O ano era 1963, o terceiro de uma década mágica que mudou a face do Planeta Terra. Os valores e os costumes eram outros. E desse contexto fez parte a gaúcha Ieda Maria Vargas, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil e Miss Universo 1963.
A propaganda veiculada nas revistas, obviamente, combinava com a cultura da época, com sua dose exata de charme e sutileza.
Abaixo, três propagandas de produtos que tiveram suas imagens atreladas à Ieda Maria Vargas.
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CATALINA, O MAIÔ MAIS FAMOSO DO MUNDO - Miss Universo e sua bagagem de elegância
Propaganda publicada na revista Manchete, 05/10/1963
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FIO HELANCA - advinhe o que Miss Universo aguarda para vestir
Propaganda publicada na revista O Cruzeiro, de 05/10/1963
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CREME DENTAL GESSY - "Claro que deveria escovar os dentes depois de comer! Mas às vezes não dá..."
Propaganda publicada na revista O Cruzeiro, de 14/12/1963
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EPÍLOGO
O ano é 2010, o primeiro de uma década onde a preocupação com as causas ambientais é discutida em toda a face do Planeta Terra. Os valores e os costumes são outros. E desse contexto faz parte o menino dos anos 60 que um dia eu fui.
A propaganda veiculada nas revistas, obviamente, combina com a cultura da época, com sua dose exata de mercantilismo e sensualidade (para não usar o termo vulgaridade, que norteia muitas peças publicitárias).
Constantemente, o silêncio e o vento trazem para mim gratas lembranças de outrora, por isso sou um homem que cultiva a nostalgia.
Celeste achava lindo o seu nome. Achava que tinha um quê de azul, assim como o azul da bandeira do Brasil, aquele azul de céu estrelado, profundo, como o azul da noite.
Celeste tinha orgulho de ser brasileira. Ainda era menina, quando assistiu ao primeiro concurso de Miss Brasil, em Petrópolis, no Hotel Quitandinha, em 1954. E ao vivo. Ela estava lá. Nesse dia, ela viu a estrela de Martha Rocha brilhar. Mulher inesquecível aquela baiana. Conquistou o mundo. Desde então, os concursos de misses foram a principal diversão de Celeste, ano após ano. Por mais que procurasse, Celeste não achava espetáculo que fosse mais encantador. Nenhuma disputa era mais saborosa.
Celeste viu de tudo nesses desfiles. Viu o Brasil parar como final de Copa do Mundo. Viu glórias, esforço, conquistas e desilusão. Viu a vitória inesperada e esmagadora . Viu a derrota, injusta e amarga. Foram histórias de mulheres descobertas na beira da estrada ou atrás de um balcão de loja de sapatos. Histórias de gêmeas tão idênticas e perfeitas que confundiam o júri. Viveu emoções, como a da Miss que foi dada como morta num acidente de avião e no dia seguinte apareceu para avisar que tinha perdido o tal vôo.
Celeste viu as que nunca insistiram, mas que nunca chegaram lá. Viu as que largaram a coroa para levar uma vida comum. Mas essas mulheres não são pessoas comuns. Cada Miss Brasil nestes 50 anos, cada uma é uma mulher, no mínimo, excepcional, mas do que rainha da beleza. Todas as misses do Brasil são mulheres que, com determinação e esforço, engrandeceram a nossa história e marcaram os nossos corações. São mulheres a quem todas as Celestes e cada um de nós só podem agradecer.
O texto acima foi lido durante a transmissão do concurso Miss Brasil 2004, realizado no Credicard Hall, São Paulo-SP, em 15/04/2004, transmitido ao vivo pela TV Bandeirantes. Enquanto o texto era lido, apareciam no vídeo as fotos das Miss Brasil desde 1954. No final, o apresentador Gustavo Gianetti, Mister Brasil 2001-Mister Mundo 2003, anunciou: “Senhoras e Senhores, com vocês, as Misses do Brasil.” E eis que surgiu a primeira, Adalgisa Colombo, seguida de mais 34 misses, por ordem alfabética.
