sábado, 26 de março de 2011

A AGONIA DE UM BAOBÁ TIMBAUBENSE



O Baobá é uma árvore originária da África que vive de três a seis mil anos. Seu   tronco  é considerado o mais grosso do mundo, chegando em alguns casos a medir 20 metros de diâmetro. Trata-se de uma das árvores mais antigas do Planeta Terra.  ***** O Baobá é personagem do famoso livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944). ***** Em novembro de 1995, a Sra. Anete Pedrosa de Vasconcelos doou um arbusto de Baobá à cidade de Timbaúba, o qual foi plantado no terreno do Hospital Municipal Dr. João Coutinho. Há dois anos, ele foi transplantado para o trevo, no trecho da BR que vai para a cidade de Macaparana. ***** Pela imagem acima, vemos que o Baobá timbaubense não se deu bem com a mudança e está morrendo, lentamente morrendo, se é que já não morreu. ***** PASSARELA CULTURAL lamenta a agonia da árvore do Pequeno Príncipe e coloca este espaço à disposição das  pessoas envolvidas com o destino do Baobá, a fim de que as mesmas  se manifestem sobre o assunto.

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AMANHÃ SERÁ UM NOVO DIA


Daslan Melo Lima


          Existem canções populares que são verdadeiros alentos para quem está enfrentando situações difíceis. Canções que soam como hinos religiosos, pela esperança e fé que semeiam, independente de religião. Entre tantas, posso citar uma por quem sinto uma afeição especial, pois a letra foi de suma importância em uma fase complicada da minha vida. Refiro-me à Hey Jude , de John Lennon e Paul Mc Cartney, um dos maiores sucessos do conjunto The Beatles, na sua versão em português feita por Rossini Pinto, gravada pelo conjunto The Fevers.

Hey Jude, não fique assim. / Sabe, a vida ainda é bela. / Esqueça de tudo que aconteceu. / Amanhã será um novo dia. ///// Hey Jude, pra que chorar / por alguém que não te ama? / Se o mundo agora te faz sofrer, /tudo vai passar você vai ver. ///// Muita coisa vai fazer você mudar. / Não tem mais razão de ser essa tristeza. / Se alguém te faz sofrer pra que lembrar? / Mas vale tentar viver de esperança ///// Hey Jude, olha pra mim. / Veja o dia como está lindo. / Esqueça de tudo que aconteceu. / Amanhã será um novo dia.


          Na época da situação que enfrentei, a sensação era a de que aqueles problemas durariam uma eternidade. Tinha dias que eu colocava o disco de vinil na radiola e ouvia Hey Jude dez, quinze, vinte vezes... Enquanto as lágrimas explodiam dos meus olhos carentes de esperança, eu fixava minha mente diuturnamente nos versos da música. Ela foi um excelente antidepressivo. O amanhã desejado demorou, mas um dia chegou.

         A você, meu leitor, minha leitora, que por acaso esteja vivendo alguma situação complicada neste outono austral de 2011, não fique assim.  Sabe, a vida ainda é bela. Esqueça de tudo que aconteceu. Amanhã será um novo dia.

Timbaúba, PE, 26/03/2011

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DE ALAGOAS PARA O MUNDO


MÉRCIA ALBUQUERQUE, UM ORGULHO ALAGOANO
           O Governo de Alagoas homenageou in memorian a advogada Mércia Albuquerque, com a Comenda Nise da Silveira. O evento foi realizado no Teatro Deodoro, no dia 14, em Maceió Em nome da família, a comenda foi recebida pela advogada e jornalista Eliane Aquino, na foto acima ladeada por Teotônio Vilela Filho, Governador de Alagoas, e seu vice José Thomaz Nonô.
 (Imagem: Arquivo Pessoal/EA).
Mércia Albuquerque (1934-2003)
           Mércia Albuquerque morreu no Recife, em 29/01/2003, aos 68 anos de idade, vítima de câncer. Ficou famosa nacionalmente na luta em defesa dos direitos humanos. Formada na turma de 1961, pela Faculdade de Direito do Recife, ela chocou-se ao ver a polícia escoltando Gregório Bezerra pelas ruas do bairro recifense de Casa Forte, no dia do golpe militar de 1964, ensangüentado, vestido apenas num calção e com uma corda amarrada ao pescoço. A partir daí, Mércia assumiu a causa de Gregório e empenhou-se na defesa dos presos políticos pela ditadura.

