Lá vinham os soldados do Tiro de Guerra marchando com garbo pelas ruas de São José da Laje, atraindo crianças em sua passagem. Secundina Maria da Conceição, a Dona Secunda, minha avó paterna, que ganhava a vida como parteira e carregadora de lata d’água na cabeça, olhava para mim e dizia: ”Você vai crescer e daqui a um tempo vai ser soldado também”.
Uma angústia invadia minh’alma. O que o futuro me reservaria? Crescer para entrar no Exército? Crescer para ver o Brasil fazer aliança com os Estados Unidos e ser mandado para a Guerra do Vietnam?
A aproximação da data do meu aniversário era difícil para mim, pois a expectativa de ficar mais velho e crescer estava associada a entrar no complicado mundo adulto.
O menino que fui um dia não serviu ao Exército Brasileiro e nem foi enviado para a Guerra do Vietnam. Poderia ter relaxado e acompanhado como os outros meninos aos desfiles dos soldados. Ainda há tiro de Guerra em São José da Laje, mas o menino cresceu e hoje não tem mais sentido seguir o desfile. Parte dele se foi nas guerras interiores que enfrentou. Agora é tarde.
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- Daslan Melo Lima.
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