Adalgisa Colombo - Miss Distrito Federal , Miss Brasil, vice-Miss Universo 1958 Adriana Alves de Oliveira - Miss Rio de Janeiro, Miss Brasil, quarta colocada no Miss Universo 1981. Miss Brasil Mundo 1984, sexta colocada no Miss Mundo 1984 Ana Cristina Ridzi - Miss Guanabara, Miss Brasil 1966 Ana Elisa Flores - Miss São Paulo , Miss Brasil 1984 Anuska Prado - Miss Espírito Santo, Miss Mundo Brasil, terceira colocada no Miss Mundo 1996 Cássia Janys Moraes Silveira - Miss São Paulo, Miss Brasil 1977 Celice Pinto Marques da Silva - Miss Pará, Miss Brasil, semifinalista do Miss Universo 1982 Deise Nunes - Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil, semifinalista do Miss Universo 1986 Eliane Fialho Thompson - Miss Guanabara, Miss Brasil, semifinalista do Miss Universo 1970 Flávia Cavalcanti Rebêlo - Miss Ceará, Miss Brasil 1989 Gina Macpherson - Miss Guanabara, Miss Brasil, semifinalista do Miss Universo 1960 Isabel Cristina Beduschi - Miss Santa Catarina, Miss Brasil 1988 Jacqueline Meireles - Miss Brasília, Miss Brasil 1987 Josiane Kruliskoskik - Miss Mato Grosso, Miss Brasil 2000 Juliana Borges, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil 2001 Kátia Celestino Moretto - Miss São Paulo, Miss Brasil 1976 Léa Sílvia Dall'Acqua - Miss São Paulo, vice-Miss Brasil (Miss Brasil Mundo) sexto lugar no Miss Mundo 1979 Leila Schuster - Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil, semifinalista do Miss Universo 1993 Lucia Peterlle - Miss Guanabara, vice-Miss Brasil (Miss Brasil Mundo), Miss Mundo 1971 Márcia Gabrielle - Miss Mato Grosso, Miss Brasil, semifinalista do Miss Universo 1985 Maria Carolina Portela Otto - Miss Paraná, Miss Brasil 1992 Maria Joana Parizotto - Miss Paraná, Miss Brasil 1996 Maria Raquel de Andrade - Miss Guanabara, Miss Brasil, semifinalista do Miss Universo 1965 Martha Rocha - Miss Bahia, Miss Brasil, vice-Miss Universo 1954 Michella Marchi - Miss Brasil, semifinalista do Miss Brasil 1998 Nayla Micherif - Miss Minas Gerais, Miss Brasil 1997 Patrícia Godói - Miss São Paulo, Miss Brasil 1991 Renata Fan - Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil 1999 Sandra Guimarães - Miss São Paulo, Miss Brasil 1974 Sônia Yara Guerra - Miss São Paulo, vice-Miss Brasil (Miss Mundo Brasil), sexta colocada no Miss Mundo 1970 Suzana Araújo dos Santos - Miss Minas Gerais, Miss Brasil 1998 Valéria Péris, Miss São Paulo, Miss Brasil 1994 / Vera Maria Brauner - Miss Minas Gerais, vice-Miss Brasil (Miss Brasil Beleza Internacional), vice-Miss Beleza Internacional, coroada oficialmente Miss Brasil 1961, devido a renúncia de Stael Abelha, Miss Minas Gerais / Vera Lúcia Couto - Miss Guanabara, vice-Miss Brasil (Miss Brasil Beleza Internacional), terceira colocada no Miss Beleza Internacional 1964 / Zaída Costa - Miss Bahia, terceira colocada no Miss Brasil (Miss Brasil Mundo 1975).
Quando a última Miss se posicionou no palco, a cantora Ellen de Lima surgiu cantando a música “Canção das Misses”, de Lourival Faissal.
Ellen de Lima
Ellen de Lima cantou a "Canção das Misses" sob os aplausos de 35 rainhas da beleza brasileira
Os Estados brasileiros se apresentam nesta festa de alegria e esplendor. Jovens misses seus Estados representam, seus costumes, seus encantos, seu valor.
Em desfile nossa terra, nossa gente, pela glória do auriverde em céu de anil. Sempre unidos,
Leste, Oeste, Norte, Sul, na beleza das mulheres do Brasil.
Cássia Janys Moraes Silveira, Miss São Paulo, Miss Brasil 1977
Já vi e revi incontáveis vezes essa parte inesquecível do concurso Miss Brasil 2004, sempre com um interesse e emoção renovadas. Para sonhar, observar a expressão de cada Miss e me encantar com Cássia Janys Moraes Silveira, Miss Brasil 1977, uma das mais belas imagens daquele grupo de 35 misses, “mulheres a quem todas as Celestes e cada um de nós só podem agradecer.”
