sábado, 18 de outubro de 2014

SESSÃO NOSTALGIA - Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964

Daslan Melo Lima          

      Recebi ontem do meu amigo Roberto Macêdo, jornalista baiano, o link do site http://blogs.diariodepernambuco.com.br/, cuja matéria em destaque focaliza a visita da grega Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964, ao Recife, http://blogs.diariodepernambuco.com.br/diretodaredacao/2014/10/17/a-foto-do-dia-a-miss-em-boa-viagem .


Uma rainha da beleza deu o ar da graça em Pernambuco e depois na capa do Diario. Foi no dia 14 de novembro de 1964, quando um Elektra da Varig, que trazia a bordo a Miss Universo Kiriaki Tsopei, aterrissou no Aeroporto dos Guararapes. Do turbohélice desceu a grega de 20 anos de idade, considerada a mulher mais bela do mundo naquele ano, com vestido tubinho de cor clara, coroa e faixa. Ela desfilou em carro aberto (um Cadillac cedido por um empresário) até a Praia de Boa Viagem. Com 1,70 m de altura, 91 cm de busto e 53 cm de cintura, Kiriaki trocou de roupa em um apartamento emprestado e desceu para a areia em maiô de peça única. A foto dela rindo, tocando com as mãos a quase espuma das ondas, ganhou a capa do Diario de domingo, dia 15.
      


Depois de nova troca de roupa – agora um traje esporte – Kiriaki rumou para o Pina, onde posou novamente para a imprensa. Às 18h, seguiu para a Malharia Imperatriz, onde “teve oportunidade de adquirir novidades para seu guarda-roupa”. Às 19h, A Miss Universo rumou para o Hotel  4 de Outubro, no bairro de São José, onde se hospedou em “apartamento de luxo”. Descansou até as 22h, quando saiu para participar de um programa de TV e à meia-noite foi levada para o Náutico, onde recebeu homenagens dos colunáveis locais e da comunidade grega.
No dia seguinte, Kiriaki embarcou para Natal e depois para o Rio de Janeiro. Deixou seus súditos pernambucanos divididos. Segundo o texto do Diario, muitos esperavam “coisa melhor”, outros a acharam mais bonita e talentosa. Quem realmente não gostou nada da Miss Universo foi o dono de uma jangada usada para poses da beldade em Boa Viagem. Ele reclamou que todos queriam “sambar” na sua embarcação recém-consertada. Outra curiosidade é que a grega foi recebida no aeroporto por Iolanda Pereira, a primeira brasileira a ser eleita Miss Universo, em 1930, que morava no Recife em 1964 como esposa do brigadeiro Homero Souto, comandante da 2ª Zona Aérea.

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A fim de facilitar as tarefas dos missólogos e pesquisadores que buscam no Google informações sobre Kiriaki Tsopei (que sempre preferiu ser chamada de Corinna Tsopei), disponibilizo abaixo os textos de  três SESSÃO NOSTALGIA a ela dedicadas. 
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SESSÃO NOSTALGIA, 24/01/2009

Kallos Irsate ! Kiriaki, um domingo no Brasil

Daslan Melo Lima

      A grega Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964, sucessora da brasileiraIeda Maria Vargas no trono de mulher mais bela do mundo, esteve no Brasil poucas semanas após ter sido coroada Miss Universo.
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Kiriaki, que em bom brasileiro quer dizer domingo, chegou a São Paulo numa sexta-feira, e deu início ao programa de pouco descanso desta sua visita ao Brasil, primeira que faz como Miss Universo1964 a um país fora dos Estados Unidos.
A sua frase, por assim dizer, de prefácio às declarações que viriam a seguir, foi a de que “os brasileiros são um povo muito gentil”.
Ela sabia disso desde os seus contatos com os conterrâneos de Miss U-63 ainda no país que lhe dera a faixa, a coroa e o título de “a mulher mais bela do mundo”. E, já no Aeroporto de Congonhas, Kiriaki Tsopei encontrou a prova dessa gentileza, com gente muita à sua espera e aplauso muito pela sua chegada.

