Daslan Melo Lima
Na terceira semana de setembro de 1965, a revista Querida, uma publicação quinzenal da Rio Gráfica e Editora Ltda, do Rio de Janeiro, circulava em todo o Brasil trazendo uma matéria sob o título "A Mulher Brasileira No Panorama do Mundo", assinada pelo Dr. Carlos Alberto de Sousa. Transcrita abaixo, a reportagem enaltece a beleza das candidatas ao Miss Brasil 1965, superiores, segundo o autor, às concorrentes ao título de Miss Internacional do IV Centenário do Rio de Janeiro.
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A MULHER BRASILEIRA NO PANORAMA DO MUNDO
Dr. Carlos Alberto de Sousa
Especial para QUERIDA
Conheço grande parte do mundo. E espero em breve visitar a parte oriental do Universo, aproveitando o Congresso em Tóquio, ao qual fui convidado.
Já vi brancas, amarelas, pretas. E índias, mulatas, cafuzas, mestiças, eurasianas. Continuo, porém, achando o tipo brasileiro o "fino" em matéria de mulher. Um pouquinho avantajada, como a italiana e a maioria das latinas.
Creio, mesmo, que 99 por cento das brasileiras não sabem tirar partido dos dotes que Deus lhes deu. Primeiro pela vida sedentária que herdamos da colonização, quando as sinhás-moças viviam embaladas na rede, abanadas pelas escravas, sobrecarregando o físico com toda a sorte de petiscos, docinhos e biscoitos quentinhos saídos do forno.
Era uma lei de perdição para a beleza e linhas estéticas. Acresce a circunstância que depois de casadas passavam automaticamente a pertencer à categoria das matronas, mães de muitos filhos, usando modas de senhoras respeitáveis, sem outros interesses que o lar e filhos. Tratava-se de praxe estabelecida a pirataria dos maridos com as escravas que, não raro, tinham do senhor tantos filhos quanto Sinhá Dona.
A alimentação substanciosa e farta, casas enormes, fazendas imensas, contribuíam sem dúvida para a moral adotada. Nada escandalizava ninguém. Muitos dos erros do Brasil Colonia ainda perduram hoje.
MAS A VIDA CONTINUOU...
Graças às dificuldades da época atual, as mulheres tiveram de sair em campo para trabalhar. Da concorrência com o homem nasceu a necessidade do aspecto físico bem cuidado. Há pouco tivemos um confronto no Rio de Janeiro, no Concurso Internacional da Beleza, a única realização do IV Centenário que atingiu o povo da Guanabara.
Sue Ann Downey, Miss Estados Unidos, Miss Internacional do IV Centenário do Rio de Janeiro, terceira colocada no Miss Universo 1965.
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As oito finalistas do Miss Brasil 1965. Da direita para a esquerda: Sandra Penno Rosa, Miss São Paulo, 2º lugar; Berenice Lunardi, Miss Minas Gerais, 3º lugar; Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Groso, 4º lugar; Maria Raquel Helena de Andrade, Miss Guanabara, 1º lugar; Rosemary Raduhy, Miss Paraná, 6º lugar; Solange Leão, Miss Espírito Santo, 8º lugar; Ilce Ione Hasselmann, Miss Estado do Rio, 5º lugar;Marilda Mascarenhas da Silva, Miss Bahia, 7º lugar.
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Não é preciso ser juiz para concluir que o bouquet de mulheres que concorreu ao título de Miss Guanabara e Miss Brasil foi mil vezes superior às estrangeiras. A escolha de Miss Estados Unidos, contudo, foi justa. Suas belas formas e, principalmente, suas pernas influíram na seleção final.
As americanas têm, em geral, seu ponto fraco no busto, em forma de pera e não globoso como deseja a perfeição e é encontrado comumente entre as brasileiras. A perda desta forma, quando constatada, leva as nossas mulheres aos tratamentos mais disparatados, indo por fim cair na mais sensata das escolhas: o tratamento `à base de hormônios ou o cirurgião plástico. Existe algo, porém, acima da beleza.