ENCONTRO HISTÓRICO (1)- Na véspera do concurso Miss Brasil 2004, no Restaurante Pequi, em São Paulo-SP, um encontro histórico, promovido pela empresa Gaeta Promoções e Eventos, responsável pela realização do concurso Miss Brasil desde 1997. ***** Sentadas, da esquerda para a direita: Flávia Cavalcante Rebelo (Miss Brasil 1989); Maria Joana Parizotto (Miss Brasil 1996); Renata Fan (Miss Brasil 1999) e Maria Raquel de Andrade (Miss Brasil 1965). ***** Na fila do meio, da esquerda para a direita: Márcia Gabrielle (Miss Brasil 1985); Patrícia Godói (Miss Brasil 1991); Anuska Prado (Miss Brasil Mundo 1996); Adalgisa Colombo (Miss Brasil 1958); Vera Maria Brauner (Miss Brasil 1961); Gina Macpherson (Miss Brasil 1960); Ana Cristina Ridzi (Miss Brasil 1966) e Sandra Guimarães (Miss Brasil 1974). ***** Na fila de trás, da esquerda para a direita: Josiane Kruliskoskik (Miss Brasil 2000);Kátia Celestino Moretto (Miss Brasil 1976) e Cássia Janys Moraes Silveira (Miss Brasil 1977).***** Fotos: revista Caras, edição 547, ano 11 - nº 18, 30/04/2004
ENCONTRO HISTÓRICO (2)- Sentadas, da esquerda para a direita: Leila Schuster (Miss Brasil 1993); Zaída Costa (Miss Brasil Mundo 1975); Maria Carolina Portela Otto (Miss Brasil 1992) e Deise Nunes (Miss Brasil 1986). ***** Na fila do meio, da esquerda para a direita: Lúcia Peterlle (Miss Brasil Mundo-Miss Mundo 1971); Eliane Fialho Thompson (Miss Brasil 1970; Lorena Coelho (representando sua irmã Mariza Fully Coelho, Miss Minas Gerais e Miss Brasl 1983, que faleceu em 1988 em um acidente de carro, aos 36 anos); Vera Lúcia Couto (Miss Brasil Beleza Internacional 1964); Michella Marchi (Miss Brasil 1998) e Ana Elisa Flores (Miss Brasil 1984). ***** Na fila de trás, da esquerda para a direita: Jacqueline Meireles (Miss Brasil 1987); Valéria Peris (Miss Brasil 1994); Isabel Cristina Beduschi (Miss Brasil 1988) e Suzana Araújo dos Santos (Miss Brasil 1978).
O Rio estava em festa. Mas não por ser a noite da escolha da mais bela de todas as cariocas. Horas antes, o Brasil vencera o Peru e passara às semifinais da Copa do Mundo. Talvez por isso um público muito entusiasmado, mas pouco numeroso, foi até o Pavilhão de São Cristóvão (substituto eventual da passarela de beleza do Maracanãzinho, destruído por um incêndio). A não ser por isso, tudo foi como sempre. A mais loura foi a eleita, a mulata a mais aplaudida. O júri deve ter lá suas razões: Eliane Fialho Thompson, do Floresta Country Club, é a nova Miss Guanabara. (Revista Manchete, 27/06/1970)
Era tempo de Copa do Mundo. A Seleção Brasileira de Futebol brilhava no México, rumo ao tricampeonato mundial , mas quem estava na capa da importante revista O Cruzeiro era o Top 3 do Miss Guanabara 1970. Da esquerda para a direita: Maria Helena Leal Lopes (Miss Telefônica Atlético Clube, segundo lugar), Eliane Fialho Thompson (Miss Floresta Country Club, primeiro) e Sônia Silva (Miss Renascença Clube, terceiro lugar).
O Pavilhão de São Cristóvão transformou-se em sede da beleza carioca, reunindo 24 candidatas que disputaram mais um título de Miss Guanabara. A festa promovida pelos Diários Associados contou com o patrocínio de Helena Rubinstein e dos maiôs Catalina, com a efetiva colaboração da Secretaria de Turismo.