           Em seu discurso na Câmara Municipal de Vereadores do Recife, em 05/04/2001, ao receber o título de Cidadã Recifense, Mércia Albuquerque declarou: A minha vida tem sido marcada pela força da emoção, literalmente, desde quando nasci, em situação emergencial. Em 23 de dezembro de 1934, minha mãe, ao visitar uma cunhada em Jaboatâo dos Guararapes, deparou-se com uma situação de conflito social na estação ferroviária da antiga Great Western, na vizinha cidade, com tiroteio e prisões. Impedida de retornar a Recife, minha querida genitora me deu à luz na madrugada do dia 23 daquele mesmo mês e ano, enquanto os ferroviários ainda resistiam. Pouco depois minha família, por circunstâncias da vida, mudou-se para São José da Laje, Alagoas. Naquela cidade alagoana fui criada no ambiente de uma família conservadora, para a qual medo era uma palavra que não existia, sendo esta uma característica de minha educação que considero positiva.”

          Luzinete Albuquerque, sua mãe, morava na rua popularmente conhecida como Rua do Cajueiro, em um imóvel próximo da Casa Paroquial, em São José da Laje-AL. Passei uma tarde de 1991 conversando com Mércia, em seu apartamento do Edifício Ouro Branco, centro do Recife. Mércia Albuquerque tinha o maior apreço por suas raízes lajenses. Merecedíssima  a comenda Nise da Silveira outorgada a esta inesquecível guerreira. Por sua história de vida, Mércia Albuquerque é um orgulho alagoano.

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SESSÃO NOSTALGIA - Carmem Sílvia de Barros Ramasco, Miss Brasil 1967, o que restou quando o sonho acabou

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Daslan Melo Lima


Carmem Sílvia de Barros Ramasco, Miss São Paulo, Miss Brasil 1967. *****  Revista Fatos & Fotos, 15/07/1967.

          A loura Carmem Sílvia de Barros Ramasco, 21 anos, natural de Campinas, onde nasceu em 07/04/1946, Miss São Paulo, foi eleita Miss Brasil em 1967. A  terceira filha de Carlos, industrial aposentado, e Íris de Barros Ramasco, irmã de Neusa, 24 anos, estudante de Ciências Sociais,  e de  Carlos Afonso, 23 anos, estudante de Engenharia, tinha o Curso Normal completo, frequentava o aristocrático Tênis Clube de Campinas, adorava bossa-nova e cinema.  
        Em junho de 1977, a revista Cosmopolitan-NOVA publicou uma reportagem de Raquel Salgado com o título "Miss Brasil – O que resta quando o sonho acaba," focalizando três paulistas que tinham sido eleitas Miss Brasil:  Carmem Sílvia de Barros Ramasco, Miss Brasil 1967; Sandra Mara Ferreira, Miss Brasil 1973; e Kátia Celestino Moreto, Miss Brasil 1976. Abaixo, os trechos da matéria envolvendo as confissões de Carmem Sílvia de Barros Ramasco.

