domingo, 26 de maio de 2019

Para um domingo nublado




Aciono o zoom e uma das encostas do Alto Santa Terezinha fica a um passo da minha rua, a um passo de mim.


Em Timbaúba, minha adotiva terra pernambucana, deixo que o menino que um dia eu fui "viaje" para onde desejar. O cenário leva suas fantasias para Campos do Jordão, graças ao clima nublado, e para Paris, graças à "réplica" da Torre Eiffel.

Enquanto chove lá fora, estou pronto para uma viagem dentro de mim, ao encontro do que já perdi e ganhei nesta aventura fantástica chamada Vida.
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Daslan Melo Lima
Timbaúba, PE

19/05/2019


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ATÉ CHEGAR À PRÓXIMA ESQUINA


Uma chuva fina começa a cair na manhã nublada. Dobro a esquina e me deparo com uma mulher caminhando com uma sombrinha da cor do sol. 


Faço uma pausa na minha caminhada e clico o instante que daqui a pouco será passado. 

Logo mais a chuva fina terá cessado ou aumentado. Pouco importa. 

Diminuo meus passos para apreciar o sol que a mulher espalha, até chegar à próxima esquina. 
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Daslan Melo Lima 
Timbaúba, PE
24/05/2019
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SHOW DE SILÊNCIO


Na noite chuvosa, chego em Timbaúba, vindo do Recife, quando o relógio marca meia-noite. As imagens remetem a um show pirotécnico sem fogos e sem som. 


Aguardo respostas do destino em comunhão com o silêncio. Silêncio lá fora em sintonia com minhas perguntas silenciosas.
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Daslan Melo Lima
Timbaúba, PE
21/05/2019

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DE TIMBAÚBA PARA O MUNDO - João Cunha, um nome para a história da música timbaubense


>>>>> Ele partiu no dia 28 de abril, deixando seu Piston, saudade e um legado precioso



         José Firmino da Silva, timbaubense nascido no dia 12 de agosto de 1932, herdou o apelido “João Cunha”  de João Trajano Cunha, oficial da Polícia Militar, seu ex-mestre em música e na arte de sapateiro. Foi aluno do célebre regente Amaro Jorge, de 1943 a 1946. Era casado com Cremilda Francisca da Silva, mãe dos seus cinco filhos: Maria José (falecida), José Eraldo, Maria Cristina, José Efigênio e Cristiane Maria. João Cunha nunca fumou e nunca ingeriu nenhuma bebida alcoólica.  Chegou a morar vinte anos no Rio de Janeiro e tocou na Banda Comercial de Petrópolis.
     Em depoimento à TIMBAÚBA EM FOCO, sua filha Cristiane Maria, professora, disse:  “Meu pai era um homem vaidoso. Adorava samba e carnaval. Era um homem moderno, acompanhava a evolução do tempo. Tinha um espírito muito jovem. Curtia as músicas de Maurício Reis, Bezerra da Silva, Nelson Gonçalves e Ângela Maria. Amava tocar hinos esportivos e popularizou o hino da Escola Municipal Dr. Antônio Galvão Cavalcante (Ginásio Municipal).  Gostava muito de andar de bicicleta, só parando depois que passou a sofrer de labirintite. Vermelha era sua cor favorita. Torcia pelo Sport Club do Recife e Fluminense Futebol Clube. Jogou muito nas peladas dos bairros de Timbaúba. Acordava as quatro horas da manhã para jogar bola em Catucá e Limoeirinho. Morava na rua da Mangueira e viveu a maior parte da sua vida na Travessa do Índio. Humilde, não gostava de se envolver em política- partidária, mas fazia questão de exercer a cidadania. Perdeu a batalha para um câncer de próstata, doença diagnosticada em 29 de abril do ano passado.”
   Em sua página no Facebook, a Sociedade de Cultura e Musical 1º de Novembro, a popular Pé de Cará, onde o corpo foi velado, assim se manifestou: “ ... Ele sempre inspirou e inspira até hoje cada músico e aluno a chegar na idade que chegou servindo à 1° de novembro e à música. O Sr. Cunha falava a todos de seus feitos (...)  e alegrava cada companheiro de banda tocando as suas interpretações de Na Glória e Piston de Gafieira, que, de certa forma, ficarão sempre associadas em nossas memórias a ele. Um exemplo para nós como músico dedicado e motivador...  Deixou na Santa Cruzada um exemplo melhor de ideal e está na história! ”
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Agradecimento: professora Cristiane Maria.  ***** Referências para pesquisa no Google: 1) Sr. Cunha - trompete - Banda Pé de Cará, Timbaúba/PE *** 2) Hino da Escola Dr. Antônio G. Cavalcanti.
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Matéria publicada na página de História da revista TIMBAÚBA EM FOCO, Abril/2019, Edição 96.