O ENCANTO
Miss Alemanha - mocinha magérrima - foi justamente aclamada pelo público e classificada pelo júri. Dona de um charme, de uma alegria e comunicabilidade que deveria ser a tônica de um concurso de beleza, - que se disputa porque se deseja e onde o povo é o principal juiz - Miss Alemanha, repito, a todos conquistou. Isso as brasileiras deviam aprender.
Na passarela, Ingrig Bethke, Miss Alemanha, terceira colocada no Miss Internacional do IV Centenário do Rio de Janeiro. Na comissão julgadora, da esquerda para a direita: Ângela Vasconcelos, Miss Brasil 1964; Teresinha Morango, Miss Brasil e vice-Miss Universo 1957; Vera Ribeiro, Miss Brasil e quinto lugar no Miss Universo 1959; Ieda Maria Vargas, Miss Brasil e Miss Universo 1963; Emília Corrêa Lima, Miss Brasil 1955, e Martha Rocha, Miss Brasil e vice-Miss Universo 1954. (Imagem: revista Fatos & Fotos)
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Quanto às qualidades físicas, possuía o par de pernas mais feio que já vi. As coxas lembravam um amarrado de bagaço de cana, destituído já de todo o sumo. Não poderia ser classificada se se levasse em conta apenas a plástica. Eis a razão por que estou escrevendo este artigo. Para provar que o encanto não provem da beleza clássica. Nem mesmo dos vestidos, maquilagem ou penteados.
Encanto é sortilégio vindo do íntimo, de uma alegria interior. Da confiança em si própria, em seus méritos. Sem temor da concorrência.
Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Grosso, quarto lugar no Miss Brasil 1965.
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Em matéria de andar, contudo, as nossas ganharam a palma. Dona Maria Augusta, da Socila, pouco conseguiu das misses internacionais, Pareciam soldados prussianos em marcha. As brasileiras, algumas, tinham a graça das garças, a deslizar, como Miss Mato Grosso.
PROGRESSO EM RITMO DE BELEZA
Cada vez se torna mais selecionado o espetáculo de beleza, eugenia e elegância entre a nossa juventude feminina. Feias não havia. Talvez algumas menos bela ou mais tímida. Todas mereciam apreciação e faziam jus ao desfile.
Fiz deste artigo um intervalo na série publicada sobre cuidados científicos de beleza. Meu livro, - "Todas Podem Ser belas"! - a ser lançado brevemente, será um estímulo para a mulher brasileira.
Aprenda a cultivar beleza, atire fora as ideias retrógradas, o desprezo pelo físico. Dê maior valor à saúde. Por que não reviver o culto grego da beleza, da perfeição? Frinéia salvou-se da condenação à morte por sua plástica invejável.
Comece desde hoje - amanhã talvez seja tarde - a tratar de sua pele, do corpo, do conjunto em geral e terá a seus pés o homem amado, fiel, a adorá-la, principalmente se juntar ao físico a vontade e a agudez do espírito. Assim seja.
Se algo não ficou bem claro, remeta carta, com envelope selado para a resposta, solicitando informações à revista QUERIDA.
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Cinquenta e três anos depois, folheio a Querida e me recordo dos concursos de misses no Maracanãzinho. Saudade de O Cruzeiro, Mundo Ilustrado, Manchete e Fatos & Fotos dando grandes destaques em suas páginas.
O que fazer? Não permitir que a nostalgia seja mais forte do que eu. Já é Primavera. Assim Seja !
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ResponderExcluirCoisa mais linda esse concurso de 1965. Já na etapa estadual tivemos jovens lindas disputando o título de Miss Guanabara. E uma semana depois no Miss Brasil foi um show de mulheres lindíssimas dos estados e alguns países.
Parabéns Daslan.