Daslan Melo Lima
PRÓLOGO
Muitas foram as garotas lindas e
humildes que viram suas vidas mudarem para melhor depois que participaram de um
concurso de Miss. No Brasil, o exemplo mais famoso é o de Anísia Gaspariana da
Fonseca, Miss Brasília, quarto lugar no
Miss Brasil 1967, cuja história foi contada duas vezes nesta secção, em 09/08/2008,
http://passarelacultural.blogspot.com.br/2008/08/sesso-nostalgia_09.html , e em
10/07/2010,
http://passarelacultural.blogspot.com.br/2010/07/abertura_10.html .
Foi na revista O Cruzeiro, de 16/06/1956,
comprada recentemente num sebo, que conheci um pouco da história da cinderela Ely de Azevedo Pires, Miss Niterói,
segunda colocada no Miss Estado do Rio 1956. Um acaso levou Ely para disputar o Miss
Brasil: Aniko Csettkey, Miss
Teresópolis, primeira colocada no
certame estadual, renunciou ao título uma semana depois de eleita.
ELY A MOÇA POBRE DE NITERÓI – MISS ESTADO DO RIO 1956
(Texto de Luis Edgard de Andrade -
Fotos de Jorge Audi e Hélio Passos – O CRUZEIRO, Rio de Janeiro, 16/06/1956,
Ano XXVIII, Nº 35)
Era uma vez uma menina chamada Ely. Estudava
em Botafogo. Um dia, o pai morreu. Sem recursos, a família ficou. Uma viúva e sete
filhos para criar. Reuniram os poucos trens (pois se tratava duma família
mineira) e lá se foram, em demanda do outro lado da baía, para uma casinha
humilde nos arredores de Niterói.
A
pobre menina pobre tinha 15 anos. Adeus, estudos. Adeus, colégio de Botafogo.
Pos-se a trabalhar, na fábrica de fósforos, para dar de comer a mãe e aos
irmãos. Depois, numa fábrica de tecidos. Passados seis anos (como ficou bonita!)
ei-la ainda a sustentar os seus, honestamente. Arranjou emprego público. É
funcionária do Instituto de Previdência Social, em Niterói. Cada dia primeiro
do mês, entrega o pequeno ordenado a D. Alda, que os anos emagreceram: “Está
aí, mamãe, para as despesas”. As coisas melhoraram. A família já mora num
pequeno apartamento na cidade.
A pobre menina pobre – 21 anos agora –
chama-se, por extenso, Ely de Azevedo Pires e ganhou, de súbito e nobremente, o
título que muita moça rica ambicionava. É Miss Estado do Rio. E quando,
admirado de sua face (cujas linhas os pedantes diriam como que esculpidas a
cinzel), algum repórter indaga que ideal tem na vida, Ely responde com a voz e
os olhos que Deus lhe deu: “Comprar uma
casa para mamãe”. Ela precisa tanto”. Esse o impacto emocional da bela, triste (e
sem adjetivos) história de Ely – uma vida em que a pobreza não está como figura
de retórica.
Na noite em que elegeram Ely Miss
Niterói, o Governador Miguel Couto Filho a cumprimentou no Estádio Caio Martins.
O pai do govenador, grande cientista, também veio de origem humilde e estudava
no chão, à luz duma vela. Muitos dentre os do júri que a escolheu fizeram-se por si, tal como
ela.
Na foto da esquerda, as finalistas do Miss Niterói 1956:
Avilmar Cunha, Miss Jornal O Combate; Ely Pires, Miss Jornal Hoje; Lígia Cunha,
Miss Icaraí, e Edith Lousada, Miss Iate Clube. ***** Na foto da direita, as finalistas do Miss Estado do Rio 1956: Léa Marques, Miss Angra dos Reis; Herminia Hryiewicz, Miss Petrópolis; Ely de Azevedo Pires, Miss Niterói; e Aniko Csettkey, Miss Teresópolis. Aniko foi eleita, mas depois renunciou ao título, por motivos de saúde.
Mas não era Ely a Miss Estado do Rio (eis
o resto da história). Tinha sido eleita Aniko Csettkey, que teve a faixa de
mais bela por uma semana depois renunciou (motivos de saúde). Aniko nasceu em
Teresópolis – justamente o município que representava neste concurso promovido
pelos Diários e Emissoras Associados, sob o patrocínio dos maiôs Catalina e do Organdi Paramount. Aniko parece nome japonês, mas é filha dum casal de
imigrantes húngaros, chegado ao Brasil em 1937. Dois anos depois rompe a
guerra na Europa e o pai dela, convocado pelo exército, volta à Hungria. Aniko
assiste à guerra de uma fazenda nos arredores de Budapeste. Viu bombardeios,
troar de canhões, ocupação russa, sangue e fome. A família conseguiu fugir num
caminhão para a Áustria. De lá, os três voltaram para o Brasil definitivamente. Aniko
aprendeu a ler já em português. Faz o curso clássico. O pai tem uma fábrica de
porcelana na serra.