VENDIDA COMO SABONETE

          O sonho acabou muito depressa para Carmen Sílvia de Barros  Ramasco, e do concurso só lhe restam mágoas. Talvez porque tenha uma sensibilidade especial no modo de sentir as coisas ou talvez porque teve pouca sorte. No dia da escolha de Miss Universo, Carmem, queimou as pernas com água-viva, quando as misses se reuniam na praia para serem fotografadas. Depois, na hora do desfile final, um ventilador caiu sobre ela, o que quase a fez desmaiar. Mas se Carmen saiu marcada, ela também deixou suas marcas: foi a primeira a levantar uma enorme polêmica em torno do concurso, rompendo com o contrato e renunciando ao título, enquanto denunciava, atravaés de uma rede de televisão, a péssima organização e o desrespeito de que vinha sendo vítima. Foi  a primeira a ter a coragem de desmascarar o sonho e expor a dura realidade do “sabonete sendo vendido”, a contar publicamente que a Miss é apenas o disfarce de uma louca corrida atrás de maiores lucros.
          Hoje, dez anos passados, Carmem ainda conserva a mesma beleza loira, com seus olhos azuis e traços delicados. A moça rebelde e preocupada em denunciar injustiças e abusos ficou no passado e em seu lugar está a pacata esposa de um ortodontista, preocupada exclusivamente com os quatro filhos. Seu corpo, apesar dos quatro partos, ainda é jovem e vigoroso, lembrando a campeã paulista de voleibol e as muitas medalhas que ganhou nadando, desde os 6 anos de idade. A aparência e as atitudes, os gestos delicados, o falar pausado, revelam sua origem e educação numa das mais tradicionais famílias de Campinas.
          “ - Não, o fato de ter sido Miss Brasil não foi um sonho bom para mim. Ao contrário, chegou a ser chocante, porque me proporcionou uma visão muito rápida e brusca do mundo e das coisas que ele tem de ruim. Eu sempre vivi em Campinas e, acostumada à vidinha tranqüila de cidade de interior, tive um contato muito repentino com uma realidade feita de ciúmes, invejas, jogo de interesses, com pessoas que se utilizavam de outras pessoas como se fossem objetos, sem qualquer respeito. Tudo isso me marcou muito e, na época, me levou a sentir uma profunda decepção com o ser humano. “
 
Carmem Sílvia na passarela do Maracanãzinho, em traje típico, "Bandeirante Estilizado," e em traje de banho, vestindo maiô Catalina. ***** Fatos & Fotos, 15/07/1967.


QUANDO SE TEM 20 ANOS...

          Há realmente muita mágoa nas palavras de Carmem, mas, embora o título de Miss Brasil não lhe traga boas recordações, ela acha importante falar de sua experiência. Se não fizer que outras moças desistam de concorrer ao título, pelo menos fará com que elas saibam o que irão enfrentar.
          “ - Como muitas outras moças, entrei no concurso por acaso. Um título de beleza jamais havia feito parte dos meus planos. O convite veio do clube que eu frequentava, o Tênis Clube de Campinas. Respondi que ia pensar, quando, no dia seguinte, vi minha foto no jornal como candidata a Miss Campinas pelo Tênis Clube. Nessa época eu tinha 20 anos, havia terminado o curso normal e pretendia fazer psicologia, um plano que o concurso atrapalhou inteiramente.”
         Para concorrer ao Miss Brasil, Carmem precisou quebrar um tabu, já que os concursos de beleza não eram bem vistos pelas famílias mais tradicionais. Mas, enfim, este não seria o único preconceito que ela iria desafiar. Já fizera isso antes, quando resolvera trabalhar, apesar da oposição dos pais. E o faria depois, ao se ligar a um homem desquitado e 10 anos mais velho do que ela, apesar da pressão da família.
          “ - Claro que meus pais não gostaram da ideia de me ver concorrendo a um título de beleza. Mas como a oposição deles não era muito fime, de repente eu estava inscrita no concurso e, quando me dei conta, era a representante de Campinas no Miss São Paulo. Posso dizer que foi exatamente aí que o sonho acabou, pois foi quando eu comecei a ver as coisas e a perceber o que era esse concurso. As misses eram tratadas com brutalidade, sem qualquer delicadeza ou respeito. Diziam que aquilo era necessário para manter a disciplina, mas o fato é que me chocou muito. A imagem que me vem à cabeça quando penso nisso é a de um pelotão de soldados, tal a maneira como nos tratavam.”

