----------
CAFÉ DA MANHÃ SEM MARTHA ROCHA
Aquele garoto que chegava na padaria, e pedia pão francês para o café
da manhã, ficava com água na boca quando via alguém comprar as bolachas
"Martha Rocha", nome que homenageava a Miss Bahia, Miss Brasil e
Vice-Miss Universo 1954.
.
.
Aquele garoto, anos depois, quando teve
condições de comprar vários quilos de "Martha Rocha", já não se
fabricava bolachas com o mesmo nome.
Também não existia mais a padaria do Sr. Manoel Lins d'Emery, o "Seu Neco Emeri", na cidadezinha alagoana de São José da Laje, às margens do Rio Canhoto.
.
Também não existia mais a padaria do Sr. Manoel Lins d'Emery, o "Seu Neco Emeri", na cidadezinha alagoana de São José da Laje, às margens do Rio Canhoto.
.
Aquele garoto que está triste com a notícia da morte da
eterna Miss Brasil, sou eu, administrando velhas emoções inacabadas.
----------
Daslan Melo Lima
Editor do blog PASSARELA CULTURAL
Timbaúba, PE
05.07.2020
----------
Daslan Melo Lima
Editor do blog PASSARELA CULTURAL
Timbaúba, PE
05.07.2020
---------
-------
----------
MARTHA ROCHA NÃO MORA MAIS AQUI
No futuro, ao consultar os
obituários deste ano, eles indicarão que ela morreu num dia quatro de
julho. Eu, porém, me atrevo a dizer que a morte de Martha começou de
forma silenciosa e íntima há quase dois anos quando ela precisou se
desfazer da sua casa e ir morar em um abrigo para idosos. Sempre
discreta como convém a uma alma nobre, não tornou público seu martírio,
nem fez dele um panfleto barato para deleite de curiosos. Com toda
certeza engoliu o choro e o sofrimento e
seguiu em frente de cabeça em pé, como tantas vezes já havia feito ao
longo da vida.
Foi uma mulher que sempre teve a consciência de que o seu
nome era de domínio público, porém a sua história pessoal era somente
sua e essa, ela se dava ao sagrado direito de guardar consigo. Uma vida é
feita de lembranças. Daquelas que através de objetos físicos ou
materiais são guardadas, e de outras que são armazenadas no coração. Ao
se recolher em apenas um quarto num abrigo para idosos, Martha tinha a
noção de que era forçada a se desfazer de lembranças e pertences que lhe
eram tão caros. Certamente sentiu o impacto. Tinha certeza que tanto
ela, quanto sua história e sua vida teriam a partir daquele instante,
que caber na mala que levava.
Não é fácil, tampouco agradável, no
entardecer da sua vida, ter que aceitar que ela se reduza a uma mala e
você próprio tenha que se ajustar a uma “caixinha” para que nela seja
depositada toda sua história. Sensível e inteligente como era, Martha
percebeu que este mundo não lhe pertencia mais. Deixou-se seduzir pelas
doenças oportunistas que surgiram e no final, acamada, sem se locomover,
a audição também lhe foi tirada de forma sorrateira. Visitas eram
raras. Afagos poucos. Solidão sempre presente ainda que cercada de
vigilantes cuidadores. O palco da vida onde ela começou a brilhar ainda
adolescente, de repente tornou-se escuro e vazio, sem aplausos e sem
flores. E assim, Martha, ícone de um século, eternizada para sempre como
uma deusa da beleza, saiu de cena como todas as grandes estrelas de
cinema. Luzes apagadas, mas aplausos efusivos e memória permanente.
À semelhança do emblemático filme “Alice não mora mais aqui” (1974), de Martin Scorsese, e que concedeu à sua protagonista Ellen Burtstyn o Oscar de melhor atriz por sua interpretação soberba da representação de inúmeras mulheres dos anos sessenta que foram em busca da obtenção do poder sobre suas decisões e suas vidas, Martha Rocha também decidiu que era chegada a hora de sair de “casa” em direção ao mundo que sempre lhe pertenceu e que lhe esperava: o mundo das estrelas... por isso, não chorem senhores.
Martha Rocha não mora mais aqui.
Está posta em merecido lugar de destaque junto ao panteão das estrelas e é a mais brilhante delas todas.
----------
Dema de Francisco
Dramaturgo, jornalista e memorialista
São Paulo, SP
Facebook / 06.07.2020
---------
MARTHA, UMA ROCHA
Martha ainda teve uma filha com ele - nunca se deram bem - e uma depressão profunda também, ficou magérrima e fumava muito.
Com o tempo a separação era inevitável e ela já madura foi trabalhar na H. Stern de Ipanema, tipo relações púbicas. Martha sempre foi do trabalho e brilhava nos salões do então High-Society do Rio e São Paulo. Além da beleza era iluminada. Quando chegava, parava.