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sábado, 18 de maio de 2019

O que será, será


"Quando eu era apenas um menino
perguntei para minha mãe: 
O que vou fazer? Vou ser bonito? Vou ser rico? 
E ela disse isso para mim: 
O que será, será. 
O futuro não é nosso. 
O que será, será..." 

          Num tempo que há muitos anos se foi, o menino sonhador que um dia eu fui saiu do cinema da minha alagoana São José da Laje cantarolando: "O que será, será", música interpretada por Doris Day no filme "O homem que sabia demais", de Alfred Hitchcock

"Quando eu cresci e me apaixonei
 perguntei ao meu amor o que viria depois.
 Haveria arco-íris, dia após dia?
 E o meu amor me disse: 
O que será, será. 
O futuro não é nosso.
O que será, será..."

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          Envelhece, o menino lajense que um dia eu fui, sem deixar de ser um sonhador. Emocionado com a notícia da morte de Doris Day, assisto ao vídeo no YouTube onde ela canta a música daquele filme. 
              E se já não posso mais alimentar fantasias de outrora às margens do rio Canhoto, agarro-me a sonhos que amenizam os desencantos da caminhada. O que será, será.
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Daslan Melo Lima
Timbaúba, PE
13/05/2019

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SESSÃO NOSTALGIA - Jezebel Alves do Nascimento, de São José da Laje, Alagoas, Rainha do Verão do Recife de 1953

Daslan Melo Lima


       
          A imagem pouco nítida de uma jovem em traje de banho numa praia do Recife, enviada pelo meu amigo José Maria de Mattos, de Maceió, AL, na quinta-feira, 17, fez festa em minh'alma.  Na coluna social do Correio Lagense, edição de dezembro de 1953, jornal que circulou nos anos cinquenta na cidadezinha alagoana de São José da Laje, onde nasci, a legenda sob a foto, obedecendo a ortografia da época, diz:

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São José da Lage nas Praias Pernambucanas

Aí está a Snrta. Jesabel Alves, filha desta terra, atualmente residindo  no Recife, onde conseguiu com a sua plástica admirável, se eleger Rainha das Praias daquela Capital. São José da Lage, denominada "Princesa das Fronteiras", também tem uma Rainha se impondo lá fora com a sua beleza. Publicando aqui a sua fotografia, estamos prestando a nossa homenagem a Rainha e agradecendo a divulgação do nome deste Município, tão cheio de rainhas e princezas.
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Jesabel Alves ou Jezebel Alves do Nascimento?
Rainha das Praias ou Rainha do Verão do Recife de 1953?

         Pesquisando na internet, cheguei ao blog do jornalista pernambucano Fernando MachadoEm 13 de setembro de 2018, na coluna "De Volta ao Passado", ele escreveu: "Há 65 anos, no Terminal de Boa Viagem, acontecia a escolha da Rainha do Verão do Recife de 1953. Venceu Jezebel Alves do Nascimento."
            José Maria de Mattos me contou o seguinte: "O Sr. Fernando Galvão de Pontes numa das inúmeras vezes que ia na casa dele para falarmos sobre a Laje Antiga, falou que o Correio Lagense muitas vezes era editado e impresso no início da noite e começo da madrugada, à luz de um lampião, daí acontecer erros."  Por esse motivo, optei digitar nesta Sessão Nostalgia os nomes desta forma: Jezebel Alves do Nascimento e Rainha do Verão do Recife de 1953.

