sábado, 1 de julho de 2017

SESSÃO NOSTALGIA – Marita Lindahl, Miss Mundo 1957, aquele sol quente no Rio de Janeiro

Daslan Melo Lima



            A finlandesa Marita Lindahl, Miss Mundo 1957, faleceu no dia 21 de março, vitima de um AVC, mas a notícia só há poucos dias foi divulgada no Brasil, graças ao site http://missosology.org.  Segundo esse, a informação veio a público após o marido de Marita ter compartilhado a carta abaixo com um jornalista.

"Quando Marita Lindahl venceu o Miss Mundo 1957, ela provavelmente sentiu que seu mundo virara de cabeça para baixo.
Na verdade, sua vitória era um sonho que se tornava realidade para qualquer mulher, mas para a nativa de Helsinque, de 18 anos, tornar-se o centro das atenções foi algo grande demais para lidar.
Como Miss Mundo, Marita ganhou fama, mas isso era algo que ela tinha muitas reservas. Suas imagens foram publicadas em inúmeras revistas e ela se tornou uma modelo requisitada.
Ela viajou muito, em grande parte por causa de seus deveres como Miss Mundo e gostava muito do Reino Unido, apesar disso, manteve discrição. Ela era uma celebridade reservada.
Após seu reinado, Marita voltou ao mundo normal. Ela recusou muitos projetos, incluindo filmes e modelagem. Muitos desses trabalhos poderiam torná-la muito rica, mas para Marita, a privacidade e a família eram sua prioridade. Ela decidiu viver no conforto da austeridade.
Como única mulher finlandesa a ganhar a coroa de Miss Mundo, Marita Lindahl pode ser considerada uma joia da Finlândia. Ela tem um lugar especial na história dos concursos de beleza no país. Mas ela, que não deveria ser esquecida pelos finlandeses, procurou ser esquecida.
Tendo lutado a maior parte de sua vida pela privacidade, Marita morreu ainda lutando por isso. 
Sempre protegendo sua vida, Marita queria que sua morte - como a maior parte de sua vida - fosse privada."
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Capa da revista semanal italiana Oggi - Una pedicure finlandese é stata proclamata la piu belle del mondo 
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        Marita Lindahl, vice-Miss Europa 1957, foi eleita Miss Mundo 1957 no dia 14/10/1957, no Lyceum Ballroom, Londres. Marita esteve no Rio de Janeiro em abril de 1958, para um desfile de modas, acompanhada de três colegas que participaram do Miss Mundo e da famosa modelo francesa Danielle Callier. O assunto mereceu seis páginas da revista Manchete, abaixo reproduzidas. Detalhe: na transcrição do texto, a ortografia foi editada conforme as regras gramaticais atuais. 
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Sol quente para belezas de clima frio


Texto de Gasparino Damata – Fotos de Dilson Martins
Manchete, nº 316, ano 6 – Rio de Janeiro, 10 de maio de 1958
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          Inflacionando Copacabana de beleza, quatro das mais bonitas mulheres do mundo chegaram ao Brasil para apresentar um desfile retrospectivo das modas de Paris: Marita Lindhal, finlandesa e Miss Mundo; Eleonor Ulla, Miss Suécia; Lilian Madsen, Miss Dinamarca; Claudette Navarro, Miss França, e Danielle Callier, um dos mais famosos modelos da França. Chegaram acompanhadas pelo sr. Roger Zeiler, presidente do Comitê Francês de Elegância e membro da comissão que, em Long Beach, elege Miss Universo, e, em Londres, escolhe Miss Mundo. Exibindo chapéus, bolsas, luvas, as últimas criações da moda parisiense, e ainda trajes medievais, desfilaram no Copacabana Palace e no Maracanã.
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A francesinha Claude e a toalha. O maiô está por baixo.
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A ruiva Lilian é uma versão escandinava de Brigitte Bardot. Adorou Copacabana.
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Nos barcos do posto 6, Marita e Danielle, o modelo número um de Paris. O sol tropical maltratou Marita. O do Marrocos bronzeou Danielle.  
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As duas escandinavas gostaram do nosso mar e dos coqueirais, que nunca viram.
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Marita tem a pele sensível e quase não suporta o calor dos trópicos.
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Em assunto de boniteza, campeãs de terra e mar.

