PRÓLOGO
Era uma manhã nublada de domingo, aquela de 04 de julho de 1965. Na noite anterior, o Maracanãzinho tinha sido palco do concurso Miss Brasil, no qual tinha sido eleita a loura carioca Maria Raquel Helena de Andrade, Miss Guanabara. A revista O Cruzeiro, integrante da cadeia dos Diarios e Emissoras Associados, patrocinadora do certame, ofereceu às misses nacionais, assim como a várias misses internacionais que estavam no Rio de Janeiro, um inesquecível passeio de lancha até a Ilha de Brocoió.
DOMINGO DE MISSES EM BROCOIÓ
O primeiro dia de Miss Brasil-65 foi todo de brisa, mar e paisagem, em companhia das outras finalistas, dos organizadores do concurso e das coleguinhas estrangeiras que, brevemente, estarão desfilando com ela na passarela de Miami Beach.
A Ilha de Brocoió é um paraíso de bolso, cercado de Guanabara por todos os lados. Para lá, sob um céu chuvisquento, várias lanchas levaram meia centena de misses, ao ritmo de gostosa batucada (linguagem musical da terra, que todas depressa entenderam). Mr. Botfeld e outros big-boss do Miss Universo juntaram-se ao samba, cantando em português esforçado mas sincero. Entre eles estava Monsieur Claude Berr (coordenador do Miss França e supervisor do concurso na Europa).
Kiriaki Tsopei, Miss Grécia, Miss Universo 1964, preparando-se para um mergulho na Ilha de Brocoió. (Foto: O Cruzeiro) |
Em Brocoió, as misses correram nos gramados. A americana Sue Ann, Miss Internacional IV Centenário, cantava em inglês, com letra improvisada por ela, a marcha “Cidade Maravilhosa”. A grega Kiriaki (para os amigos Korina), Miss Universo 1964, era um jorro de alegria morena, em contraste com os verdes que predominam na ilha. Maria Raquel de Andrade, Miss Brasil, ainda não refeita da emoção de sua vitória, poucas horas antes, mostrava-se tímida e solitária. A aplaudidíssima Miss Mato Grosso, Marilena de Oliveira Lima, quarta colocada no Miss Brasil, fez amizade com outra morena, Miss Índia. Depois, o almoço: peru, peixe e vinho nacional. (O Cruzeiro, Ano XXXVII, nº 42, 24/07/1965)
UMA ILHA NAS ÁGUAS DA BELEZA: BROCOIÓ
A beleza do mundo inteiro – representada em misses de 21 países que concorreram ao Concurso Miss Internacional do IV Centenário e em 25 misses indígenas que procuraram o cetro e a coroa de Miss Brasil – recebeu a festa maior da Cidade Maravilhosa durante o passeio promovido por “O Cruzeiro” à paisagem escondida da pequena Ilha de Brocoió, no fundo da Baía de Guanabara. Um helicóptero, colocado na agenda das vantagens de que a beleza de qualquer miss sempre desfruta, completou os acessórios do transporte que tinha o tom maior na lancha branca que carregou a mais cobiçada carga de simpatia que o sol do Rio de Janeiro já dourou. Mantendo o passeio no tom do sorriso e da alegria, aconteceu o “rapto” de Miss Brasil, quando todos menos esperavam, na circunstância inédita de o helicóptero entrar na história como o novo instrumento da conquista da beleza. Passeio marítimo até Brocoió, almoço de peixe e peru, vinhos nacionais, eis a promoção de “O Cruzeiro” para as misses.
Os sorrisos de Persis Khambatta, Miss Índia, e Virpi Liisa Miettinen, Miss Finlândia,vice-Miss Internacional do IV Centenário do Rio de Janeiro. ***** (Foto: O Cruzeiro) |
No céu, moldura de chuvisco e bruma; nas lanchas brancas, 50 misses em batucada de samba. Mr. Botfeld e outros big-boss do Miss-U (Miami) e, também, Monsieur Claude Berr (este, coordenador do Miss França e Miss Europa) juntaram-se à batucada, inclusive com voz em português. O passeio escorreu ótimo, as misses descobrindo as belezas naturais da Guanabara, as gaivotas e mergulhões, a silhueta das serras, o vento trazendo um chuveirinho de água salgada pra o rosto das belas. A sensação da liberdade panteísta.
