Daslan Melo Lima
Nayara Berenguer, Miss São Lourenço da Mata. (Foto: Nando Chiappetta) |
Esta semana, excepcionalmente, o espaço de PASSARELA CULTURAL dedicado às grandes Misses do passado focalizará o concurso Miss Pernambuco 2011, no que diz respeito aos mapas de votação. Nayara Berenguer, Miss São Lourenço da Mata, teria obtido o primeiro lugar se a atribuição das notas fosse outra? Qual o melhor método para conceder notas às candidatas?
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E-mail enviado por Silveira, de Pelotas-RS
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Daslan,
Visitando mais uma vez seu Passarela Cultural, encontrei diversos comentários sobre o ocorrido com algumas notas, no último miss Pernambuco, inclusive sugestões para que tal não venha mais a ocorrer, no que diz respeito à atribuição de notas, nos certames de beleza. Por isso, lembrei-me de lhe enviar uma matéria que redigi a respeito, não com o propósito de criticar o Miss Pernambuco e sua vencedora, mas, com base no ocorrido, discorrer em tese sobre a questão, propondo a solução que me parece mais viável e definitiva. Caso considerar pertinente, coloco esta matéria a sua disposição, para eventual publicação..Acho que existem vícios e imperfeições que se arrastam por décadas nos concursos de beleza, sem que sobre eles se faça um debate, uma reflexão mais séria. É o que me proponho através desta matéria.
Atenciosamente,
Silveira/Pel
Terminou por transpirar a notícia da atribuição de notas muito baixas dadas por alguns jurados do Miss Pernambuco a fortes candidatas, provavelmente com o propósito de favorecer a preferida dos que agiram dessa forma. E estas concorrentes muito cotadas parece terem ficado de fora, inclusive do rol das finalistas. É lamentável que isto possa ter ocorrido, por prejudicar todo um trabalho da organização do certame estadual de recrutamento de belas candidatas, desde que tal organização não tenha tido conhecimento prévio do que viria a acontecer, igualmente lamentável por frustrar um estado de onde sempre se aguarda fortes candidatas de ser representado por uma ainda mais credenciada, assim como perde o Miss Brasil de ter outra concorrente dentre as mais competitivas.
Eu venho denunciando essa prática antiética, já há alguns anos. Desde a década de sessenta, quando foi introduzido este critério de votação através de notas, que as distorções daí decorrentes têm influenciado negativamente o resultado lógico de muitos certames. Em Passarela Cultural, de meu caro Daslan Mello Lima, ele reproduz a reportagem de um Miss Brasil, se não me engano de 1965, onde alguns jurados e o próprio repórter externam sua indignação pela ocorrência de notas visivelmente manipuladas por um que outro jurado inescrupuloso, com a clara intenção de derrubar a franca favorita da maioria dos demais membros da comissão julgadora, o que veio a ocorrer, efetivamente. Em inúmeros oportunidades, tenho criticado esse critério absurdo de eleição de misses, mas com pouca receptividade tanto da parte dos aficionados nos concursos de beleza, como da organização de tais certames.
Na verdade, o que ocorreu há pouco no Miss Pernambuco, não se constitui em nenhum fato inusitado, já que a maioria dos concursos de beleza parece continuarem a insistir nesse sistema desastroso de atribuição de notas, além do que, pela falta de transparência da maior parte deles, sou levado a supor que inclusive em meu estado o mesmo possa acontecer, sem que sequer tomemos conhecimento disso. Uma exceção parece ter sido o Miss Santa Catarina deste ano que, ao que consta, adotou o critério muito mais enxuto do voto uninominal de cada jurado em sua candidata favorita, que viabiliza a vitória da que tiver metade mais um dos votos da comissão julgadora. Procurei dar a mais ampla divulgação a esta mudança por demais auspiciosa e, agora, aproveito esse incidente das notas baixas que, por sorte, até, terminou transpirando no Miss Pernambuco, não para tripudiar sobre este concurso e sua vencedora, mas para falar em tese contra essa prática que já deveria ter sido banida há muitas décadas das competições de beleza do mundo inteiro.
