Daslan Melo Lima
O concurso Miss Brasil 1958 foi realizado
na noite de 21 de junho, no Maracanãzinho. Era época de Copa do Mundo da Fifa e o nosso
País estava fazendo uma excelente campanha. A revista O Cruzeiro de 05 de julho, circulou com oito páginas dedicadas ao
certame e trinta e duas à conquista brasileira do seu primeiro campeonato
mundial de futebol.
O concurso Miss Brasil atraía tanto a atenção da população quanto
a Copa do Mundo. Prova disso é a capa da O
Cruzeiro, que teve uma edição de 500.000 exemplares, trazendo Teresinha Morango, Miss Amazonas, Miss Brasil e Vice-Miss Universo 1957, coroando Adalgisa Colombo, Miss Distrito Federal,
Miss Brasil 1958.
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Primeiro dia das mais belas
Texto de Luís Edgard
de Andrade e fotos de Indalécio Wanderley
O Cruzeiro, Ano XXX,
nº 39, 05/07/1958
Adalgisa em quatro tempos no seu
primeiro dia depois de Miss Brasil. As fotografias foram feitas por Indalécio
Wanderley no Sítio Vale do Ipê, do industrial Santos Afonso.
Perfil de Adalgisa, eleita no
concurso patrocinado pelo Leite de Rosas.
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Adalgisa guardou flores para São Judas Tadeu – Quando acordou na
manhã do domingo, o sol já alto, Adalgisa Colombo sentou-se na cama e ficou
espiando a faixa verde-amarela estendida na cadeira. Esfregou os olhos. “Será
minha mesmo?” – pensou. Mandou buscar todos os jornais. Começaram a chegar as flores. Muitas rosas.
Reuniu-as todas para dá-las de presente a São Judas. Uma promessa.
Passou o primeiro dia do seu
reinado, fora do Rio, num sítio chamado Vale do Ipê. Durante a viagem, foi
mostrando a estrada Rio-Petrópolis a Sônia Maria Campos, Miss Pernambuco, que tirou
o segundo lugar e vai a Londres disputar o título de Miss Mundo. “Não deixe de ir à Holanda” – aconselhou Adalgisa, que conhece a Europa – “Lá, tem as tulipas, e
as vaquinhas, no inverno, vestem um casaquinho abotoado na cintura.”
Um dia cheio. Adalgisa tirou retratos, descansou a vista no
verde da paisagem, subiu um morro e rezou cinco minutos na capelinha do alto. Só
voltou à noite. As luzes da cidade estavam acendendo. Ela às vezes guardava
silêncio, mas não cabia em si de contente. Um dado instante, gritou dentro do
carro (os vidros levantados por causa do frio): “Eu cheguei! Eu cheguei” Ficará
em hotel até a partida para os Estados Unidos. Quem sentiu mais foi o seu
gatinho. Ele ficou sozinho em casa, é preto, tem dezesseis anos de idade e
passa o dia dormindo.
Adalgisa Colombo ganhou dois títulos em 7 dias – Miss Mundo é o objetivo de Miss Pernambuco.
Adalgisa Colombo ganhou dois títulos em 7 dias – Miss Mundo é o objetivo de Miss Pernambuco.
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Detalhes: O Miss Distrito Federal 1958 foi realizado na noite de sábado,
14. Sete dias depois, no sábado, 21, aconteceu o Miss Brasil. Adalgisa Colombo (1940-2013) ficou no segundo
lugar do Miss Universo 1958, realizado em Long Beach, título conquistado pela
colombiana Luz Marina Zuluaga (1938-2015). Sônia Maria Campos foi a sétima
colocada no Miss Mundo 1958, realizado em Londres, no ano em que o título foi para Penelope Anne Coelen, da África do Sul.
Os olhos pernambucanos de Sônia Maria,
em cuja retina ainda há lembranças das águas mansas do Capibaribe (ou do Beberibe?)
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A pernambucana Sônia Maria Campos
apareceu na passarela e, muito antes das primeiras palmas - ela foi a mais aplaudida da noite - sua mãe caiu no choro. Sônia, porém, estava
serena. Um brinco de pérola caiu da orelha, aos primeiros passos. A moça não teve
dúvida, arrancou discretamente o outro e jogou no chão. Sônia, que já leu Shakespeare
no original, é do Recife mesmo, mas se criou na Zona da Mata. Trabalha há três
anos na Diretoria de Rendas do Interior, e agora, depois que ela é miss, a
arrecadação do estado cresceu: todo mundo quer pagar impostos. As concorrentes de
Sônia eram louras, e o Sr. Gilberto Freyre, em Apipucos, liderou uma campanha a
favor das morenas.
Sônia, quando fala, constrói frases. Por exemplo: “Eu comecei a querer ser miss desde o dia em que compreendi que se
deve colaborar com todo movimento que contribua para o engrandecimento do
Brasil”. Quando chegou ao Rio, houve um almoço em sua homenagem, os repórteres transformaram
a sobremesa em entrevista coletiva. Sônia disse que foi candidata pelo Santa
Cruz e acrescentou: “quando me refiro ao Santa Cruz, quero dizer o povo, porque
o Santa Cruz é o próprio povo”. Então, perguntei: “Nesse caso, que é que você
acha do problema da sucessão governamental em Pernambuco?” Ela nem pestanejou: “É
cedo ainda para eu me manifestar”. Fala manso como as pernambucanas, e as mãos
tomam parte na conversa. Gosta de dizer, depois da vitória: “Minha vida mudou
um pouco, mas o meu eu – a Sônia da Boa Vista, a que trabalha na Diretoria de Rendas
– continua sendo o mesmo.”
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As duas maiores paixões dos brasileiros
Futebol e Misses, as duas maiores paixões dos brasileiros nas décadas de 1950 e 1960. ***** Acima, os campeões mundias de 1958. Em pé, da esquerda para a direita: De Sordi, Zito, Belini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar. Agachados, na mesma ordem: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagalo e o massagista Mário Américo.***** Abaixo, Teresinha Morango, Miss Amazonas, Miss Brasil e Vice-Miss Universo 1957 coroando Adagilsa Colombo, sua sucessora no trono de Miss Brasil.
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E assim se passaram quase sessenta
anos. Depois daquele 1958, o Brasil ganhou outras quatro Copas do Mundo. A gaúcha Ieda Maria
Vargas foi eleita Miss Universo em 1963 e a baiana Martha Vasconcellos em 1968. A coroa de Miss Mundo foi conquistada por uma brasileira uma única vez, em 1971, com Lúcia Tavares Petterle,
Miss Guanabara, Vice-Miss Brasil 1971.
Quase seis décadas depois, garotas lindas desse
nosso imenso País tropical ainda sonham com a faixa e a coroa de Miss Brasil. Enquanto isso, sonho com o dia de ver o concurso Miss Brasil retomar à imensa popularidade
que desfrutava nos anos cinquenta e sessenta.
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