Daslan Melo Lima
PRÓLOGO
A eleição de Anne Lima, Miss Caetité, como
Miss Bahia 2014 causou celeuma na terra natal de três ícones da beleza
brasileira, Martha Rocha (Miss Brasil e vice-Miss Universo 1954); Maria Olívia Rebouças
Cavalcanti (Miss Bahia, Miss Brasil e quinta colocada no Miss Universo 1962); e Martha Vasconcellos (Miss Brasil e Miss Universo
1968). Estaria Anne Lima dentro ou fora dos padrões para disputar o título de Miss
Brasil?
No dia 28 de julho, sob
o título “Contra o padrão da magreza excessiva”, o jornalista baiano Roberto Macêdo
postou o artigo abaixo na sua página do Facebook.
Não sei se foi justa ou se
foi injusta a eleição da miss e suas princesas. O que eu coloquei, e o farei
mais uma vez, é que eu sou contra essa imposição de um padrão de beleza que não
condiz com a realidade. Essa magreza excessiva não é padrão em nenhum concurso
de beleza mundial. Em nenhum. Nos concursos internacionais, a grande maioria
das candidatas é magra. A grande maioria. Mas é uma magreza com curvas, com
seios, com bumbum e com aspecto saudável. Nada que lembre a anorexia! E vejam que
nem entre as top models isso é padrão. Elas são belas, magras, com curvas e
aparência saudável. As de aparência anorexa são que sonham em ser top model e
vivem nos castings. O que dizer de Naomi Campbell e Tyra Banks?
No Brasil está havendo um
descompasso entre o padrão dos concursos de beleza e o gosto popular. O que
queremos? Impor um padrão irreal e o concurso a cada dia perder mais e mais
audiência? Com resultados (estaduais e o nacional) que muitas vezes são
inacreditáveis, só caem no descrédito. É isso que estamos vendo a cada ano, com
o Miss Brasil e seus congêneres despencando nos índices do Ibope. Sem
audiência, os patrocinadores somem. E, assim, o que será dos concursos? A
continuar desse jeito, não prevejo vida longa do Miss Brasil na Band.
Por incrível que pareça, ainda no auge
da época de ouro do concurso Miss Brasil, a escritora Rachel de Queiroz
(1910-2003) se pronunciou sobre essa questão de padrão de beleza. Encontrei no meu acervo uma matéria
da famosa cearense falando de misses estereotipadas e padronização do corpo humano. Em “Última Página”, a sua coluna da O Cruzeiro, de 15/07/1961, a mais importante revista da época, ela escreveu a
crônica Rebanho, abaixo transcrita, na íntegra, obedecendo à ortografia vigente
naquele tempo, a fim de preservar a autenticidade documental.
PRÓLOGO
Ao abrir espaço para o assunto nesta
secção, não tenho outro objetivo a não ser que os debates sobre o tema desaguem num mar de tranquilidade. Minha
paixão pelas Misses vem de uma época em que, ainda menino, via o Brasil parar
para saber quem seria sua rainha da beleza, num interesse similar ao da Copa do
Mundo Fifa. Os valores e os objetivos de hoje são outros, mas certas coisas
poderiam prevalecer acima dos egos: bom senso, respeito, coerência, gratidão,
fé em Deus... Quase sempre, estou a cultuar as deusas e os concursos do
passado. Vivo na ilusão de que as beldades modernas possam ser ícones como as
marthas, teresinhas, adalgisas e iedas de ontem. Quase sempre, estou a
fantasiar missólogos, coordenadores e organizadores em harmonia, em nome da
minha paixão pelas Misses. O menino que fui tem receio de perder o encanto
total por essa paixão, assim como um dia perdeu por fadas e duendes.
ROBERTO MACÊDO
CONTRA O PADRÃO DA MAGREZA EXCESSIVA
A polêmica que se instaurou
nas redes sociais depois da eleição da nova Miss Bahia traz de positivo a
possibilidade de as pessoas discutirem padrão de beleza (será que existe?). De
negativo, a troca de ofensas e as brigas sem necessidade. Fui procurado por um
jornalista para dar a minha opinião, e parece que é preciso desenhar, pois
alguns poucos não entenderam o que eu falei. É a figura do já conhecido
analfabeto funcional – sabe ler, mas não sabe interpretar. Nada tenho contra ou
a favor da garota eleita. Não a conheço pessoalmente, nunca a vi, assim como
não acompanhei o concurso de Miss Bahia, não o assisti, nem me interessei em
ficar a par do que acontecia. Eventualmente, vi algumas coisas aqui no
Facebook.