             Advertindo que não poria maiô, como suas colegas Lilian, Eleonor e Claudette, por sentir-se ligeiramente indisposta, Marita Lindhal, Miss Mundo, tirou os sapatos, de fabricação italiana. Convidou Danielle, o mais famoso manequim francês do momento, moça de grande charme, cabelos cor de cenoura e rosto salpicado de sardas, e, descalças, foram, passear pela praia.
          Marita tem 18 anos e cabelos cor de areia molhada, finíssimos. É esguia e parece tímida (talvez por só falar o finlandês e algumas palavras de francês, valendo-se do dicionário de bolso). Diz que nasceu em Helsinque, onde o pai é professor e, a mãe, dona de casa. Antes de obter o título máximo da beleza, no seu país, estudava cerâmica. Posteriormente, frequentara uma escola de Medicina, obtendo diploma de especialidade em doenças de pele.
          - Na Finlândia moderna, toda mulher deseja ter uma profissão, além de ser dona de casa – informa, com um sorriso.
          Marita gosta de boas leituras, de música clássica, admirando, principalmente, Sibelius, compositor finlandês, morto recentemente. Ser manequim, sua atual profissão, lhe traz a vantagem de viajar, conhecer o mundo. É, ao natural, sem pintura, moça encantadora, que se revela extremamente doméstica, com uma grande vontade de, quando for possível, casar com “alguém que deixou lá em Helsinque”, à sua espera. É sensível ao amor das crianças, e diz, encabulada: - Pretendo ter muitos filhos, quando casar.
          É a segunda finlandesa a alcançar o título máximo de beleza mundial: a outra foi eleita Miss Universo, em Long Beach, anos atrás. Ser Miss Mundo é, na Europa, o mesmo que Miss Universo, nas Américas.
        A eleição de uma jovem para representar seu país num concurso de beleza, pelos menos em algumas partes da Europa, é simples e curiosa. Na Suécia, a seleção preliminar das candidatas (são três primeiros lugares) se faz à base de fotografias. Assim, escolhem-se as representantes ao concurso de Miss Universo, ao de Miss Europa e ao de Miss Mundo, em Londres.]
          A sueca Eleonor Ulla trabalhava, em sua cidade natal, como retocadora, num atelier fotográfico. Transferindo-se para Estocolmo, passou a posar como modelo. O patrão enviou uma fotografia sua aos organizadores do concurso e ela foi classificada (entre as nove finalistas) para representar a Suécia no concurso de Miss Mundo deste ano. Agora, é manequim para as diversas casas de moda parisiense, profissão que adora, porque lhe proporciona viagens por lugares que nunca sonhou conhecer, como o Rio.
          Lílian Madsen , dinamarquesa, de 20 anos, cabelos vermelhos, tem olhos verdes, profundos. Era estudante ginasial e começou a aprender nas horas vagas, a arte de pentear, em Copenhague. Sua eleição não causou surpresa, pois é dona de todos os atributos (físicos e intelectuais) das jovens modernas da Dinamarca. Atualmente, como as outras, é manequim em Paris. Gosta de viajar e, disse, sempre sonhara conhecer o Rio (que já vira em fotografias). O que mais a encantou: os coqueiros, em frente ao Clube dos Marimbás, e Copacabana. Mas gostou muito de guaraná. Tomou três, geladinhos, de uma só vez. Quando caiu n´água, com a companheira sueca e a francesinha Claudette, foi cercada pela curiosidade dos banhistas.
      A francesa Claudette Navarro descende de espanhóis e se educou em Paris, onde concluiu o clássico, “como toda jovem francesa de sua idade”. É de estatura média, pele alva, acetinada, olhos e cabelos bem negros. Filha de um casal que vive na Argélia, vem a ser a segunda, numa prole de sete. Afirma ter muitos namorados, mas não pretende fazer carreira no cinema nem casar-se tão cedo. Quer continuar manequim, pois gosta de viagens e vestidos bonitos.
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De Paris para o Rio, a moda e os tempos.

Da esquerda para a direita, Lilian, Eleonor, Danielle e Claude, prontas parta desfilar. O desfile nos mostrou que passam as modas, e possivelmente os tecidos passam, mas a mulher continua a mesma agora e em todos os tempos.
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        Noite de 25 de abril, Copacabana Palace, as jovens apresentaram as mais recentes coleções dos ditadores da moda francesa, seguida de um retrospecto da moda, da idade Média até 1957. 
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      Encerraram o desfile com um quadro-fantasia, “Visão do Zodíaco”. Foram aplaudidíssimas. A tímida Marita, sob a luz dos refletores, transfigurou-se. Ajudada pelo físico ideal para as criações (por vezes extravagantes da moda desta temporada, desfilou bem.  Brilhou à medieval e arrancou aplausos, no trapézio.