Jezebel Alves do Nascimento, 
quase estrela de cinema

     Ao receber a imagem, o menino que um dia eu fui viajou no "túnel do tempo" para a década de 1960. Numa tarde fria, vi passar pelo centro da cidade uma mulher linda de longos cabelos negros, faceira,  chamando a atenção de todos, como se estivesse desfilando numa imaginária passarela. Ouvi uma pessoa afirmar que ela tinha sido Miss Pernambuco, mas logo alguém corrigiu: "Jezebel foi eleita Rainha das Praias de Pernambuco. Convidada logo depois para trabalhar num filme, não foi aprovada na entrevista por que chegou com os cabelos cortados. Ninguém tinha lhe dito que sua personagem teria  cabelos compridos." 
                                                 
Jezabel, novela de Cristiane Fridman e direção geral de Alexandre Avancini, que está sendo exibida na Record TV, conta a história da princesa Jezabel, vivida pela atriz Lidi Lisboa, foto acima. Na trama, após um acordo entre dois reinos, ela casa com o príncipe Acabe, interpretado pelo ator André Bankoff, e se torna uma ameaça para o povo de Israel.  Bela, sedutora e má, se aproveita da fraqueza e submissão do marido para comandar o reino com violência e manipular todos ao seu redor para adoração aos deuses pagãos. 
"Quando as pessoas falam de “espírito de Jezabel”, significa alguém que manipula para conseguir o que quer. "
Uma canção para Jezebel

Há uma canção chamada Jezebel, autoria do compositor americano Wayne Shanklin (1916-1970), lançada em 1951, na interpretação de Frankie Laine (1913-2007). Com letra em português de Caribé da Rocha, a música foi gravada por Jorge Goulart (1926-2012) e lançada em julho de 1952.


Jezebel... Jezebel...
A dor que trago em meu peito
A luz que brilha em minh'alma
Jezebel... Jezebel... És tu!
A mágoa é um prazer, Jezebel... Oh, Jezebel...
Amar é viver, morrer
Eu posso o mundo enfrentar
E ao inferno chegar
Assim é o amor que eu tenho por ti, Jezebel,
Só por ti, mais ninguém
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A dor que trago em meu peito
A luz que brilha em minh'alma
Jezebel... Jezebel... És tu
Melodia que me vem do céu
Me acalma o coração
E eu escuto assim com emoção, amor
A ternura que então me invade
Desperta-me a saudade e a recordação
Minha obsessão, teu nome, Jezebel... 
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E louco de amor, vibrante de paixão
Eu sonho com a vida feliz que terei contigo
Se puder te encontrar
Na minha alucinação
Na noite, na amplidão, gritarei sem cessar:
Onde estás? Onde estás?
Jezebel! Jezebel!

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         Faz uns trinta anos que reconheci numa senhora que caminhava tranquila pela Avenida Guararapes, centro do Recife, a Jezebel Alves do Nascimento, Rainha do Verão do Recife de 1953. Senti vontade de me aproximar, dizer que era natural da mesma cidade onde ela nasceu e procurar saber detalhes do seu passado de rainha da beleza. Hesitei. A minha timidez na época não permitiu. 



       Ainda bem que, graças a Deus e ao recorte do jornal Correio Lagense, enviado pelo José Maria de Mattos, consegui resgatar uma pequena parte da trajetória de uma beldade famosa da minha amada São José da Laje. 

       Na cidadezinha onde nasci, localizada nas margens alagoanas do Rio Canhoto, jovens de 2019 também sonham morar em uma grande cidade e conquistar um título de beleza, tal como Jezebel Alves do Nascimento, Rainha do Verão do Recife de 1953.       

