Daslan Melo Lima
Foram muitos os trajes típicos de baiana usados
por representantes do Brasil no concurso Miss Universo. Entre os que marcaram época, o criado
por Marcílio Campos (*25/01/1930 +26/04/1991) para a mineira Staël Maria da Rocha Abelha, Miss Brasil 1961. Na ocasião, O
Cruzeiro, a revista de maior circulação no País, com tiragem de 500 mil
exemplares, deu uma visibilidade sem precedentes ao assunto, com direito a capa e sete páginas.
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A fantasia da capa – Miss Brasil foi fotografada por Indalécio Wanderley
com a “baiana” que ela irá exibir em Miami. A fantasia foi confeccionada por
Marcílio Campos, costureiro pernambucano, bicampeão do carnaval carioca. Ainda
este ano, ele foi o autor de “Isabel, Rainha de Portugal”, com a qual Denise Zelaquett
ganhou 1º prêmio no Municipal e no Quitandinha. Ubiratan de Lemos, Jean Solari e Hélio Passos
levaram Miss Brasil-61 a um passeio
pelas ruas centrais do Rio, vestida com a “baiana” que apresentará em Miami. Foi
uma pausa de beleza e graça num dia normal de trabalho dos cariocas. Beleza, na verdade, vem do berço. E Staël Abelha, antes de ser Miss Brasil, já tinha tudo o que hoje mora ao lado.
---------- Crédito das imagens: O Cruzeiro,
Ano XXXIII, Nº 40, 15/07/1961. Acervo DML/Passarela Cultural.
Rio viu primeiro a baiana Staël. - Texto de Ubiratan de Lemos. Fotos de Hélio Passos e Jean Solari.
Na baiana de luxo, nas ruas do
Rio, o povo foi descobrindo aos poucos Miss Brasil n° 1.
Detalhe: Miss Brasil nº 1, era
assim como se referiam à primeira colocada no Miss Brasil. Na época, as misses
que ficavam no segundo e terceiros lugares tinham a denominação de Miss Brasil
nº 2 e Miss Brasil nº 3, respectivamente, e viajavam para o exterior como representantes brasileiras
no Miss Beleza Internacional, realizado em Long Beach, e no Miss Mundo, que
acontecia em Londres.
Carioca da Cinelândia viu e não
acreditou: baiana muito dourada, muito verde, de penachos e balangandãs, mas de
bamboleio mineiro, singrando, sozinha, pela Belacap. Stäel Maria da Rocha Abelha,
que já se transformou em letra de samba no Rio e em São Paulo, caprichava no
desembaraço. Sorria para os pontos cardeais, na passarela do asfalto. Falava com
um e outro, sublinhando frases curtas de conteúdo gentil. Sempre alegre,
conversando rosas, é incapaz de um “não” para o programa puxado que está
cumprindo. Apenas concorda que precisa engordar os 3 quilos perdidos. E
desmente a versão do noivo. Ainda não teve tempo de pensar nele E não sabe se
ele deve despontar na sua glória confusa. O importante é que Staël continua a
mineira de Caratinga, natural, sem rasuras. A coroa não lhe empoou a vaidade,
mas lhe exagerou a simpatia.
Ela está escrevendo letras miúdas
em papel azul: suas memórias de Miss Brasil. Ou simplesmente um diário, o
roteiro de suas emoções. O sonho fecundado de ser Miss Brasil. Desde já
avançamos que a sua impressão maior, depois de Miss Brasil, é ser agora um
espécimen raro. Todos lhe espiam o rosto como se ela tivesse desembarcado de um
disco voador: curiosidade e análise. Levará para Miami dois presentes. Um pé de
café num jarro e um naco de cristal de rocha. Mas não falará em inglês, porque
não o domina suficientemente. E explica: “acho Camões tão importante quanto
Shakespeare”.