O que é impressionante e lamentável é a mesmice, a rotina tacanha e irracional que persiste, década após década, na realização dos certames de beleza, a começar pelos internacionais, com a repetição dos mesmos procedimentos sabidamente ineficazes e nocivos em suas instâncias inferiores, sem que sobre estas práticas se faça qualquer reflexão ou discussão. Assim, se a matriz internacional usa o sistema de notas, parece ser porque este deva ser o único possível de ser utilizado. Parece não caber qualquer iniciativa de sua substituição por outro critério que não cause as mesmas repetidas irregularidades. Em vez de corrigir este erro, quando ele ocorre, muitas vezes apenas abafa-se a divulgação dessas distorções, como se o problema não fosse continuar latente. Por isso mesmo, não é comum ficarmos sabendo de tais fatos que só chegam ao nosso conhecimento, quando alguém como esse repórter em Pernambuco parece ter tido a possibilidade de detectá-lo e, ao mesmo tempo, a coragem de trazê-lo a público. Em muitas outras vezes, só nos restam indícios, pelo verdadeiro descalabro de resultados incompreensíveis.
E a mesma prática rotineira e viciada dessas notas envenenadas continuam a ser utilizadas em outros momentos dos certames de beleza, como a leviandade de critérios na escolha das comissões julgadoras, muitas vezes constituídas predominantemente por patrocinadores do concurso, que têm cadeira cativa nesses certames onde injetam dinheiro, completadas por políticos, por jogadores de futebol, enfim, por pessoas que não costumam ter uma noção mais nítida do que se precisa buscar na escolha da vencedora de um concurso de beleza. Também se constitui num absurdo a importância decisiva que ainda é atribuída ao conteúdo da resposta das finalistas à única pergunta que lhes é formulada, como se essa resposta fosse suficiente para aquilatar o nível intelectual de uma candidata, ou como se tais certames de beleza estivessem em busca de uma comunicadora ou formadora de opinião, e não de uma beldade que deverá mostrar sua maior desenvoltura, não diante de um microfone, dando respostas sábias e politicamente corretas a toda e qualquer pergunta, mas diante dos holofotes, das câmeras de televisão e das passarelas internacionais.
Pelo que consta, a direção dos Associados de Pernambuco não gostaram da atitude desses jurados que, tendenciosamente, teriam dado notas muito baixas a fortes candidatas, por óbvias razões. Também consta que, para o ano, visando evitar a repetição de tal erro, constituirão comissão julgadora com menos integrantes, como se isso, por si, impedisse a inclusão de algum corrupto; também não pretendem repetir integrantes da última comissão julgadora, e que todos os convidados serão "pessoas isentas" (as aspas foi eu quem as colocou). Quanta ingenuidade, quantas soluções paliativas, a persistirem na prática viciada desse critério de notas. Como se poderá ter certeza absoluta de que a unanimidade dos escolhidos portar-se-ão como pessoas isentas?
O que se torna absolutamente necessário e inadiável, em todas as instâncias de todos os certames de beleza, é a utilização de um critério que impeça eventuais corruptos, que inesperadamente poderão se revelar como tal, levados por interesses inconfessáveis, de darem livre curso a sua falta de ética. E isto é bem mais fácil de se conseguir através do voto direto de cada jurado em sua candidata preferida, porque, aqui, o desonesto queima apenas o seu voto em uma preferência que pode ser meramente pessoal, mas não derruba com notas baixas ou as piores classificações a favorita da maioria dos demais membros da comissão julgadora. Exatamente aí está o cerne da questão. É o mau jurado que, não só exerce o direito de apontar sua preferida como, através do expediente escuso de atribuição de notas muito baixas às mais fortes concorrentes, consegue até impedi-las de seguirem adiante no concurso e, cúmulo dos cúmulos, impede que a preferida da maioria de seus pares seja a vitoriosa. Trocando ainda mais em miúdos, existe uma candidata que é a opção do maior número de jurados, mas ela não obtem o maior número de pontos e, por isso, é derrotada por uma minoria de integrantes da comissão julgadora, o que se constitui no mais absurdo dos descalabros. Este é um júri que faz a vontade de uma minoria de mal intencionados, em detrimento da manifestação expressa da maioria de seus componentes que deram notas éticas e equânimes para todas as candidatas. Nada mais antidemocrático, irracional e antiético. Mas parece que isto é muito difícil de entender, e mais ainda, que tal critério nefasto é impossível de ser substituido por outro isento de desonestidades.