Miss Universo 1964 veio ao Brasil especialmente para desfilar (Kiriaki é modelo profissional) na VII Feira Nacional da Indústria Têxtil, o que fez com Ieda Maria Vargas, Ângela Vasconcelos e as Misses Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. O programa, mais do que exaustivo, começou com uma visita ao Governador Adhemar de Barros que interrompeu um almoço com o cônsul da Alemanha.(Kiriaki chegou com três horas de atraso) para receber a bela visitante.

Depois, sempre na companhia de Ieda e Ângela, enfrentou coquetel e entrevista coletiva, com resposta às perguntas tradicionais de “que acha do Brasil?”, “já tem noivo?” etc. Disse que, antes do concurso, só sabia do Brasil coisas como Pelé, Corcovado e café. O resto do conhecimento viera dos contatos com as misses que tinha o país presente em Miami.

      Além dos desfiles da FENIT, que foram cinco, Kiriaki teve que cumprir inúmeros compromissos, entre os quais posar para fotos de publicidade e comparecer a coquetéis promocionais. No sábado à tarde, entre um coquetel e um desfile, ela dormiu durante quinze minutos num divã da administração da Feira. Como não tivera tempo para o cabeleireiro, providenciaram-se retoques rápidos em seu penteado, com os grandes olhos da moça refletindo-se, cansados, no espelho de um banheiro. Minutos a seguir, Kiriaki sorria, como rainha, para os convidados de um coquetel.
      Parte do programa de domingo (Kiriaki em grego) teve de ser sacrificada, pois ela não perde missa nesse dia, se no lugar onde estiver houver uma igreja ortodoxa. Em São Paulo havia. E Kiriaki foi ao Brás, com atraso suficiente para fazê-la chegar à igreja depois de terminada a missa.

O Padre Papadakis, entretanto, a recebeu com uma benção especial, em meio ao alvoroço dos fiéis, que gritavam “Kallos irsate!” (Seja bem-vinda!), enquanto o sacerdote dizia que abençoava não o seu corpo, mas a eternidade de seu espírito.
      Na entrevista coletiva, Kiriaki disse que não gosta de se chamar Kiriaki. “Gostaria mesmo era de me chamar Korina”, explicou, embora sem acrescentar o motivo.A um repórter que perguntou se ela pretendia “restaurar” o domínio da beleza clássica grega durante o seu reinado como Miss Universo, limitou-se a uma palavra: “Certamente”.
      Estetas presentes, entretanto, consideraram que nenhuma mulher que tivesse as linhas clássicas ganharia o concurso que deu o título a Kiriaki Tsopei.
_______Reportagem de George Torok e Ronaldo Moraes - Revista O CRUZEIRO, 12/09/1964)

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SESSÃO NOSTALGIA, 12/03/2011

Pelé e Kiriaki Tsopei, um encontro de majestades


Daslan Melo Lima


          Durante muitos anos, um evento paulista atraiu a atenção de todo o Brasil, a Fenit, Feira Nacional da Indústria Têxtil.
FENIT – Recorde de visitantes na maravilhosa feira da moda e do tecido. Extraordinário sucesso está obtendo, em São Paulo, a VII Fenit – Feira Nacional da Indústria Têxtil, reunindo numa maravilhosa exposição o que há de melhor, em todo o Brasil, na indústria de tecidos. Promovida pelo dinâmico  Caio de Alcântara Machado, a VII Fenit tem recebido tão grande número de visitantes que, este ano, baterá todos os recordes assinalados anteriormente, passando da casa de um milhão de pessoas. Uma de suas atrações é o fabuloso auditório, para três mil pessoas, onde desfila a seleção há pouco levada pela Companhia Brasileira Rhodiaceta,  MANCHETE e Air France ao Japão. Ali também pode ser apreciada uma piscina na qual se movimentam enormes golfinhos.  (Revista Manchete, 05/09/1964)
 
           Misses famosas,  como as beldades acima, em pose ao lado de Pelé, desfilaram na passarela da Fenit. Da esquerda para direita: Ângela Vasconcelos (Miss Paraná, Miss Brasil 1964), Kiriaki Tsopei (Miss Grécia e Miss Universo 1964, depois atriz de cinema com o nome de Corinna Tsopei) e Ieda Maria Vargas (Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil e Miss Universo 1963). *****  (Capa da Manchete, 05/09/1964).
 
