Daslan Melo Lima
Imagem: Arquivo/Fernando Machado |
-----------------------------
PERFIL – Maria Eunice
Mergulhão Maciel - Vinte anos de beleza – Reportagem de Fernando Machado - Caderno
Você, Jornal do Commercio, Recife, domingo, 3 de julho de 1988
Acervo DML/Passarela Cultural |
Maria Eunice Mergulhão Maciel não nasceu
em Caruaru, e sim em Belo Jardim, no dia 22 de junho. É desquitada e tem um
grande sonho: “fazer uma volta ao mundo”.
Tinha dezessete anos incompletos quando se tornou a rainha da beleza dos
pernambucanos, “nunca pensei em ser Miss.
Desfilava em Caruaru em festas beneficentes. Todavia, um dia, a Miss Pernambuco
de 1967, Vera Maria Silva, foi a Caruaru e os amigos me apresentaram a ela como a futura Miss Pernambuco. Fiquei
meio sem jeito com o papo, mas depois aquele sonho tomou conta de mim, e três
meses depois desfilava no Intermunicipal de Caruaru como sua representante no
Miss Pernambuco.”
Maria Eunice permanece bonita e seu
descobridor, o jornalista Cervantes, vaidoso em ter conseguido a segunda vitória
no concurso – a primeira foi a caruaruense Dione Oliveira, que conseguiu um
segundo lugar no Miss Brasil – chega a confessar que “Nicinha nunca foi uma aproveitadora, participava das festas sem cobrar
cachê, nem pedia vestido ou dinheiro. Ia porque gostava.”
Então fizemos uma viagem ao passado
exatamente no dia em que Maria Eunice, então com 16 anos, 11 meses e oito dias,
se consagra Miss Pernambuco de 1968 e está posando com a segunda colocada,
Gisoneide Diniz, de Arcoverde, e as terceiras classificadas (houve um empate,
Rosa Maria Bastos, do Português, com Naida Lins de Albuquerque, do Sport). “Desfilei com um modelo vermelho, bem
decotado, desenhado por Marcílio Campos e costurado por Nícia Barbalho. Era
lindo meu vestido. Aliás usei-o novamente no Miss Brasil, lá no Maracanãzinho.
E logo no início senti que a noite estava para mim.”
O Cruzeiro, 29/06/1968. Acervo: DML/Passarela Cultural |
Com 1,68 m de altura, 58 quilos, 79
cm de busto, 62 cm de cintura e 95 de quadris, ela fazia o tipo violão, bem à
Marta Rocha, “e com um maiô Catalina, o
maiô das misses” – brinca Nicinha, imitando os apresentadores do concurso –
estampado recebeu a faixa, a coroa, mais de um milhão de cruzeiros e a
responsabilidade de representar Pernambuco no Miss Brasil. Sem namorado, pois tinha acabado o
romance dias antes de ser Miss, renovando após o concurso, “ele tinha tanto ciúme de mim que decidimos
terminar de uma vez por todas”. Maria Eunice brilhou ao retornar à sua
terra, “desfilei pelas ruas da cidade, em
carro aberto. Foi uma emoção tão grande, que ainda permanece viva em meu
pensamento. Era muito jovem, cheia de sonhos e sem maldade. Via naquilo tudo
uma fantasia, como no cinema. Era uma espécie de Alice no País das Maravilhas.
Ate as cantadas eu pensava que eram galanteios, mas sempre fui firme nestes casos.
Os amigos me alertaram logo: cuidado com os tarados e os aproveitadores, e por
conta disso me tranquei numa redoma. As cantadas agressivas levava na
brincadeira e as mais inteligentes as descartava
da mesma maneira.
Tudo isso para Maria Eunice era um sonho.
“Imagine uma jovem do interior que
trabalhava na Cooperativa do Banco Popular de Caruaru, de repente ser cortejada
e sair viajando pelo Brasil. Primeiro fui participar do Miss Bahia, cuja vitoriosa, Martha Vasconcellos, foi
eleita Miss Brasil; depois do Miss Brasília; do Miss São Paulo e finalmente do
Miss Brasil, tudo foi fascinante”, conversa. Mas nada disso fez com que
Maria Eunice mudasse de rumo, “era muito
bonito aquilo tudo, mas sabia que iria terminar e estava preparada para isso”.
Hoje, distante daquele dia que mudou sua
vida, curte os momentos, as fotos, as reportagens que foram publicadas nas
revistas e jornais. “Guardo tudo que sai
comigo”, confessa. E, de fato, Nicinha, como é chamada carinhosamente,
mostra álbuns e álbuns sobre o concurso e sobre seu momento atual.
Vinte anos depois, Maria Eunice permanece
a mesma, brincalhona, alegre, bonita, uns quilinhos a mais e com muitas
lembranças daquele tempo. Tristezas do concurso não guarda, “conservo as horas felizes e se pudesse
concorreria novamente ao Miss Pernambuco”, apesar de reconhecer que mudou
muito. “As moças entram visando promoção
e ganhar muito dinheiro como modelos. Eu não, entraria apenas pelo clima, pelas
amizades que fazemos e pelas viagens. Antigamente, as jovens só pensavam em arranjar
um marido rico e virar mulher de sociedade”, explica Maria Eunice. Seus filhos adoram quando ela fala da época “e ainda hoje quando me preparo para ir a uma
festa eles fazem coro dizendo que estou linda. São meus maiores fãs”. Nunca
se afastou dos concursos de beleza, “este
ano fui chaperone do Miss Pernambuco, tenho um bufê e atuo no ramo imobiliário. Já tive confecções e boutique
em Belo Jardim, quando era casada”.
