sábado, 12 de julho de 2014

ESSE AMOR QUE ENTRE NÓS NÃO VIVEU

  Daslan Melo Lima    

      A moça encostada na parede da esquina daquela rua trocava beijos com o amado. Um menino introvertido observava e se inspirava para compor poemas que ninguém lia. Um dia, o menino viu a moça chorando e entendeu que o romance dela tinha acabado, pois horas antes ele tinha escutado a moça cantando uma música triste, o samba-canção "Conselho", de Dênis Brean e Oswaldo Guilherme.

Se você me encontrar pelas ruas, 
não precisa mudar de calçada. 
Pense logo que somos estranhos 
e que nunca entre nós houve nada. 

Não precisa baixar a cabeça
pra não ver os meus olhos nos seus. 
Passarei por você sem rancor 
sem pensar que entre nós houve adeus. 

 Nossos sonhos são tão diferentes,
que o remédio é mesmo deixar
que esse amor se desfaça com o tempo, 
sem que seja preciso chorar. 

Entre nós não há culpas nem mágoa. 
O destino assim escreveu. 
Poderemos achar noutros braços 
esse amor que entre nós não viveu.

      Na época ninguém falava em depressão, doença da alma, mas foi isso que o menino sensível sentiu, depressão, por não saber lidar com o vendaval de sentimentos dentro de si. Vontade de abraçar a moça e lhe dizer palavras de consolo, vontade de enxugar o seu pranto, vontade de  não crescer para não sofrer de amor e desamor, vontade de...
      Parte daquele menino que ainda vive em mim poderia hoje compor para a jovem daquela época um poema, mas tinha que ser na parede da esquina daquela rua de uma São José da Laje de um tempo que se foi. Pena que não há mais moça, nem esquina, nem aquela rua, apenas uma velha fotografia desbotada e as marcas desta emoção inacabada.
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Você pode ouvir o samba-canção “Conselho”, na voz de Morgana (1934-2000), clicando neste link:

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