A nova Miss Guanabara tem 21 anos, longos cabelos louros e olhos verdes. Suas medidas: 1,71 de altura, 56 quilos, 90 cm de busto, 60 cm de cintura, 53 cm de coxa e 22 cm de tornozelo. Fala corretamente o francês e o inglês e entre suas diversões prediletas cita a dança como a principal. (Revista O Cruzeiro, 23/06/1970)
SÔNIA SILVA, MISS RENASCENÇA, A FAVORITA DO PÚBLICO
Se dependesse dos aplausos da maioria do público que estava naquela noite de junho no Pavilhão de São Cristóvão, a mulata Sônia Silva, Miss Renascença Clube, terceira colocada, teria sido eleita Miss Guanabara 1970, enquanto a loura Rejane de Rezende Simões, Miss Clube de Regatas Flamengo, quarta colocada, teria conquistado o segundo lugar.
Miss Renascença, com um belo vestido de franjas, uma das mais aplaudidas da noite, contou com uma grande torcida, mas ficou em 3º lugar. Sem dúvida alguma, foi mais uma vez o Clube Renascença que ganhou a batalha das arquibancadas, cuja torcida não quis aceitar a decisão do júri, manifestando-se com vaias e assobios, quando o veredicto foi dado. Ao lado de Miss Renascença, Rejane de Rezende Simões, candidata do Flamengo, contou com a simpatia popular do seu clube, recebendo muitos aplausos
Já quando desfilaram em longo, as favoritas do público se delineavam como possíveis finalistas. No desfile de maiô, a mulata Sônia Silva, do Renascença, provocou um verdadeiro delírio do público, sobretudo quando rodopiou brejeiramente ao fazer o primeiro “pivot” na passarela.
A torcida do Renascença exibia uma faixa gigante com os dizeres: “SÕNIA, A SUPERMULATA”. Maria Augusta, diretora da Socila e orientadora do desfile, deu uma bronca em Miss Renascença ao fim de seu desfile, por causa do exagero com que fez o “pivot” na passarela. Foram suas palavras textuais: “Não faça isso, minha filha, que você se prejudica."
(O Cruzeiro, 23/06/1970)
AS FINALISTAS E A COMISSÃO JULGADORA
As quatro finalistas do Miss GB 1970. Da esquerda para a direita, Rejane de Rezende Simões (Miss Clube de Regatas Flamengo, quarto lugar); Sônia Silva (Miss Renascença Clube, terceiro); Eliane Fialho Thompson (Miss Floresta Country Clube, primeiro); e Maria Helena Leal Lopes (Miss Telefônica Atlético Clube, segundo lugar). Foto: O Cruzeiro, 23/06/1970.
As oito finalistas do Miss Guanabara 1970 foram: Eliane Fialho Thompson (Miss Floresta Country Club, primeiro lugar); Maria Helena Leal Lopes (Miss Telefônica Atlético Clube, segundo); Sônia Silva (Miss Renascença Clube, terceiro); Rejane de Rezende Simões (Miss Clube de Regatas Flamengo, quarto lugar); Maria de Lourdes Veiga (Miss Botafogo); Rosa Maria de Almeida Mattos (Miss Vila Isabel); Rosária de Lima (Miss Casa do Marinheiro); e Sandra Maria Santos de Souza (Miss Marã Tênis Clube).
Detalhe: Maria Helena Leal Lopes, Miss Telefônica Atlético Clube, tinha alcançado grande notoriedade em todo o Brasil no ano anterior, quando foi capa das maiores revistas brasileiras da época, O Cruzeiro, Manchete e Fatos & Fotos. Era a favorita ao título de Miss Guanabara 1969, mas o Juizado de Menores proibiu sua participação, por ela não ter 18 anos completos. Para muitos, Maria Helena teria sido imbatível em 1970, caso tivesse a ótima forma física que tinha em 1969.
