Por Daslan Melo Lima
Uma morena chamada Ana Lúcia Caldas de Souza, nascida no Recife, em 25/05/1962, filha
de Fernando Neves de Souza e Maria Lúcia Caldas de Souza, irmã de Mônica, Fernanda e Maria Claudia,
foi eleita Miss Pernambuco 1980, representando o Clube Internacional do Recife. Divorciada, mãe de Anne Elizabeth e Luciana,
e avó de Thiago, Maria Letícia e Gabriel, Ana Lúcia Caldas de Souza hoje é paisagista e mora em Candeias,
Jaboatão dos Guararapes, PE.
Eu estava
naquela noite de 31 de maio de 1980, no Clube Português do Recife, palco da
festa que elegeu a Miss Pernambuco 1980. O evento contou com a participação de trinta jovens
e teve como atrações musicais os cantores Ronnie Von e Elba Ramalho. Eu estava
lá, sem imaginar que trinta e quatro anos depois haveria esta coisa fantástica chamada Internet, que eu seria editor de um blog, e que a vencedora me concederia esta
entrevista exclusiva, ilustrada com imagens do seu acervo.
O TOP 3 DO MISS PE 1980 - Maria Eimar da Conceição, Miss BNB Clube, segundo lugar; Ana Lúcia Caldas de Souza, Miss Clube Internacional do Recife, primeiro; e Silvana Maria Ferreira Gomes, Miss Sport Club do Recife, terceiro lugar.
Ginásio Presidente Médici, Brasília, Distrito Federal, 07/06/1980 - Eveline Schröeter, Miss Rio de Janeiro,
eleita Miss Brasil, e três das cinco semifinalistas, Ana Lúcia Caldas de Souza, Miss Pernambuco;
Sheyla
Maria Chady, Miss Pará; e Mônica Tanus Paixão, Miss Minas Gerais. ***** Imagem:
revista Fatos & Fotos.
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PASSARELA CULTURAL - Quem
você considerava a mais forte candidata ao título de Miss Pernambuco 1980?
ANA LÚCIA CALDAS DE SOUZA - Maria
Izamiris Albuquerque, representante da cidade de Bonito, quarta colocada.
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PC - Quem você
considerava a mais forte candidata ao título de Miss Brasil 1980?
ALCS - Loiane Rogéria Aiache, Miss Brasília,
terceira colocada.
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PC – Você sentiu alguma
forma de preconceito por ser uma concorrente do nordeste?
ALCS – Por parte das minhas
colegas de concurso e do público de Brasília, não senti nenhuma forma de preconceito,
mas não posso dizer o mesmo da coordenação. Eu fui a segunda colocada. Isso foi
dito por uma fonte confiável e confirmado depois pelos membros da comissão
julgadora, mas o envelope com a decisão do júri foi trocado, não era o mesmo
que estava nas mãos do apresentador Paulo Max.
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PC - Você tem
contato com alguma ex-colega de passarela?
ALCS – Sim. Depois do
concurso, eu e Loiane Aiache ficamos muito amigas, tenho um carinho muito
grande por ela e estamos sempre nos falando. A outra é Márcia Meneses Mello,
Miss Sergipe. Também sou amiga das minhas duas antecessoras, Ângela Agra Galvão,
Miss PE 1978, e Anne Elizabeth Brasileiro, Miss PE 1979. Ângela Agra sempre foi
minha inspiração para disputar o concurso, sempre admirei sua beleza e sempre
que podemos estamos juntas. O nome da minha filha mais velha foi uma homenagem
a Anne Elizabeth. Tenho muita admiração por ela, nossa amizade vai além do
tempo e da distância.
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PC - Você
acompanha os noticiários sobre os atuais concursos de Misses?
ALCS - Antes sim, agora não.
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PC - Qual a maior
experiência de ter participado do concurso?
ALCS - A experiência do novo.
Eu era muito nova e muito tímida. Com o
concurso fiquei mais comunicativa. O título me trouxe grandes emoções, muito aprendizado, inúmeras alegrias e maravilhosas amizades, além de proporcionar
muitas viagens, acrescentando com isso mais cultura e experiência de vida. Ser
miss é como viver um conto de fadas.
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PC - O que mudou
em sua vida depois do título de Miss?
ALCS - Durante o período de
1980 a 1983, recebi vários convites para fotos em revistas; festas importantes,
como as da Ilha Porchat, em Santos, Hotel
Copacabana Palace, no Rio; convite para sair de destaque na Escola de Samba Beija
Flor e muitos outros. Pude também disputar vários títulos internacionais e ganhar alguns.
Enfim, uma experiência única. E o mais importante de todas as experiências: saber
que a beleza tem que ser total, corpo e alma. Uma mulher bonita não é aquela de
quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de
tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas.
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PC - Você
incentivaria uma neta ou outra garota da família para participar de um concurso
de Miss?
