sábado, 2 de janeiro de 2010

SESSÃO NOSTALGIA - GINA MACPHERSON, VALE A PENA SER MISS

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Daslan Melo Lima

No primeiro ano dos mágicos anos sessenta, uma década mil vezes cantada em verso e prosa, quando o Rio de Janeiro deixou de ser a capital do Brasil, surgiu o Estado da Guanabara. O Estado, que existiu até 1975, começou com o pé direito. Gina Macpherson, Miss Botafogo, Miss Guanabara, foi eleita Miss Brasil 1960, semifinalista no Miss Universo, e foi a primeira de outras misses Guanabara a conquistar o título máximo da beleza brasileira. As outras foram: Maria Raquel Helena de Andrade (1965), Ana Cristina Ridzi (1966) e Eliane Fialho Thompson (1970).


Gina Macpherson, Miss Botafogo. Miss Guanabara, Miss Brasil 1960. (Foto: Indalécio Wanderley, revista O CRUZEIRO, 18/06/1960)

Gina Macpherson, 20 anos de idade, filha de pai escocês e mãe norte-americana, educada em colégio de freiras, nascida em Niterói, estava atrás do balcão da agência de uma companhia de aviação, a BOAC, onde trabalhava como recepcionista, quando Marcílio Nunes, um dos diretores do Botafogo, convidou a bela morena de olhos verdes para disputar o título de Miss Guanabara.


VALE A PENA SER MISS?


Em 1966, Gina Macpherson morava no nordeste, precisamente em Natal, capital do Rio Grande do Norte, quando a revista MANCHETE fez a entrevista com ela para a série de reportagens "Vale a pena ser Miss?"

Casada com Ademar Garcia, Oficial da Marinha, mãe de dois filhos, Carla e Norman, e figura da alta sociedade potiguar, Gina Macpherson fez as declarações abaixo ao jornalista Andre Kallas, da MANCHETE.

Vale a pena, sim. Desde, porém, que o título não suba à cabeça da eleita. É uma experiência única na vida de qualquer moça. Se fosse necessário, venceria novamente a minha timidez e voltaria à passarela do Maracanãzinho para repetir tudo de novo. Se minha filha Carla, de três anos, quando crescer, quiser ser candidata a algum título de beleza e o pai não fizer objeção, eu não a impedirei. Pelo contrario, procurarei até orientá-la, pois essa orientação – como a que tive de minha mãe e de minha irmã Dorothy – é de maior importância, decisiva mesmo. É verdade que tive alguns aborrecimentos com jornalistas – alguns chegaram ao cúmulo de dormir na porta da minha casa, com o intuito de me vigiar - , mas tudo isso é irrelevante, e dos aborrecimentos daquela época não guardo lembrança nem rancor. Valeu a pena ser Miss, sim. Fui Miss Brasil há seis anos, e já faz tempo que estou fora do noticiário dos jornais e revistas. Pois bem, até hoje, quando vou à feira, aqui em Natal, todos olham para mim, reconhecem-me e me presenteiam com o melhor dos seus sorrisos. E isso é coisa que não tem preço.


Gina Macpherson e os filhos Carla e Norman, na sua residência de Natal, Rio Grande do Norte. (Foto: Sebastião Barbosa, revista MANCHETE, 28/05/1966)

Eu jamais pensei em ser Miss Guanabara ou Miss Brasil. Nem mesmo Miss Botafogo. Mas, quando conquistei o primeiro título, senti que poderia ir adiante. E quem me incutiu essa certeza foram os fotógrafos. Comecei a notar a insistência com que eles me procuravam – a mim mais do que às outras. Era um bom sinal – e isso me animava. Aprendi também que, num concurso de beleza, o importante é encontrar sempre tempo para repousar. Porque não há beleza que resista a três ou quatro noites mal dormidas.

Sei que é um chavão o que vou dizer, mas toda verdade tem um pouco chavão. E ai vai o meu : tudo parecia um conto de fadas. Um conto de fadas que começou exatamente quando desfilei pela última vez, já de maiô, e ouvi milhares de pessoas gritando por mim: Já ganhou! Já ganhou!


GINA MACPHERSON E O MISS UNIVERSO

A propósito do concurso Miss Universo, Gina Macpherson declarou :
Acho que nos Estados Unidos os concursos de beleza, seja qual for o ano ou a época, nunca fogem da rotina. Os americanos são organizados demais e tudo é muito quadradinho. E, na minha opinião, existe muita política na escolha da Miss Universo. Ganhou a norte-americana Linda Bement, mas existiam várias moças mais bonitas que ela. Eu estava preparada para qualquer resultado: acabei ficando em sexto lugar.

GINA MACPHERSON, FELIZ COMO NOS CONTOS DE FADAS

Ao voltar de Miami Beach, Gina começou a percorrer o Brasil de ponta a ponta. Foi a Vitória, Fortaleza, Recife e dezenas de outras cidades. Em Goiânia, um admirador ofereceu-lhe um presente dos mais estranhos, cujo significado até hoje não compreendeu: duas balas de revólver. Mas ganhou também numerosos outros presentes, menos insólitos, inclusive valiosas jóias, além de um prêmio de viagem à Europa oferecido pela companhia em que trabalhava. Um detalhe: por exigência de seu pai, a não ser no dia da eleição, nunca mais desfilou em maiô nas festas a que comparecia.



Gina Macpherson e Ademar Garcia. (Foto: Revista MANCHETE)

Gina Macpherson não cumpriu totalmente o seu reinado como Miss Brasil. No dia 26 de janeiro de 1961, sete meses após ter sido eleita a mulher mais bela do país, casou com Ademar Garcia, com quem havia tido um desentendimento na época do Miss Guanabara, por ele não concordar com sua participação no concurso.

“Casaram-se e estão felizes como nos contos de fadas”, assim termina a reportagem "Vale a pena ser Miss?" na revista MANCHETE, de 28 de maio de 1966.

“Casaram-se e estão felizes como nos contos de fadas”, uma oração típica dos anos 60, um tempo mágico que se foi, para sempre se foi.

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