Miss Telefônica demonstrou vivo embaraço ao ser classificada em segundo lugar. Parecia muito nervosa ao final da festa. Os maiores e vivos protestos, quando se soube o resultado final, partiu da torcida do Vila Isabel. (O Cruzeiro, 23/06/1970)
Nostalgia pura. Uma foto no mais clássico preto e branco, publicada na revista Manchete, de 27/06/1970, mostrando em outro ângulo as quatro finalistas do Miss Guanabara 1970. Da esquerda para a direita, Maria Helena Leal Lopes (Miss Telefônica Atlético Clube, segundo lugar); Eliane Fialho Thompson (Miss Floresta Country Clube, primeiro); Sônia Silva (Miss Renascença Clube, terceiro); e Rejane de Rezende Simões (Miss Clube de Regatas Flamengo, quarto lugar).
Na comissão julgadora, composta por doze pessoas, estavam cinco Misses: Patrícia Lacerda (Miss Distrito Federal 1954); Vera Lúcia Couto (Miss Guanabara e vice-Miss Brasil 1964); Maria Raquel de Andrade (Miss Guanabara e Miss Brasil 1965); Ana Cristina Ridzi (Miss Guanabara e Miss Brasil 1966); e Vera Lúcia Castro (Miss Guanabara 1967). As outras personalidades foram: Carlos Rangel (chefe de redação de O Cruzeiro); Oscar Bloch (da direção de Manchete); Henrique Pongetti (jornalista); Billy Blanco (compositor); Venâncio Igrejas (Ministro); Otacílio Braga (diretor de turismo da Guanabara) e Elba Barbosa Nogueira (coreógrafa).
EPÍLOGO
A escolha de Eliane não chegou a ser surpresa. Só mesmo ela pensava num segundo ou terceiro lugar, por um motivo que acabou não prevalecendo: o clube que ela representava não tem a força popular de um Renascença ou de um Flamengo, que acabaram em terceiro e quarto, respectivamente. Eliane estuda engenharia, fala três idiomas e pratica esporte. Detalhe: Miss Guanabara não é carioca. Nasceu em Barra do Piraí. (Manchete, 27/06/1970)
Eliane Fialho Thompson foi consagrada pelo público que compareceu ao Pavilhão de São Cristóvão. No momento em que seu nome foi pronunciado, todas as candidatas correram para abraçá-la, demonstrando a grande camaradagem entre as participantes do concurso. Depois veio a volta triunfal pela passarela, quando Eliane mereceu os aplausos de todos os presentes. (O Cruzeiro, 23/06/1970)
Eliane Fialho Thompson tinha vocação para Miss. Foi eleita Miss Brasil e obteve classificação entre as quinze semifinalistas do Miss Universo. Com inteligência, simpatia, disciplina, classe e categoria, a hoje internacionalmente consagrada artista plástica Eliane Thompson-Kronig, soube dar o valor devido ao seu reinado de beleza, iniciado naquela noite de junho, quando o Pavilhão de São Cristóvão, foi cenário do concurso Miss Guanabara 1970.
Vanda Hingel, Miss Olaria, era forte candidata ao título de Miss Guanabara 1967. Nascida no dia 20/02/1946, tinha 21 anos de idade, 1,75 de altura, olhos azuis, gostava de cantar, conversar, passear no parque. Adorava filmes de ficção científica, assunto principal das conversas com seu irmão adolescente Válter Afonso Filho. Cozinhava muito bem. “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint Exupèry era o seu livro de cabeceira. Também lia as histórias em quadrinhos do Tio Patinhas e Pato Donald. Escrever era uma das suas coisas preferidas, poesias e um diário. Falava alem do português, quatro idiomas que dominava com facilidade: inglês, francês, italiano e espanhol. Tinha sido noiva e estava sem namorado. Era professora e lecionava na Escola Miguel Couto, no bairro de Olaria, Rio de Janeiro. Infelizmente, Vanda Hingel não participou do Miss Guanabara. Na trágica manhã de uma sexta-feira de junho de 1967, Vanda Hingel desistiu de viver e foi ao encontro da morte, ao se jogar da janela do apartamento onde morava com os pais, localizado na Avenida Copacabana, 820, 10º andar, aptº 1004, Rio de Janeiro.
Ela era a candidata favorita dos jornalistas ao título de Miss Guanabara 1967. De repente, um corpo se precipita de um décimo andar, em Copacabana, Vanda Hingel, Miss Olaria, está morta. (Carlos Marques, “A Morte de uma Miss”, revista Manchete, 1º/07/1967. Foto: Gil Pinheiro, detalhe da capa da Manchete.)