Aniko passou a faixa a Ely numa festa em Teresópolis.
A faixa foi oficialamente colocada na nova Miss pelo Secretário da Educação e Cultura do Estado Rio, Professor Rubens Falcão, que fez votos por que fosse
substituída, dia 16, por outra faixa: a de Miss Brasil. A pobre menina pobre
não acredita, mas pode ser que a profecia pegue. Ely nasceu em Juiz de Fora e
este – dizem – é decididamente o ano dos mineiros.
ANIKO SANTOS, CIDADÃ DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
O motivo de Aniko Csettkey ter renunciado ao título de Miss Rio de Janeiro 1956 poderia estar ligado ao fato da beldade ter nacionalidade húngara. Pesquisando na Internet, descobri uma matéria sobre o assunto no jornal A NOITE, Ano XLIV, Rio de Janeiro, sábado, 2 de junho de 1956, N° 15329. Vide http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=348970_05&pasta=ano%20195&pesq=confus%C3%A3o%20na%20escolha%20de%20miss%20estado%20do%20rio ***** Quando o link abrir, selecione 1956, edição 15329. Tem uma chamada na capa do jornal e ao prosseguir aparece a página 2 do 1º caderno, acima reproduzida.
O amor de Aniko Csettkey pelo Rio de Janeiro e sua competência como profissional na área de turismo fez dela Cidadã do Estado do Rio de Janeiro. Vide http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/scpro99.nsf/b87370a209a49958832567040007d037/c3b5a63069da0d45032569fa0053ccfa?OpenDocument
Aniko Csettkey, ou simplesmente Aniko Santos, atual secretária municipal de Turismo de Teresópolis e vice-presidente do Fórum Estadual de Secretários de Turismo. ***** Imagem: http://ideias.org.br/informativo/ideias-entrevista-aniko-santos#sthash.yQCgufsg.dpuf
ELY AZEVEDO, FINALISTA NO MISS BRASIL 1956
ANIKO SANTOS, CIDADÃ DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
O motivo de Aniko Csettkey ter renunciado ao título de Miss Rio de Janeiro 1956 poderia estar ligado ao fato da beldade ter nacionalidade húngara. Pesquisando na Internet, descobri uma matéria sobre o assunto no jornal A NOITE, Ano XLIV, Rio de Janeiro, sábado, 2 de junho de 1956, N° 15329. Vide http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=348970_05&pasta=ano%20195&pesq=confus%C3%A3o%20na%20escolha%20de%20miss%20estado%20do%20rio ***** Quando o link abrir, selecione 1956, edição 15329. Tem uma chamada na capa do jornal e ao prosseguir aparece a página 2 do 1º caderno, acima reproduzida.
O amor de Aniko Csettkey pelo Rio de Janeiro e sua competência como profissional na área de turismo fez dela Cidadã do Estado do Rio de Janeiro. Vide http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/scpro99.nsf/b87370a209a49958832567040007d037/c3b5a63069da0d45032569fa0053ccfa?OpenDocument
Aniko Csettkey, ou simplesmente Aniko Santos, atual secretária municipal de Turismo de Teresópolis e vice-presidente do Fórum Estadual de Secretários de Turismo. ***** Imagem: http://ideias.org.br/informativo/ideias-entrevista-aniko-santos#sthash.yQCgufsg.dpuf
ELY AZEVEDO, FINALISTA NO MISS BRASIL 1956
As finalistas do Miss Brasil 1956, da esquerda para a direita:Eli de Azevedo Pires, Miss Estado do Rio, sexto lugar; Maria José Cardoso, Miss Rio Grande do Sul, primeiro lugar; Leda Brandão Rau, Miss Distrito Federal, terceiro lugar; Regina Maura Vieira, Miss São Paulo, segundo lugar; Luzia Aliete Borges, Miss Pará, quinto lugar; Maria de Jesus Holanda, Miss Ceará, quarto lugar. ***** (Foto: Revista do Rádio, Ano IX, nº. 356, de 07/07/1956,
EPÍLOGO
Por onde anda Ely de Azevedo Pires, a ex-moça pobre de Niterói? Em algum lugar deste imenso país-continente chamado Brasil, uma senhora deve se emocionar neste Natal ao se lembrar de que já viveu em uma casinha humilde e que, com o pouco que ganhava, sustentava a mãe viúva e seis irmãos.