A equipe de “O Cruzeiro” tinha surpresa em versão de helicóptero que o Brigadeiro Carlos Alberto de Matos, comandante do Catinave, colocou na agenda das misses, num gesto de galanteria da FAB. Ia no leme do helicóptero o tranqüilo Tenente Noronha. Enquanto as lanchas singravam mar de ondinhas, o helicóptero, de cima, com o incrível Indalécio Wanderley de janela no vento, farejava em cores e preto-e-branco a esteira dos barcos. Eram fotos em carretilha, metralhadas de cima, o redemoinho do helicóptero assanhando os cabelos das moças, que riam em coro. De baixo, George Torok e José Carlos Vieira, parceria de Darcy Trigo, enquadravam o helicóptero no visor de suas leicas. Operação mar-e-ar, por conta da indocilidade dos nossos guerreiros profissionais.
Em Brocoió as misses correram nos gramados. Sue Ann, americana, Miss Internacional IV Centenário, estava de maré de piada. Cantava (com letra que ela improvisava, em inglês) a nossa Cidade Maravilhosa. E repicava com músicas famosas americanas (repertório de Frank Sinatra). A grega Kiriaki, que prefere ser chamada de Korina, Miss Universo 1964, era um jorro de gargalhada. A natureza do Rio amalucou as internacionais. A alemã continuava rindo. Até a dor é engraçada para aquele talo de rosa. Notem que as moças vestiam linhas esportivas. Miss Alagoas estava de slack azul-claro, cabelos soltos á moda Brigitte. Maria Raquel de Andrade, nossa Miss Brasil, buscava solidão nas lanchas. Foi gravada em pose solitária. Ela explicou que era exaustão. Estava nervosa com tanto sucesso junto. E de mãos dadas de passeio miúdo pelas gramas, Miss índia e Miss Mato Grosso, por sinal semelhantes em morenice e simpatia. Em nome de São Paulo, a sua miss loura, Sandra Rosa, ganhadora do segundo lugar, com viagem certa para Long Beach. Vestia calça azul e túnica de rendas brancas.
No almoço, no solar da pequena ilha, a Miss da Baia de Guanabara, todas as misses preferiam o peru ao peixe, com vinhos do Rio Grande do Sul. Quem mais comeu foi Miss Áustria, pelas internacionais, e Miss Minas, pelas nacionais. (Revista O Cruzeiro, Ano XXXVII, nº 43, 31/07/1965)
O "RAPTO" DE MISS BRASIL
Maria Raquel, Miss Brasil 1965, aproxima-se do helicóptero sem saber que seria "raptada". (Foto: O Cruzeiro) |
Momento em que Maria Raquel entrava no helicóptero.Ao fundo,o famoso fotógrafo Indalécio Wanderley.(Foto: O Cruzeiro) |
Sue Ann Downey, Miss Estados Unidos 1965, e Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964, divertindo-se com o susto de Maria Raquel.***** (Foto: O Cruzeiro) |
A CIRANDA DA BELEZA
Maria Raquel Helena de Andrade, Miss Guanabara, Miss Brasil 1965. (Imagem: Revista Fatos & Fotos) |
A Ilha de Brocoió, residência oficial do governo da Guanabara, foi palco de brincadeiras e expansão. Na recepção informal, as moças, vindas não só de todos os Estados do Brasil, mas também dos mais distantes recantos do globo, poderam conhecer-se um pouco mais, trocar impressões. Viviam um dia de sonho, relembrando ainda as alegrias e tristezas que o concurso proporcionara.
Desde a chegada ao porto, na manhã brumosa, até a saída de lancha, vendo a cidade afastar-se, até adentrarem a ilha, até perderem a inibição inicial e se expandirem em brinquedos, até o melancólico retorno à tardinha, elas viveram um dia inesquecível. Cercadas pelo céu e pelo mar, foram donas de um mundo particular, onde imperaram somente a graça e a beleza. (Revista Fatos & Fotos, Ano V, nº 233, 17/07/1965)
EPÍLOGO
Depois daquele domingo, as misses seguiram seus destinos. Em Miami, no concurso Miss Universo, Maria Raquel Helena de Andrade foi semifinalista, Virpi Liisa Miettinen, conquistou o segundo lugar e Sue Ann Downey o terceiro. Em Long Beach, Sandra Penno Rosa foi a quinta colocada no Miss Beleza Internacional. Kiriaki Tsopei, com o nome de Corinna Tsopei, tornou-se atriz de cinema.
A juventude e a beleza deram as mãos ao vento do mar carioca em 04 de julho de 1965. Aquelas jovens maravilhosas de ontem, sábias senhoras de hoje, devem trazer, sem dúvida alguma, entre suas recordações mais caras, as lembranças daquele domingo em Brocoió.