Carmem Sílvia de Barros Ramasco recebendo o carinho dos pais Carlos e Íris de Barros Ramasco, após ter sido coroada Miss Brasil 1967. ***** Revista Manchete, 15/07/1967.
 
PROVINCIANA ENTRE AS VEDETES

          Naquela ano, São Paulo foi o último Estado a eleger sua miss, o que acabou trazendo novos probelmas para Carmem. Enquanto ela ainda concorria ao título estadual, todas as outras misses, já eleitas, cumpriam um programa de confraternização, na Bahia. Dessa forma, quando Carmem chegou ao Rio para a final do concurso, todas as misses estaduais já se conheciam e ela acabou ficando isolada, uma perfeita provinviana entre as vedetes.
          “ – Logo eu, que sempre fui tímida e inibida, aquele tipo de pessoa que espera primeiro que os outros se aproximem. Conclusão: acabei ficando realmente de lado, o que foi interpretado como uma atitude arrogante e antipática. Diziam que eu fui a última candidata a chegar só para fazer charme e chamar a atenção.”
          A situação de Carmem não poderia ser mais desagradável. Para completar o isolamento, uma gripe violenta a fez ficar de cama e, na véspera da final do concurso, no ensaio geral, ela estava com 39 graus de febre e quase caindo da passarela.
          “ - Do concurso mesmo e do primeiro lugar eu pouco me lembro. Na hora é tanta zoeira, tanto nervosismo, que a gente não sabe quem empurra, quem coroa, quem faz o quê . Só depois, pelas fotos das revistas é que a gente começa a se lembrar do que aconteceu.”
          Carmem teve apenas dois dias para preparar a documentação e fazer algumas compras em butiques antes de embarcar para Miami. Ela viajou acompanhada apenas pela irmã que, como ela, falava muito pouco inglês. Este foi o primeiro momento, desde que entrou nessa  maratona,  que Carmem foi deixada só, sem um representante do concurso grudado a seus pés, conferindo seus menores gestos – e justamente quando mais precisava deles.
 
“QUEM ELA PENSA QUE É?”

          “ – As lembranças de Miami são as piores possíveis. Não havia ninguém para nos ajudar entre o aeroporto e o hotel. Minha ficha de medidas, que precisava ser convertida em polegadas, não foi conferida por ninguém. Fiquei vinte dias completamente isolada, não podia sair, minha irmã ficou em quarto separado e só a vi quando chegamos e na hora de ir embora. Ensaiávamos o dia inteiro e à noite éramos proibidas de sair do quarto. Numa entrevista com o júri , todas as outras misses tinham intérprete, menos eu, que tive de ficar o tempo todo calada. Só no final, quando apareceu um jornalista brasileiro, é que pude falar alguma coisa. Na escolha das quinze finalistas fui a única sul-americana a ser classificada. Mesmo tendo sido avisada desse fato, na hora de chamarem as classificadas ao palco convocaram a a Miss Israel no meu lugar. E sem qualquer explicação. Nessa mesma noite da final do concurso me avisaram que a estadia no hotel terminaria no dia seguinte ao meio-doa. E eu que me virasse, se quisesses conhecer a cidade ou pelo menos dar umas voltas depois de todos aqueles dias fechada no hotel.”
          Ao voltar para o Brasil, Carmem começou a maratona de viagens pelas capitais e cidades do interior, compromissos que ela deveria cumprir até o final do seu reinado como Miss Brasil. Mas, a esta altura, Carmem já havia se dado conta de uma grande encenação na qual ela era a peça principal. A começar pelos prêmios a que fizera jus: como Miss São Paulo ela deveria ganhar um carro que nunca apareceu. Seu prêmio como Miss Brasil era outro carro e mais 24.000 cruzeiros. O carro, um Volkswagen, ela recebeu quatro meses depois. Quanto ao prêmio em dinheiro, não era mais do que um contrato de trabalho pelo qual ela receberia 2.000 cruzeiros mensais.
          Embora seu salário fosse fixo e ela não recebesse nada além do estipulado – mesmo precisando estar à disposição dos organizadores do concurso a qualquer hora do dia ou da noite - , em suas apresentações pelas capitais era cobrado um cachê altíssimo. Quando Carmem começou a sentir a hostilidade das pessoas e a ouvir, não raras vezes, comentários desagradáveis do tipo “quem ela pensa que é para cobrar esta fortuna?", resolveu parar de viajar e denunciar os organizadores do concurso através da televisão e da imprensa. Feito isso, não havia mais motivos para continuar participando daquele jogo e ela renunciou ao título para se casar.
          “ - Claro que é bom saber-se bonita e admirada. Mas não dessa forma, em que a gente é usada como um objeto com a única finalidade de enriquecer uma indústria: a indústria dos concursos de miss. Ao final de tudo, desiludida e magoada, eu só tinha uma vontade: voltar à minha vida normal e fazer o que sempre sonhei – casar e ter filhos.”
          
