Daslan Melo Lima
Na década de 1950, quando a televisão brasileira ainda engatinhava, as emissoras de rádio eram tão importantes que havia uma revista semanal famosa, a Revista do Rádio, focalizando seus ídolos (locutores, cantores, cantoras, humoristas...), tal como hoje existem as publicações com as páginas ocupadas pelas celebridades da televisão. E foi na Revista do Rádio, Ano IX, nº. 356, de 07/07/1956, que encontrei assunto para a SESSÃO NOSTALGIA desta semana, da qual extraí o texto abaixo, autoria de Waldemir Paiva, assim como as fotos que ilustram esta matéria.
A eleição de Miss Brasil, desde Marta Rocha, vem conseguindo empolgar a opinião pública. E o rádio é sempre parte ativa no concurso. Este ano concorreram representantes do Distrito Federal, território do Acre e de 20 estados. Nos últimos dias que precederam o desfile do Quitandinha, formaram-se correntes de opiniões as mais diferentes a ser defendidas de maneira intransigente pelos seus conterrâneos residentes nesta capital. Era o bairrismo em função da beleza.
O Quitandinha reviveu um dos seus maiores dias. O rádio, com seu batalhão de rádio-repórteres, estavam presente. Todos os apartamentos (305) estavam ocupados, muitos deles com camas suplementares. Apesar do frio intenso, logo pela manhã numerosas famílias acamparam às margens do lago, em automóveis e barracas. Foram mobilizados 32 cozinheiros, 23 ajudantes e 41 lavadores de louças para o serviço do restaurante. Quase cinco mil pessoas transitaram pelos corredores à espera do grande momento. Todavia, logo cedo sentiu-se a falta de uma melhor organização. Para ingressar no Teatro Mecanizado, onde estava o Júri, os assistentes (pagando mil cruzeiros por um convite) e as próprias acompanhantes das misses tiveram de se submeter a uma única fila, que tomou proporção gigantesca. Aos representantes do rádio e dos jornais, foi reservada a entrada pela porta da cozinha. O baile programado não se realizou porque a pista de dança foi o único local onde os repórteres puderam aguardar o desfile, irradiado por emissoras do Distrito Federal, São Paulo, Estado do Rio, Minas, Rio Grande do Sul e Paraíba.
As finalistas do Miss Brasil 1956, da esquerda para a direita:
Eli de Azevedo Pires, Miss Estado do Rio, sexto lugar;
Maria José Cardoso, Miss Rio Grande do Sul, primeiro lugar;
Leda Brandão Rau, Miss Distrito Federal, terceiro lugar;
Regina Maura Vieira, Miss São Paulo, segundo lugar;
Luzia Aliete Borges, Miss Pará, quinto lugar;
Maria de Jesus Holanda, Miss Ceará, quarto lugar.
Bem recebida foi a seleção das finalistas: Misses Rio Grande do Sul (Maria José Cardoso), São Paulo (Regina Maura Vieira), Distrito Federal (Leda Brandão Rau), Ceará (Maria de Jesus Holanda), Estado do Rio (Eli de Azevedo Pires) e Pará (Luzia Aliete Borges). Entretanto, quando anunciaram o nome da representante gaúcha para Miss Brasil 1956, surgiram demorados protestos que tumultuaram por completo o ambiente. Entre pouquíssimas palmas, abafadas por estridentes assobios e vaias, a Srta.Maria José Cardoso não escondeu o seu desapontamento.
Em cima a nova Miss Brasil em vestido de baile e maiô. No dia seguinte à vitória ela recebia o primeiro convite para fazer um teste de voz numa de nossas emissoras. E é possível que venha a fazê-lo quando regressar dos Estados Unidos. Um produto de beleza está interessado nisso.
Estávamos no camarim da Miss Rio Grande do Sul, juntamente com repórteres de emissoras, quando ela recebeu a notícia da sua vitória. Presa de grande emoção disse-nos:
- "Através do rádio os meus conterrâneos estão participando comigo da alegria desta noite. Sinto-me contente por não tê-los decepcionado".
Voltamos a encontrar a Srta. Maria José Cardoso ao ficarem serenados os ânimos. Calma e confortada por parentes e amigos, ela pediu:
- Quero que REVISTA DO RÁDIO agradeça a gentileza que recebi das emissoras, especialmente dos rádio-repórteres que compreenderam os incidentes desta noite dando ao povo informações desapaixonadas.
Maria José Cardoso cercada pelo rádio: aí estão o Caringi (da Continental), Luís de Carvalho e Ibrahim Sued (da Globo). Ibrahim foi o primeiro a anunciar o nome da vencedora.
O Miss Brasil 1956 foi realizado no Hotel Quitandinha, Petrópolis, Estado do Rio, em 16/06/1956, e foi muito criticado pela falta de organização. Maria José Cardoso, filha de um funcionário da Alfândega, nasceu em São Francisco do Sul, Santa Catarina, mas foi morar em Porto Alegre ainda muito criança. Tinha 1,70 de altura, 59 Kg, 96 cm de busto, 60 de cintura, 96 de quadris e lindos olhos verdes. Chegou a se apresentar em New York, na loja Macy’s, em desfile que teve Jerry Lewis como mestre de cerimônias.
É a mais "encabulada" de todas. Nos Estados Unidos, quando um fotógrafo americano lhe pediu que mostrasse os joelhos (queria bater uma foto), a moça gaúcha ficou da cor de um tomate bem maduro. (Ubiratan de Lemos, As Onze Mais Belas do Brasil-História Precoce do Miss Brasil. Revista O CRUZEIRO, 20/02/1965).
Encontrei no site www.missesdosbrasil.com a foto acima, mostrando Maria José Cardoso em 2005. Fiquei contente ao constatar que a Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil e semifinalista no Miss Universo 1956 continua com seu olhar belo e verde, tão belo e tão verde como naquela época onde as pessoas ficavam horas e horas escutando shows, novelas e programas pelo rádio.
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