O autor da baiana, que é o luar
destas páginas, chama-se Marcílio Campos, do Recife. É campeão de fantasias do
carnaval. Marcílio trabalhou em tela cristalizada. Amarelo-ouro com babados
plissados e, sobre estes, camada de babados de bico de seda branca, rebordados com paillettes dourados. O matame tem
contornos dourados; as sandálias com detalhes em verde-bandeira. E ainda um chalé
em cetim verde, com turbante no mesmo cetim e adorno de plumas verdes e
vermelhas. Completam a baiana bolas de ajoufo verdes, vermelhas e douradas,
colares, pulseiras, no mesmo tom tricolor. Os brincos são argolas douradas. É a
baiana mais arara, em bom estilo, dos anais do concurso de Miss Brasil.
Miss B-61, a mineirinha Staël Maria,
baixou de retiro silvestre, em São Paulo, de onde sairá para o voo superjato da
Braniff, no “Eldorado”. E, então, será Miaimi Beach, desta vez com profunda
intuição de vitória.
Todo mundo ficava surpreso em
ver, de repente, uma “baiana” tão bonita, tão longe do Carnaval. E a surpresa crescia
quando reconhecia nela a elegante Miss Brasil-61.
Staël, de baiana, mostrou a
faceirice mineira da Cinelândia à Central do Brasil.
Com absoluta exclusividade e
grande esforço, O Cruzeiro mostrou Staël aos cariocas com a linda baiana que
usará em Miami. Aqui, na escadaria do Municipal, ela experimentou a sandália de
16 cm de salto, especial para as passarelas em que reinará com seu encanto.
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Após retornar de Miami Beach, onde não
obteve classificação no Miss Universo, concurso no qual foi eleita Marlene
Schmidt, Miss Alemanha, Staël Abelha
renunciou ao título apresentando sua carta-renúncia onde dizia que trocava seu
reino por amor. Vera Maria Brauner (1942-2012), Miss Rio Grande do Sul, sua vice, foi coroada oficialmente Miss Brasil 1961 em um programa de televisão. A trajetória de Staël foi motivo da Sessão Nostalgia
de 30/04/2011, disponível neste link http://passarelacultural.blogspot.com.br/2011/04/de-alagoas-para-o-mundo_30.html
É bem diferente a maioria dos trajes típicos apresentados hoje pelas misses, distantes daquela baiana de Staël Abelha criada por Marcílio Campos, quando inexistia o termo estilista. Marcílio era chamado, com muita honra, de figurinista e costureiro. Ao mesmo tempo em que buscam, através de suas alegorias, externar a riqueza e os valores culturais de uma
região, alguns estilistas se distanciam dos verdadeiros, singelos e poéticos trajes típicos do Brasil.
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Marcílio Campos confeccionava o traje típico conforme a cara do Brasil, mas valorizando o visual de quem iria usá-lo. Atualmente os trajes típicos foram substituídos por alegorias do Sambódromo. Falta criatividade aos chamados "estilistas”. E as misses, coitadas, se equilibram carregando fantasias pesadas. E tome torcicolo.
ResponderExcluirMuciolo Ferreira
Que matéria maravilhosa!
ResponderExcluirQue traje típico simples e lindooooo!
Que coisa boa esse resgate de uma obra prima de Marcílio Campos!
Luzinete S.Silva de Medeiros - Campina Grande
boa tarde,
ResponderExcluirsou sobrinho neto de Marcílio Campos, e fico muito feliz em saber que ate hoje ele ainda é lembrado gostaria de saber se existe a possibilidade de que me fosse enviado todo esse acervo sobre meu querido tio, pois tenho um projeto para criar um local que fale de sua historia aqui na cidade onde ele foi erradicado e esta enterrado.
aqui em tacaimbó-pe
aguardo o retorno
email: betucampos1@gmail.com
boa tarde,
ResponderExcluirsou sobrinho neto de Marcílio Campos e fico muito feliz em ver que o blog resgata a memoria do meu querido tio e gostaria de saber se existe a possibilidade de me fosse enviado todo esse material para que eu pudesse criar um local aqui na cidade onde ele foi enterrado e foi erradicado em Tacaimbó-pe.[
aguardo resposta.
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ResponderExcluirRECADO PARA ROBERTO CAMPOS
Vou fazer contato por e-mail. Aguarde.
Daslan Melo Lima
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