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sábado, 12 de agosto de 2017

SESSÃO NOSTALGIA – O primeiro dia de Adalgisa Colombo e Sônia Maria Campos depois do concurso Miss Brasil 1958

Daslan Melo Lima

       O concurso Miss Brasil 1958 foi realizado na noite de 21 de junho, no Maracanãzinho.  Era época de Copa do Mundo da Fifa e o nosso País estava fazendo uma excelente campanha. A revista O Cruzeiro de 05 de julho, circulou com oito páginas dedicadas ao certame e trinta e duas à conquista brasileira do seu primeiro campeonato mundial de futebol. 
       O concurso Miss Brasil atraía tanto a atenção da população quanto a Copa do Mundo. Prova disso é a capa da O Cruzeiro, que teve uma edição de 500.000 exemplares, trazendo Teresinha Morango, Miss Amazonas, Miss Brasil e Vice-Miss Universo 1957, coroando Adalgisa Colombo, Miss Distrito Federal, Miss Brasil 1958.  
  
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Primeiro dia das mais belas
Texto de Luís Edgard de Andrade e fotos de Indalécio Wanderley
O Cruzeiro, Ano XXX, nº 39, 05/07/1958


Adalgisa em quatro tempos no seu primeiro dia depois de Miss Brasil. As fotografias foram feitas por Indalécio Wanderley no Sítio Vale do Ipê, do industrial Santos Afonso.

Perfil de Adalgisa, eleita no concurso patrocinado pelo Leite de Rosas.
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Adalgisa guardou flores para São Judas Tadeu – Quando acordou na manhã do domingo, o sol já alto, Adalgisa Colombo sentou-se na cama e ficou espiando a faixa verde-amarela estendida na cadeira. Esfregou os olhos. “Será minha mesmo?” – pensou. Mandou buscar todos os  jornais. Começaram a chegar as flores. Muitas rosas. Reuniu-as todas para dá-las de presente a São Judas. Uma promessa.

Passou o primeiro dia do seu reinado, fora do Rio, num sítio chamado Vale do Ipê. Durante a viagem, foi mostrando a estrada Rio-Petrópolis a Sônia Maria Campos, Miss Pernambuco, que tirou o segundo lugar e vai a Londres disputar o título de Miss Mundo. “Não deixe de ir à Holanda” – aconselhou Adalgisa, que conhece a Europa – “Lá, tem as tulipas, e as vaquinhas, no inverno, vestem um casaquinho abotoado na cintura.”

Um dia cheio.  Adalgisa tirou retratos, descansou a vista no verde da paisagem, subiu um morro e rezou cinco minutos na capelinha do alto. Só voltou à noite. As luzes da cidade estavam acendendo. Ela às vezes guardava silêncio, mas não cabia em si de contente. Um dado instante, gritou dentro do carro (os vidros levantados por causa do frio): “Eu cheguei! Eu cheguei” Ficará em hotel até a partida para os Estados Unidos. Quem sentiu mais foi o seu gatinho. Ele ficou sozinho em casa, é preto, tem dezesseis anos de idade e passa o dia dormindo.

Adalgisa Colombo ganhou dois títulos em 7 dias – Miss Mundo é o objetivo de Miss Pernambuco.
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Detalhes: O Miss Distrito Federal 1958 foi realizado na noite de sábado, 14. Sete dias depois, no sábado, 21, aconteceu o Miss Brasil.  Adalgisa Colombo (1940-2013) ficou no segundo lugar do Miss Universo 1958, realizado em Long Beach, título conquistado pela colombiana Luz Marina Zuluaga (1938-2015). Sônia Maria Campos foi a sétima colocada no Miss Mundo 1958, realizado em Londres, no ano em que o título foi para Penelope Anne Coelen, da África do Sul.
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Sônia, a que lia Shakespeare e cobrava impostos, vai levar aos ingleses a morena de Pernambuco.



Os olhos pernambucanos de Sônia Maria, em cuja retina ainda há lembranças das águas  mansas do Capibaribe (ou do Beberibe?)
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A pernambucana Sônia Maria Campos apareceu na passarela e, muito antes das primeiras palmas -  ela foi a mais aplaudida da noite -  sua mãe caiu no choro. Sônia, porém, estava serena. Um brinco de pérola caiu da orelha, aos primeiros passos. A moça não teve dúvida, arrancou discretamente o outro e jogou no chão. Sônia, que já leu Shakespeare no original, é do Recife mesmo, mas se criou na Zona da Mata. Trabalha há três anos na Diretoria de Rendas do Interior, e agora, depois que ela é miss, a arrecadação do estado cresceu: todo mundo quer pagar impostos. As concorrentes de Sônia eram louras, e o Sr. Gilberto Freyre, em Apipucos, liderou uma campanha a favor das morenas.

Sônia, quando fala, constrói frases. Por exemplo: “Eu comecei a querer ser miss desde o dia em que compreendi que se deve colaborar com todo movimento que contribua para o engrandecimento do Brasil”. Quando chegou ao Rio, houve um almoço em sua homenagem, os repórteres transformaram a sobremesa em entrevista coletiva. Sônia disse que foi candidata pelo Santa Cruz e acrescentou: “quando me refiro ao Santa Cruz, quero dizer o povo, porque o Santa Cruz é o próprio povo”. Então, perguntei: “Nesse caso, que é que você acha do problema da sucessão governamental em Pernambuco?” Ela nem pestanejou: “É cedo ainda para eu me manifestar”. Fala manso como as pernambucanas, e as mãos tomam parte na conversa. Gosta de dizer, depois da vitória: “Minha vida mudou um pouco, mas o meu eu – a Sônia da Boa Vista, a que trabalha na Diretoria de Rendas – continua sendo o mesmo.”
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As duas maiores paixões dos brasileiros 



Futebol e Misses, as duas maiores paixões dos brasileiros nas décadas de 1950 e 1960. ***** Acima, os campeões mundias de 1958. Em pé, da esquerda para a direita: De Sordi, Zito, Belini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar. Agachados, na mesma ordem: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagalo e o massagista Mário Américo.***** Abaixo, Teresinha Morango, Miss Amazonas, Miss Brasil e Vice-Miss Universo 1957 coroando  Adagilsa Colombo, sua sucessora no trono de Miss Brasil. 


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             E assim se passaram quase sessenta anos. Depois daquele 1958, o Brasil ganhou outras quatro Copas do Mundo. A gaúcha Ieda Maria Vargas foi eleita Miss Universo em 1963 e a baiana Martha Vasconcellos em 1968. A coroa de Miss Mundo foi conquistada por uma brasileira uma única vez, em 1971, com Lúcia Tavares Petterle, Miss Guanabara, Vice-Miss Brasil 1971.

          Quase seis décadas depois, garotas lindas desse nosso imenso País tropical ainda sonham com a faixa e a coroa de Miss Brasil. Enquanto isso, sonho com o dia de ver o concurso Miss Brasil retomar à imensa popularidade que desfrutava nos anos cinquenta e sessenta.

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