A grega Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964, sucessora da brasileira Ieda Maria Vargas no trono de mulher mais bela do mundo, esteve no Brasil poucas semanas após ter sido coroada Miss Universo.
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Kiriaki, que em bom brasileiro quer dizer domingo, chegou a São Paulo numa sexta-feira, e deu início ao programa de pouco descanso desta sua visita ao Brasil, primeira que faz como Miss Universo1964 a um país fora dos Estados Unidos.
A sua frase, por assim dizer, de prefácio às declarações que viriam a seguir, foi a de que “os brasileiros são um povo muito gentil”.
Ela sabia disso desde os seus contatos com os conterrâneos de Miss U-63 ainda no país que lhe dera a faixa, a coroa e o título de “a mulher mais bela do mundo”. E, já no Aeroporto de Congonhas, Kiriaki Tsopei encontrou a prova dessa gentileza, com gente muita à sua espera e aplauso muito pela sua chegada.
Miss Universo 1964 veio ao Brasil especialmente para desfilar (Kiriaki é modelo profissional) na VII Feira Nacional da Indústria Têxtil, o que fez com Ieda Maria Vargas, Ângela Vasconcelos e as Misses Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. O programa, mais do que exaustivo, começou com uma visita ao Governador Adhemar de Barros que interrompeu um almoço com o cônsul da Alemanha.(Kiriaki chegou com três horas de atraso) para receber a bela visitante.
Depois, sempre na companhia de Ieda e Ângela, enfrentou coquetel e entrevista coletiva, com resposta às perguntas tradicionais de “que acha do Brasil?”, “já tem noivo?” etc. Disse que, antes do concurso, só sabia do Brasil coisas como Pelé, Corcovado e café. O resto do conhecimento viera dos contatos com as misses que tinha o país presente em Miami.
Além dos desfiles da FENIT, que foram cinco, Kiriaki teve que cumprir inúmeros compromissos, entre os quais posar para fotos de publicidade e comparecer a coquetéis promocionais. No sábado à tarde, entre um coquetel e um desfile, ela dormiu durante quinze minutos num divã da administração da Feira. Como não tivera tempo para o cabeleireiro, providenciaram-se retoques rápidos em seu penteado, com os grandes olhos da moça refletindo-se, cansados, no espelho de um banheiro. Minutos a seguir, Kiriaki sorria, como rainha, para os convidados de um coquetel.
Parte do programa de domingo (Kiriaki em grego) teve de ser sacrificada, pois ela não perde missa nesse dia, se no lugar onde estiver houver uma igreja ortodoxa.
Em São Paulo havia. E Kiriaki foi ao Brás, com atraso suficiente para fazê-la chegar à igreja depois de terminada a missa.
O Padre Papadakis, entretanto, a recebeu com uma benção especial, em meio ao alvoroço dos fiéis, que gritavam “Kallos irsate!” (Seja bem-vinda!), enquanto o sacerdote dizia que abençoava não o seu corpo, mas a eternidade de seu espírito.
Na entrevista coletiva, Kiriaki disse que não gosta de se chamar Kiriaki. “Gostaria mesmo era de me chamar Korina”, explicou, embora sem acrescentar o motivo.A um repórter que perguntou se ela pretendia “restaurar” o domínio da beleza clássica grega durante o seu reinado como Miss Universo, limitou-se a uma palavra: “Certamente”.
Estetas presentes, entretanto, consideraram que nenhuma mulher que tivesse as linhas clássicas ganharia o concurso que deu o título a Kiriaki Tsopei.
_______Reportagem de George Torok e Ronaldo Moraes - Revista O CRUZEIRO, 12/09/1964)
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Cansaço e atrasos inevitáveis fizeram parte da primeira visita de Kiriaki Tsopei ao Brasil, mas ela soube conquistar a todos com sua classe e simpatia. Foi lindo o seu exemplo de religiosidade, ao fazer questão de não perder a missa daquele domingo brasileiro de 1964.
Hoje, com certeza, na tranqüilidade dos seus domingos gregos, Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964, deve se lembrar daqueles gritos dos fiéis da Igreja Ortodoxa do bairro do Brás, na capital de São Paulo: Kallos Irsate ! E também da benção do Padre Papadakis que abençoou não o seu corpo, mas a eternidade de seu espírito.
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