Cinquenta e sete anos depois, pobres meninas pobres ainda sonham mudar de vida através da conquista de um mágico título de Miss.
*****
Estas histórias de garotas lindas, pobres e inteligentes que ganham um título de Miss e que mudam de vida sem atropelar a vida de ninguém, são verdadeiros contos de fadas.
ResponderExcluirMuito grato, Daslan por resgatar e compartilhar estas verdadeiras relíquias.
C.Rocha de Floripa.
Muitos leitores assíduos da SESSÃO NOSTALGIA não gostam de postar comentários. Admiram minhas crônicas, de vez em quando enviam e-mails ou telefonam, mas preferem o anonimato.
ResponderExcluirNa manhã deste domingo, 08/12/2013, tive a satisfação de receber uma ligação de L., do Rio Grande do Sul, afirmando que não perde uma Sessão Nostalgia e adora tudo o que escrevo, principalmente as coisas que remetem aos mágicos anos 50 e 60. Passamos quase uma hora conversando.
Grato a L., um abraço a todos e uma semana abençoada.
Daslan Melo Lima
Daslan,
ResponderExcluiro problema de muitos leitores preferirem o anonimato ao postar suas opiniões na Sessão Nostalgia é o preconceito que ainda ronda os concursos de miss e seus admiradores.
Para muitos, miss é coisa do passsdo e demodê(fora de moda). Os pseudos intelectuais acham os missólogos pessoas pobres e vazias de neurônios.
Abraços,
Muciolo Ferreira - do Recife
Muciolo,
ResponderExcluirPois discuto qualquer assunto com qualquer "intelectual". Estou à disposição... rsrsrsrs
Abraço,
Roberto
Caro Macêdo.
ResponderExcluirVocé, Daslan, Fernando Machado, Hamilton Mota Mendes, João Botafogo, Evandro Silva e outros pesquisadores entre os quais também me incluo, somos de uma elite preparada para discutir qualquer assunto que estiver em pauta fora do tema "missologia". Seja diante de uma banca acadêmica ou num programa de televisão transmitido em tempo real.
Todavia existe um grupo que acessa alguns blogs e fóruns se passando por missólogos ou especialistas, que denigre a imagem dos verdadeiros estudiosos da matéria. Pelo que eles postam,dá margem a interpretações preconceituosas contra o segmento. Daí muita gente preferir o anonimado não comentando o que Daslan escreve semanalmente na Sessão Nostalgia sobre as misses do passado. Eles tem receio de serem rotulados e confundidos com o pessoal dos fóruns.
Forte abraço,
Muciolo Ferreira
Realmente, Muciolo, há sites que dizem muitas bobagens e leitores que, além de escreverem errado, ficam naquela frescura, falando do vestidinho de X , do penteado de Y.
ResponderExcluirFelizmente, entre as pessoas mais sérias do mundo Miss encontramos as personalidade que você citou. Não lhe conheço pessoalamente, mas vi que se trata de pessoa competente e séria, a julgar pelos comentários que já postou neste espaço em outras postagens.
Tenho Mestrado em Medicina e Oncologia Molecular, conheço outras culturas e...adoro Misses!
No meio em que vivo, não conheço ninguém com este gosto por Misses e gostaria de um dia me reunir com missólogos sérios como vocês.
J. (por enquanto, ainda prefiro o anonimato) interior de São Paulo.
Obrigado, J, pelas referências e incentivo.
ResponderExcluirPercebe-se que você é uma pessoa inteligente, iluminada e de personalidade.
Forte abraço,
muciolo
Eu ilgosto e pronto. Não estou aqui para agradar ninguém. Assisto pela tv, assisto no público, posto na minha pagina de facebook, ajudo quem organiza. Gosto não se discute. Quem não gosta, que vá navegar naquilo que quiser. Se sou fútil? Pouco ime importa.. Gosto de coisas bonitas. De coisas feias, o mundo está cheio!
ResponderExcluirToda vez que leio A Sessão Nostalgia relativos as misses famosas que era pobres me emociono porque são jovens maduras,pé no chão, com um caráter indefctivel, não entram na vida da futilidade, não se prostituiram isto que é um verdadiro exwemplo de Miss
ResponderExcluirBonito comentário de João cordeiro!
ResponderExcluirPara mim ,Ely merecia estar entre as 3 primeiras no MB.quanto a tersopolitana,o motivo deve teria sido,mesmo,o que vc pesquisou:estrangeira!abraços,japão.
Minha mãe, Eli, faleceu em 2014. Boas lembranças.
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