Muitas garotas nem teriam
passado pelo Miss Brasil se esse padrão já fosse estabelecido anos atrás. Um
exemplo excelente é a atual coordenadora do Miss Bahia, Gabriela Rocha, que
ganhou o concurso estadual em janeiro de 2011 visivelmente acima do peso
(pesquisem no Google Images). Ela foi à luta, emagreceu, teve a mão mágica de
um cirurgião plástico amigo corrigindo pequenas imperfeições e fazendo uma
lipoescultura (a quem foi levada pelo irmão dele, amigo nosso, que faleceu
prematuramente), chegando ao Miss Brasil na forma ideal e conquistando o
segundo lugar, não trazendo a coroa por conta dos “mistérios” do concurso, dada
a sua inequívoca superioridade frente à vencedora e à voz do povo (que é a voz
de Deus!), gritando “Bahia, Bahia, Bahia” nos momentos finais (“Plateia vaia e
reprova miss eleita”: https://www.youtube.com/watch?v=WhbMIyvzelo). Acredito
que as meninas deveriam se preparar antes de entrar num concurso de beleza. Em
último caso, ter tempo para se preparar para o concurso nacional.
Gabriella Rocha e Priscila Machado |
Outro problema são os “ispecialistas” em
diversas áreas. Antes do advento da internet, para uma pessoa se especializar
em algum assunto ela estudava, frequentava cursos, eventos, pesquisava, ficava
atenta acompanhando o desenrolar de qualquer coisa relacionada, etc. Hoje, com
a internet e o acesso fácil à informação – nem sempre correta – há muita gente
que se acha “ispecialista” em muitas áreas e discute como se tivesse doutorado
no IMT!!! Quando você se aprofunda, vê que é um blefe! Tem sido assim nos
concursos de beleza, com gente que ninguém sabe de onde saiu e que nunca
contribuiu com nada para o mundo-miss, e de repente aparece se achando o maior
“ispecialista”. Tudo na base do “achismo”! Quem é você mesmo??? Rsrsrs
Causa espanto tanta gente
ser conivente com o “jeitinho brasileiro”, inclusive no mundo-miss. Reclamam
tanto do país, dos políticos, e, no entanto, agem de forma bem mais
inescrupulosa, aceitando e sustentando situações que deveriam ser
insustentáveis. Algumas pessoas, quando têm a chance, até fazem pior o que
antes reclamavam!!! Pior do que os sem caráter que pensam que têm o poder é os
que se prostituem sendo serviçais dos que pensam que têm o poder.
Aviso: Na minha página, não
vou permitir porcos comendo pérolas: Se algum “ispecialista” escrever aqui alguma
bobagem, será deletado!
RACHEL DE QUEIROZ CONTRA O "REBANHO”
O Cruzeiro, Ano XXXIII, nº 40, 15/07/1961 - Acervo DML/PASSARELA CULTURAL |
Se me perguntassem qual o aspecto mais desolante da civilização
moderna, eu diria que é a sua padronização. Neste mundo em que vivemos está se acabando
realmente a invenção, a originalidade, a marca pessoal ou, se não acabando,
pelo menos sèriamente se comprometendo.
De primeiro, todo
provinciano que chegava ao Rio tinha o deslumbramento da novidade. Começava pelo
povo na rua, pelas vitrinas das lojas, pela roupa das mulheres. Ah, a roupa das mulheres. A provinciana mal
punha o pé no cais sentia-se uma estrangeira exótica, com a sua roupa diferente
- e o sapato, o penteado, o chapéu.
Hoje, no mais longínquo
sertão as môças se vestem pelo figurino de Hollywood – talvez com uns toques de
Brigitte Bardot – tão igual, tão igual que dá bocejos, quando não dá risadas.
Os concursos de beleza, então. As meninas são
tão estereotipadas, tão decalcadas umas pelas outras, tão estandardizadas,
dentro de dois ou três tipos – loura fria, morena tropical, ruiva vibrante, que
parecem bonecas saídas de uma linha de montagem – onde só variam a côr dos
cabelos, dos olhos, da pele – da pele não, pois todas, brancas ou morenas,
procuram ficar tostadinhas como biscoitos, o que entre parênteses é muito
lindo. Nem mesmo na roupa se diferenciam. Ou antes, muito menos se diferenciam
na roupa, se justamente é a roupa o elemento principal da padronização. E se fôssem
só as misses. Mas ande-se em Copacabana e a impressão que se tem é que um
colégio soltou as suas meninas pelas ruas do bairro sul. Tudo de blusa de
listra horizontal, e calça comprida colante – ou saia branca de tergal. Os penteados,
os colares, a pintura, os sapatos (agora no inverno é mocassim) são também
uniformes. E note-se o traço mais curioso da coisa – elas têm prazer de se sentir
idênticas, fazem questão de parecer reproduções fotográficas do mesmo modêlo,
adoram ser uma unidade num rebanho uniforme. Alguma que venha diferente, mesmo
elegante, mesmo bem vestida, choca – só mesmo porque é diferente.
