sábado, 1 de novembro de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - Maracanãzinho, 03/07/1965, a história de uma vaia

Daslan Melo Lima


      Maracanãzinho, Rio de Janeiro, 03/07/1965, noite da eleição da Miss Brasil 1965. 
A tradicional passarela em forma de ferradura foi substituída por outra com o símbolo do quarto centenário da cidade do Rio de Janeiro. A grega Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964, e mais de duas dezenas de jovens que participariam do Miss Universo 1965 eram convidadas especiais. Vinte e cinco lindas brasileiras desfilaram na passarela em busca do sonho mágico de ser eleita Miss Brasil 1965. A preferida do público era uma morena chamada Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Grosso, quarta colocada. Por causa dela, o Maracanãzinho, o templo da beleza nacional, conheceu a maior vaia de sua história.

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As oito finalistas do Miss Brasil 1965. Da esquerda para a direita:
Sandra Penno Rosa, Miss São Paulo, 2º lugar;
Berenice Lunardi, Miss Minas Gerais, 3º lugar;
Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Groso, 4º lugar;
Maria Raquel Helena de Andrade, Miss Guanabara, 1º lugar;
Rosemary Raduhy, Miss Paraná, 6º lugar;
Solange Leão, Miss Espírito Santo, 8º lugar;
Ilce Ione Hasselmann, Miss Estado do Rio, 5º lugar;
Marilda Mascarenhas da Silva, Miss Bahia, 7º lugar.
- Foto:  revista Manchete

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Pela primeira vez, na história da eleição do Miss Brasil, ninguém ficou satisfeito. O público vaiou o resultado final, os observadores autorizados acharam que alguma coisa estava errada, e os próprios jurados manifestaram, de diversas formas, o seu desagrado, dando a entender que o veredito não correspondia, de forma alguma, à vontade soberana do júri.
Acontece que o modo pelo qual é avaliada a opinião dos julgadores, obedece a um complicado critério aritmético, que mais tarde é submetido à manipulação por parte de uma pessoa que não pertence ao júri. Essa pessoa conta os diferentes pontos, faz a soma e tira a conclusão.

Alguns dos membros do júri deste ano confessaram que, tendo em vista o critério aritmético, tudo correu honestamente no Maracãnazinho.
“Mas – acrescentaram – o critério usado não é o melhor. Se temos oito finalistas, tudo seria muito simples se nos mandassem escolher nominalmente, entre as oito, as três favoritas. Então, cada um de nós indicaria: Fulana de Tal deve ser Miss Brasil. Aquela que obtivesse a maioria de votos seria naturalmente a eleita. No entanto, nada disso aconteceu. A eleição foi limpa, mas a verdade é que muitos de nós estávamos torcendo pela Miss Mato Grosso, e não podemos compreender como ela foi parar no quarto lugar.”

Conclusão: o concurso torna complicado o que deveria ser simples. Conseqüência: 12 minutos de vaia, e a necessidade de escolta policial para que os jurados podessem sair do estádio. E, no meio de tudo isso, uma graciosa pessoa teve que demonstrar extraordinária coragem moral. A nova Miss Brasil, Maria Raquel de Andrade, já ornada com a coroa e o manto real, desfilou lentamente, majestosamente, maravilhosamente, diante de 40 mil pessoas enfurecidas. Ela merecia a vitória e não teve culpa de nada. As vaias não lhe eram endereçadas. Foi necessário que ela vivesse esse momento dramático, esse terrível equívoco, para que a opinião pública começasse a exigir a modificação do regulamento de escolha de Miss Brasil. Esperemos que no ano que vem o povo possa voltar inteiramente feliz para casa, depois de ter visto a mais bela Miss desfilar sob os aplausos de todos.
- Manchete, 17/07/1965

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Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Grosso
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Maria Raquel Helena de Andrade, Miss Guanabara. 
Fotos: Manchete
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No Maracanãzinho mais cheio de todos os concursos de Miss Brasil, o público dividiu-se desde os primeiros momentos do desfile. De um lado, a favorita era Miss Mato Grosso, a morena Marilena de Oliveira Lima, que em todas as prévias feitas era apontada como a mais cotada para Miss Brasil-65; de outro, de narizinho arrebitado e doce sorriso, Miss Guanabara, Maria Raquel de Andrade, do Botafogo. As duas marcaram a grande noite, inspiraram vaias e aplausos. A desclassificação de Marilena provocou protestos como o Maracanãzinho não vira antes, chegando a assustar o júri.