Campinas, São Paulo, 1969, Carmem Sílvia ao lado da filha Cristiane e do esposo José Roberto Jacobucci. ***** Fatos & Fotos, 10/07/1969.
 
Campinas, São Paulo, 1977, Carmem Sílvia ao lado de três filhos. ***** Foto: Dario de Freitas e Castro, revista Cosmopolitan-NOVA, junho de 1977.

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          O que restou quando o sonho acabou para Carmem Sílvia de Barros Ramasco? Lembranças desagradáveis, conforme lemos acima. Acredito que o seu gesto na época  tenha contribuído para algumas mudanças positivas no concurso Miss Brasil, pois no ano seguinte a baiana Martha Vasconcellos, Miss Brasil, foi eleita Miss Universo, cumpriu seu reinado até o fim, e sempre declarou que valeu a pena ter sido Miss.
                Revendo minhas revistas sobre o Miss Brasil 1967, encontrei na Fatos & Fotos, de 15/07/1967, uma declaração de Carmem, a respeito das vaias que recebeu quando foi eleita Miss Brasil, já que a maioria do público do Maracanãzinho preferia Anísia Gasparina da Fonseca, Miss Brasília, quarta colocada:  
“ - Não fiquei zangada, apenas surpresa. Não vou culpar, em absoluto, o povo carioca por uma incompreensão momentânea. Além disso, fiquei tão feliz com o título que não poderia ter raiva de ninguém. Perdoaria até o meu maior inimigo. Mas quero deixar bem claro uma coisa: o gesto de solidariedade de Miss Paraná me comoveu bastante. Foi ela a primeira a me consolar quando comecei a chorar. Nunca esquecerei isso.” 
       Talvez seja essa a melhor e mais bela recordação que  Carmem Sílvia de Barros Ramasco guarde do seu reinado, a solidariedade de Wilza Rainato, Miss Paraná, segunda colocada no Miss Brasil 1967.