E nada mudaria se a nota mínima, em vez de dois, como parece ter sido o caso do Miss Pernambuco, fosse cinco, porque o efeito perverso dessa nota mal intencionada continuaria sendo o mesmo. E nota mínima oito, também não me parece a solução, até porque embolaria perigosamente a pontuação das finalistas e porque dois ou três oitos dados maldosamente a uma favorita, entre candidatas com pontuação muito próxima, também poderiam afastá-la.da merecida vitória. E então, pergunto, por que não substituir esse viciado critério de notas pelo do voto direto de cada jurado em sua preferida, tal como ocorria nos primeiros certames do Miss Brasil? Existe alguma objeção a este sistema? Qual seria ela? Por sua vez, existe alguma vantagem das notas em relação ao sufrágio uninominal? Este último tem uma particularidade que talvez faça com que até possa ser encarado com reservas. É que voto uninomial é algo muito simples de ser dado, e mais ainda, de ser computado. Por isso, talvez não seja revestido do aparato, da pompa e da circunstância que se imagina dever revestir o critério de escolha em um concurso de miss. O muito simples, às vezes, pode ser visto como simplório, daí ser preciso complicar, para impressionar, para dar foros de eficiência e seriedade.
Mas existe, talvez, um outro motivo para explicar a dificuldade que eu sinto da maioria em admitir a supressão do sistema de notas. Silvio Santos, com seu Miss Brasil de muito mau gosto, costumava fazer suspense barato com essas notas dos jurados. E fez deste momento, talvez, o de maior sensação. A verdade é que até nesse voto a descoberto da era Silvio Santos, uma jurada muito cara de pau, com uma nota um, derrubou grotescamente as chances de uma candidata favorita. Mesmo assim, esse sistema nefasto, em suas linhas básicas, continuou como sempre, até os dias de hoje. Silvio acostumou o telespectador brasileiro a ver no sistema de notas algo inerente aos concursos de miss. Por aí talvez esteja uma explicação para que, diante do sucedido mais uma vez no Miss Pernambuco, a maioria dos que se interessam por esse tipo de certame chegue apenas a propor remendos no sistema de notas, mas não consiga imaginar nem admitir a sua supressão e substituição, ainda mais por um sistema tão simples, como o do voto uninominal. Mas se é para não se perder o suspense, que se recolha o voto de cada jurado em uma urna, e que simplesmente se faça o computo deles diante do público.
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Além do mais, em um certame que é eminentemente comparativo, será que já se pensou no absurdo de se conferir nota a uma candidata, sem antes ter tido a possibilidade de comparar o desempenho desta concorrente com o das outras que se apresentarão a seguir? Isto me parece uma leviandade. Digamos, por exemplo, que uma das primeiras a se apresentar tenha sido considerada merecedora da nota máxima, por seu desempenho que pareceu excelente. Como irá agir o jurado no caso de outra candidata se apresentar, posteriormente, com uma performance ainda superior? Não seria muito mais lógico fazer concisos comentários escritos sobre a apresentação de cada concorrente, ou sublinhar as que se sairam melhor e, baseado nestes apontamentos, ao final da apresentação de todas, fazer um balanço bem fundamentado sobre qual delas foi a melhor, ou quais as melhores?
Também igualmente válida é a idéia de, para a escolha das semi finalistas e das finalistas, além dos breves comentários feitos em folha separada para servir de orientação ao jurado, colocar-se um X ao lado do nome das candidatas preferidas, classificando-se as quinze, ou dez ou cinco, que obtiverem o maior número de indicações dos membros da comissão julgadora. Mas para a escolha da vencedora, o ideal é o voto direto de cada jurado em sua preferida, para que jurados mal intencionados não possam dar maldosamente a pior das classificações à candidata da maioria, com o propósito de lhe impedir a vitória. E no caso de, em primeira votação, não haver concorrente com essa maioria de votos, pela dispersão de preferência dos jurados em três ou mais candidatas, é só repetir a votação em torno das duas mais votadas que aí surgirá a vencedora da forma mais transparente e insofismável.