Parece que morreu aquela
preocupação feminina da originalidade, que fazia as mulheres ricas pagarem
fortunas por um “modêlo” único de grande costureiro, ou as môças pobres
rasgarem a página escolhida no figurino da modista, para evitar outras cópias.
E a uniformização vai se
estendendo às mesas – ah, aquêle eterno arroz pilaff, aquêle suprême de frango,
o sempiterno coquetel de camarões; parece que já passou da moda o strogonoff,
meu Deus quantos strogonoffs cada um de nós não terá jantando na casa de um e
de outro ou nos botequins de gente bem?
Será que a Humanidade está
marchando mesmo para a padronização geral, será que o fim próprio do
aperfeiçoamento da técnica, o progresso da indústria; o avanço danado da Ciência vai nos levar a isso? Tudo parecido, como andorinhas no fio ou misses
na passarela?
Dirão os “nacionalistas” que
isso é efeito da civilização americana, niveladora, sem imaginação nem
originalidade. Mas, pelo que sei, os países ditos “socialistas” também adoram a
padronização. Conta, até, elogiando, que na China todas as mulheres andam
uniformemente de calças azuis...
A fabricação das utilidades
em série é talvez a razão principal dêsse condicionamento ao uniforme, dessa
renúncia ao gôsto individual, que caracteriza a nossa idade. Acaba-se o artesão,
só se obtém o produto de fábrica, lançado no mercado aos milheiros e milhões.
São os móveis exatamente idênticos, nos apartamentos idênticos também. As
televisões, os rádios, as geladeiras de modêlo único – ou quase único. E em
tudo predominando aquêle mau gôsto inalterável – que como um gás venenoso permeia
todo o mundo civilizado. Passe por uma
aldeia italiana, espie a sala da frente, de uma das casas, não tem que tirar Nilópolis
ou Vigário Geral: a mobília em folheado, o caixão do rádio na sua mesinha, o
quadro da parede, os paninhos bordados, o tapete do chão. É universal, é a
internacional do mau-gôsto.
A padronização chegou agora
ao corpo humano. Com a dietética, a cirurgia plástica, a ginástica - tudo vai se acomodando a um modêlo talvez
ideal, sim – mas único. E as falas também se padronizam, o cordão puxado pelos
locutores de rádio que desdenham as peculiaridades de pronúncia regional e
recitam todos num linguajar artificial, pedante e detestável, carregado de
erres, de esses, de ênfase nas tônicas.
Sei que vejo, num pesadelo,
o mundo dos nossos netos – todos belos, saudáveis, mas parecidos, parecidos
como gêmeos, morando em ruas iguais, em cidades iguais, vestidos de roupa
igual, falando um dialeto só, feito abelhas em colmeia, térmitas no seu cupim.
Deus que me perdoe!
EPÍLOGO
Vou encerrar esta secção repetindo parte do trecho que escrevi no prólogo.
Minha paixão pelas Misses vem de
uma época em que, ainda menino, via o Brasil parar para saber quem seria sua
rainha da beleza, num interesse similar ao da Copa do Mundo Fifa. Os valores e
os objetivos de hoje são outros, mas certas coisas poderiam prevalecer acima
dos egos: bom senso, respeito, coerência, gratidão, fé em Deus... Quase sempre,
estou a cultuar as deusas e os concursos do passado. Vivo na ilusão de que as
beldades modernas possam ser ícones como as marthas, teresinhas, adalgisas e
iedas de ontem. Quase sempre, estou a fantasiar missólogos, coordenadores e
organizadores em harmonia, em nome da minha paixão pelas Misses. O menino que
fui tem receio de perder o encanto total por essa paixão, assim como um dia perdeu
por fadas e duendes.
*****
Daslan, amei! Que bom que ainda existem pessoas inteligentes a bradar contra a imposição da mesmice! Viva a inteligência! Viva o bom gosto! Viva a paixão! Viva a vida!
ResponderExcluirFaz sentido esta discussão sobre padronização.
ResponderExcluirInteressante a crônica da Rachel de Queiroz. Impressionante uma intelectual como ela levantar esse assunto há mais de meio século.
C.Rocha de Floripa
O que acho engraçado é que muita gente se preocupa com altura e medidas no padrão e de repente uma jovem como Olivia Culpo é eleita Miss Universo.