A juventude e a beleza deram as mãos ao vento do mar carioca em 04 de julho de 1965. Aquelas jovens maravilhosas de ontem, sábias senhoras de hoje, devem trazer, sem dúvida alguma, entre suas recordações mais caras, as lembranças daquele domingo em Brocoió.
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Na manhã desta última segunda-feira de 2010, recebi um e-mail do Roberto Macêdo perguntando se eu já tinha lido na Wikipedia a biografia de Persis Khambatta, Miss Índia 1965, cuja foto, ao lado de Virpi Liisa Miettinen, Miss Finlândia 1965, ilustra esta Sessão Nostalgia. Como descocnhecia, curioso fui conferir.
ResponderExcluirAbaixo, a condensação que fiz dos dados biográficos de Persis Khambatta, com base na pesquisa feita no www. pt.wikipedia.org/wiki/Persis_Khambatta.
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Persis Khambatta nasceu em Mumbai, Maharashtra, Índia, em 02/10/1948. Começou sua carreira de modelo aos 13 anos de idade. Tornou-se Miss Índia 1965 e participou do concurso Miss Universo 1965.
Entrou no mundo do cinema fora do seu país, pois Bollywood ( A Hollywood indiana) e outras indústrias de cinema da Índia achavam seu visual "ocidentalizado", o que não agradava a convencional audiência indiana.
Persis Khambatta chegou a traabalhar como modelo da empresa Revlon. Em 1975, teve pequenos papéis nos filmes “Conduta Imprópria” (Conduct Unbecoming) e "The Wilby Conspiracy". Seu papel de maior destaque em sua breve carreira no cinema foi o da Tenente Ilia, em "Star Trek, The Motion Picture" (1979).
Em 1998, Persis Khambatta foi levada para o Hospital da Marinha em Bombaim reclamando de dores no peito. Ela morreu numa quarta-feira, 18/08/1998, aos 49 anos de idade, vítima de ataque cardíaco. Seu funeral foi realizado em Bombaim, em 19/08/1998.
Nem todos aceitaram a morte de Persis Khambatta como sendo de causas naturais. Edward Lozzi, executivo de relações públicas de Beverly Hills, um ex-namorado da Miss Índia 1965, enviou uma carta na qual relatava às autoridades da Índia sobre as ameaças que ela recebia nos Estados Unidos de fanáticos políticos indianos.
Persis Khambatta era uma forte aliada de Indira Ghandi e até fez campanha para ela antes de seu assassinato.
Edward Lozzi contratou um investigador particular em Bombaim para investigar a autópsia, o corpo, o atestado de óbito e entrevistar os funcionários do hospital onde ela supostamente morreu. Nada se tornou público, exceto que seu corpo fora cremado.
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Comentário de Muciolo Ferreira, jornalista, Recife-PE, via e-mail
ResponderExcluir>>>>>>>>>>
Daslan,
a juventude e a beleza das misses nos mágicos anos 60 foram muito bem enfocados na Sessão Notalgia do Natal. Todavia, o que mais me impresionaou no passeio das misses da reportagem da revista O Cruzeiro foi a não inclusão da Miss Alagoas, Mary Grace Oiticica entre as oito finalistas do Miss Brasil de 1965.
Na única foto em que ela aparece na reportagem ao lado das misses Pernambuco, São Paulo e Mato Grosso, percebe-se nitidamente que era, de longe, a mais bela das candidatas que disputaram o Miss Brasil. Beleza que lembra em muito o rosto de Adriana Alves de Oliveira, Miss Brasil 1981.
Uma boa semana aos leitorres do Passarela Cultural
muciolo ferreira
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Daslan,sua acássia é linda!é o próprio sol na terra.Parabéns pela transcrição da reportagem sobre o passeio das misses!Lembro bem dessa história.Aí vemos a beleza incontestável de MB 65.Nesse top , colocaria 1°)GB,2°)MG,3°)ES e 4°)manteria MT e,Miss Alagoas,então ficaria com o 5° lugar. Era bonita, sim,deveria estar entre as semifinalistas e disputar, na passarela, o returno das 8 classificadas.Agora, reparando bem na mineira em outras fotos, no site do Francisco,que ela é muito bonita!Quanto à Persis, lembro do nome no filme mas,nem imaginaria que teria sido a Miss Índia 65.Abraços e Feliz Ano Novo a todos!, Japão
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