista MANCHETE- 29/01/1966, de onde foram reproduzidas as fotos de Ieda e José Carlos. A imagem de Ieda em traje de banho é de o jornal A TARDE).



      Observem bem aquela garotinha perto do barco. A imagem passa um momento de curiosidade infantil diante do casal de namorados. Aquele verão em Capão da Canoa foi inesquecível para ela e seus amiguinhos, pois conheceram de perto uma das mulheres mais belas do mundo.
 
      Acredito que a garotinha e seus amiguinhos tornaram-se adultos tão felizes como Ieda Maria Vargas e José Carlos Athanásio, afinal, Tudo aquilo que começa bem em Capão da Canoa termina - e bem –lá mesmo.

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sábado, 4 de outubro de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - SOLANGE DUTRA NOVELLI , RAINHA POR UM SÉCULO

Por Daslan Melo Lima

          No dia 13/02/1965, uma loura chamada Solange Dutra Novelli, 18 anos a completar no mês de maio, foi eleita Rainha do IV Centenário do Rio de Janeiro, num concorrido certame que contou com 22 lindas garotas. Ela era natural do bairro de Laranjeiras, mas morava em Copacabana e representou a região administrativa de Botafogo, que incluía Flamengo e Catete. Solange Dutra Novelli cursava o 2º ano clássico no Colégio Andrews e falava corretamente inglês, francês e italiano. Tinha 1,65 de altura e 49 quilos. Gostava de rosas vermelhas, de praia, dos romances de Jorge Amado e dos poemas de Castro Alves. Ângela Vasconcelos, Miss Brasil 1964, foi quem coroou a Rainha do IV Centenário. Solange recebeu 3 milhões de cruzeiros, viagens pelo Brasil e Estados Unidos. Da quantia recebida como prêmio, doou 500 mil a uma instituição filantrópica.




Solange Dutra Novelli era a preferida do Maracanãzinho, cujo público também demonstrou entusiasmo pelas morenas Gilda Lúcia Caselli, representante de Vila Isabel, segunda colocada, e Cléia Carvalho, representante de Irajá, terceira colocada. Na foto de MANCHETE-27/02/1965, da esquerda para a direita: Cleía, Solange e Gilda. Martha Rocha, Miss Brasil e vice-Miss Universo 1954, e Adalgisa Colombo, Miss Brasil e vice-Miss Universo 1958, estavam na comissão julgadora.

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Era uma vez a criancinha loura, nascida carioca nas Laranjeiras. Olhinhos verdes, um tanto rechonchuda, um pouco do pai, outro da mãe, a maior parte dela mesma.
Esta menina vai ser Miss, dizia a vizinhança, a madrinha. E os pais diziam amém. O fato é que Solange Dutra Novelli cresceu sob medida, sob cuidados especiais. Os pais modularam-na para rainha. Foram 17 anos de ensaio, 17 anos de aprendizado de beleza. Havia passarela invisível entre ela e o Sr.Victorio e a Sra., Risette. Teve a melhor escola, o melhor professor de ballet. Boas maneiras eram a sua bíblia, e a igreja da esquina o seu código moral. Ampliou as idéias aprendendo línguas: o inglês e o italiano para começo de conversa. Leu de D.Quixote ao Gulliver, de Monteiro Lobato a Homero, penetrando recentemente nas veredas de Guimarães Rosa. Uma rainha na plástica e no espírito, as paralelas da beleza maior.



Filha única de pais mui justamente corujas, foi talhada e acomodada em cetim e seda para ser um dia senhora Miss da passarela, o que aconteceu com força total aos dezessete anos, no concurso que a elegeu Miss IV Centenário do Rio de Janeiro. Todos viram seu charme no Maracanãzinho. E entregaram os pontos para a rainha de um século. (O CRUZEIRO, 06/03/1965)
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Solange despontou com classe desde o desfile com traje de noite. O vestido de Solange era um modelo grego, rosa e complementos prateados. (O CRUZEIRO,06/03/1965)

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A cidade do Rio de Janeiro, olhando-se ao espelho mágico, perguntou:
- Responde, espelho meu. Há alguma pessoa tão bonita quanto eu ?
E o espelho respondeu:
- Solange.
A Cidade voltou a indagar:
- Que é que tem Solange para se comparar a mim?
O espelho enumerou:
- Tem cabelos louros como o teu verão e olhos azuis como o teu mar. E um sorriso radioso como quando amanheces.
E a Cidade de 400 anos coroou, para reinar um século, a meiga e loura Solange Dutra Novelli, de 17 anos, no ponto mais alto de uma história da carochinha.
(MANCHETE-27/02/1965)
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Claros e luminosos, os olhos de Solange Dutra Novelli têm a pureza lavada de um amanhecer. (MANCHETE)
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          Solange Dutra Novelli  morou em Roma visando uma carreira no cinema italiano, mas voltou para o Brasil e depois casou com o empresário e político Rubem Medina. Na revista MANCHETE, de 28/09/1985, ela apareceu mais linda do que nunca ao lado do esposo e dos filhos, formando um quadro de rara beleza.
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          Estamos em 2008. Faz 43 anos que Solange Dutra Novelli é Rainha do IV Centenário do Rio de Janeiro. Faltam 57 anos para o V Centenário.  Alguns leitores vão sorrir do que vou escrever abaixo, outros vão pensar que sou meio maluco e muitos vão viajar nas minhas fantasias de poeta. 
          Folheio as revistas MANCHETE e O CRUZEIRO de 1965. Fico imaginando o Maracanãzinho lotado numa noite de fevereiro do ano 2065. É a eleição da Rainha do V Centenário do Rio de Janeiro. Uma velhinha linda e majestosa de 117 anos chamada Solange Dutra Novelli é delirantemente aplaudida ao se despedir do seu reinado de 100 anos.

          E lá no meu recanto, no espaço reservado para a imprensa, eu, um velhinho tranqüilo, estou documentando tudo para PASSARELA CULTURAL.

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