ResponderExcluirParabéns ao Roberto Macêdo, que do alto de sua sabedoria fala das coisas com muita propriedade.
Stella
Daslan,
ResponderExcluirenquanto o concurso Miss Brasil estiver em mãos de pessoas erradas(quem é o senhor Hazzy para entender de beleza da mulher baiana e de cara escolher as cinco finalistas da competição? É vergonhoso e uma tremenda falta de respeito com o povo baiano)dificilmente a promoção vai sair do fundo do poço, onde se encontra atualmente.
A Band deveria entregar a coordenação nacional a uma pessoa séria, de reputação e idoneidade ilibadas e que entende de verdade do tema. Só vejo alguém com esse perfil: o jornalista, arquiteto e maior autoridade no assunto: ROBERTO MACÊDO.
Muciolo Ferreira - jornalista pernambucano e um ex-admirador dos concursos de misses.
Muciolo, muito obrigado pela consideração, mas eu estou fora. Meu pai sempre repetia um ditado: "A lama só suja quem a revolve". Tô bem aqui na minha Bahia. E quero desencarnar sem medo do que vou encontrar do lado de lá. Sonho sim, em um dia estar trabalhando no Miss Brasil. Mas somente quando for um concurso reconhecido, sem denúncias, sem mal estar, num ambiente de trabalho do bem. Um forte abraço.
ResponderExcluirA gente ouve muitas fofocas, mas também escuta histórias de mau caratismo, favorecimento...
ResponderExcluirNão sei até onde vai parar isso, mas sinto que há pessoas do bem dando às costas para vários concursos de Miss.
J.(sou ex-patrocinador de um concurso de Miss)
A gente ouve muitas fofocas, mas também escuta histórias de mau caratismo, favorecimento...
ResponderExcluirNão sei até onde vai parar isso, mas sinto que há pessoas do bem dando às costas para vários concursos de Miss.
J.(sou ex-patrocinador de um concurso de Miss)
Polêmica das misses
ResponderExcluirnas ondas do rádio
Quem acabou de colocar mais fogo na discussão sobre as medidas e sobre o físico das mulheres participantes do mais clássico dos concursos de beleza, que é o das “Misses”, foi a apresentadora Erica Saraiva, no programa que comanda ao lado de Pio Medrado, na “Rádio Transamérica”.
O assunto ganhou repercussão depois que Boa Terra noticiou uma polêmica envolvendo comentários do presidente do Júri do “Miss Bahia” e o pesquisador sobre o fenômeno dos concursos, Roberto Macedo.
A polêmica iniciada na Bahia cresceu tanto que chegou ao ponto da coluna Boa Terra se transformar em referência em artigo “Miss Bahia 2014” da “Wikipédia”, a enciclopédia multilíngue com mais de 30 milhões de artigos baseada na web. A coluna começou a publicar o assunto na edição de 23 de julho, e continuou no dia seguinte, sendo repetida em blogs da Internet. Parte da abordagem, destacando que o Fernando Guerreiro é um diretor sem papas na língua, foi copiada em jornal diário de Salvador.
No programa da “Radio Transamérica”, ontem à tarde, os apresentadores Pio Medrado e Erica Saraiva convidaram Priscilla Cidreira, a “Miss Bahia 2013” e o pesquisador Roberto Macedo. Boa Terra foi citada várias vezes. Novamente Macedo insistiu na alteração de valores em relação às medidas das misses, criticando a TV Bandeirante, responsável pelo concurso no Brasil. “Este ano, a Band deu plenos poderes a um tal júri técnico formado por duas pessoas que vivem viajando pelo país e determinando em cada estado as cinco finalistas. Isso é um desrespeito com os concursos estaduais e abre um precedente perigosíssimo se esse júri técnico quiser eleger determinada candidata”.
Fonte: TRIBUNA DA BAHIA, 08/08/2014
É,esse padrão magro já nem está mais no MU(pelo menos do ano passado)quando escolheram 5 misses,todas latinas(é um padrão),com corpos não magros e sem as medidas q harmonizavam hemisfério Norte e Sul.Miss BA atual,era uma das favoritas mas extremamente magra.vi uma reportagem q engordou,depois do concurso,5kg.Se tiver boa oratória,vai ferver a final.Abraços,japão.PS.Quanto à Culpo,aquele mortinício deixou os EEUU sem cara e precisavam apagar,urgentemente.O desfile de gala foi sacudindo o vestido...cooparada às outras finalistas,era um ratinho(como a filipina) e simplória;mas observei q alternam esse tipo com mulherão.Esse ano devem eleger uma do tipo Miss BA,GO,RN...ou MG,se Scheibb for eleita(linda e tem experiência do ano passado).
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