Duas surpresas para o público: Miss Mato Grosso, que era a mais cotada desde o início, não figurou entre as três finalistas; e Miss Alagoas, uma das mais bonitas concorrentes, não ficou sequer entre as oito primeiras. A primeira, a morena Marilena, era a forte rival de Maria Raquel e a eleita do povo. A segunda, Mary Grace, contava com muita simpatia, inclusive entre as misses internacionais (Kiriaki Tsopei, Miss Universo-64, chegou a afirmar que Grace era a sua preferida para o mais alto título da beleza brasileira).

Ninguém pode contar o roteiro das vaias. Foram tantas e tão compactas, tão seguidas, que foi impossível cronometrá-las. Entretanto houve uma - um vaião - que ficou na memória do Rio. Foi uma das maiores dos últimos 10 anos. Esta vaia gigante foi assestada contra o júri, que optou pela loura do Botafogo e só deu o 4º lugar para a moça de Mato Grosso, a favorita das arquibancadas. Foi tão forte a vaia que os membros do júri ficaram com medo. E pensaram sair de mansinho. Pediram policiamento reforçado. E alguns trocaram de roupa, para não serem identificados. 


Evandro Castro Lima, que foi do júri, disse que nunca mais aceitaria a missão. Discordou do tipo de julgamento – do processo de votação por notas – que possibilitou vitórias não previstas. Idem foi a opinião de Oscar Santamaría, juiz internacional, que criticou violentamente o sistema de votar. Claude Berr, coordenador do Miss Europa, figura também do júri, estava desesperado. “What can I do?”, repetia pelos corredores. Na sua opinião, o júri votou certo, mas errou na pontaria. Houve qualquer coisa – que não foi marmelada - que atrapalhou a votação. Naturalmente o processo de votação.

Todas as misses internacionais – exceção da risonha alemã – ficaram alarmadas com as vaias. Miss Áustria saiu dizendo, em inglês, que todo mundo ali era maluco. A suave Miss Índia chegou a tremer de susto. Idem as eslavas, com Miss Finlândia nervosa. Essas moças, que freqüentaram passarelas calmas, educadinhas, formais, não esperavam topar com o rompante espontâneo de uma platéia latina. O medo dominou-as. Elas chegaram mesmo a pensar que o povo, revoltado contra o veredicto do júri, fosse afinal estraçalhá-las.
- Revista O Cruzeiro, 24/07/1965


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Mary Grace Oiticica Bandeira, Miss Alagoas. (Foto: Manchete)
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      Diante dos comentários acima, não há dúvida alguma que, se o critério de julgamento tivesse sido simples, direto e objetivo, Marilena de Oliveira Lima teria sido eleita Miss Brasil 1965. E a minha conterrânea Mary Grace Oiticica Bandeira teria ficado, no mínimo, entre as oito finalistas.

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SESSÃO NOSTALGIA

Marilena de Oliveira Lima, Miss Brasil Adotiva do Povo 1965


Transcrição de textos e fotos da Sessão Nostalgia de 13/11/2010. 