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Jorge Goulart canta "Jezebel",

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Maio, para sempre maio


O quinto mês do ano me leva para as noites marianas da minha infância alagoana em São José da Laje. Como membro da Cruzada Eucarística Infantil, certa vez fiz parte de um coral onde cantei o "Canto de Coroação de Maria". 


"Queremos de Maria a fronte coroar.
Ó digna-te, Mãe Pia, tais flores aceitar.
_

Do nosso louvor, recebe hoje a flor.
Aceita-a, Virgem Pia, e dá que no céu, Possamos sem véu, te contemplar um dia. Cantar com alegria, o teu louvor, o teu amor, Em celeste harmonia.
_
Do lírio te ofertamos o casto e puro alvor.
Em ti, porém, achamos mais divinal candor.
_
A flor da caridade, na linda e rubra cor, Aceita-a, com bondade, ó Mãe do puro amor."

Se você for ao altar de Nossa Senhora de Lourdes, na Igreja Matriz de São José, envolvido em silêncio, não estranhe se encontrar um menino ajoelhado vestido de branco. A projeção dessa recordação está lá, eternamente envolvida na saudade de um maio que se foi. 
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Daslan Melo Lima
Timbaúba, PE
09/05/2019

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Minha canção de maio



Dayvison Gabriel, um dos meus sobrinhos-netos, não deseja hoje no mar se banhar, apenas abrir os braços para o oceano abraçar. Peço a Deus que ele cresça sem perder de vista o menino que é. E quando um dia homem feito for, que em sua alma chegue o eco da canção que agora escuto. E a canção que escuto, "Vento de Maio", do baiano Gilberto Gil e do piauiense Torquato Neto, se para mim é uma dose de fé, para ele seja um legado de esperança.

Oi você, que vem de longe
Caminhando há tanto tempo
Que vem de vida cansada 
Carregada pelo vento
Oi você, que vem chegando
Vá entrando, tome assento.
     
Desapeie dessa tristeza
Que eu lhe dou de garantia
A certeza mais segura
Que mais dia, menos dia
No peito de todo mundo
Vai bater a alegria. 

Oi, meu irmão, fique certo
Não demora e vai chegar 
Aquele vento mais brando
E aquele claro luar
Que por dentro desta noite
Te ajudarão a voltar. 
  
Monte em seu cavalo baio
Que o vento já vai soprar
Vai romper o mês de maio
Não é hora de parar
Galopando na firmeza 
Mais depressa vai chegar. 

       Canções populares como “Vento de Maio” são mensagens motivacionais que não têm preço. Eu diria que são expressões de religiosidade, independente de religiãoA fé e a esperança dão as mãos num apelo que toca a alma e voa ao céu. 
        Torquato Neto desistiu de viver no dia 10/11/1972, um dia depois de ter completado 28 anos de idade. Fatos lamentáveis não anulam a energia positiva do vento. Fortes estarão nossas mãos e braços para continuar acreditando no amor, quando falharem os abraços do vento de maio.  
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Daslan Melo Lima
Recife, PE, 03/05/2019, enquanto Gilberto Gil canta "Vento de Maio",
https://www.youtube.com/watch?v=46jMtuF95qs


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SESSÃO NOSTALGIA – A cápsula do tempo de Yolanda Pereira, Miss Universo 1930


Daslan Melo Lima, com base nas informações colhidas no site gauchazh.clicrbs.com.br e transcritas por Roberto Macêdo no Miss News, missnews.com.br

Foto: Gustavo Vara / Assessoria da Prefeitura de Pelotas
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      Uma cápsula do tempo foi descoberta na terça-feira, dia 7, em Pelotas, Rio Grande do Sul, em meio às obras de revitalização da Praça Coronel Pedro Osório, no Centro. O objeto, segundo pesquisadores, estava enterrado há 88 anos. Ficava próximo ao monumento em homenagem à pelotense Yolanda Pereira (1910-2001), Miss Pelotas, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil e Miss Universo 1930, antes de a competição tornar-se oficial.