Foi assim quando a levei numa festa de um amigo meu na Vieira Souto, lá muitos gays e senhoras que tiveram seus dias de dondocas e mais nada. Martha parou. Todos queriam tirar fotos com ela - ainda não existia selfie - e ela sempre sorrindo, dizendo que sim e nós na varanda, com o mar de testemunha. Dentro do grande apartamento, dava para sentir o barulho das unhas roídas das tais 'socialites' gordas , duras e invejosas.
Travamos uma bela e saudável amizade. Rodamos. Fomos um dia almoçar no restaurante 'Vernissage' em Penedo, outra vez a peguei para passar uma noite comigo em Bananal - as cortinas eram claras - ela nao dormiu nada, quando saí do meu quarto ela estava já arrumada, conversando com a dona da pousada e louca para ir embora. Sempre com elegância, sabia mandar o recado nas entrelinhas..
Um dia, talvez por já nao ser mais possível ficar sozinha ou com cuidadores, os filhos a colocaram numa casa de repouso. Era o que tinha para agora, para uma mulher que teve uma das maiores coberturas da Avenida Atlântica, com boate e mangueira no jardim. Quando vendeu essa propriedade, o cunhado Piano ficou de aplicar seu dinheiro e sumiu. Na maturidade ainda encarou um câncer no seio, ia e voltava da radioterapia de táxi, sozinha, segurando os seios de tanta dor, quando passava pelas ruas de paralelipípedos.
Martha era para poucos, muitos obas e olas, mas intimidade mesmo, para poucos.Tive a honra de ser um deles.
MARTHA, UMA ROCHA
Conheci Martha Rocha - sim, o
Martha dela é com h - em 2007 ou 2008. Havia sugerido o nome dela para a
'Revista Joyce Pascowitch', emplacou de imediato. Naquele tempo ela
morava em Volta Redonda e eu no Rio, em pouco tempo estava subindo a
serra, sozinho. Cheguei no apartamento dela nervoso, tremia, afinal quem
diria que algum dia eu estaria tomando café e entrevistando a maior
Miss de todos os tempo?! Logo de cara nos gostamos, meu tremor foi
notado por ela, que com toda delicadeza foi comentado com preocupação.
Ficamos 2 ou 3 horas juntos, preparei bem a entrevista antes, li sua
biografia e tudo mais, e saí de lá satisfeito. O prédio não era luxuoso,
mas o apartamento dela sim, só peças boas e a vida dela melhor do que
tudo.
Martha Rocha viveu, de verdade. Teve dois filhos com Alvaro Piano,
um milionário louco por ela que veio a falecer cedo, os filhos eram
ainda crianças.
Mais tarde se casou com Ronaldo Xavier de Lima, jogador de polo, meio playboy, criado em Copa , tinha grana e também algum sentimento por ela que era tudo, menos amor.
Na lua de mel, durante um cruzeiro ele disse: " Agora vou terminar com o rosto mais bonito do Brasil". Plaft. Ela carregava uma marca debaixo de um dos olhos que disfarçava com uma grossa camada de pancake. Isso foi dito na matéria , não estou revelando segredo. O casamento tem várias versões, mas fico com a dela. Uma coisa é fato, ele era charmosão e traiu Martha com muitas amigas minhas, capas de revista. Alguma coisa ele tinha, pois elas iam no escritório dele tirar a roupa, que só tiravam para as revistas.
Mais tarde se casou com Ronaldo Xavier de Lima, jogador de polo, meio playboy, criado em Copa , tinha grana e também algum sentimento por ela que era tudo, menos amor.
Na lua de mel, durante um cruzeiro ele disse: " Agora vou terminar com o rosto mais bonito do Brasil". Plaft. Ela carregava uma marca debaixo de um dos olhos que disfarçava com uma grossa camada de pancake. Isso foi dito na matéria , não estou revelando segredo. O casamento tem várias versões, mas fico com a dela. Uma coisa é fato, ele era charmosão e traiu Martha com muitas amigas minhas, capas de revista. Alguma coisa ele tinha, pois elas iam no escritório dele tirar a roupa, que só tiravam para as revistas.
Martha ainda teve uma filha com ele - nunca se deram bem - e uma depressão profunda também, ficou magérrima e fumava muito.
Com o tempo a separação era inevitável e ela já madura foi trabalhar na H. Stern de Ipanema, tipo relações púbicas. Martha sempre foi do trabalho e brilhava nos salões do então High-Society do Rio e São Paulo. Além da beleza era iluminada. Quando chegava, parava.
Foi assim quando a levei numa festa de um amigo meu na Vieira Souto, lá muitos gays e senhoras que tiveram seus dias de dondocas e mais nada. Martha parou. Todos queriam tirar fotos com ela - ainda não existia selfie - e ela sempre sorrindo, dizendo que sim e nós na varanda, com o mar de testemunha. Dentro do grande apartamento, dava para sentir o barulho das unhas roídas das tais 'socialites' gordas , duras e invejosas.
Travamos uma bela e saudável amizade. Rodamos. Fomos um dia almoçar no restaurante 'Vernissage' em Penedo, outra vez a peguei para passar uma noite comigo em Bananal - as cortinas eram claras - ela nao dormiu nada, quando saí do meu quarto ela estava já arrumada, conversando com a dona da pousada e louca para ir embora. Sempre com elegância, sabia mandar o recado nas entrelinhas..