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sábado, 19 de março de 2011

A SIMPLICIDADE DE UM REI

Daslan Melo Lima


          Meu celular tocou cedo na manhã da terça-feira de carnaval. Era o meu amigo Ladorvane Cabral, conterrâneo-contemporâneo, querendo saber se eu estava assistindo pela televisão ao desfile da Beija-Flor de Nilópolis, cujo enredo homenageava o cantor Roberto Carlos.  Essa sintonia em torno de uma figura ímpar como Roberto Carlos foi geral, nada mais justo festejar um ser humano maravilhoso que marcou a vida de milhares de pessoas com suas simples e doces canções de amor.
A saudade vem pra reviver o tempo que passou / Ah! Essa lembrança  que ficou /
Momentos que não esqueci / Eu cheio de fantasias na luz do rei menino / Lá no seu Cachoeiro / E lá vou eu... De calhambeque a onde me levar /Na Jovem Guarda, o rock a embalar...Vivendo a paixão / Amigos de fé guardei no coração
         A letra do samba enredo, com versos citando frases das canções do Roberto, toca fundo nos corações dos seus fãs.
Quando o amor invade a alma... É magia/ É inspiração pra nossa canção... Poesia/ O beijo na flor é só pra dizer/ Como é grande o meu amor por você
          Conforme li na revista Na Poltrona, foi o presidente de honra da Beija-Flor de Nilópolis e amigo pessoal de Roberto Carlos, Anísio Abrão David, que indicou a vida do cantor como tema para ao carnaval da escola. Mesmo contrariando a comissão de carnaval – que não via como criar um desfile sobre Roberto Carlos, já homenageado na avenida há alguns anos - , o assunto foi levado ao cantor, que diante do convite preocupou-se unicamente em saber se sua história de vida seria capaz de dar o título de campeã à escola. Com a demonstração de humildade, acabaram-se as dúvidas: a simplicidade do rei seria o melhor tema que a escola poderia levar para a avenida. E a reação do cantor acabou por dar título ao enredo. E a Beija-Flor sagrou-se campeã do carnaval carioca.
Nas curvas dessa estrada a vida em canções / Chora viola! Nas veredas dos sertões / Lindo é ver a natureza / Por sua beleza clamou em seus versos / No mar navegam emoções / Sonhar faz bem aos corações / Na fé com o meu rei seguindo / Outra vez estou aqui vivendo esse momento lindo / De todas as Marias vêm as bênçãos lá do céu / Do samba faço oração, poema, emoção!
Meu Beija-Flor chegou a hora / De botar pra fora a felicidade / A alegria de falar do rei / E mostrar pro mundo essa simplicidade
          “A simplicidade é o último degrau da sabedoria”, disse um dia Aritides D’Avila. Bom seria se todas as pessoas arrogantes do universo se dessem conta disso. Que bom que a Beija-Flor de Nilópolis cantou para o Brasil e o mundo a simplicidade de Roberto Carlos. Ele é o máximo! Faço minhas as palavras do compositor  paulista Osvaldo Lacerda: “Quem é o máximo é simples”. 
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SESSÃO NOSTALGIA - ADEUS, AMPARO MUNÕZ. ADEUS, MISS UNIVERSO 1974


Timbaúba, Pernambuco, Brasil, América do Sul, Planeta Terra, 19/03/2011


          Minha amada Amparo Munõz, Miss Espanha, Miss Universo 1974,

          bom dia, boa tarde, boa noite... em qualquer dimensão onde você esteja.

          Só há poucos dias é que soube, através da Internet, que DEUS convocou você para uma nova missão em outra dimensão, no dia 27 de fevereiro, em Málaga, Espanha. Imediatamente, fui ao meu acervo rever uma "Fatos & Fotos",  a única revista brasileira que colocou você na capa quando foi eleita Miss Universo, em Manilha, Filipinas, no dia 19/07/1974, ao derrotar 64 candidatas de várias partes do mundo. 

          Está lá, na "Fatos & Fotos", de 05/08/1974:  
 

 A nova Miss universo entre as duas princesas. Helen Elizabeth Morgan (Miss País de Gales, segunda colocada); Amparo Munõz Quesada (Miss Espanha, eleita Miss Universo) e  Riitta Johanna Raunio (Miss Finlândia, terceira colocada).
O sorriso alegre de Amparo Munõz ao receber a coroa de soberana da beleza mundial.
 
