terça-feira, 29 de setembro de 2009

SESSÃO NOSTALGIA - Ieda Maria Vargas, a primeira vez que a Miss Universo 1963 chorou em público

Por Daslan Melo Lima


          Maracanãzinho, Rio de Janeiro, noite de 04 de julho de 1964. Milhares de pessoas estavam ansiosas. Nos bastidores, vinte e quatro jovens estavam mais ansiosas ainda. Era a noite da eleição da Miss Brasil 1964.


Ieda Maria Vargas, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil e Miss Universo 1963. (Foto: Revista Fatos & Fotos, 11/07/1964)


          Nos bastidores, uma moça também estava muito ansiosa. Seu nome: Ieda Maria Vargas, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil e Miss Universo 1963, que naquela noite estaria passando o título de Miss Brasil para sua sucessora.


Desfile de abertura do concurso Miss Brasil 1964. (Foto: MANCHETE, 18/07/1964)


          O espetáculo teve início ao som da marcha “Cidade Maravilhosa”, executada pela Banda da Polícia Militar e acompanhada em coro por um público estimado em 50.000 pessoas. Na comissão julgadora, atentos a todos os detalhes, estavam: Pomona Politis, Justino Martins, Tônia Carrero, Accioly Neto, Mitsi de Almeida Magalhães, Oscar Santamaría, Edite Guimarães, Leão Veloso, Eda de Luds, Hélio Beltrão e Edilson Varela.

          Após o desfile de gala, e antes do desfile de maiô, aconteceu a apresentação dos trajes típicos.
O desfile de trajes típicos começou sob intensa euforia da multidão. É que, minutos antes, a Banda da Polícia Militar, localizada atrás da mesa dos jurados, havia executado o Bigorrilho. A melodia tomou conta do público, que pôs-se a cantar em coro, com indisfarçável saudades do carnaval. (Revista MANCHETE, 18/07/1964)


          Bigorrilho, samba-coco da autoria de Sebastião Gomes, Paquito e Romeu Gentil, gravado por Jorge Veiga, foi o maior sucesso do carnaval brasileiro de 1964.


Lá em casa tinha um bigorrilho

Bigorrilho fazia mingau
Bigorrilho foi quem me ensinou
A tirar o cavaco do pau
Trepa Antônio
O siri tá no pau
Eu também sei tirar
O cavaco do pau

Dona Dadá, Dona Didi
Seu marido entrou aí
Ele tem que sair
Ele tem que sair



Maria Isabel Avelar Elias, Miss Sergipe, de "Vaqueiro Nordestino", traje típico estilizado tendo como ponto de atração as calças de couro sobre um fundo de malha azul.(Foto: MANCHETE, 18/07/1964)


          Evandro de Castro Lima foi o responsável para indicar o melhor traje típico, prêmio que coube a Maria Isabel Avelar Elias, Miss Sergipe. Detalhe: Vera Lúcia Couto dos Santos, Miss Guanabara, usou um traje de baiana estilizada, criação do próprio Evandro.


As nove finalistas do concurso Miss Brasil 1964, em foto de MANCHETE, de 18/07/1964). Da esquerda para a direita:
Ana Maria Carvalhedo, Miss Ceará, 9º lugar;
Rosa Maria Gallas, Miss Rio Grande do Sul, 7º lugar;
Neli Cavalcanti Padilha, Miss Rio Grande do Norte, 5º lugar;
Vera Lúcia Couto dos Santos, Miss Guanabara, 2º lugar;
Ângela Teresa Pereira Reis Neto Vasconcelos, Miss Paraná, 1º lugar;
Maria Isabel Avelar Elias, Miss Sergipe, 3º lugar;
Ana Maria Costa Caldas, Miss Pernambuco, 4º lugar;
Cecília Rangel Martins da Rocha, Miss Estado do Rio, 6º lugar;
Marília de Dirceu da Silva, Miss Minas Gerais, 8º lugar.

          O imenso público ficou satisfeito com o resultado, mas lamentou a não inclusão de Miss Pernambuco no Top 3.


Faltavam seis minutos para as duas horas de domingo quando a mesa dos jurados foi desmontada e, em seguida, transformada em pedestal para as misses. O trono, de veludo vermelho, recebeu como adornos laterais duas enormes cestas de rosas brancas. 

Ieda Maria, ostentando sua belíssima coroa de Miss Universo e com um vestido comprido bordado em brilhantes, surgiu sozinha, no palco. Sentou-se, pela última vez, no trono da beleza. As finalistas começaram a ladeá-la (...). Às duas horas e cinco minutos, Ieda Maria Vargas transferiu para Ângela Teresa Vasconcelos o manto de veludo vermelho com gola de arminho, o cetro e a coroa de Miss Brasil. (MANCHETE, 18/07/1964)



A despedida de Ieda Maria Vargas. (Foto: Revista Fatos & Fotos, 11/07/1964)

Nunca o Maracanãzinho viveu um instante como aquele. Ieda Maria Vargas era a primeira Miss Universo que coroava uma Miss Brasil. No momento em que ela passava para a representante do Paraná a faixa e a coroa, que antes do triunfo em Miami lhe haviam pertencido, e deu seu adeus ao público, avassaladora emoção se apoderou de todos.