ALCS - Se elas tivessem esse
propósito, daria força, sim. Sinceramente, não gosto quando escuto algumas
misses revelando que preferem esquecer que foram misses. Acho um pouco de
hipocrisia, afinal, quando eram misses, adoraram ser admiradas, fotografadas,
paparicadas e tal... E depois que passa o tempo, detestam?
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PC - Seus pais
incentivaram você a ser Miss?
ALCS - Não, meu pai foi
contra, mas depois liderou minha torcida e levou muitas pessoas para torcer por
mim no Miss Brasil. Já minha mãe me
apoiou em tudo, foi minha companheira e amiga, acompanhando-me sempre a todos
os eventos.
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PC - Quem são
suas misses inesquecíveis?
ALCS – Por ordem em que foram eleitas: Ieda Maria Vargas, Miss Brasil e Universo 1963; Martha Vasconcellos, Miss Brasil e Miss Universo 1968; Ângela Agra, Miss PE
1978; Anne Elizabeth, Miss PE 1979; e Loiane Aiache, Miss Brasília 1980.
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PC - Um motivo de
arrependimento.
ALCS - Não tenho arrependimentos, pois todos os
meus erros me serviram como crescimento.
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PC - Um motivo de
orgulho.
ALCS - Minhas filhas, meus netos e minha família.
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PC - Em sua
opinião, qual o diferencial, ou seja, qual a mudança maior nos concursos de
Misses de 1980 para 2014?
ALCS - Hoje o que vejo e me
deixa um pouco triste é que as meninas não querem ser misses, querem ser modelos.
Ser miss para mim é bem diferente de ser modelo. Não sou a favor de candidatas
com "cara de boneca fabricada em série”, com intervenções plásticas em
excesso e silicone. A verdadeira beleza está na naturalidade do belo.
PING-PONG COM ANA LÚCIA CALDAS DE SOUZA
Comida preferida:
Salmão com alcaparras e camarão de todas as maneiras.
Bebida: Vinho prosecco italiano e uma cervejinha bem
gelada na praia.
Sobremesa: Delicia
de abacaxi e torta de limão.
Cor: Branco e amarelo.
Hobby: Plantas
Esporte: Caminhadas e Yoga.
Clube esportivo:
Clube Náutico Capibaribe.
Um
jogador de futebol: Kaká, como exemplo de
comportamento.
Um programa de
TV: Encontro, com Fátima Bernardes; Globo
Repórter; e Bem Estar, entre outros.
Uma canção: Muito difícil escolher uma
única música, pois a música é como trilha sonora na minha vida, mas vou
escolher duas que adoro, She (Charles Aznavour) e Let me try again (Frank
Sinatra).
Um frevo: O Hino do Elefante de Olinda, de Clídio
Nigro e Clóvis Vieira. “Ao som dos clarins de momo, / o povo aclama com todo ardor. / O elefante
exaltando as suas tradições / e também
seu esplendor. /// Olinda, este meu canto / foi inspirado em teu louvor. /
Entre confetes, serpentinas, venho te oferecer / com alegria o meu amor.
/// Olinda! Quero cantar a ti esta canção.
/ Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar / faz vibrar meu coração. / De amor a
sonhar, minha Olinda sem igual / Salve o teu carnaval !”
Paisagista de muito talento, Ana Lúcia está de viagem marcada para a França. No próximo mês, em Paris, ela participará de um congresso internacional sobre sua atividade profissional.
Cantores: Frank
Sinatra, Bryan Adams, Jason Mraz, Celine Dion, Paula Fernandes e Djavan.
Atores e atrizes: George Clooney,
Richard Gere, Jennifer Aniston, Julia Roberts, Antonio Fagundes e
Giovanna Antonelli.
Homem
elegante: Frederik André, o príncipe da
Dinamarca.
Mulher elegante: Maria Lúcia Caldas de Souza, minha
mãe, principalmente no saber viver.
Homem bonito: George Clooney.
Mulher bonita: Giovanna Antonelli.
Uma saudade: Meu neto Thiaguinho
Um ponto turístico de Pernambuco: Praia do Paiva, com suas piscinas naturais, em Jaboatão dos Guararapes, e o Marco Zero, no Recife Antigo.
Dia ou noite? Dia.
Samba ou frevo?
Frevo.
O país dos seus sonhos: Grécia,
com certeza.
Animal de estimação: Amo todos os animais, mas atualmente só
tenho cachorros.
Ana Lúcia durante viagem à Itália, nas fotos acima, e em Curitiba, abaixo.
Sonho de consumo: Viajar muito. Conheço nove países da Europa, oito da América do Sul e o Brasil inteiro.
Se
você fosse Presidente da República, o que faria para reverter o que desagrada a sociedade? É
tão difícil falar sobre o que mudar no Brasil... Tantas coisas para mudar...
Saúde, habitação, segurança, corrupção... Acho que teríamos que começar um novo
Brasil. Mas a reforma no Código Penal seria o começo, com leis mais rígidas.
