... E QUE NÃO ACORDE ANTES DO VERÃO CHEGAR
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Timbaúba-PE, 24/08/2013
Daslan Melo Lima
Daslan Melo Lima
Faz dois anos que fiz esta foto. Um homem, de pés descalços e sem agasalhos, dormia numa calçada do centro do Recife. Era uma manhã fria e a cena contrastava com um cartaz comercial de uma grife mostrando duas crianças felizes. Lamentei que a cena tão linda estivesse carregada de tanto drama, um lado doloroso da realidade urbana e desumana do dia a dia da cidade grande.
Naquela ocasião, enquanto fazia a foto, pedi perdão a DEUS pela minha impotência diante do quadro na minha frente, pois eu era uma das milhares de pessoas que passavam diante do homem que dormia na calçada e nada fazia para reverter a situação.
Fechei os olhos e supliquei em silêncio: “Tomara meu DEUS, tomara, que ele esteja sonhando que é uma criança feliz, e que não acorde antes do verão chegar.”
Timbaúba-PE, 24/08/2013
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BOA NOITE, PERSÉFONE
Daslan Melo Lima
O capítulo da terça-feira, 13, da novela global “Amor à Vida” foi um alerta para o perigo que passam algumas pessoas carentes e de baixa autoestima. A personagem Perséfone, vivida pela atriz pernambucana Fabiana Karla, estava numa boite e aceitou bebida de um estranho. Foi vítima do golpe conhecido por “Boa Noite Cinderela”, um nome romântico para um crime que já vitimou muita gente.
A mistura dramática de vazio-solidão-ilusão-desamor faz com que muitas pessoas caiam em armadilhas perigosas. Parabéns ao diretor Walcyr Carrasco por abordar isso na novela.
Que o destino poupe eles e elas da fragilidade emocional de Perséfone.
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Timbaúba-PE, 17/08/2013.
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AINDA SE FAZ NOITE,
DEIXEMOS QUE SURJA O DIA
Daslan Melo Lima
“Verdade”, eis o título que dei a um dos poemas do meu primeiro livro, “Sob a chuva que caía”, editado em 1988, onde digo: "Há uma palavra que falta ser dita / Há um sorriso que falta ser expressado / Ainda se faz noite / Deixemos que surja o dia. / Quando surgir o dia / E o sorriso for expressado / Talvez o sol se esconda / E continue a chover. / Por hoje há só noite / Deixemos que surja o dia."
Em janeiro de 1989, quando Gilson Muniz Dias foi empossado prefeito de Timbaúba, o seu vice, Givaldo Braz de Macêdo, utilizou em seu discurso um trecho do poema, “Ainda se faz noite / Deixemos que surja o dia.” O sempre lembrado vereador Eliezer Barbosa de Araújo, o Bananeiro, adorava este poema e declamou dezenas de vezes, inclusive em conferências por vários Estados brasileiros, os mesmos versos: "Ainda se faz noite / Deixemos que surja o dia.” Conheci Guel Barbosa, vereador timbaubense, filho de Eliezer, quando ele ainda adolescente estagiava no mesmo setor onde eu trabalhava no BNB, Banco do Nordeste do Brasil. Guel também gosta de citar o mesmo trecho, “Ainda se faz noite / Deixemos que surja o dia."
Não gosto de discutir política e sempre mantive uma postura equilibrada diante de situações onde o assunto envolve problemas políticos. Pelo que sei, Givaldo Macêdo e Eliezer Barbosa usaram as expressões dentro de um contexto humanitário, onde o foco era a esperança em dias melhores. Pelo que sei, o Guel, sabendo das minhas convicções, também tem o mesmo cuidado ao citar os meus versos.
Quando digo “Há uma palavra que falta ser dita / Há um sorriso que falta ser expressado / Ainda se faz noite / Deixemos que surja o dia”, aconselho a um alguém que tenha cautela, pois as coisas ainda não estão esclarecidas. E fecho o poema tentando dizer que a situação poderá ter outro rumo quando a verdade aparecer. “Quando surgir o dia / E o sorriso for expressado / Talvez o sol se esconda / E continue a chover. / Por hoje há só noite / Deixemos que surja o dia."
