Tenho nas mãos um velho livro chamado CONTOS PÁTRIOS, autoria de Olavo Bilac e Coelho Neto, com lições maravilhosas de educação moral e cívica, com desenhos de Vasco Lima, edição da Livraria Francisco Alves, 24ª edição, Rio de Janeiro, 1928.
Cresci ouvindo a minha mãe declamar textos inteiros de CONTOS PÁTRIOS. Era o seu livro preferido. Entre tantos contos, ela tinha predileção por A PARTILHA, uma comovente história de amor maternal. Trancrevo-o abaixo, na íntegra, respeitando a ortografia da época, nesse segundo domingo de maio de 2008, onde se festeja o Dia das Mães.
Cantava, e as lagrimas rolavam-lhe em dois fios ao longo da face magra e pallida. Soffria, mas, como era preciso que o pequenino adormecesse, cantava, indo e vindo, devagar, embalando nos braços a creança. O mais velho – tres annos - olhava-a risonho e,de quando em quando,cantarolava: “ Estou com fome, mamãe! Estou com fome..”
E o pequenito, insomne, muito esperto, a boquinha collada ao peito,sugava. “Estou com fome, mamãe...” : cantarolava o outro.
Ia alta a manhã; mas, se o sol alegrava o quintalejo, que tristeza em casa ! Viúva, tysica, desfigurada pela molestia e pela fome, timida demais para pedir esmolas, que havia de fazer a desgraçada? “Estou com fome, mamãe”; cantarolava o mais velho.
- Espera filho! Espera!
Como o pequenino adormecesse, a mãe foi pé ante pé, e deitou-o sobre um fofo colchão de pannos, a um canto da casa: e o mais velho, seguindo-a, cantarolava sempre: “Estou com fome, mamãe...”
- Não faças bulha, filho: espera. E, acenando-lhe, passou á cozinha. Mas que havia de fazer?
Ardia a derradeira acha: e a mãe, os olhos razos d ‘agua, poz-se a soprar a lenha para atear o lume, enquanto o filho,que se lhe agarrava ás saias, cantarolava: “ Minha maesinha... estou com fome”,- mas já contente, vendo que a chaleirinha fumegava.A ‘ mesa, porém, quando a mãe lhe apresentou a tigella e o pedacinho de pão da vespera, o pequeno fitou-a com espanto:
- Só café, mamãe?
- Só meu filho...
O pequeno, levando a colher á bocca, foi repellindo a tigella, com um beicinho, prestes a chorar.
-Não chores: olha que vaes acordar o maninho ! Espera !
E, desabotoando o corpinho,tirou o seio farto, pojado de leite e espremeu-o, trincando os labios descorados por onde as lagrimas corriam fio a fio, e, entregando a tigella ao filho:- Toma, e não faças bulha !
E o pequeno, arregalando os olhos, satisfeito: “Agora sim!” poz-se a cantarolar.
Baixinho, então, a mãe lhe disse: - E não peças mais, ouviste? o outro é para o maninho.- E foi, pé ante pé, espiar o filho que dormia.
E o pequenito, insomne, muito esperto, a boquinha collada ao peito,sugava. “Estou com fome, mamãe...” : cantarolava o outro.
Ia alta a manhã; mas, se o sol alegrava o quintalejo, que tristeza em casa ! Viúva, tysica, desfigurada pela molestia e pela fome, timida demais para pedir esmolas, que havia de fazer a desgraçada? “Estou com fome, mamãe”; cantarolava o mais velho.
- Espera filho! Espera!
Como o pequenino adormecesse, a mãe foi pé ante pé, e deitou-o sobre um fofo colchão de pannos, a um canto da casa: e o mais velho, seguindo-a, cantarolava sempre: “Estou com fome, mamãe...”
- Não faças bulha, filho: espera. E, acenando-lhe, passou á cozinha. Mas que havia de fazer?
Ardia a derradeira acha: e a mãe, os olhos razos d ‘agua, poz-se a soprar a lenha para atear o lume, enquanto o filho,que se lhe agarrava ás saias, cantarolava: “ Minha maesinha... estou com fome”,- mas já contente, vendo que a chaleirinha fumegava.A ‘ mesa, porém, quando a mãe lhe apresentou a tigella e o pedacinho de pão da vespera, o pequeno fitou-a com espanto:
- Só café, mamãe?
- Só meu filho...
O pequeno, levando a colher á bocca, foi repellindo a tigella, com um beicinho, prestes a chorar.
-Não chores: olha que vaes acordar o maninho ! Espera !
E, desabotoando o corpinho,tirou o seio farto, pojado de leite e espremeu-o, trincando os labios descorados por onde as lagrimas corriam fio a fio, e, entregando a tigella ao filho:- Toma, e não faças bulha !
E o pequeno, arregalando os olhos, satisfeito: “Agora sim!” poz-se a cantarolar.
Baixinho, então, a mãe lhe disse: - E não peças mais, ouviste? o outro é para o maninho.- E foi, pé ante pé, espiar o filho que dormia.
*****
Um comentário:
Este livro deve ser muito interessante pelo que você escreveu aqui. Lembro-me que na época que eu estudava no Colégio Cearense Sagrado Coração, que era um colégio de maristas, que hoje infelizmente não existe mais, tínhamos aula de "Moral e Cívica". Pode? Estou ficando velho....
Abraços
Raimundo Junior
Postar um comentário