ANA
LÚCIA CALDAS DE SOUZA,
UMA CHORONA ESPIRITUALISTA
Religião: Sou católica, pela minha vida de fé, e espiritualista, por essência.
Santos de devoção: Madre
Vasconcelos, Santa Terezinha das Rosas, Santa Clara, São Bento e os anjos São
Miguel, São Rafael e São Gabriel.
Superstição: Nenhuma.
Um filme: Nosso
Lar, PS. I Love You, As Mães de Chico, Doce Novembro...
Um livro: Adoro
ler. Entre os muitos bons livros que já li, escolho dois que me ajudaram a
evoluir como pessoa: Ninguém é de Ninguém e Nada é por Acaso, ambos de Zibia
Gasparetto.
Um escritor: Fernando
Pessoa, Carlos Drummond de Andrade e Chico Xavier.
Livro de Cabeceira: Minutos de Sabedoria, de Carlos Torres Pastorino, e O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.
Viver é... Uma bela oportunidade
que Deus nos dá para sermos felizes.
Envelhecer é... Uma arte. Saber envelhecer é o mesmo que
produzir uma obra de arte no dia a dia.
Morrer é... Apenas não ser
visto. Morrer é a curva da estrada e não o final dela.
Uma frase: Chico Xavier tinha em cima da
sua cama uma placa escrita “ISSO TAMBÉM PASSA” . Perguntaram a ele o porquê e ele disse que era para se lembrar que quando estivesse passando por
momentos ruins, poder lembrar de que eles iriam embora e que ele teria que
passar por aquilo por algum motivo. Mas essa placa também era para lembrá-lo que
quando estivesse muito feliz, que não deixasse tudo para trás, porque esses
momentos também iriam passar e momentos difíceis viriam de novo. E é exatamente
disso do que a vida é feita: MOMENTOS! Momentos os quais temos que passar,
sendo bons ou não, para o nosso próprio aprendizado, por algum motivo. Nunca me
esqueço do mais importante: NADA É POR ACASO! Absolutamente nada. Por isso me
preocupo em fazer a minha parte da melhor forma possível.
Ana Lúcia gosta de se envolver em campanhas assistenciais, tais como fornecer alimentos para animais abandonados e sopas para moradores de ruas.
Personalidade:
Madre Tereza de Calcutá.
O maior
sonho da sua vida: O maior sonho da minha
vida já foi realizado: o nascimento dos meus netos.
Palavra mais
bonita da língua portuguesa: Solidariedade
e Amor.
Palavra mais feia: Ingratidão
e preconceito.
Seu maior defeito: Não
pensar antes de falar e confiar demais, mas estou aprendendo.
Sua
maior virtude: Alegria, solidariedade e humildade.
O
que mais admira em um ser humano: Solidariedade, lealdade, humildade e gratidão.
O que não suporta em um ser humano: Falsidade, deslealdade, arrogância e ingratidão.
Se o mundo fosse acabar amanhã, o que faria hoje? Iria reunir minha família e orar muito, pedindo a Deus misericórdia
para todos.
A última vez que
chorou: Eu me emociono muito, sou uma
chorona, choro com facilidade.
ANA LÚCIA CALDAS DE SOUZA,
DE DENTRO PARA FORA
O concurso Miss PE 1980 foi o último
promovido pelos Diários e Emissoras Associados. Por conta disso, Ana Lúcia
ganhou o manto e a coroa que foram usados por todas as suas antecessoras,
preciosidades que ela guarda com muito carinho. As peças foram entregues em uma
cerimônia linda e emocionante, pois ali acabava uma tradição do Diário de
Pernambuco com as misses. No ano seguinte, em 1981, quando teve início na
história do Miss Brasil o que se convencionou chamar de “Era SS”, o Silvio
Santos chamou Ana Lúcia e propôs para
que não acontecesse o Miss PE, pois daria bastante trabalho, e lhe pediu para
que representasse novamente Pernambuco na etapa nacional. Ela não aceitou, “o certame era único em tudo, receber o
título de Miss Pernambuco sem concurso seria como uma princesa ser coroada sem
baile”, confessa.
Finalizando
nossa entrevista, ao lhe perguntar quem era Ana Lúcia Caldas de Souza, a eterna
Miss Pernambuco 1980 não hesitou em responder:
Sou uma pessoa de dentro
pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em
sonhos, não em utopia, mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui para viver, cair,
aprender, levantar e seguir em frente. Sou isso hoje, amanhã, já me reinventei.
Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim. Sou complexa, sou
mistura, sou mulher com cara de menina. E vice-versa. Me perco me procuro e me
acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar. Não me doo pela metade,
não sou tua meia amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto
meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de
riso fácil. E de choro também! Sou muito agradecida a Deus, por tudo que ele me
deu. Amo a vida e meus netos são os melhores presentes que já recebi. Com eles,
volto a ser criança. Sou uma avó babona assumida!
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