Inauguração do monumento à Yolanda Pereira, em 8 de novembro de 1931. À direita da coluna, Yolanda. No lado oposto, a pianista Guiomar Novaes. ***** Ramão Barros / Almanaque de Pelotas 1932.
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Postais com o rosto de Yolanda Pereira, Miss Universo 1930.
Acervo de Eduardo Arriada.
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      A colocação da pedra fundamental do monumento foi realizada em 16 de outubro de 1931, data do aniversário de 21 anos da beldade homenageada, às dezessete horas. A solenidade foi aberta por um dos membros da comissão organizadora, M. Vieira Monteiro. A seguir, foi passada a palavra a Aristides Bittencourt, representante do subprefeito em exercício, que convidou a senhorinha Constancinha Pinto Pereira da Silva para leitura da ata de fundação.
      Historiadores consultados pela prefeitura de Pelotas afirmam que o objeto foi colocado na praça em 1931, para ser aberto 50 anos depois, mas caiu no esquecimento e nunca foi resgatado. Essa informação estaria em uma ata das homenagens feitas para a miss na época. Em 2012, ano do bicentenário de Pelotas, o pesquisador Guilherme Pinto de Almeida citou no livro Almanaque do Bicentenário de Pelotas a possível existência da cápsula. Ele fundamentou a pesquisa ao encontrar uma ata da época em que ela foi enterrada. Agora, por conta de uma reforma no paisagismo do local, funcionários da empresa que realiza as obras encontraram o objeto metálico enterrado e consultaram a prefeitura.
       Depois de oficialmente entregue à prefeita, Paula Mascarenhas, a cápsula do tempo foi encaminhada aos técnicos para limpeza e avaliação do melhor momento para a abertura. A conservadora e restauradora Fabiane Rodrigues Moraes foi chamada pela prefeitura para acompanhar o processo de retirada da cápsula.  Devido ao nível de umidade do terreno onde estava, o conteúdo que está dentro da caixa pode ter sido prejudicado.
        Pesquisadores usaram um raio X para ver o interior do objeto na tarde da sexta-feira (10). Segundo Fabiane Rodrigues Moraes, as imagens mostraram que a cápsula está cheia de líquido. A probabilidade é que, com as chuvas nestes 88 anos em que esteve enterrada, a caixa acabou enchendo de água, diz a pesquisadora. Ela acredita, pelas imagens, que nenhum objeto tenha se mantido inteiro dentro da cápsula.
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O "mistério" da "cápsula do tempo" 
Depoimento de José Rubens Silveira Acevedo


No dia 11, o meu amigo José Rubens Silveira Acevedo, ex-professor de História da UFPel, Universidade Federal de Pelotas, postou o comentário abaixo no Facebook. 

         Antes de desvendar o "mistério" da "cápsula do tempo" há tanto guardada debaixo da coluna erguida em homenagem à Yolanda Pereira, permitam-me que faça mais algumas digressões, como professor de História que fui a vida inteira, e como guia turístico que ainda gostaria de ser. Em primeiro lugar, considero uma preciosidade esta foto.  

Ramão Barros / Almanaque de Pelotas 1932.