 O rei driblou todo o mundo e deu um beijo em Miss Universo. Um beijo selou a amizade do rei da bola com a rainha universal da beleza. (Manchete, 05/09/1964)
São Paulo presenciou, na última semana,  um encontro de majestades, quando o Rei Pelé e Miss Universo se defrontaram numa das dependências da VII Fenit. Pelé vinha do Pacaembu, onde fizera um gol contra o Palmeiras. “Fiz aquele gol em sua homenagem”, disse ele a Kiriaki Tsopei. A belíssima grega respondeu: “Oh, Pelé, você é muito gentil! Já em Atenas, antes de ir a Miami, eu ouvia falar muito em você, e sempre desejei conhecê-lo pessoalmente.” Em retribuição ao gol, ela permitiu que Pelé lhe beijasse a testa, após o que o rei comentou: “Aqui, estou mais nervoso do que no campo, quando varava a defesa do Palmeiras.” E, ao saber que Kiriaki, em grego, significa domingo, o maior jogador do mundo disse: “Então, precisamos mudar o nome daquele filme para “Sempre aos Domingos...” Miss Universo ficou ruborizada. ("O Maior Gol de Pelé", Salomão Schwartzmann, Manchete, 05/09/1964).
 
Pelé confirmou o veredicto de Miami, coroando Kiriaki Tsopei pela segunda vez.  (Manchete, 05/09/1964).

          Todos os anos, na época do SPW-São Paulo Fashion Week, lembro-me das  famosas revistas O Cruzeiro, Fatos & Fotos e Manchete, com suas capas e páginas dedicadas à Fenit, onde as Misses eram as estrelas das passarelas e o mais famoso jogador do mundo fazia questão de beijar respeitosamente a testa de uma ruborizada Miss Universo. 
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SESSÃO NOSTALGIA, 24/02/2012

As canções de Ângela Vasconcelos, Miss Brasil 1964, e Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964

Daslan Melo Lima

          Na foto oficial em conjunto das candidatas ao título de Miss Universo 1964, onde todas as concorrentes posaram com maiôs Catalina, o destino fez com que duas mulheres maravilhosas ficassem lado a lado, Ângela Vasconcelos, Miss Brasil, eKiriaki Tsopei, Miss Grécia,numa ensolarada manhã de julho, em Miami Beach, Flórida, Estados Unidos.  

Em Miami, Kiriaki Tsopei e Ângela Vasconcelos tornaram-se boas amigas. Kiriaki perguntou sobre Pelé e pediu a Ângela para cantar algumas músicas daquele filme bonito, Orfeu Negro. A paranaense atendeu e quis troco: “Agora cante algo de Nunca aos Domingos, mas em grego mesmo.” Seu pedido foi satisfeito. (RevistaMANCHETE, 15/08/1964)
 ORFEU NEGRO
           Orfeu Negro, drama ítalo-franco-brasileiro de 1959, dirigido por Marcel Camus (1912-1982), inspirado na peça Orfeu da Conceição, de Vinicíus de Moraes(1913-1980), ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro de 1960. A adaptação da peça, que por sua vez foi inspirada nas figuras da mitologia grega, Orfeu e Eurídice, ambientou a obra no Brasil, tendo como fundo uma comunidade carente do Rio de Janeiro, no período carnavalesco. No papel de Orfeu, o jogador de futebol brasileiro Breno Mello (1931-2008), e no de Eurídice, a atriz norte-americana Marpessa Dawn (1934-2008). No enredo, Eurídice fugiu do interior com medo de um homem que queria matá-la e  apaixonou-se por Orfeu. 
          Acredito que Ângela Vasconcelos tenha cantado para Kiriaki Tsopei a música A Felicidade, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim (1927-1994), uma das mais belas canções de Orfeu Negro.

Tristeza não tem fim, felicidade sim.
A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor.
 Brilha tranqüila, depois de leve oscila 
e cai como uma lágrima de amor.