Em Volta Redonda
ela era a rainha. Os colunistas adoravam ela, agenda cheia, mas por
alguma razão - talvez financeira, saúde ou ambas - os filhos levaram ela
morar em Niterói. Lá começou a nada dar certo. Martha não curtia a casa,
mudou, ficou pouco tempo. Também não queria ser vista, era vaidosa,
sabia o valor da sua imagem, de tudo que plantou no imaginário. Se
recolheu total, depois de uma queda começou a ter problemas de
locomoção. Adorava ler, fazer palavras - cruzadas (das difíceis) e usava
as redes sociais com maestria. Nos falávamos pelo FB e também por fone.
Um dia, talvez por já nao ser mais possível ficar sozinha ou com cuidadores, os filhos a colocaram numa casa de repouso. Era o que tinha para agora, para uma mulher que teve uma das maiores coberturas da Avenida Atlântica, com boate e mangueira no jardim. Quando vendeu essa propriedade, o cunhado Piano ficou de aplicar seu dinheiro e sumiu. Na maturidade ainda encarou um câncer no seio, ia e voltava da radioterapia de táxi, sozinha, segurando os seios de tanta dor, quando passava pelas ruas de paralelipípedos.
Martha era para poucos, muitos obas e olas, mas intimidade mesmo, para poucos.Tive a honra de ser um deles.
Descanse em Paz, minha queria amiga,uma rocha de mulher.
----------
Renato Fernandes
Jornalista
São Paulo, SP
Facebook / 06.07.2020
----------
A VICE QUE DEU CERTO
Se até hoje no Brasil existiu um vice que deu certo, certamente errou
quem apostou em José Sarney (vice de Tancredo Neves), Itamar Franco
(vice de Fernando Collor) ou Michel Temer (vice da presidenta Dilma).
Essa personalidade tem nome e sobrenome: Maria Martha Hacker Rocha ou
simplesmente Martha Rocha.
E pensar que Martha foi eleita Miss Brasil em 1954 numa eleição
quase indireta apenas por um Colégio Eleitoral formado por sete jurados
e sem a presença dos eleitores que seriam tempos depois traduzidos em
numerosas platéias que lotavam o Ginásio Maracanãzinho poderia até
parecer algo inusitado. Isso se não fossem a honestidade e a lisura dos
jurados na hora de escolher a Miss Bahia como a mais bela entre as seis
candidatas de outros estados. Naquele júri ninguém foi indicado pelo
Centrão. Manoel Bandeira (poeta), Helena Silveira (escritora), Fernando
Sabino, Paulo Mendes Campos e Pompeu de Souza (jornalistas) jamais
aceitariam se corromper nem receber propina para eleger outra menos
competente nem bela para Embaixadora da Beleza Brasileira, mesmo sendo o
Rio de Janeiro sede da competição ser o Distrito Federal e ter
candidata. Daí ter sido legítima a eleição daquela que seria "A Primeira
Namoradinha do Brasil".
Uma década depois para esse título ser da atriz Regina Duarte, mas
sem direito a coroa, faixa e manto. Então, qual o motivo de Martha Rocha
ser "A Vice que deu certo?". Simples: Foi a partir de sua derrota no
concurso Miss Universo por duas polegadas a mais no quadril que os
concursos de miss em nosso País se popularizaram ao ponto de disputar a
audiência no mesmo patamar de uma final da Copa do Mundo de Futebol. Isso até o final dos anos 60.
Diferente dos outros vices que tivemos e
não deram certo, Martha Rocha tinha carisma e sempre foi aplaudida nas
aparições públicas. A eterna Miss Brasil nos deixou aos 87 anos. Teve
uma vida de glamour. Tive o prazer de conhecê-la num evento no Recife
promovido pelo coordenador do Miss Pernambuco, Miguel Braga. Ela
resgatou um pouco a auto-estima do brasileiro que andava em baixa com as
duas derrotas da seleção Canarinha nas Copas do Mundo de 50 e 54 e após
o trágico suicídio de Getúlio Vargas.
Teve amores e desamores. Mas isso é assunto para colunas de
celebridades e de fofoca. O Blog do Magno é coisa séria. Ontem, Martha
Rocha saiu de cena para entrar na história.
---------
Muciolo Ferreira
Jornalista
Blog do Magno Martins
Recife, PE
05.07.2020
----------
Descanse em paz, Martha Rocha,
você fez o Brasil muito mais feliz!
----------
Roberto Macêdo
Jornalista, porta-voz da nova franquia do concurso Miss Brasil.
Salvador, BA
Facebook / 05.07.2020
*****
Parabén Daslan. Mais uma página da história da maior Miss Brasil de todos os tempos. A Sessão Nostalgia fica imortalizada e sempre será fonte de pesquisa quando o tema for Martha Rocha. Muciolo Ferreira- jornalista pernambucano
ResponderExcluir