sábado, 22 de agosto de 2009

SESSÃO NOSTALGIA - Denise Rocha de Almeida e Dione Oliveira, gostos e desgostos na passarela

Daslan Melo Lima

      Uma era carioca e outra era pernambucana. Uma representou o Flamengo no concurso Miss Distrito Federal, onde era a favorita, e perdeu. A outra, natural de São Bento do Una, representou o Clube Intermunicipal de Caruaru no Miss Pernambuco, chegou ao Rio de Janeiro como favorita ao Miss Brasil e perdeu. Ambas perderam para Vera Ribeiro, Miss Vila Isabel, Miss Distrito Federal, Miss Brasil e quinta colocada no Miss Universo 1959.

      Denise Rocha de Almeida, a carioca, participou do Miss Distrito Federal com tamanha confiança na vitória que seu guarda roupa para se apresentar no concurso Miss Universo já estava completo.


Denise Rocha de Almeida, Miss Flamengo, vice-Miss Distrito Federal 1959. (Foto: revista O CRUZEIRO, 27/06/1959)

      Dione Brito de Oliveira, a pernambucana, levou para o Rio de Janeiro trinta e seis vestidos confeccionados pelo inesquecível Marcílio Campos.



Dione Oliveira, Miss Pernambuco, vice-Miss Brasil 1959. (Foto: O CRUZEIRO, 04/07/1959)

          Dione de Oliveira, a segunda colocada no concurso Miss Brasil, confessou que tem inveja de Vera Ribeiro, vencedora do certame. A representante pernambucana, que foi a mais festejada de todas as misses estaduais, alinhou uma enorme fieira de razões plausíveis para justificar o seu ressentimento, aliás muito mais admiração por Vera do que propriamente inveja. É que Dione deixou Caruaru, pequena cidade do interior de Pernambuco, perfeitamente equipada para enfrentar o júri, trazendo para o Rio de Janeiro cabeleireiro, massagista, costureiro, maquilador e uma acompanhante.
          Na grande noite do desfile decisivo no Maracanãzinho, Dione de Oliveira passeou no tablado o delicioso produto dos seus técnicos particulares de beleza. Entre os 36 vestidos confeccionados pelo costureiro Marcílio Campos, formado em Paris, escolheu o mais deslumbrante, um que custou nada menos de 70 mil cruzeiros. Os aplausos de 40 mil mãos encheram os ouvidos de Dione e lhe deram a certeza de um reinado conquistado. Mas, finalmente, desfilou Vera Ribeiro, candidata de Vila Isabel, sem equipe de beleza. Pouco depois, era eleita Miss Brasil. E Dione de Oliveira, mesmo recebendo como prêmio ao seu capricho o direito de concorrer ao título de Miss Mundo, em Londres, chorou no ombro de sua severa acompanhante.
(Aluízio Flôres, revista MANCHETE, 11/07/1959)


Dione Oliveira ladeada por Marcílio Campos e sua maquiladora. (Foto: Jáder Neves, MANCHETE, 11/07/1959)

      Denise Rocha de Almeida voltou depois às passarelas. Foi eleita Rainha dos Jogos da Primavera 1962, Miss Brasília 1963, quarta colocada no Miss Brasil 1963 e representante brasileira no Miss Nações Unidas, realizado em Majorca, Espanha.

      Dione Oliveira representou o Brasil no Miss Mundo, em Londres. Era uma das favoritas, mas não obteve classificação.

      A moeda brasileira mudou tanto em meio século que não temos ideia de quanto seria hoje, em reais, a importância de 70 mil cruzeiros, o valor do vestido de Dione Oliveira. Outra coisa: naquele tempo, ninguém ouvia falar na palavra estilista para designar a profissão de gênios da costura como Marcílio Campos. As palavras eram costureiro ou figurinista.

      Escrevo esta crônica na ensolarada manhã pernambucana do penúltimo sábado de agosto de 2009. Agosto, um mês estigmatizado pelas superstições, como se os desgostos só ocorressem nos meses de agosto.
      Não era agosto, mas Denise experimentou o desgosto de não ter sido eleita Miss Distrito Federal.
      Não era agosto, mas Dione experimentou o desgosto de não ter sido eleita Miss Brasil.
       Com gosto, escrevo esta crônica na ensolarada manhã pernambucana do penúltimo sábado de agosto para exaltar Denise Rocha de Almeida e Dione Oliveira, duas misses que marcaram a passarela do Miss Brasil, com gosto e desgosto.
       Assim também é a passarela da vida, feita de mil gostos e desgostos.

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