Daslan Melo Lima
Há dias consagrados para tudo, ou
quase tudo, no Brasil e no mundo: Dia do Amigo, Dia do Soldado, Dia do Gari,
Dia do Professor, Dia da Mentira, etc. Eu nunca ouvi falar no Dia do Missólogo.
E tenho certeza absoluta que você também nunca ouviu, pois não existe. Pelo
menos não existia até esta edição de PASSARELA CULTURAL. A partir de agora,
ouso criar um dia para celebrar nossa paixão pelas Misses, paixão que também é sua,
prezado leitor, prezada leitora, da SESSÃO NOSTALGIA: 25 de Agosto.
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Por que o 25 de agosto como Dia do
Missólogo?
Para responder à pergunta, precisarei
focalizar a figura de Luiz Leopoldo
Brício de Abreu, ou simplesmente Brício
de Abreu, jornalista, poeta, crítico teatral, escritor e dramaturgo nascido
no Rio Grande do Sul, em 25 de agosto de 1903, e falecido no Rio de Janeiro, em
16 de fevereiro de 1970. Foi ele a personalidade que me inspirou a criar o Dia do Missólogo Brasileiro. Abaixo, um
pouco da sua trajetória profissional extraída da Wikipédia.
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Com
o poeta Álvaro Moreyra (1888-1964), também gaúcho, Brício de Abreu criou Dom
Casmurro, a mais importante revista literária da época. Apesar das
dificuldades, chegou a vender 50 mil exemplares semanalmente, número
surpreendente para o Brasil daquela época, um país com 30 milhões de habitantes
e altíssimos índices de analfabetismo. Posteriormente, ainda nos anos 1940,
Brício dirigiu também a Comoedia, revista mensal de teatro, música, cinema e rádio.
Ao
longo de sua vida, constituiu um vasto acervo de documentos e material fotográfico
referente a artistas que participaram ativamente da vida musical brasileira. A Coleção Brício de Abreu veio a constituir a
maior parte dos documentos digitalizados pelo Cedoc - Centro de Documentação e
Informação em Arte da Funarte, que visa a preservação da história da música,
sobretudo da música popular. Outra grande parte da coleção encontra-se na
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Casou-se duas vezes: primeiro com Maria
Desmurs (carece de fontes] e, depois, com Odette Veiga, sua companheira nos
últimos trinta anos de sua vida.
Brício
de Abreu trabalhou na organização de concursos de beleza, em Paris, de 1929 a
1935, e, anos depois, no Rio de Janeiro. Algumas de suas obras: “Por Experiência", teatro, 1919”; “Evangelho da Ternura”, poesia, 1921; “ A mais
forte”, romance, 1922; “Uma Lágrima de Amor”, teatro, 1922; “ A Eterna Comédia”,
teatro, 1924. “Eleonora Duse no Rio de Janeiro”, crítica, teoria e história
literárias, 1958. “Esses Populares tão Desconhecidos”, teatro, 1963.
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Brício de Abreu e as Misses
Em reportagem da revista O Cruzeiro, Ano XXXVII, Nº 33, de 22/05/1965, Brício de Abreu contou que organizou com Maurice De Waleffe (1874-1946) concursos de beleza
em Paris, de 1929 a 1935, e anos depois no Rio de Janeiro. Em 1930, coordenou o certame que teria seu
final no Rio de Janeiro, para o Concurso Internacional da Beleza (Miss Universo) daquele ano. Em 1932, ao
lado de jornalistas brasileiros que trabalhavam em Paris, elegeu, entre onze
moças brasileiras residentes na capital francesa, a Miss Brasil 1932, Yeda Telles de Meneses, filha da célebre cantora Julietta Teles de Meneses.
Yeda
Telles de Meneses, Miss Brasil 1932, entre Maurice de Waleffe e Elyseu
Montarroyos. Atrás: Olavo Freire, Brício de Abreu e Marcos Sepúlveda. *****
Revista O Cruzeiro, Ano XXXVII, Nº 33, de 22/05/1965. ***** Acervo:
DML/Passarela Cultural.
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Brício
de Abreu e quatro candidatas ao título de Miss Universo 1932: Gween Stallard,
Miss Inglaterra; Olga Djouritch, Miss Iugoslávia; Marie Émilienne Caisson, Miss
França; e Ingrid Richard, Miss Alemanha.
***** Revista O Cruzeiro, Ano XXXVII, Nº 33, de 22/05/1965. ***** Acervo:
DML/Passarela Cultural.
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Cardápio
de um "diner de gala" oferecido às candidatas do concurso Miss
Universo 1932, no balneário de Spa, Bélgica. Beatriz Dolores del Campo, Miss
México, escreveu nas costas do cardápio uma dedicatória para Brício, "el
muchaco más guapo" (o cara mais bonito). ***** Revista O Cruzeiro, Ano XXXVII, Nº 33, de
22/05/1965. ***** Acervo: DML/Passarela Cultural.
