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Daslan Melo Lima
Final de dezembro de 1959 em São José da Laje, Alagoas, a cidadezinha onde nasci, um universo lento em preto e branco, sem televisão, sem computador, sem internet, sem telefone... As paredes do Mercado Público, na esquina com o local conhecido como “corte”, por onde passavam os trens de ferro, amanheceram pichadas com letras bonitas e enormes onde se liam “Salve 1960!”
As crianças daquele tempo nem se davam conta de que iam ser testemunhas de uma década que produziria alguns dos mais importantes ícones da história: O filme “O Pagador de Promessas”; A corrida espacial; The Beatles; Rolling Stones; Jovem Guarda; Festivais da MPB; Twist; Mini-saia; Hippies; Brasília; Éder Jofre, campeão mundial de boxe; Seleção Brasileira, bicampeã mundial de Futebol; “Laços de Família”, de Clarice Lispector; O método de alfabetização em massa de Paulo Freire; O lançamento das revistas Realidade, Veja e do semanário O Pasquim; O humor de Sérgio Porto ”Stanislaw Ponte Preta”...
Sou uma pessoa romântica e sentimental, mas não ingênua ao ponto de achar que todas as coisas lá do passado eram maravilhosas. Nos anos 60, a Guerra do Vietnam fez milhares de vítimas e uma tromba d'água no Rio Canhoto destruiu parcialmente a cidade onde nasci. Todavia, confesso que sinto uma saudade imensa de um tempo mais lento, menos competitivo. Saudade de um tempo onde o futuro ainda estava distante de mim, distante, muito distante.
Para quem foi criança nos mágicos anos 60, assusta – e muito – saber que a qualidade de vida no planeta terra está irremediavelmente comprometida pelo excesso de veículos, desmatamento da Amazônia, avanço do mar, buraco na camada de ozônio, derretimento das calotas polares... Ninguém falava dessas coisas na minha infância.
Vou fechar os olhos e imaginar que é final de dezembro de 1959 em São José da Laje, Alagoas. Vou pedir na Farmácia do Povo, ou na Drogaria Modelo, um dos mais cobiçados brindes natalinos da época: um Almanaque Capivarol, Biotônico Fontoura ou Goulart, como aquele que minha mãe ganhou e que guardo com muito carinho, com Elizabeth Taylor na capa, linda, mais linda do que nunca.
Naquele Almanaque Goulart de 1960 há uma matéria com o seguinte título "Nossa Tradição de Misses", ilustrada com três imagens mostrando quatro misses: Zezé Leone, Miss Brasil 1922; Marta Rocha e Emília Corrêa Lima, Miss Brasil 1954 e 1955, respectivamente; e Vera Ribeiro, Miss Brasil 1959.
As crianças daquele tempo nem se davam conta de que iam ser testemunhas de uma década que produziria alguns dos mais importantes ícones da beleza brasileira de todos os tempos, garotas maravilhosas que foram Top 5 nos mais prestigiados concursos de beleza do mundo:
Vera Maria Brauner, vice-Miss Beleza Internacional 1961;
Maria Olívia Rebouças Cavalcanti, quinta colocada no Miss Universo 1962;
Ieda Maria Vargas, eleita Miss Universo 1963;
Vera Lúcia Couto Santos, terceira colocada no Miss Beleza Internacional 1964;
Maria Isabel Avelar Elias, quarta colocada no Miss Mundo 1964;
Sandra Penno Rosa, quinta colocada no Miss Beleza Internacional 1965;
Marluce Rocha Manvailler, quarta colocada no Miss Mundo 1966;
Martha Vasconcellos, eleita Miss Universo 1968;
Maria da Glória Carvalho, eleita Miss Beleza Internacional 1968.
Vou fechar os olhos e imaginar que é final de dezembro de 1959 em São José da Laje, Alagoas, e sonhar com o futuro distante de mim, distante, muito distante, envolvido em maravilhosos sonhos coloridos.
A todos vocês, meus amados leitores, minhas amadas leitoras, uma feliz década de 1960! Perdão! Eu quero dizer, uma feliz década de 2010!
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Comentário de Mucíolo Ferreira, via e-mail.
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Daslan,
Você continua o mesmo menino de calças curtas correndo pelas ruas de São José da Laje.
Um eterno romântico e nostálgico ao evocar as misses do passado com suas tradições de bons desempenhos nas competições internacionais.
Pelo que o poeta escreveu, concluimos que a Sessão Nostalgia desta semana teve um sabor especial, inspirada pelo bom filho que voltou à sua casa e revisitou o seu passado buscando nos baús recordações da criança que não foi tragada pelo tempo e nem violentada pelos modismos.
A criança que reside em você continua a mesma da infância: pura e inteira, apesar do corpo adulto.
Parabéns pelo lirismo e singeleza do seu texto que me emocionaram.
Seus amigos e leitores agradecem. Bjs,
Muciolo Ferreira