      Nela, Yolanda Pereira, um ano depois de sua consagração como miss, tal como ocorre com a maioria das misses até hoje, mostra-se ainda mais bela, mais esbelta, mais refinada, em suma, em todo o esplendor de sua beleza. E, como não poderia deixar de ser, ela se encontra nesta foto em muito boa companhia. Atrás de Yolanda vê-se duas outras muito belas jovens que eu suponho terem sido das que também disputaram aquele Miss Pelotas, não por escolha de uma comissão julgadora, mas pelo voto popular através de cupons que acompanhavam cada exemplar do hoje mais que centenário jornal Diário Popular. A sua esquerda, de passagem por Pelotas, sua conterrânea Zola Amaro, talvez a única soprano brasileira a ser contratada como "prima donna" pelo Teatro Scala de Milão. A sua direita, o médico Dr. Alcindo Simões, que viria a dar seu nome a uma rua, a uma escola e a um hospital da cidade, que morava em um dos mais suntuosos palacetes de Pelotas, cujo interior vim a conhecer logo após seu falecimento, sem descendentes, quando foi colocado à venda o fabuloso acervo em móveis e objetos de seu interior.
      E por falar em belas e antigas residências da cidade, também é digna de ser vista aquela em que morou Yolanda Pereira até casar, defronte à praça da Catedral, há poucos anos inteiramente restaurada. Esta fica bem próxima de onde residiu a primeira Mais Bela Gaúcha eleita, a pelotense Cladys Caruccio, morena linda de origem italiana, que devia ter disputado o Miss Brasil com Marta Rocha, mas que renunciou, ao que dizem, por pressão da mãe. muito religiosa. Esta, pelo que corria depois na cidade, para compensar o que fizera com a filha, teria sido, quase duas décadas depois, a principal incentivadora e orientadora de Rejane Costa a que esta viesse a disputar o Miss Pelotas.
       E agora, finalmente, o que mais interessa. Na verdade, parece-me não haver mistério quanto ao conteúdo da cognominada "cápsula do tempo", mas desinformação da emissora de TV que divulgou a descoberta de tal caixa. Embora esta tenha permanecido esquecida por várias décadas, a notícia de sua existência, bem como o que nela continha, foi descoberto por pesquisador pelotense de velhos jornais e almanaques da cidade. Embora a caixa ainda não tenha sido aberta, porque sua oxidação impediu que a chave funcionasse, através desse pesquisador, sabe-se que nela foram guardados exemplares de sete jornais doados por Yolanda Pereira que narravam sua trajetória como Miss, dentre eles a Noite, do Rio de Janeiro, que promoveu o Miss Brasil e o Miss Universo, o Diário de Notícias, de Porto Alegre, responsável pelo Miss Rio Grande do Sul, e o Diário Popular de Pelotas, distribuidor dos cupons que deram a vitória à Yolanda Pereira em Pelotas, através do voto popular.
      Ela também doou uma foto sua devidamente autografada, para ser guardada nessa caixa, junto ainda com clichês de moedas de prata que José Maria Withaker, Ministro da Fazenda na época, mandou cunhar com a efígie de Yolanda Pereira representando a figura da segunda república brasileira. Lamentavelmente, pelo peso dessa caixa ao ser resgatada, supõe-se que tenha entrado água nela, o que terá deteriorado os jornais e fotos nela contidos, e que teriam se constituído em uma valiosa documentação histórica sobre a trajetória de Yolanda Pereira como Miss Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil e Miss Universo.
      Para compensar esta provável perda, cabe-me comunicar mais uma vez que, em um pequeno museu existente na Biblioteca Pública de Pelotas, estão expostas as quatro faixas conquistadas por Yolanda Pereira, sendo que a de Miss Universo  é extremamente original porque nela foram bordados, em letras pequenas e coloridas, o nome de cada um dos países que disputaram esse Miss Universo realizado na cidade do Rio de Janeiro. Quem vier a Pelotas e quiser conhecer este pequeno, mas precioso acervo, para os aficionados nos concursos de beleza, estou à disposição para ciceronear e para solicitar prévia autorização para que essas quatro faixas possam ser fotografadas.
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    E para encerrar essa Sessão Nostalgia que fala de uma cápsula do tempo, eis um belo poema do gaúcho Mario Quintana (1906-1994), que tem por nome O TEMPO.

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. 
Quando se vê, já são seis horas! 
Quando se vê, já é sexta-feira! 
Quando se vê, já é natal... 
Quando se vê, já terminou o ano... 
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. 
Quando se vê passaram 50 anos! 
Agora é tarde demais para ser reprovado... 
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. 
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...

