Meu pai era sapateiro e um dia
pediu que eu fosse à casa do Sr. Enéas, no Sítio Limão, entregar um par de
sapatos que tinha consertado. Saí da minha casa na rua do Rosário, passei pela rua
do Ipiranga, atravessei a ponte do Limão e cheguei no endereço combinado.
Deparei-me na varanda com uma cena
digna das fotonovelas e dos filmes românticos da época. A bela e doce Vera
Estela, filha do Sr. Enéas, minha colega no Ginásio São José, estava deitada
numa rede e cantava “Vai”, um bolero gravado por Anísio Silva.
Pelas noites que já passei,
noites tristes, noites sem fim,
pelas lágrimas que derramei,
por estares longe de mim...
Pelos dias de desencanto que ao teu lado tanto sofri,
pelas horas e pelos anos que eu passei pensando em ti...
leva esta saudade e a desilusão...
Vai, vai minha querida,
leva a minha vida e o meu coração.
Depois de vários anos, eu e Vera Estela estivemos
lado a lado, onde conversamos sobre os mistérios da vida e da
morte. Enquanto isso, o vento e os anjos invisíveis cantavam em silêncio o
trecho final da canção:
Vai, leva esta tristeza,
leva esta saudade
e a desilusão.
Vai, vai minha querida,
leva a minha vida
e o meu coração."
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