Marita desfilou com um costume napoleônico, à la Hepburn, de “Guerra e Paz”.
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A mais bela do mundo tem medo do sol – Miss Mundo, a finlandesa Marita Lindahl, acompanhada de uma equipe de beldades escandinavas e francesas, veio ajudar uma inflação que nada tem com o que preocupar os economistas. (Foto de Dilson Martins).
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        A capa da minha Manchete, com Marita na capa, está marcada pelo tempo, embora todas as páginas da publicação estejam em ótimo estado de conservação. 
      Talvez a capa esteja passando uma mensagem subliminar: as rainhas da beleza também envelhecem.
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Marita Lindahl, Miss Mundo 1957
* 17/10/1938
+ 21/03/2017
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                 Enquanto a tarde fria deste primeiro dia de julho de 2017, ainda evoca as festividades de São João, em Timbaúba, Pernambuco, nordeste do Brasil, mergulho nos mistérios da vida e da morte.
       Um dia todos partiremos para a Grande Viagem. Resta-nos o consolo da nossa fé. A vida continuará. Iremos cumprir outra missão em um dos fantásticos mundos do Pai.

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Trecho do concurso Miss Mundo 1957 
Lyceum Ballroom, Londres, vinte e três participantes.
14 de outubro de 1957


Da esquerda para a direita: Miss Japão (5º lugar), Miss África do Sul (3º),  Miss Finlândia (1º lugar), Miss Dinamarca (2º), Miss Tunísia (4º) e Miss França (6º lugar)
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Finalistas: 1 - Finlândia, Marita Lindahl; 2 - Dinamarca, Lilian Juul Madsen; 3  - África do Sul, Adele June Kruger;  4  - Tunísia, Jacqueline Tapia; 5  - Japão, Muneko Yorifuji; 6  - França, Claudette Inés Navarro; 7  - Israel, Sara Elimor
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Demais concorrentes: Austrália, June Finlayson / Áustria, Lilly Fischer / Bélgica, Jeanine Chandelle / Canadá, Judith Eleanor Welch / Alemanha, Annemarie Karsten / Grã Bretanha, Leila Williams / Grécia, Naná Gasparatou / Holanda, Christina van Zijp / Islândia, Runa Brynjolfdóttir / Irlanda, Nessa Welsh / Itália, Anna Gorassini / Luxemburgo, Josee Jaminet / Marrocos, Danielle Muller / Suécia, Eleonor Ulla Edin / Estados Unidos, Charlotte Sheffield / Venezuela, Consuelo Leticia Nouel Gómez.
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5 comentários:

  1. Prezado Missólogo/Poeta,
    Sou saudosista assumido e não me envergonho de dizer, acabo de ler esta "Sessão Nostalgia", achei linda, como seria gostoso ter sempre uma leitura desta para a nossa distração. Eu achava Marita Lindahl, como a maioria das escandinavas, muito bonita, pena o poeta não ter a O Cruzeiro, tem, também, uma reportagem belíssima dessas 4 misses no Rio de Janeiro.
    Obrigado grande Missólogo, continue trazendo-nos estas pérolas.

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  2. Prezado Edgar Bartolomeu,
    você poderia me informar a data da O CRUZEIRO com a reportagem sobre a visita de Marita Lindahl ao Rio?
    Talvez eu encontre a citada publicação no Mercado Livre.
    Grato.
    Daslan Melo Lima

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  3. Oh Deus!

    Por que morrem as misses?
    Deveriam ser eternas.

    muciolo ferreira

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  4. Prezado, atendi a sua solicitação sobre a O Cruzeiro de Marita no Brasil e até hoje não recebi uma resposta sua. Tem 2 exemplares no Mercado Livre, é de maio de 1958.

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  5. Prezado Edgar Bartolomeu, muito grato por sua atenção.
    O acesso aos comentários dos leitores estava desconfigurado.
    Só há poucos minutos tive acesso ao seu último comentário.
    Vou visitar o site do Mercado Livre.
    Um abraço.
    Daslan Melo Lima

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