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Além de
organizar com muito zelo concursos de beleza no Brasil e no exterior, Brício de
Abreu amava e tinha paixão pelo mundo Miss.
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Você sabe o que é um missólogo?
O Mais que Miss conta para você!
Andréia
Reis, Miss Santa Catarina 1985.
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Para entender melhor este universo, Andréia Reis, Miss Santa Catarina, semifinalista (Top 12) no Miss Brasil 1985, entrevistou o jornalista, arquiteto e missólogo baiano, Roberto Macedo, editor do site Miss News, http://www.missnews.com.br/, autor da biografia da
Miss Universo 1968, Martha Vasconcellos.
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ANDRÉIA REIS - Roberto, qual a origem da
palavra missólogo?
ROBERTO MACÊDO
- Acredito que ela surgiu em 1987 quando eu fui convidado para uma entrevista
na TV Itapoan em um programa preparatório do Miss Bahia. O produtor, Carlos
Borges, irmão da apresentadora, Hélide Borges, disse que não sabia como me
chamar. Foi então que ele sugeriu o termo "missólogo". A partir dali,
passaram a me chamar de missólogo em todos os programas que eu participava.
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ANDRÉIA REIS - E
o que é um Missólogo?
ROBERTO MACÊDO
- O missólogo é o estudioso dos concursos de misses. Assim como existem
psicólogos, antropólogos, geólogos, existem missólogos. É quem pesquisa, quem
busca o conhecimento decorrente dos concursos de beleza, pois não se resume ao
desfile a escolha de uma miss. Há todo um envolvimento social, político,
econômico. Uma miss conta com a participação do seu meio, sua família, seus
amigos, seu clube, seu município, seu estado, seu país. Há os componentes
econômicos, como a sede do concurso, os patrocinadores, as transmissões por TV,
rádio, internet, etc. Também podemos observar os interesses políticos de lançar
uma candidata, de sediar o evento, de usar o título de uma miss para promoção.
Há questões relacionadas com cirurgias plásticas, sexo, religião, racismo. Ou
seja, um concurso de miss é o retrato do momento sóciopolítico de uma
coletividade.
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ANDRÉIA REIS - Quais foram os primeiros
missólogos brasileiros?
ROBERTO MACÊDO
- No início eu me sentia um ET. Não conhecia mais ninguém que gostasse dos
concursos de beleza como eu, de forma científica - diria até assim. Com o
tempo, conheci um missólogo colombiano fruto de uma carta que enviei para a
revista Cromos. Ele me colocou em contato com o alagoano Expedito Barros (um
dos maiores do Brasil). Daí o grupo foi crescendo, e, com o advento da
internet, descobrimos que não somos ETs, rssss. Há muitos missólogos em todo o
mundo.
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ANDRÉIA REIS - Existem
regras?
ROBERTO MACÊDO
- Não. Alguns se interessam mais pelo fato social, outros pelos indicativos
de uma época, outros pelas estatísticas. O importante é que cuidem dos
concursos com esmero, procurando tirar todas as lições possíveis para que se
possa entender uma época. É de grande importância separar o missólogo do
treinador. De uns tempos para cá, pessoas que não sabem nada da história dos
concursos, mas que ensinam a miss a se maquiar, a desfilar, a posar, têm se
auto-denominado missólogos. Não, esses não são missólogos. São treinadores de
misses.
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ANDRÉIA REIS -
Qual o perfil de um missólogo?
ROBERTO
MACÊDO - Os mais variados. Creio que há um componente comum a todos: são
inteligentes (modéstia à parte rssss). São profissionais que cuidam das suas
vidas, geralmente bem sucedidos nas suas profissões e têm nos concursos de
beleza um hobby muito importante ao qual dedicam boa parte do seu tempo.
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ANDRÉIA REIS - Qual
a importância dos missólogos para a história dos nossos concursos?
ROBERTO MACÊDO
- Acredito que a importância maior está em ser um guardião da história. O
missólogo guarda com cuidado e conhecimento técnico o acontecimento. É uma
testemunha. E faz com que as rainhas da beleza sejam eternamente lembradas,
homenageadas, festejadas. Devemos sempre saber quem fomos para sabermos o que
queremos ser.
"Um povo sem história é um povo sem futuro", finaliza Roberto
Macedo.
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Este vídeo produzido pela Funarte-Fundação Nacional de Artes/Ministério da Cultura, https://vimeo.com/160683744 , mostra o precioso legado de Brício de Abreu.
O que você, leitor, leitora, achou da criação do Dia do Missólogo? Sua opinião ou crítica construtiva será bem-vinda, em nome da nossa paixão pelas misses, afinal paixões são paixões, simplesmente paixões. Não se explicam.
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