Um fato curioso e digno de, aqui, ser levado em consideração foi o que ocorreu, e o que poderia ter sucedido, na eleição de Marta Rocha, quando a escolha ainda era feita pelo voto direto de cada jurado em sua preferida. Sei de fonte mais que fidedigna de que Marta, por incrível que nos possa parecer, venceu o Miss Brasil pela escassa margem de um voto, simplesmente pela resistência de alguns jurados à sua loirice "pouco brasileira". Se a eleição tivesse sido por nota, é muito possível que algum desses jurados com maior preconceito contra loiras, mais cioso da morenice que deveria se estampar na pele de nossa Miss Brasil, e com postura menos escrupulosa, tivesse facilmente boicotado sua vitória, atribuindo-lhe alguma nota bem baixa, suficiente para sua derrota. Por sorte o critério ainda era isento de falcatruas, e não chegamos a ser privados, por um expediente tão baixo, da eleição de Marta Rocha, o maior e mais merecido mito brasileiro de beleza feminina de todos os tempos. Mas depois que as notas passaram a ser adotadas, elas tem feito muitos e repetidos estragos, dentre os quais, pelo que consta, a escolha da última Miss Pernambuco pode ter sido o mais recente. E que venha a ser o último, não custa esperar, ainda que muito ingenuamente.
Enfim, está mais do que em tempo de deixarem as organizações dos concursos de persistir, ano após ano, nessas práticas rotineiras, burras, ineficazes e perniciosas, tais como esse critério de atribuição de notas, que pode garfar a candidata mais bela, assim como a má escolha dos integrantes das comissões julgadoras, além do excesso de importância dada ao conteúdo da resposta a uma única pergunta, como fator decisivo para definir a vencedora de um certame de beleza. É preciso que as organizações desses concursos atuem com maior discernimento, seriedade e transparência, para que possamos encarar os certames de beleza, bem como suas organizações, com muito mais respeito e credibilidade.
Recado para Muciolo Ferreira que não viu o concurso ao vivo: acho que deveria haver duas comissões julgadoras. Uma para analisar as candidatas ao vivo e outra para ficar isolada numa sala, vendo tudo através de uma televisão. Depois, as duas comissões se reuniriam e decidiriam o resultado.
ResponderExcluirCarlos Rocha
Floripa
Comentário de Muciolo Ferreira, jornalista, Recife-PE, via e-mail
ResponderExcluir>>>>>>>>>>
Daslan,
A edição especial da Sessão Nostalgia desta semana é bastante oportuna, pois analisa com imparcialidade o atual sistema de votação de alguns concursos de miss, especialmente o pernambucano, que utiliza a pontuação com notas de 1 a 10.
Em 1988 e 1989, quando integrei a coordenação estadual do Miss Pernambuco/Miss Brasil-Universo pela TV Jornal/SBT, juntamente com os jornalistas Fernando Machado e Alex, tínhamos essa preocupação.
Utilizávamos a letra "X" para que os jurados indicassem as 10 finalistas e em seguida as três primeiras colocadas, como você faz nos seus concursos. Dessa forma é mais fácil não ocorrer injustiças ou falcatruas no caso de algum juíz desonesto dar um "voto dirigido" com nota alta para alguma candidata sua afilhada e uma nota baixa para a melhor participante.
Quero agradecer ao Carlos Rocha, de Floripa, pela citação do meu nome em seu comentário postado na Sessão Nostalgia e dizer que concordo inteiramente com ele ao defender duas comissões julgadoras. Uma na platéia e outra assitindo pela televisão.Porque era o que ocorria nos antigos concursos de Miss Universo onde cada jurado tinha diante de si um aparelho de televisão para observar melhor na tela cada candidata.
Sobre o resultado do último Miss Pernambuco, já expressei minha opinião. Agora é desejar boa sorte à eleita para que traga o título nacional para nosso estado, o que srá um feito inédito.
Uma boa semana a todos os leitores.
Abraços,
muciolo ferreira
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O resultado do Miss Pernambuco 2011 foi "gritante". Não tenho outro adjetivo.
ResponderExcluirComo é que num concurso de beleza não são convidadas personalidades envolvidas no dito "mundo-miss" ?
Como uma candidata citada como favorita recebe a nota 2? Esse jurado, no mínimo, foi orientado a fazer isso.
2011, um ano pra ser esquecido para o Miss Pernambuco Universo.