Ao lado, capa da revista
O Cruzeiro, de 12/07/1958, com Bellini (1930-2014), campeão mundial de futebol, e Adalgisa Colombo (1940-2013), Miss Distrito
Federal, Miss Brasil e vice-Miss Universo 1958. Esta edição destaca a vitória da seleção brasileira, campeã mundial de
futebol, e um encontro que os diretores da
revista promoveram entre os campeões do
mundo e as misses Distrito Federal e Bahia, Ana Maria Carvalho.
Gosto muito
de folhear revistas antigas. Nelas encontro momentos de glória e de drama
vividos por celebridades que marcaram época no Brasil e no mundo. A leitura faz
com que eu enxergue certos acontecimentos sob outra perspectiva. O meu momento
de hoje, de paz ou de inquietação, amanhã será passado, e me conscientizo que tenho
de administrar com sabedoria o momento presente.
Na tarde deste quarto sábado de março de
2014, a terceira do outono, mergulho no
exemplar desta revista para reencontrar
Hideraldo Luís Bellini , no auge de sua carreira, como capitão da Seleção
Brasileira de Futebol, vivendo as emoções da conquista do primeiro título
mundial. Paulista de Itapira, onde nasceu em 07/06/1930, Bellini morreu na última
quinta-feira, 20, devido a problemas de saúde decorrentes de Alzhmeir.
Sempre admirei
aquela foto de Bellini levantando a Taça Jules Rimet, tanto que ela faz parte
do banner que ilustra o cabeçalho de PASSARELA CULTURAL, ao lado de outras imagens
símbolos que me são caras:
Torre Eiffel (glamour, moda);
Humphrey Bogart e
Ingrid Bergman, no filme Casablanca
(cinema, artes, romance);
A baiana Maria Olívia Rebouças Cavalcanti,
Miss Brasil e quinta colocada no Miss Universo 1962, minha miss inesquecível
(charme, beleza);
Bellini com a taça Jules Rimet (futebol, esportes, foco,
determinação); Tocadores de pífanos (regionalismo, nordeste brasileiro);
Igreja
Matriz de São José, de São José da Laje,
AL, minha terra natal (sentimentalismo, poesia) .
----------
Na sequência, nostálgicas imagens reproduzidas da referida O Cruzeiro. Detalhe: a revista cita o nome de Bellini com um "l" apenas.
João Ramos do Nascimento,
o Dondinho (1917 –1996), pai de Pelé, e Adalgisa Colombo aguardando a
chegada dos campeões do mundo à redação de O Cruzeiro.
A legenda da página dupla dizia o seguinte: Ele sorriu do elevador, o porte elegante no amassado
uniforme de viagem. Não parecia um jogador de futebol. Tinha até jeito de galã
de cinema. Na mão, o “Oscar” de sua última criação: um filme a cores, todo
rodado na Suécia, com um elenco de onze “astros”. Adalgisa Colombo se aproximou
dele e lhe deu demorado beijo: o beijo que o Brasil reservara ao grande capitão.
Miss Brasil lhe disse, depois, o que sessenta milhões de brasileiros gostariam
de dizer-lhe: que o País inteiro se sentia grande dentro da grandeza de seus
filhos vitoriosos. Hilderaldo Belini sorriu como garoto feliz diante da vitrina
de brinquedos. E respondeu com os votos de todo o País: os herois de Estocolmo
esperam que ela traga de Long Beach novo tútulo mundial para o Brasil. Tudo
isso aconteceu na redação da revista O Cruzeiro, onde a beleza da mulher se encontrou com o talento do futebol brasileiro.
----------
Exemplares de O Cruzeiro sendo autografados pelo
zagueiro campeão.
Abraço de Ana Maria Carvalho, Miss Bahia 1958. Detalhe: A baiana é hoje a senhora Ana Maria Sá, esposa de Ângelo Calmon de Sá, ex-dono do Banco Econômico e ministro da Indústria e Comércio durante o governo do presidente Ernesto Geisel (1907-1996).
----------
Bellini, Ana Maria e Adalgisa Colombo.
----------
Um trecho da revista misturava romantismo e poesia. Vale a pena conferir.
O grande capitão Hideraldo Belini virou guarda-noturno da taça. Com uma ternura
que tem muito do primeiro amor.
Desde que recebeu a Taça do Mundo, o capitão Hideraldo Bellini quase se transformou em guarda-noturno. Não a deixa um só instante. Nem para dormir. Assim foi durante a viagem. Assim foi na redação de O Cruzeiro. Nem os abraços de Adalgisa Colombo, nem as carícias de tantas misses bonitas que o rodeavam, fizeram sombra à mais bonita (para o
grande capitão) das rainhas: a rainha mundial de futebol, esculpida em ouro.
Entre um abraço e um autógrafo, Hideraldo Belini voltava os olhos para a Taça Jules
Rimet com a ternura de enamorado, com a meiguice do primeiro amor.
Como simbolo da seleção vencedora, que ainda materializa os ideais olímpicos, Hideraldo Belini vê na taça uma entidade superior, que se trata
com desvelo e quase veneração. Não é o
culto pagão de um símbolo. É mais que isso. É o respeito aos valores humanos
que ela representa.
Disse Luiz de Camões que o pastor Jacó serviu sete anos por
amor de Raquel. Pois a nossa seleção serviu quatro vezes sete. Belini tem razão
no seu imenso amor. Um imenso e glorioso amor. Até 1962, ninguém tem direito de
estragar-lhe a lua de mel. O grande capitão
parece ter na face um aviso de amigo: “não perturbem”.
Da esquerda para a
direita, Pelé chora no ombro do goleiro Gilmar (1930-2013) e é consolado por Didi (1928-2001); o grande
capitão e a cobiçada taça; a alegria no vestiário, com Djalma Santos
(1929-2013) carregando Pelé no colo e o
massagista Mário Américo (1912-1990) dando
vivas ao Brasil.
Bellini em 1997, ao lado da célebre fotografia. Imagem: Ormuzd Alves/Folhapress |
O corpo de Bellini foi velado no salão nobre do estádio do
Morumbi, em São Paulo, SP, e depois
seguiu para a Câmara Municipal de Itapira, a 170 km da capital, onde foi enterrado às 11 horas deste sábado.
No dia 13/08/2011, focalizei nesta secção o
encontro de Bellini, na redação de O Cruzeiro, com as misses Distrito Fedeal e
Bahia 1958, http://passarelacultural.blogspot.com.br/2011/08/sessao-nostalgia-seccao-em-construcao.html
. Nos últimos dias, a matéria esteve entre as cinco postagens de PASSARELA
CULTURAL mais acessadas, conforme ranking do GOOGLE.
----------
Ao sair do Túnel do Tempo, fecho a
revista O Cruzeiro com a sensação de que, através da leitura de suas reportagens, vivi com intensidade aquele 1958,
quando o mundo era outro mundo, mais lento, mais romântico, mais poético e menos competitivo; quando no Brasil,
Copa do Mundo e Misses empatavam na
preferência do público; quando a extinta revista O Cruzeiro circulava com tiragens semanais em torno de 500.000
exemplares.
Fecho a revista O Cruzeiro certo de que, a qualquer instante, as histórias de glórias e dramas de um tempo que se foi poderão me ajudar a ver os acontecimentos atuais sob outra perspectiva, ajudando-me a administrar com sabedoria as circunstâncias passageiras do momento.
*****
Nenhum comentário:
Postar um comentário