Daslan Melo Lima
“Deixas de envelhecer. Ninguém vai te ver envelhecida.
Apenas serás antiga, emoldurada de eternidade e de olhos verdes.
Um ano depois, os que ficaram
continuam com os olhos rasos d’água. E não entendem o enigma, mesmo porque
enigmas não são para ser entendidos.
As coisas estão no mesmo lugar.
Objetos, roupas, papéis. Talvez com um pouco mais de pó, pois a cada ano acrescentado
aumentam os resíduos de poeira e de memórias. ”
Guardo num caderno de recortes a crônica “Para
Léa”, de Paulo Fernando Craveiro, escritor,
jornalista, cronista e crítico de arte. Publicada em sua página do Diario de Pernambuco, edição de 1º de
janeiro de 1989, o texto evoca a figura de sua esposa Léa Pabst Craveiro, falecida em 30/12/1987, vítima de
câncer. Léa Pabst completaria 53 anos de idade no dia 02/01/1988.
“Insuportáveis, estas sim, são as
fotografias. Clarões de perspectivas dos dias que jamais chegaram nem chegarão.
E mais assombros. Assombrosos são os dias de ontem e os de amanhã.
Como estás aqui, percebes que o
sol continua entrando pela janela, e o rio segue o rumo da rotina, e o mar, ali em frente, é uma cambiante massa de verdes, azuis e cinzas. Como permaneces contemplando.
Os que ficaram estão descobrindo
as asperezas da tua ausência física não domesticada, essa fera feita de
silêncios e de vestidos que ainda estão dependurados no guarda-roupa que ninguém
abriu.
Teus sapatos entretanto andam. E
te levam e te trazem, como as ondas, nesse estranho movimento em que convivem
os que se foram e os que resistem tecendo o sonho em que progressivamente te transformas. "
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Léa Pabst, Miss Elegante Bangu
Léa Pabst, Miss Elegante Bangu de Pernambuco 1957
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TRÊS ÍCONES PERNAMBUCANOS - Da esquerda para a direita: Edilene Torreão (Miss Pernambuco 1960, terceira colocada no Miss Brasil, nossa representante no Miss Mundo 1960); Léa Pabst, Miss Elegante Bangu do Clube Náutico Capibaribe, Miss Elegante Bangu de Pernambuco 1957); e Sônia Maria Campos (Miss Pernambuco, Vice-Miss Brasil 1958 e primeira brasileira a disputar o título de Miss Mundo).
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Representando o Clube Náutico Capibaribe, Léa Pabst foi a primeira colocada no Miss Elegante Bangu de Pernambuco 1957, durante
evento realizado no Clube Internacional do Recife, em 16/11/1957. Em segundo
lugar ficou Violeta Botelho, representando o Clube Internacional do Recife. Violeta tinha sido a terceira colocada no Miss Pernambuco 1957, na condição de Miss
Clube Português do Recife.
Linda, delicada, elegante, educadíssima, Léa Pabst
casou com Paulo Fernando Craveiro e teve um casal de filhos. Figura de grande prestígio na sociedade pernambucana, jornalista e apresentadora de
eventos socioculturais, ela também dava aulas de etiqueta às jovens que
aspiravam desfilar nas passarelas como modelos e misses.
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"Léa foi única"
Tenho um
amigo e uma amiga que conheceram bem a eterna Miss Elegante Bangu de
Pernambuco: Muciolo Ferreira e Julia Kátia.
Confessa Muciolo Ferreira, jornalista: "O concurso Miss Elegante Bangu só foi
ultrapassado pelo Miss Brasil porque não era televisionado e as jovens não eram
expostas numa passarela desfilando de maiô. Até porque o Miss Elegante Bangu
era disputado pelo melhor que havia na sociedade brasileira. Em Pernambuco, a
mais famosa miss dessa competição foi a saudosa jornalista Léa Pabst Craveiro,
que foi casada com o também jornalista Paulo Fernando Craveiro. Daslan, pense
numa mulher que era sinônimo de elegância e beleza na melhor acepção desse
termo. Léa foi única. ”
Afirma Julia Katia, ex-modelo: “Guardo lembranças maravilhosas do meu tempo de manequim de alta-costura e de
candidata ao título de Miss Pernambuco 1976. Entre elas, o aprendizado com a
inesquecível jornalista Léa Pabst Craveiro. Quando eu ria alto e gargalhava,
Léa me corrigia com aquela sua classe e elegância: - Katia, não sorria
assim, ria mais baixo. ”
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No bucólico bairro de Guabiraba, verdadeiro
pulmão verde do Recife, há uma rua com o nome de Léa Pabst Craveiro,
a Miss Elegante Bangu que deixou de envelhecer; a jornalista que ninguém viu envelhecendo; a mulher maravilhosa que apenas ficou
antiga, “emoldurada de eternidade e de olhos verdes”.
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Crédito das fotos:
Acervo de Fernando Machado