“ Quando foi anunciada sua vitória, ela ficou pálida e não pode esconder um soluço. Controlada a emoção, ela se portou como uma autêntica rainha. E sorriu alegremente para a multidão que lotou o Teatro das Artes Folclóricas de Manilha, nas Filipinas. Era a noite da consagração de uma linda filha de um pugilista aposentado. Quando foi anunciado a vitória de Amparo Munõz, os olhos de 10 mil pessoas se concentraram no rosto da encantadora espanhola de 20 anos e 1,70m de altura. Nesse instante, a luz dos refletores revelava uma palidez e um soluço. Eram reflexos da emoção de uma moça simples, filha de um boxeador aposentado, cujas portas da fama estavam abertas a partir daquele momento pelas força de sua beleza, seu charme e sua plástica. Ela acabara de ser eleita a nova Miss Universo. Mas como se já obedecesse ao protocolo, Amparo Munõz controlou sua emoção, sorriu alegremente e recebeu a coroa, o manto e o cetro de sua antecessora, a filipina Maria Margarita Moran. A emoção só voltou a se manifestar depois das cerimônias de encerramento, quando revelou seus planos: - Parte de meu prêmio de 10 mil dólares será de minha família. O restante vou investir, embora não saiba, agora, como e onde. Ao fim de meu reinado, pretendo ser atriz de cinema.”

          Amparo, realmente as portas da fama se abriram para você, mas fiquei triste quando soube que, seis meses após ter sido eleita, você renunciou ao título porque não queria fazer uma viagem de trabalho ao Japão. Ser atriz de cinema era a sua  verdadeira vocação. Tudo bem. Foram muitos filmes, entre eles, “Mamãe Faz 100 Anos” (Mamá  Cumple Cien Anõs), de Carlos Saura, concorrente ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1979.  Voltei a ficar  triste em 1987, quando li que você foi presa por suspeita de porte de heroína. Que droga!  Seus três casamentos também não deram certo. 

          Soube que sua saúde começou a se deteriorar há oito anos, quando detectaram um tumor no seu cérebro. Acredito que você lutou até o fim, mas a vida deixou seu corpo antes dele completar 57 anos. O que são 57 anos? Talvez menos que um segundo dentro do calendário de DEUS.  A comissão julgadora e a platéia mudaram. Você está a caminho da verdadeira Luz. Uma faixa diferente, um manto especial, uma coroa singular e um cetro iluminado estão revestidos de eternidade para você, a quem canto um canto   de nostalgia banhado de esperança, faltando apenas um dia para o outono começar no hemisfério sul. 

          Adeus, Amparo Munõz.
          Adeus, Miss Universo 1974.

          Um grande abraço.

          Daslan Melo Lima

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sábado, 12 de março de 2011

A NEVINHA PACHECO QUE EU CONHECI

Daslan Melo Lima 
          Numa tarde fria de maio de 1992, recebi a visita de uma tranqüila senhora de olhos claros. Ela era diretora da Escola Municipal Antônio Galvão Cavalcanti (Ginásio Municipal) e queria minha colaboração para um evento que estava promovendo no Motor Clube de Timbaúba, visando angariar fundos para a banda do educandário. A festa seria uma manhã com música ao vivo e caberia a mim organizar um concurso de beleza para atrair mais pessoas. Tempo depois, D. Nevinha Pacheco criou no Ginásio Municipal o Baile das Debutantes, um presente fantástico para dezenas de garotas humildes que sonhavam com uma festa de 15 anos. Tive a satisfação de ser o mestre-de-cerimônias e de constatar mais uma vez o brilho nos olhos claros de D. Nevinha Pacheco, feliz por fazer o bem à frente de uma grande escola pública municipal. 

           Na fase que atuei como Agente de Desenvolvimento do Banco do Nordeste do Brasil, encontrei D. Nevinha em uma reunião sobre associativismo, ocasião onde alguém fez algumas críticas ao seu irmão, o político Gilson Muniz Dias. Ouviu tudo calada, com classe, educação e diplomacia. No final, com os olhos claros cheios d’água, afirmou emocionada:     “-Nada tenho a dizer, apenas que ele é meu irmão e faz parte da família que amo.”

  
          No dia 07, segunda-feira de Carnaval, festa que ela adorava, Deus convocou D. Nevinha para uma nova missão em outra dimensão. Morreu por complicações provenientes de um aneurisma que sofreu no dia 14 de janeiro.