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P.S. - Últimas Notícias - 14/05/2019
     

        A caixa foi finalmente aberta nesta terça-feira (14). Dentro dela, entre outros itens, estão páginas de jornais com notícias sobre a primeira brasileira a receber o título de Miss Universo, Yolanda Pereira, em 1930. O mistério, no entanto, ainda não chegou ao fim. Como o interior está cheio d'água, os materiais depositados na "cápsula do tempo" ficaram submersos. A retirada dos itens de dentro da caixa pode levar de três meses a um ano.
Fonte:
https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2019/05/14/caixa-misteriosa-enterrada-ha-88-anos-e-aberta-em-pelotas.ghtml
Foto: https://gauchazh.clicrbs.com.br
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domingo, 5 de maio de 2019

No final da minha rua


No final da minha rua, enquanto o sol se põe, meninos jogam bola sonhando com os aplausos dos estádios internacionais. 



No final da minha rua, enquanto o sol se põe, o Arquiteto do Universo decora o cenário de luzes e sombras, no tom exato para um mergulho nos mistérios da vida e da morte. 



No final da minha rua, enquanto o sol se põe, sonhos se renovam na certeza de que o sol voltará amanhã como parte do ritual eterno de morrer, nascer, falecer, renascer.





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Daslan Melo Lima
Timbaúba, PE
04/05/2019

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DE TIMBAÚBA PARA O MUNDO - Nova Cintra e Mocós, o embrião e o berço de Timbaúba



>>>>>  Timbaúba começou em Mocós ou em Nova Cintra? Talvez melhor dizer que houve um embrião e um berço.


NOVA CINTRA, O EMBRIÃO


Por volta de 1750, começaram a fixar-se nestas terras do atual engenho Nova Cintra, os primeiros colonizadores. Desse núcleo inicial não se tem referências dos pioneiros, tão pouco o itinerário utilizado para atingir a região, podem ter vindo de Tejucupapo/Olinda, como do então núcleo habitacional de Igarassu. Das terras do engenho, o povoado expandiu-se na direção das terras da atual Vila de Cruangi, mas com a criação do município de Timbaúba (1879), passando, portanto, o povoado e a região a constituir-se apenas no segundo distrito. Já, no início do século 20, seus habitantes vendo que as perspectivas de desenvolvimento doravante estavam definitivamente sepultadas, procuraram a sede do município ou outras plagas.  

Os efeitos do êxodo não tardaram a aparecer, as casas que estavam nas terras do engenho, ao ficarem desabitadas, foram aos poucos demolidas, resultando consequentemente na redução gradativa da vila até as dimensões atuais, como demonstram os dados do primeiro censo realizado no Brasil (1890) e o ultimo (1991). Em 1890, Cruangi possuía 18.736 habitantes e atualmente apenas a metade: 9.230.

MOCÓS, O BERÇO



Não havendo mais dúvidas de que o primeiro núcleo habitacional do município foi Nova Cintra/Cruangi e, sabendo-se que o homem por necessidade básica habita próximo a mananciais, à margem direita do rio Capibaribe-Mirim, surge Mocós. Historicamente não se sabe a origem dos primeirós habitantes, nas tudo leva a crer que vieram de Cruangi, pois Mocós é posterior à vila de Cruangi, já que a primeira referência que se tem notícia data de 1821, na revolução Goianense. 

Uma das versões aceitas para o topônimo do arruado é de que: circundando este núcleo populacional havia capinzais de porte elevado onde se multiplicavam em grande quantidade ratos do mato ou coelhos do mato, conhecidos popularmente por mocó ou mocós. Tinha a população, como meio de subsistência, os citados mamíferos, pois ateavam fogo no capinzal e assim os caçavam em grande quantidade. A outra versão é a de existir inúmeros grupos em várias regiões do Brasil também denominados de mocos, não constitui-se portanto privilégio do arruado. Designam todos aqueles que roubam as lavouras, tal qual os coelhos do mato, ratos do mato e demais animais silvestres.

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Fonte: Timbaúba Ontem e Hoje – Volume I, Lusivan Suna, Edição do Autor-1992.
          
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