VANDA HINGEL, INTELIGÊNCIA E SENSIBILIDADE
Vanda Hingel, sorridente, aos 20 anos de idade, em 1966, no Teatro Municipal, Rio de Janeiro, recebendo o diploma do Curso Normal para depois fazer um discurso onde seria aplaudida durante cinco minutos. Foto: Manchete, 1º/07/1967.
Entre as preferências literárias e musicais de Vanda Hingel estavam: Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Carlos Drummond de Andrade , Fernando Sabino, Fernando Pessoa, Bertrand Russel e Theilard de Chardin.
Desde o curso primário no Colégio São Marcelo, ao término do Curso Normal, sempre fora a primeira classificada e jamais tivera nota inferior a oito. Em seu pequeno apartamento de Copacabana, onde morava com os pais, Vanda tinha seu segundo mundo, pois o primeiro era a escola onde deixara de ensinar em apenas uma classe para se tornar a orientadora pedagógica, que desejava abolir métodos antiquados. Sempre se colocava ao lado dos alunos nos problemas mais importantes. Para que isso fosse possível, a menina que nasceu na Gávea e preferiu mais tarde ensinar numa escola do subúrbio (“porque eles precisam muito mais”), desde os dez anos de idade era a filha mais estudiosa do alfaiate Válter Afonso.
Em 1960, o alfaiate recebia do Ministério da Educação e Cultura uma carta-elogio, porque Vanda, com treze anos de idade, concorrendo entre dez mil candidatas, classificara-se em primeiro lugar num concurso para bolsas de estudo. Sete anos depois, como oradora de sua turma, ela faria um discurso que seria aplaudido durante cinco minutos, no Teatro Municipal:
“Podeis crer, mestres queridos, algum dia sorriremos sem esquecer nunca o que fizestes por nós, quando exauristes forças, afirmando-nos, no pináculo da experiência, que o verbo regerá nossa vida, a ação que fará de nós mesmos servidores bandeirantes do saber. Educar será, para nós, propiciar ao homem de amanhã a capacidade de pensar e julgar livremente, isento de cópias; de pensar de forma autônoma, mais correlata ao seu mundo.”
Candidata a Miss Guanabara, Vanda Hingel, angustiada, procurava dividir as situações: pela manhã, não poderia haver motivo para se afastar dos alunos e da família. Em casa, no pequeno quarto decorado com as estantes onde as coleções infantis e livros técnicos misturavam-se a discos e romances, ela passava a maior parte do seu tempo lendo Theilard de Chardin (Le Fenomène Humain), sua última paixão. Discutir religião e psicologia era o seu fraco. A sua mãe, Dona Ivone, uma carioca de 45 anos, descendente de alemães, interessava-se por tudo o que se passava com ela, na escola, no trabalho e na rua – quando ouvia gracejos porque era bela. Muito sentimental, entretanto, Vanda não respondia agressivamente aos galanteadores e preferia, muitas vezes, conversar sem rodeios, mesmo com desconhecidos.
No dia em que veio ser fotografada no estúdio da MANCHETE, ficou muito deprimida com um fato que mais tarde contaria para sua mãe: “As moças são muito esnobes.” Chorou no táxi e o motorista, um paraibano, resolveu conversar com ela. Chegando em Copacabana, não permitiu que ela pagasse a corrida e ainda lhe deu um enfeite (miniatura de chapéu de couro) que usava no seu carro.
Em 1964, na escola, Vanda foi escolhida para defender Caryl Chessmann num júri simulado. Muito nervosa, comprou todos os livros sobre o bandido da luz vermelha e conseguiu absolvê-lo. O julgamento durou mais de cinco horas.
Em 1965, sem contar nada à família matriculou-se num curso de inglês, pago com as aulas particulares que dava, quando chegava da escola. Dois anos depois, entregou o diploma aos pais.
Excessivamente sentimental, em janeiro deste ano rompeu o noivado com o estudante de medicina Arnaldo Sussekind Filho, e estava abalada por isso. Mas ela mesma fazia questão de deixar bem claro, quando conversava com os amigos: "Isso já faz tempo. Não tem nada a ver com com o concurso de miss." Sua solidão aumentara, mas ela relembrava que, quando era noiva, pela primeira (e única) vez na vida, fora a uma boate. Praticamente não conhecia a noite carioca. Afora isso,dançou em 1965 no Teatro Municipal, integrando um espetáculo de balé rítmico, sendo a mais aplaudida de todas. Finalmente, em seu isolado mundo – onde as crianças pontificavam – ela achava que o importante, em vez de chorar, era criar. O resultado veio em quatro canções de sua autoria, que sonhava um dia poder mostrar a Nara Leão ou Tom Jobim, seu compositor preferido.