            Choveu muito na manhã timbaubense da terça-feira de carnaval, quando seu corpo foi sepultado no Cemitério de Santa Cruz, em Timbaúba. A “Princesa Serrana” chorou a morte de uma das suas filhas mais estimadas. Depois que a maioria dos acompanhantes saiu do cemitério, chorei em silêncio junto ao seu túmulo, mas quando ouvi um frevo ao longe me animei. “C´ést la vie”. Assim é a vida, dizem os franceses. Nevinha Pacheco morreu no Carnaval, a festa que tanto amava, e com certeza, naquele momento, a Nevinha Pacheco que eu conheci era mais um anjo fazendo um tranqüilo carnaval no céu. 
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SESSÃO NOSTALGIA – PELÉ E KIRIAKI TSOPEI, UM ENCONTRO DE MAJESTADES


Daslan Melo Lima

          Durante muitos anos, um evento paulista atraiu a atenção de todo o Brasil, a Fenit, Feira Nacional da Indústria Têxtil.
FENIT – Recorde de visitantes na maravilhosa feira da moda e do tecido.  Extraordinário sucesso está obtendo, em São Paulo, a VII Fenit – Feira Nacional da Indústria Têxtil, reunindo numa maravilhosa exposição o que há de melhor, em todo o Brasil, na indústria de tecidos. Promovida pelo dinâmico  Caio de Alcântara Machado, a VII Fenit tem recebido tão grande número de visitantes que, este ano, baterá todos os recordes assinalados anteriormente, passando da casa de um milhão de pessoas. Uma de suas atrações é o fabuloso auditório, para três mil pessoas, onde desfila a seleção há pouco levada pela Companhia Brasileira Rhodiaceta,  MANCHETE e Air France ao Japão. Ali também pode ser apreciada uma piscina na qual se movimentam enormes golfinhos.  (Revista Manchete, 05/09/1964)
 
           Misses famosas,  como as beldades acima, em pose ao lado de Pelé, desfilaram na passarela da Fenit. Da esquerda para direita: Ângela Vasconcelos (Miss Paraná, Miss Brasil 1964), Kiriaki Tsopei (Miss Grécia e Miss Universo 1964, depois atriz de cinema com o nome de Corinna Tsopei) e Ieda Maria Vargas (Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil e Miss Universo 1963). *****  (Capa da Manchete, 05/09/1964).
 
 O rei driblou todo o mundo e deu um beijo em Miss Universo. Um beijo selou a amizade do rei da bola com a rainha universal da beleza. (Manchete, 05/09/1964)

São Paulo presenciou, na última semana,  um encontro de majestades, quando o Rei Pelé e Miss Universo se defrontaram numa das dependências da VII Fenit. Pelé vinha do Pacaembu, onde fizera um gol contra o Palmeiras. “Fiz aquele gol em sua homenagem”, disse ele a Kiriaki Tsopei. A belíssima grega respondeu: “Oh, Pelé, você é muito gentil! Já em Atenas, antes de ir a Miami, eu ouvia falar muito em você, e sempre desejei conhecê-lo pessoalmente.” Em retribuição ao gol, ela permitiu que Pelé lhe beijasse a testa, após o que o rei comentou: “Aqui, estou mais nervoso do que no campo, quando varava a defesa do Palmeiras.” E, ao saber que Kiriaki, em grego, significa domingo, o maior jogador do mundo disse: “Então, precisamos mudar o nome daquele filme para “Sempre aos Domingos...” Miss Universo ficou ruborizada. ("O Maior Gol de Pelé", Salomão Schwartzmann, Manchete, 05/09/1964).
 
 Pelé confirmou o veredicto de Miami, coroando Kiriaki Tsopei pela segunda vez.  (Manchete, 05/09/1964).

          Todos os anos, na época do SPW-São Paulo Fashion Week, lembro-me das  famosas revistas O Cruzeiro, Fatos & Fotos e Manchete, com suas capas e páginas dedicadas à Fenit, onde as Misses eram as estrelas das passarelas e o mais famoso jogador do mundo fazia questão de beijar respeitosamente a testa de uma ruborizada Miss Universo. 
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