sábado, 9 de março de 2013

MINHA PRIMEIRA AULA DE DIPLOMACIA E HUMANISMO

Daslan Melo Lima


          Antonita Barbosa Bezerra de Melo, na foto ao lado do filho caçula Maurino Sérgio, foi uma das minhas professoras no curso primário. Esposa de José Martins de Melo, Agente de Estatística do IBGE, ela usava uma bota ortopédica e sempre estava bem vestida e maquiada. Filha de Arthur Barbosa Cavalcante e da Comendadora Marieta Cassela, morava na Rua Floriano Peixoto (Rua do Pontilhão), próximo ao Grupo Escolar Carlos Lyra. 
       Seu currículo era invejável, pois tinha sido a primeira colocada no concurso do magistério estadual. Detalhe histórico: quando D. Antonita estava em Maceió, na Secretaria de Educação, para ser homenageada pelo escritor Graciliano Ramos (1892-1953), então Secretário da Educação de Alagoas, a cerimônia foi suspensa. Graciliano Ramos foi preso minutos antes por questões políticas, acusado de comunista.


          Uma vez, D. Antonita falou para a nossa turma que estava com sede e gostaria muito de tomar um picolé. Um colega se ofereceu para ir comprar. Ela deu o dinheiro e o menino saiu. Como ele demorava a chegar, de vez em quando ela olhava pela janela. De repente, um colega que também tinha olhado, falou para todos ouvirem: “Ele vem lambendo o picolé”. Quando o menino entrou na sala, um silêncio total tomou conta do ambiente. Foi quando D. Antonita, com muita classe, disse: "Meu filho, muito obrigado por sua gentileza, mas você demorou a chegar e a sede passou. Pode ficar com o picolé." E o assunto foi encerrado definitivamente.
          D. Antonita, que faleceu em 10/11/2006, não fazia uso da palmatória para corrigir seus alunos. Sua atitude serena e a forma sábia de contornar aquele incidente acabou se transformando na minha primeira aula de diplomacia e humanismo.

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