Moças e senhoras não resistiram ao impacto dessa despedida, tão simples e, ao mesmo tempo, tão comovedora. Lágrimas lhes vieram aos olhos. Era como se uma rainha, jovem e bela, abdicasse imprevistamente, deixando o trono para viver no exílio a vida sem brilho das pessoas comuns. Todo um mundo de sonhos e de ilusões parecia terminar. Até então, a linda gauchinha recebera as reverências e homenagens devidas a uma soberana da beleza no esplendor de sua glória. Em breve, ela seria apenas uma ex-Miss Brasil. Os aplausos às novas belezas já significavam o seu próprio ocaso. Era o início do fim de um breve e maravilhoso reinado.

Ela própria não escapou à intensa emoção daquele momento. Estava abalada embora infinitamente reconhecida aos aplausos e manifestações de carinho da platéia.
(MANCHETE, 18/07/1964)


Ângela Vasconcelos, Miss Paraná, Miss Brasil 1964, coroada por Ieda Maria Vargas, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil e Miss Universo 1963. (Foto: MANCHETE, 18/07/1964)


          Após a coroação da Miss Brasil 1964, a fisionomia compenetrada de Ieda Maria Vargas contrastava com o rosto sorridente de Ângela Vasconcelos. A foto acima, reproduzida da revista MANCHETE, de 18/07/1964, espelha o espírito do texto abaixo.


Ela era muito jovem quando descobriu a mortalidade. Depois de um ano desfrutando o Olimpo, entregou o cetro à nova divindade. Quando a faixa se transferiu de corpo, os flashes também deslocaram seu foco. Ieda descobriu-se só no palco que a havia consagrado. “Foi a primeira vez que chorei em público. Pensei: sou um objeto." (Revista ÉPOCA, 13/03/2000, trecho da reportagem “Entardecer no Olimpo”, de Eliane Brum.)


          Ieda recebeu o apelido de “Baby” durante o Miss Universo 1963. Naquela ocasião, a miss foi procurada por Peter Sellers para ser estrela de cinema. Deu a resposta recomendada a uma menina de família: “Vou voltar para Porto Alegre, casar e ter filhos”, disse ao futuro inspetor Clouseau. Poderia ter sido ela, e não Cláudia Cardinale, a brilhar em A Pantera Cor-de-Rosa. Vargas poderia ter sido Cardinale. Teria sido mais feliz? (ÉPOCA, 13/03/2000)


Ieda Maria Vargas em 2000 (Foto: Denise Adams/ÉPOCA, 13/03/2000)

          Dentro do seu ideal de felicidade, Ieda foi feliz. É feliz. Com inteligência, equilíbrio, classe e categoria não se permitiu ser um objeto. Ieda casou, teve dois filhos e curte a tranqüilidade do seu lar acompanhada das boas lembranças do passado e das saudades eternas do esposo José Carlos Athanásio.


Ieda Maria Vargas Athanásio, de óculos, ao lado das amigas Rejane Camargo, Sheila Baron, Márcia Cairolli e Martha Médici, em Porto Alegre, em recente acontecimento social. (Foto: Cortesia, www.fernandomachado.com.br)


          Ieda Maria Vargas, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil e Miss Universo 1963, como todo mortal, deve chorar lágrimas solitárias, mas dentro do seu ideal de felicidade Ieda foi feliz. É feliz. Assim Seja!


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2 comentários:

  1. Comentário de Mucíolo Ferreira, via e-mail.
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    Daslan,

    os missólogos de todo o Brasil vibram com a Sessão Nostalgia desta semana enfocando o dia em que Ieda Vargas chorou como Miss Universo em pleno Maracanãzinho.

    Eu, particularmente, como jornalista, não poderia deixar de parabenizá-lo por este resgate histórico e em citar na matéria a reação negativa do público pela não inclusão da Miss Pernambuco, Ana Maria Costa, no Top-3 do Miss Brasil de 1964.

    Como notícia foi um gol de placa que você fez por lembrar uma das tantas injustiças que foram cometidas contra as representantes de Pernambuco ao longo desses anos de Miss Brasil, independente da empresa que esteve na organização do concurso.
    Foi assim em 1958, com Sônia Maria Campos; em 1959, com Dione Oliveira; em 1978, com Ângela Agra; em 1984, com Suzy Rego; em 2001, no Miss Brasil-Mundo, com Débora Daggy, segunda colocada.

    Chega a ser até desanimador cotinuar acompanhando esse tipo de competição onde, dificlmente, quem é melhor não vence.

    Uma boa Semana,

    Mucíolo Ferreira

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  2. concordo com as opiniões haja vista, que os concursos de Beleza no Brasil já estão em decadência devido às injustiças existentes nas escolhas das melhores concorrentes. Várias candidatas ao longo deste 58 anos de história ficaram de fora do Miss Universo,Mundo Beleza Internacional devido essas injustiças.

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