sábado, 19 de abril de 2014

SESSÃO NOSTALGIA - MARIA EUNICE MERGULHÃO MACIEL, MISS PERNAMBUCO 1968

Daslan Melo Lima  
      

     
Imagem: Arquivo/Fernando Machado
     No dia 08 de junho de 1968, o Clube Português do Recife foi cenário do concurso Miss Pernambuco, evento beneficente promovido pelo  Diário de Pernambuco com renda revertida para a Campanha Pernambucana pró-Infância. Nove jovens disputaram o título da mais bela pernambucana daquele ano: Cátia Maria Arruda e Silva (Boa Viagem); Gisoneide Diniz (Arcoverde), segunda colocada; Ivanise Batista (Jaboatão dos Guararapes), Maria da Conceição Bandeira (Clube Náutico Capibaribe), Maria Eunice Mergulhão Maciel (Clube Intermunicipal de Caruaru),  primeiro lugar; Marluze Siqueira Cavalcanti (Bom Conselho), Miriam Cristina Queiroz (Vitória de Santo Antão), Naida Lins de Albuquerque (Sport Club do Recife) e Rosa Maria de Souza Basto (Clube Português do Recife). As duas últimas empataram em terceiro lugar. Naida Lins de Albuquerque (1949-2012), meses depois, conseguiu o título de Miss Objetiva de Pernambuco e foi eleita Miss Objetiva do Brasil e vice-Miss Objetiva Internacional 1968. A matéria abaixo, escrita pelo jornalista Fernando Machado, em julho de 1988, revela um pouco da personalidade de Maria Eunice Mergulhão Maciel, ou simplesmente Eunice Mergulhão. Detalhe: A reportagem cita o dia 14 de junho como data do concurso e o número de oito concorrentes.

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PERFIL – Maria Eunice Mergulhão Maciel - Vinte anos de beleza – Reportagem de Fernando Machado - Caderno Você, Jornal do Commercio, Recife, domingo, 3 de julho de 1988

    
Acervo DML/Passarela Cultural
      No dia 14 de junho fez vinte anos que ela foi coroada Miss Pernambuco, numa festa memorável realizada nos salões do Português. Disputaram o título oito bonitas jovens, mas no final uma comissão formada por César Cals, Iva Costa, José Carlos Poncell Neto, Léa Pabst Craveiro e Antônio Barros escolheu-a como a mais bela pernambucana de 1968.  “Foi uma emoção tão grande quando ouvi os apresentadores Albuquerque Pereira e Carmen Tovar anunciarem meu nome como a nova Miss Pernambuco. E como todas, cheguei às lágrimas. Foi um momento inesquecível”, confessa Maria Eunice  Mergulhão, atualmente vivendo ao lados dos filhos Pedro, Henrique, Gustavo e Patrícia, num bonito apartamento  em Boa Viagem, e cuidando dos seus negócios. Ela não soube definir como e por que entrou no concurso de Miss Pernambuco, mas não vacilou em dizer que se sua filha Patrícia quiser concorrer ao Miss Pernambuco será totalmente a favor. “Darei a maior força, como minha mãe o fez quando os amigos me inscreveram no concurso como Miss Clube Intermunicipal  de Caruaru.”
      Maria Eunice Mergulhão Maciel não nasceu em Caruaru, e sim em Belo Jardim, no dia 22 de junho. É desquitada e tem um grande sonho: “fazer uma volta ao mundo”. Tinha dezessete anos incompletos quando se tornou a rainha da beleza dos pernambucanos, “nunca pensei em ser Miss. Desfilava em Caruaru em festas beneficentes. Todavia, um dia, a Miss Pernambuco de 1967, Vera Maria Silva, foi a Caruaru e os amigos me apresentaram  a ela como a futura Miss Pernambuco. Fiquei meio sem jeito com o papo, mas depois aquele sonho tomou conta de mim, e três meses depois desfilava no Intermunicipal de Caruaru como sua representante no Miss Pernambuco.”
     Maria Eunice permanece bonita e seu descobridor, o jornalista Cervantes, vaidoso em ter conseguido a segunda vitória no concurso – a primeira foi a caruaruense Dione Oliveira, que conseguiu um segundo lugar no Miss Brasil – chega a confessar que “Nicinha nunca foi uma aproveitadora, participava das festas sem cobrar cachê, nem pedia vestido ou dinheiro. Ia porque gostava.”
     Então fizemos uma viagem ao passado exatamente no dia em que Maria Eunice, então com 16 anos, 11 meses e oito dias, se consagra Miss Pernambuco de 1968 e está posando com a segunda colocada, Gisoneide Diniz, de Arcoverde, e as terceiras classificadas (houve um empate, Rosa Maria Bastos, do Português, com Naida Lins de Albuquerque, do Sport). “Desfilei com um modelo vermelho, bem decotado, desenhado por Marcílio Campos e costurado por Nícia Barbalho. Era lindo meu vestido. Aliás usei-o novamente no Miss Brasil, lá no Maracanãzinho. E logo no início senti que a noite estava para mim.”