(Carlos Marques, “A Morte de uma Miss”, revista Manchete, 1º/07/1967)
AS ÚLTIMAS HORAS DA VIDA DE VANDA HINGEL
Vanda Hingel, Miss Olaria 1967. (Foto: Gil Pinheiro, revista Manchete, 1º/07/1967)
Numa manhã de sexta-feira que poderia ser igual às outras, Vanda Hingel, antes de ver os jornais que traziam seu nome como candidata favorita ao concurso de Miss Guanabara, teve suas horas contadas assim:
O6h30min: Ela acorda disposta e natural. Atende o telefone e chama o pai.
07:00h: Toma o café da manhã com os pais, quando mantem o seguinte diálogo:
- Pai: Como é? Vai continuar ou vai desistir do concurso, minha filha?
- Ela: Vou continuar. Já me sinto melhor. Tem algumas coisas que não gosto, mas... isso não tem importância. Depois me acostumo.
- Pai: Quando você quiser desistir pode sair...
- Ela: Amanhã temos que ir a Olaria. Depois tem uma festa.
- Mãe: Eu posso ir com você. Fazendo companhia.
- Ela: Não, Não precisa a senhora ir. É muito cansativo.
08h30min: Acaba o café. O pai sai para o trabalho. Vanda chama sua mãe. Pede que telefone para o repórter de MANCHETE. Pede também uma roupa. Enquanto isso, coloca na sua pequena vitrola o disco Mi Perderai, de Tony Renis, e fica na sala, andando de um lado para outro, como se estivesse treinando na passarela.
09:00h: Sua mãe diz que não conseguiu ligar para a revista. Fica na sala.
09h15min: Toca o telefone e a mãe vai atender. Enquanto fala ouve um barulho. Desliga. Vai ao banheiro. À cozinha. Ao quarto. Finalmente, olha para a janela e vê o corpo da filha estendido no pátio interno do edifício. Ensanguentada e usando um baby-doll branco.
(Carlos Marques, “A Morte de uma Miss”, revista Manchete, 1º/07/1967)
VANDA HINGEL, UMA MÚSICA ANTES DA QUEDA
Naquela trágica sexta-feira de junho de 1967, antes de pular do décimo andar ao encontro da morte, Vanda Hingel colocou na sua pequena vitrola um disco de Tony Renis, onde ele cantava Mi Perderai. (Foto: Disco de vinil, compacto duplo, acervo: DML)
Os versos de “Se Mi Perderai” , canção italiana de Philippe Rombi, dizem assim:
Se um dia ficarás sem mim, / Então, talvez, entenderás. /Se me perderás./ Talvez entenderás / Que quiseste bem a mim somente, / Talvez sentirás,
que ninguém nunca / Pode preencher o vazio do teu mundo.
Sozinha entre as lembranças, / Tu deverás entender / Que não podes destruir um amor,/Mas se tu quererás /Me poderás procurar, / Estende a tua mão somente para mim.
Te esperarei, me encontrarás,/Eu voltarei contigo, contigo./ Se me perderás. /Talvez entenderás/Que quis bem a ti somente,/ E se tu quererás, / Me poderás procurar, / Estende a tua mão e eu virei.
EPÍLOGO
Vanda Hingel, Miss Olaria 1967, um dia escreveu este poema:
Suba ao ponto mais alto e esquecido do morro / Mesmo que seja um montículo à toa. / Encare de novo a realidade / Sorria pela criança mais miseravelmente mendiga / E verá que sua queda / Foi um tombinho á toa.
O mundo é cruel para as pessoas sensíveis. Viver ou morrer? Ficar ou pular? Vanda Hingel optou por pular, antes de disputar o título de Miss Guanabara 1967. Que sua queda tenha sido um tombinho à toa em sua longa caminhada em busca da harmonia e da verdadeira Luz.