A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval.
A gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho pra fazer a fantasia 
de rei ou de pirata ou jardineira, 
e tudo se acabar na quarta feira.

Tristeza não tem fim, felicidade sim.
A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar. 
oa tão leve, mas tem a vida breve 
precisa que haja vento sem parar.

A minha felicidade está sonhando nos olhos da minha namorada. 
É como esta noite passando, passando, em busca da madrugada.
Falem baixo, por favor, pra que ela acorde alegre como o dia,
 oferecendo beijos de amor.
Tristeza não tem fim, felicidade sim.

NUNCA AOS DOMINGOS

         Nunca aos Domingos, comédia-dramática dirigida por Jules Dassin (1911-2008),  em 1960, protagonizada por sua esposa Melina Mercouri (1920-1994), enfoca a amizade entre Ilya, uma prostituta grega,  e Homer Thrace, um escritor americano, vivido por Jules Dassin, que tenta mudar a maneira dela encarar a vida. Ilya é feliz do seu jeito, pois não há uma fórmula para a felicidade, e nos braços de Tonio, personagem de George Foundas (1924-2010), ela recupera sua alegria de viver. O filme deu a Melina Mercouri a satisfação de ver seu nome indicado ao Oscarde Melhor Atriz e a emoção de ser premiada como Melhor Atriz do Festival de Cannes de 1960. Nunca aos Domingos, canção-tema do filme, letra e música de Manos Hadjidakis (1925-1994) ganhou o Oscar de Melhor Canção de 1961.

          Acredito que Kiriaki Tsopei, que foi eleita Miss Universo e adotou o nome artístico de Corinna Tsopei,  tenha cantado para Ângela Vasconcelos exatamente a linda canção Nunca aos Domingos, abaixo na versão em português, como aparece nas legendas do filme.

Desde minha janela, envio beijos. 
Um e dois e três e quatro.
E ao porto vêm uma e duas e três e quatro aves.

Quero ter um e dois e três e quatro filhos. 
Quando se converterem em homens serão o orgulho de Piraeus.

Embora procure em todo mundo,
não acharei outro porto que tenha a magia de meu porto de Piraeus.
Quando chega o crepúsculo, o porto me encanta.
E os homens jovens e os ecos das canções enchem meu porto de Piraeus.

Não há ninguém que passe à porta  por quem não tenha sentido amor. 
E aqueles que vêm de manhã  encherão meus sonhos de noite. 
E às jóias que adornam meu pescoço acrescento um amuleto de boa sorte. 
E agora estou preparada para receber o estranho que vem do porto.

Embora procure em todo mundo, 
não acharei outro porto que tenha a magia de meu Porto de Piraeus. 
Quando chega o crepúsculo, o porto me encanta. 
E os homens jovens e os ecos das canções enchem meu porto de Piraeus.

EPÍLOGO

         Na noite do domingo de Carnaval, desliguei-me totalmente da folia para recordar  o Miss Universo 1964,  através dos meus álbuns de recortes,  e para assistir mais uma vez Orfeu Negro e Nunca aos Domingos.  Entrei no Túnel doTempo ao lado da Poesia, da Cultura e da Nostalgia,  tomei um banho de inspiração e aqui estou, nesta quarta-feira de cinzas de 2012, concluindo mais uma  Sessão Nostalgia.  
      Concordo que  “A felicidade é como a gota / De orvalho numa pétala de flor / Brilha tranqüila / Depois de leve oscila / E cai como uma lágrima de amor.” E parodiando um trecho de Nunca aos Domingos, embora procure em todo mundo,  não acharei outra inspiração  que tenha a magia do meu acervo sobre  concursos de Misses.
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Um comentário:

  1. Daslan

    É sempre prazeroso rever as fotos e as notícias das misses do passado que foram destaques nas 3 principais revistas semanais do Brasil nas décadas de 60/70.

    Pena que nas fotos com a grega Kiriaki Tsopei a deusa de ébano Vera Lúcia Couto dos Santos não apareça. Esqueceram de convidá-la porque a morenidade de Verinha faria a diferença.

    Abraços,

    Muciolo Ferreira

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