O Cruzeiro, 29/06/1968. Acervo: DML/Passarela Cultural

           Com 1,68 m de altura, 58 quilos, 79 cm de busto, 62 cm de cintura e 95 de quadris, ela fazia o tipo violão, bem à Marta Rocha, “e com um maiô Catalina, o maiô das misses” – brinca Nicinha, imitando os apresentadores do concurso – estampado recebeu a faixa, a coroa, mais de um milhão de cruzeiros e a responsabilidade de representar Pernambuco no Miss Brasil.  Sem namorado, pois tinha acabado o romance dias antes de ser Miss, renovando após o concurso, “ele tinha tanto ciúme de mim que decidimos terminar de uma vez por todas”. Maria Eunice brilhou ao retornar à sua terra, “desfilei pelas ruas da cidade, em carro aberto. Foi uma emoção tão grande, que ainda permanece viva em meu pensamento. Era muito jovem, cheia de sonhos e sem maldade. Via naquilo tudo uma fantasia, como no cinema. Era uma espécie de Alice no País das Maravilhas. Ate as cantadas eu pensava que eram galanteios, mas sempre fui firme nestes casos. Os amigos me alertaram logo: cuidado com os tarados e os aproveitadores, e por conta disso me tranquei numa redoma. As cantadas agressivas levava na brincadeira e as mais inteligentes as  descartava da mesma maneira.
     Tudo isso para Maria Eunice era um sonho. “Imagine uma jovem do interior que trabalhava na Cooperativa do Banco Popular de Caruaru, de repente ser cortejada e sair viajando pelo Brasil. Primeiro fui participar do Miss Bahia, cuja vitoriosa, Martha Vasconcellos, foi eleita Miss Brasil; depois do Miss Brasília; do Miss São Paulo e finalmente do Miss Brasil, tudo foi fascinante”, conversa. Mas nada disso fez com que Maria Eunice mudasse de rumo, “era muito bonito aquilo tudo, mas sabia que iria terminar e estava preparada para isso”.  Hoje, distante daquele dia que mudou sua vida, curte os momentos, as fotos, as reportagens que foram publicadas nas revistas e jornais. “Guardo tudo que sai comigo”, confessa. E, de fato, Nicinha, como é chamada carinhosamente, mostra álbuns e álbuns sobre o concurso e sobre seu momento atual.
      Vinte anos depois, Maria Eunice permanece a mesma, brincalhona, alegre, bonita, uns quilinhos a mais e com muitas lembranças daquele tempo. Tristezas do concurso não guarda, “conservo as horas felizes e se pudesse concorreria novamente ao Miss Pernambuco”, apesar de reconhecer que mudou muito. “As moças entram visando promoção e ganhar muito dinheiro como modelos. Eu não, entraria apenas pelo clima, pelas amizades que fazemos e pelas viagens. Antigamente, as jovens só pensavam em arranjar um marido rico e virar mulher de sociedade”, explica Maria Eunice.  Seus filhos adoram quando ela fala da época “e ainda hoje quando me preparo para ir a uma festa eles fazem coro dizendo que estou linda. São meus maiores fãs”. Nunca se afastou dos concursos de beleza, “este ano fui chaperone do Miss Pernambuco, tenho um bufê e atuo  no ramo imobiliário. Já tive confecções e boutique em Belo Jardim,  quando era casada”.
      E como toda jovem do interior, de antigamente, sabe cozinhar, costurar, bordar “e desenho modelos, quando tenho tempo, para mim. Desenhei muito quando tinha a confecção infantil, a Tita’s. Atualmente prefiro prestigiar os figurinistas da terra, é mais cômodo. Adorei ser Miss Pernambuco e tudo o que o concurso me proporcionou, até mesmo os fatos desagradáveis,  pois me ajudaram a crescer interiormente.