Foram várias as mulatas lindas que fizeram sucesso na passarela do Maracanãzinho, no concurso Miss Guanabara, representando o Renascença Clube. Entre elas, uma jovem de um charme incomum: Elizabeth Santos, em 1966.
O SEGREDO DE ELIZABETH
Dentes perfeitos, olhos e cabelos negros, um charme incomum, são alguns trunfos que Elizabeth Santos levará para o Maracanãzinho, onde tentará ser Miss GB. Miss Renascença 66 tem 19 anos e 1,70 m de altura. Embora sua beleza física seja espetacular, o que mais impressiona, à primeira vista, é a perfeição de traços do rosto, no qual está sempre estampado um sorriso cativante. (Texto de André Kallás - Foto: Gervásio Batista, revista Manchete, 11/06/1966)
“Porque choras, Elizabeth? Por acaso não és agora Miss Renascença?” Esta pergunta fez chorar ainda mais Elizabeth Santos, quando ela acabou de desfilar em triunfo na passarela armada no Clube Sírio e Libanês. Elizabeth chorava de saudade. No dia 21 de maio de 1960, sua mãe, Dona Maria dos Santos, levara-a para assistir à coração de Miss Renascença daquele ano, Dirce Macedo. E sua mãe dissera: “Um dia, minha filha, você ainda vai fazer bonito na passarela.” Elizabeth tinha 13 anos; sua mãe morreu poucos dias depois. Elizabeth cresceu, tornando-se uma formosa mulata de medidas perfeitas. Diná Duarte, descobridora das lindas misses cor de chocolate, ensinou-a a vestir-se, a pentear-se, a desfilar. Quando os jurados a elegeram Miss Renascença, para concorrer no Maracanãzinho ao título de Miss Guanabara, Elizabeth Santos chorou ao pensar que sua mãe não estava lá, para vê-la fazer bonito na passarela.
(André Kallas, revista Manchete, 11/06/1966)
AS DUAS MULATAS DO MISS GUANABARA 1966
Elizabeth Santos, Miss Renascença Clube. Foto: Indalécio Wanderley, revista O Cruzeiro, 23/06/1966)
Marina Montini, pseudônimo de Maria da Conceição e Silva, Rainha Mulata do IV Centenário do Rio de Janeiro (1965) e Miss Cacique de Ramos 1966. (Foto: Indalécio Wanderley, O Cruzeiro, 23/06/1966)
Estas mulatas geram confusão. Aqui duas mulatas se confrontam – mulatas e rivais, rivais e bonitas. A do Rená , Elizabeth, e a do Cacique de Ramos, a longa Marina. A turma do Cacique informa que Elizabeth não é mulata, mas morena metida a queimadinha, mulata sem estratificação, desfocada. E o Rená informa que o Cacique tem língua comprida: Elizabeth é autêntica, saída de fornalha colonial. Marina, a outra do Cacique, é que seria sem substância. À margem os desaforos, o julgamento é vosso. As mulatas estão na berlinda. E as fotos bem aqui. (Texto de Ubiratan de Lemos, O Cruzeiro, 23/06/1966)
AS FINALISTAS DO MISS GUANABARA 1966
Da esquerda para a direita: Eliane Pio Pedro (oitavo lugar), Maria da Conceição e Silva, a Marina Montini (sétimo), Vera Lúcia Diniz Cabral (sexto), Marina Alice Vidal (quinto), Sandra de Araújo Duarte (quarto), Elizabeth Santos (57 pontos, terceiro), Maria Elizabeth (73 pontos, segundo) e sua irmã gêmea Ana Cristina Ridzi (97 pontos, primeiro lugar). ***** Foto: Manchete, 25/06/1966)
EPÍLOGO
Ana Cristina Ridizi, Miss Guanabara 1966, foi eleita Miss Brasil 1966. Maria da Conceição e Silva, a Marina Montini (1948-2006), tornou-se modelo e atriz e ficou famosa internacionalmente depois de ter posado para várias obras do pintor Di Cavalcanti (1897-1976).
E você, Elizabeth Santos, por onde anda? Pergunto às minhas revistas amareladas pelo tempo e elas não respondem. Quem sabe? Talvez você lerá esta Sessão Nostalgia e ficará emocionada com minha singela e sincera homenagem. E talvez vá querer ficar calada, preferindo ficar apenas envolvida com as lembranças de um tempo mágico que se foi, para sempre se foi.