Por Daslan Melo Lima



                   MARILENA, UMA ESTRANHA BELEZA DE GATA SELVAGEM

  
           Quando Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Grosso, deixou o Maracanãzinho de madrugada após o concurso Miss Brasil, em que o júri a classificou em quarto lugar, ainda havia gente junto aos portões, esperando para aplaudi-la. A derrota não a abalou; sorria para os seus fãs como se tivesse sido a grande vitoriosa da noite. O pai a esperava à saída, para o abraço de solidariedade. O público quase rompeu os cordões de isolamento para vê-la mais de perto. Menos de duas horas antes, quando ainda desfilava, a multidão manifestava de maneira categórica sua preferência. A cada volta na passarela soavam aplausos. E a torcida não escondeu sua decepção quando descobriu que sua favorita não estava entre as três primeiras colocadas. Estrondosas vaiais encheram o estádio. Detentora de nove títulos de beleza, era a primeira competição que Marilena perdia. Mesmo derrotada, o público a consagrava: a vitória das palmas era sua.


          Agora, Marilena voltará a Mato Grosso. Em Campo Grande, onde mora, continuará sua vida como ela tem sido: os estudos, os passeios a cavalo, os mergulhos na piscina do Rádio Clube e as fugas para caçadas nos fins-de-semana.


Corpo de Miss, aos 16 anos. Uma estranha beleza de gata selvagem.

           Seus olhos de índia selvagem já eram lindos quando nasceu. Aos dois anos, a vaidade feminina acordava nela o espírito de moça elegante, que cultiva até hoje. Não deu muito trabalho aos pais porque tem natureza dócil e meiga. Mas não resistiu à tentação de fugir para realizar caçadas nos campos e cerrados de Mato Grosso. Aprendeu logo a atirar e hoje muito raramente erra dois tiros seguidos. No ginásio, aprendeu a tocar tambor e desfilou com a fanfarra. Aulas de balé, pintura e piano completaram sua educação. Eis, em resumo, o que tem sido, dos 2 aos 18 anos, a carioquinha que os pais registraram em Mato Grosso e trouxeram ao Rio, no IV Centenário, para concorrer ao título de Miss Brasil.
Revista Sétimo Céu
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MARILENA, SONHO DE RONDON

Miss Mato Grosso, Marilena de Oliveira Lima, apresentou a alegoria Sonho de Rondon, concebida pelo costureiro Heck Santos. O cocar amarelo e azul é belíssimo. 
- Revista Manchete, 17/07/1965
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 MARILENA ENTRE AS OITO FINALISTAS DO MISS BRASIL 1965

As oito finalistas do Miss Brasil 1965. Da esquerda para a direita: 
Sandra Penno Rosa, Miss São Paulo, 2º lugar; 
Berenice Lunardi, Miss Minas Gerais, 3º lugar; 
Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Groso, 4º lugar; 
Maria Raquel Helena de Andrade, Miss Guanabara, 1º lugar; 
Rosemary Raduhy, Miss Paraná, 6º lugar; 
Solange Leão, Miss Espírito Santo, 8º lugar; 
Ilce Ione Hasselmann, Miss Estado do Rio, 5º lugar; 
Marilda Mascarenhas da Silva, Miss Bahia, 7º lugar. 
(Foto: Manchete, 17/07/1965)
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MARILENA ENTRE AS 4 MAIS BELAS DE 1965

O Top 4 do Miss Brasil 1965 em traje de gala. Da esquerda para a direita: 
1 – Maria Raquel, a nova Miss Brasil, foi bastante aplaudida ao desfilar neste belo vestido de tule cor-de-rosa, inteiramente bordado em pedrarias. O público vaiou o veredicto, mas achou justo que ela figurasse entre as três primeiras. 
2 – Também Miss São Paulo, Sandra Rosa, fez valer a sua classe num bonito vestido em dois tons de dourado. 
3 – Miss Minas Gerais, Berenice Lunardi, impressionou pelo porte monumental. Estava linda num vestido vermelho plissado, com estola da mesma cor. 
4 – Miss Mato Grosso, Marilena de Oliveira Lima, conquistou, fulminantemente, 40 mil espectadores do Maracanãzinho e seis milhões de telespectadores. Os próprios jurados não ficaram contentes com a sua ausência entre as finalistas. 
- Manchete, 17/07/1965
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MARILENA, MISS BRASIL ADOTIVA DO POVO 1965