     
Imagem: Arquivo/Fernando Machado
      Maria Eunice Mergulhão é uma consumidora despojada de grifes, não se liga  em nomes, mas no seu click de mulher.
Tênis – Adoro, principalmente quando acompanho meus filhos nos esportes.
Roupa – Gosto da esportiva e da clássica e não me ligo em grifes. Ficou bem em mim, e pronto, me ganhou.
Personalidade – Minha mãe, Estela Mergulhão.
Homem mais bonito – Alain Delon.
Melhor presente – Flores, principalmente rosas vermelhas.
Medo – Rã.
Sonho de consumidora – Viajar pelo mundo para rever Paris e Genebra.
Meias – Christian Dior.
Comida – Pratos frios, adoro saladas.
Cidade mais bonita do mundo – Paris, Genebra e Rio.
Cidade preferida – Era o Rio, mas com a onda de violência que assola a cidade, prefiro agora o Recife.
Bebida – Coquetel de frutas.
Coca Cola ou Pepsi Cola - Coca, a outra é muito doce.
Perfume – Não tenho preferência por marcas, prefiro os suaves.
Óculos – Não tenho preferência por grifes. Gostei fiquei.
Uma Miss – Martha Vasconcellos.
Xampu – Qualquer um para cabelos oleosos.
Desodorante - Não tenho preferência.
Maquilagem – Como as misses de outrora, Helena Rubinstein.
Bijuterias ou joias – Ambas. Sou filha de cigana, dizem, pois adoro balangandãs.
Restaurante – Marruá.
Restaurante que não gosta de ir – Os agitados demais.
Filme inesquecível – A Noviça Rebelde.
Atores e Atrizes - Marlon Brando, Tarcísio Meira, Julie Andrews e Fernanda Montenegro.
Programa de televisão – Noticiários, Hebe e filmes, principalmente os da Sessão da Tarde.
Música –  “Deslize”, de Fagner.
Compositor – Chico.
Sabonete – Lux e Phebo.
Cantor (a) -  Roberto Carlos e Elba Ramalho.
Times – Sport e Central.
Escola de Samba – Mangueira.
Pasta de dente – Colgate ou Kolynos
Religião – Católica, mas de repente surgiu em mim meu lado de espírita kardecista
Santo de devoção – Nossa Senhora da Conceição
Jogador – Renato Gaúcho
Frase - “Compartilhar com amor é o segredo da verdadeira amizade”.
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Em 1971, dirigida pelo seu primo Cleto Mergulhão, a Miss PE 1968 foi protagonista do filme O Último Cangaceiro
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Em trajes típicos, da esquerda para a direita, Eunice Mergulhão, Miss Pernambuco; Maria de Fátima de Souza Acris, Miss Amazonas; e Cláudia Virgínia Lisboa, Miss Alagoas. 

     Tenho num dos meus álbuns de recortes, uma página autografada, acima, por Eunice Mergulhão, em 18/10/1991, ocasião onde tive oportunidade de testemunhar sua meiguice e ouvi-la falar do seu tempo de rainha da beleza. A última vez que a vi foi em Caruaru, na noite da realização do Miss PE 2001, vencido por Débora Daggy.

Imagens: revista O Cruzeiro

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     Possuo um exemplar do livro Noite Contra Noite, Editora Civilização Brasileira S.A. - Rio de Janeiro, 1965, de José Condé (1917-1971), pernambucano de Caruaru. Na minha fantasia, este volume é o mesmo que fez parte do traje típico de Eunice. Na minha fantasia, o livro está impregnado do eco das vozes da multidão que lotou o Maracanãzinho na noite da eleição da Miss Brasil 1968. Não me lembro mais os detalhes do romance, mas vou reler Noite Contra Noite neste feriado de 21 de abril, estimulado pelas lembranças que guardo de Maria Eunice Mergulhão Maciel, Miss Clube Intermunicipal de Caruaru, Miss Pernambuco 1968. 



        Ao finalizar esta Sessão Nostalgia, abri aleatoriamente o livro de José Condé e encontrei na página 37 um trecho que diz muito da condição humana: 
      Sete minutos depois, estava Urbano Tavares diante do espelho, penteando-se. Houve um instante, porém, em que interrompeu o gesto e ficou examinando com atenção a fisionomia que lhe era devolvida do outro lado: rugas, cabelos brancos, olhos, fundos e distantes, cansaço. 
      Qual seria a verdade do espelho? – pensou. A que se mostrava agora de maneira tão crua e impiedosa, ou a outra, a interior, que em vão tentava descobrir, através dos traços vincados pelos anos? Sorriu: “A outra está morta ou nunca existiu”. 
    Depois de viver toda uma vida, continuara sendo ele mesmo, desesperadamente

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