E como toda jovem do interior, de
antigamente, sabe cozinhar, costurar, bordar “e desenho modelos, quando tenho tempo, para mim. Desenhei muito quando
tinha a confecção infantil, a Tita’s. Atualmente prefiro prestigiar os figurinistas
da terra, é mais cômodo. Adorei ser Miss Pernambuco e tudo o que o concurso me
proporcionou, até mesmo os fatos desagradáveis, pois me ajudaram a crescer interiormente.
Imagem: Arquivo/Fernando Machado |
Tênis – Adoro, principalmente
quando acompanho meus filhos nos esportes.
Roupa – Gosto da esportiva e da clássica
e não me ligo em grifes. Ficou bem em mim, e pronto, me ganhou.
Personalidade – Minha mãe, Estela
Mergulhão.
Homem mais bonito – Alain Delon.
Melhor presente – Flores,
principalmente rosas vermelhas.
Medo – Rã.
Sonho de consumidora – Viajar
pelo mundo para rever Paris e Genebra.
Meias – Christian Dior.
Comida – Pratos frios, adoro saladas.
Cidade mais bonita do mundo –
Paris, Genebra e Rio.
Cidade preferida – Era o Rio, mas
com a onda de violência que assola a cidade, prefiro agora o Recife.
Bebida – Coquetel de frutas.
Coca Cola ou Pepsi Cola - Coca, a
outra é muito doce.
Perfume – Não tenho preferência por
marcas, prefiro os suaves.
Óculos – Não tenho preferência por
grifes. Gostei fiquei.
Uma Miss – Martha Vasconcellos.
Xampu – Qualquer um para cabelos
oleosos.
Desodorante - Não tenho preferência.
Maquilagem – Como as misses de
outrora, Helena Rubinstein.
Bijuterias ou joias – Ambas. Sou
filha de cigana, dizem, pois adoro balangandãs.
Restaurante – Marruá.
Restaurante que não gosta de ir –
Os agitados demais.
Filme inesquecível – A Noviça Rebelde.
Atores e Atrizes - Marlon Brando,
Tarcísio Meira, Julie Andrews e Fernanda Montenegro.
Programa de televisão –
Noticiários, Hebe e filmes, principalmente os da Sessão da Tarde.
Música – “Deslize”, de Fagner.
Compositor – Chico.
Sabonete – Lux e Phebo.
Cantor (a) - Roberto Carlos e Elba Ramalho.
Times – Sport e Central.
Escola de Samba – Mangueira.
Pasta de dente – Colgate ou
Kolynos
Religião – Católica, mas de
repente surgiu em mim meu lado de espírita kardecista
Santo de devoção – Nossa Senhora
da Conceição
Jogador – Renato Gaúcho
Frase - “Compartilhar com amor é o
segredo da verdadeira amizade”.
------------------------
Em 1971, dirigida pelo seu primo Cleto Mergulhão, a Miss PE 1968 foi protagonista do filme O Último Cangaceiro.
----------
Em trajes típicos, da esquerda para a direita, Eunice Mergulhão, Miss Pernambuco; Maria de Fátima de Souza Acris, Miss Amazonas; e Cláudia Virgínia Lisboa, Miss Alagoas.
Tenho num dos meus álbuns de recortes, uma página
autografada, acima, por Eunice Mergulhão, em 18/10/1991,
ocasião onde tive oportunidade de testemunhar sua meiguice e ouvi-la falar do
seu tempo de rainha da beleza. A última
vez que a vi foi em Caruaru, na noite da realização do Miss PE
2001, vencido por Débora Daggy.
Imagens: revista O Cruzeiro
----------
Possuo um exemplar do livro Noite Contra Noite, Editora Civilização Brasileira S.A. - Rio de Janeiro, 1965, de José Condé (1917-1971), pernambucano de Caruaru. Na minha
fantasia, este volume é o mesmo que fez parte do traje típico de Eunice. Na
minha fantasia, o livro está impregnado do eco das vozes da multidão que lotou o Maracanãzinho na noite da eleição da Miss Brasil 1968. Não me lembro
mais os detalhes do romance, mas vou reler Noite Contra Noite neste feriado de
21 de abril, estimulado pelas lembranças que guardo de Maria Eunice Mergulhão Maciel,
Miss Clube Intermunicipal de Caruaru, Miss Pernambuco 1968.
Ao finalizar esta Sessão Nostalgia, abri aleatoriamente o livro de José Condé e encontrei na página 37 um trecho que diz muito da condição humana:
Sete minutos depois, estava Urbano Tavares
diante do espelho, penteando-se. Houve um instante, porém, em que interrompeu o
gesto e ficou examinando com atenção a fisionomia que lhe era devolvida do
outro lado: rugas, cabelos brancos, olhos, fundos e distantes, cansaço.
Qual seria a verdade do espelho? – pensou. A que se mostrava agora de maneira tão crua e impiedosa, ou a outra, a interior, que em vão tentava descobrir, através dos traços vincados pelos anos? Sorriu: “A outra está morta ou nunca existiu”.
Depois de viver toda uma vida, continuara sendo ele mesmo, desesperadamente.
Qual seria a verdade do espelho? – pensou. A que se mostrava agora de maneira tão crua e impiedosa, ou a outra, a interior, que em vão tentava descobrir, através dos traços vincados pelos anos? Sorriu: “A outra está morta ou nunca existiu”.
Depois de viver toda uma vida, continuara sendo ele mesmo, desesperadamente.
*****
Nenhum comentário:
Postar um comentário