          Marilena de Oliveira Lima, por motivos independentes da sua vontade, ficou no centro da controvérsia no Maracanãzinho. É a Miss Brasil Adotiva do Povo. A diplomacia decidiu fazer a felicidade de Miss Mato Grosso, Marilena de Oliveira Lima. No Ministério das Relações Exteriores, lhe deram o título de Miss Itamarati. E agora se anuncia que ela poderá ir a Maiorca, onde todos os anos se realiza, diplomaticamente, a eleição de Miss ONU.
          No tempo de Sthendal, a forma  mais espetacular de entrar para a sociedade era através de um duelo. Hoje em dia, a maneira mais prática de alcançar a fama é despertar controvérsia. Ou seja, na definição um tanto cínica de um escritor: “Falem mal, mas falem de mim.” Com Marilena, porém, a controvérsia é a favor. Todos falam bem dela. Ela é a miss que não ganhou a coroa; mas merecia ganhar. Assim ao menos julgou o povo, que lamentou ter sido ela prejudicada por uma inexistente lei das inelegibilidades. Miss Mato Grosso tem uma pele morena belíssima, e é toda encanto. Ela aceitou esportivamente a desclassificação. Mas, como vivemos numa democracia, foi procurada uma fórmula mais prática de fazer valer a vontade do povo. Assim, em Maiorca, poderá tornar-se Miss ONU. 
 Revista Manchete
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          Segundo a revista Fatos & Fotos, após ser  anunciado o resultado do concurso Miss Brasil 1965, a mãe de Marilena de Oliveira Lima, entre desconsolada e decepcionada, declarou: “ O Brasil acaba de perder o título de Miss Universo. Minha filha era a única que tinha condições de trazê-lo.”
           Maria Raquel de Andrade, Miss Guanabara, Miss Brasil 1965, ficou entre as quinze semifinalistas do Miss Universo 1965, ano em que a vencedora foi Apasra Hongsakula, Miss Tailândia. Sandra Penno Rosa, Miss São Paulo, Vice-Miss Brasil, foi a quinta colocada no Miss Beleza Internacional, vencido por Ingrid Finger, da Alemanha. Berenice Lunardi, Miss Minas Gerais, terceira colocada no Miss Brasil, não obteve classificação no Miss Mundo, cuja vitoriosa foi a inglesa Lesley Langley.
          Como teria sido a performance de Marilena de Oliveira Lima em um desses concursos ? Não sei. Ninguém sabe. Só sei que Marilena de Oliveira Lima foi a Miss Brasil Adotiva do Povo 1965, um título original, feliz e único dado por  Manchete, uma das mais importantes revistas que já circularam por este nosso imenso país-continente.
             Para você, Marilena de Oliveira Lima, Miss Brasil Adotiva do Povo 1965 , minha singela homenagem neste novembro de 2010 que logo mais será parte de um tempo mágico que se foi, como aquele julho de 1965, de tantas emoções e recordações.

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4 comentários:

  1. Parabéns, Daslan pela crônica; maravilhosa! Me sentí no Maracananzinho apesar de só ter ído pra valer em 67!Abraço forte !

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  2. Daslan,eu estava lá naquele dia, e - é claro- torcendo para a Miss Mato Grosso, que era a mais linda. Maria Raquel era muito "sem sal", "sem charme" e "sem carisma". Não fui na eleição dela como Miss Guanabara, mas a preferida era a Sonia Shuller, que ficou em segundo; talvez a insatisfação já vinha dalí. Abraços. Roberto

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  3. A edição deste concurso foi a maior aberração que já houve na história do Miss Brasil

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  4. por mim seria:1°GB;2°ES;3°MG.Maria Raquel bem superior:http://2.bp.blogspot.com/_imMbVUNJSiA/THBHrv5JoJI/AAAAAAAAPAY/5NoAm8lfaHM/s1600/Raquel-5.jpg

    https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTnlOpijdUOO8aBbP-CHy5BVccHQu4RqmSJ23AEBz6GO1yt7ikN

    Abraços, Japão

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