"Verdade" combina com a minha maneira de encarar a caminhada no planeta Terra. "Por hoje há só noite / Deixemos que surja o dia."
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Timbaúba-PE, agosto de 2013, vinte e quatro anos depois de ter tido aprendido uma sábia lição com a Verdade.
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O "BOBO" QUE SE APROXIMA SOU EU
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Daslan Melo Lima
Na casa simples pintada de azul moravam o meu tio-avô Sebastião Souza Melo, sua esposa Otília e os meus primos Maria Augusta, Marinete e José.
Marinete cortava minhas unhas, colocava-me no colo, dava-me carinho e me acalmava quando eu me assustava ao ver pela janela algum “bobo” passar. Os “bobos “ eram pessoas que usavam máscaras no Carnaval.
Quando visito São José da Laje, a cidadezinha alagoana que me viu nascer, passo nesta rua que hoje se chama Prefeito Antônio Ferreira, paro na frente da casa de nº 80, olho para a janela e peço ao menino que um dia eu fui que não se assuste.
O “bobo” que se aproxima sou eu.
CIRCO, NOSTALGIA E POESIA
Daslan Melo Lima
A minha amiga Eliane Aquino tem ótimas recordações dos circos do passado. Diz ela: “Na minha infância, circo sempre era uma diversão, mas a parte mais interessante para mim sempre foi a encenação dos“dramas”, peças teatrais improvisadas como último ato da noite. Um desses“dramas” apresentado pela maioria dos circos, provocava no público uma interação emotiva muito grande. “Coração de mãe” tinha como enredo a história de um homem, coagido por uma mulher, que matava e arrancava o coração da própria mãe para presentear a esposa.”
Outra conterrânea-contemporânea, Josenira Degroot afirma: "Lembro-me que uma vez participei de uma dramatização improvisada no circo. Fugi de casa naquele domingo à tarde e fui assistir ao espetáculo. Fui carimbada para ter a permissão de assistir gratuitamente ao espetáculo noturno. Resultado: contei para minha mãe, levei uma surra e fui obrigada a deitar-me mais cedo do que de costume. Morro de saudades dessa coragem que hoje não tenho mais.”
Na São José da Laje de um tempo que se foi, muitos circos eram armados na área onde atualmente está localizada a Praça Clarício Valença Neves. Mabel Rôse Cavalcanti Silva, filha da inesquecível educadora Maria do Rosário, relembra emocionada: “Quanta saudade que eu sinto dos circos da minha infância ! Tinha circo que era armado em frente da nossa casa. Eles pediam as nossas poltronas emprestadas e a gente tinha direito a entrada grátis. Recordações maravilhosas.”
Como não há mais circos como aqueles e hoje as crianças vivem encantadas com jogos eletrônicos, os adultos de um tempo que chegará um dia não sentirão esta doce nostalgia da minha geração, nem a melancolia, nem a poesia.
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CHUVA DE FÉ
Daslan Melo Lima
Apesar da chuva que caía sobre o Recife no dia 16, milhares de fiéis não deixaram de acompanhar a procissão de Nossa Senhora do Carmo. Crianças, jovens e adultos enfrentaram a água que Deus enviava do céu e permaneceram embaixo de guarda-chuvas e sombrinhas atentas ao roteiro de um espetáculo de Fé, conforme mostra esta foto feita por Luna Markman.
Fico imaginando os tipos de pedidos que deram origem aos pagamentos de mil e uma promessas: o emprego conseguido, a saúde recuperada, a superação de um amor perdido, a ilusão renovada...
Os anjos devem fazer um relatório anual do evento para entregar a Nossa Senhora do Carmo. Não precisa, mas eles fazem. Acredito que é por isso que a procissão aumenta a cada ano. Assim Seja !
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