Daslan Melo Lima
No ano de 1975, entre as concorrentes ao
título de Miss Paraíba estavam duas fortes candidatas, Solange Gusmão Ribeiro da Costa, ou simplesmente Solange Gusmão, de
Campina Grande, Miss Campinense Clube, e Elze Quinderé Camelo, de João Pessoa,
representante do Esporte Clube Cabo Branco, local da realização do evento, e
sobrinha de Assis Camelo, diretor social do referido clube. Solange Gusmão era
a favorita do público e perdeu o título para Elze Quinderé. Dias depois,
representando a cidade de Vitória de Santo Antão, participou do
Miss Pernambuco e obteve a segunda colocação.
SOLANGE GUSMÃO,
VICE-MISS PARAÍBA 1975
A soberana decisão do corpo de jurados
elegendo a senhorita Elze Quinderé Miss Paraíba-75, por grande maioria de pontos,
provocou nas primeiras horas de ontem, no Ginásio do Esporte Clube Cabo Branco,
local da grande festa, uma onda de protestos poucas vezes registrados em
certames de beleza no Estado. Aos gritos de “Solange”, milhares de pessoas
protestaram contra a decisão do júri, num clima de tensão, provocado pelo
improvisado carnaval da vitória organizado pelos fãs de Elze Quinderé, sem que se
tenha registrado qualquer incidente.
Logo nos primeiros momentos da festa,
a maior realizada no Estado nos últimos tempos, era visível que a tendência de
setenta por cento dos presentes torciam pela escolha da candidata do Campinense, a
bela Solange Gusmão. Ao anunciar o seu nome, os aplausos se sucediam em escala
crescente, chegando, por vezes, a envolver quase todas as dependências do
grande ginásio. Os aplausos para a candidata do Cabo Branco, senhorita Elze Quinderé,
só ganhavam maior intensidade graças à participação de grupos bem organizados à
base de charangas e empunhadores de faixas e bandeiras em sua homenagem.
Excetuando-se o histerismo provocado por um costureiro, rapidamente
contido em suas ações, o público se conduziu em alto nível, comprovando elevado
espírito social. Os gritos e aplausos de protestos contra a decisão do júri,
como a vibração carnavalesca dos cabobranquenses, se realizaram num clima quase
ideal, cuja maior prova é o não registro de qualquer incidente.
Mesmo antes
do anúncio da decisão do corpo de jurados, milhares de pessoas em fortes palmas
e gritando em alta voz “Solange, Solange”, já estabeleciam um posicionamento da
plateia: só Solange Gusmão, entre as oito concorrentes, poderia ser a escolhida
para representar o nosso Estado, este ano, no concurso de Miss Brasil. Sua
beleza, sua excepcional participação tanto no desfile com seu magnífico vestido
preto, como a classe de sua “performance” em maiô, permitiram a formação de uma
excelente imagem, aliada à sua altura e maneira de cumprimentar o público. A
tendência pró Solange era tão manifesta
que mesmo se qualquer referência ao seu nome pelo locutor oficial, a um simples aplauso de um grupo de mesas, as
palmas aumentavam surpreendentemente, chegando ao ponto de medidas urgentes
terem sido tomadas, do ponto de vista da segurança, para evitar conflitos caso
a decisão do júri não coincidisse com a vontade do público.
Após a proclamação
oficial do resultado, lida pelo Sr. Fernando Milanez, em nome do governador Ivan Bichara, os gritos “Solange”, "Solange",
abafaram por completo os aplausos para a
vencedora, culminando com a investida de perto de mil pessoas para o palco onde
se encontravam as candidatas, exigindo que a candidata do Campinense Clube
desfilasse como vencedora. A esta altura, a tensão era generalizada,
prevendo-se a iminência de atritos entre os dois blocos, não tendo se
registrado porém nada a lamentar. Seguida por dezenas de adeptos e com a faixa
de Miss Paraíba (tinha sido segundos atrás retirada da mesa do júri, por um
grupo de fãs de Solange), a segunda colocada voltou a desfilar, enquanto as
outras candidatas, inclusive a eleita Miss Paraíba-75 seguiam para as dependências
internas do clube, aguardando que chegassem a um fim as manifestações, o que
ocorreu uns dez minutos após.
Demonstrando
excepcionais qualidades, a cantora Eliana Pitman deu um show de mais de uma
hora, sendo delirantemente aplaudida pela plateia. A cantora foi cumprimentada
pelo governador Ivan Bichara e esposa, sra. Myrthes Bichara. Outras
personalidades presentes ao acontecimento, junto com o Governador do Estado apresentaram
cumprimentos às candidatas concorrentes, no palco especialmente armado próximo à
passarela.
À margem da
festa, nas outras dependências, a sra. Gusmão Ribeiro da Costa, mãe de
Solange Gusmão, sendo atendida por um médico amigo desmaiava ao saber do
resultado do júri, enquanto que Elze Quinderé , em prantos, era levada por
familiares para o camarim, só saindo para o automóvel que a levaria para casa.
---------- ("Nunca tão poucos votaram contra a decisão de tantos”, reportagem
do jornal “O Norte”, João Pessoa, Paraíba.)
A escolha da
Miss Paraíba-75 foi uma das maiores festas de público já realizadas no Cabo
Branco. A eleita foi Elza Quinderé, o que provocou inúmeros protestos,
inclusive impossibilitando a jovem de desfilar com a faixa, “surrupiada” por um
dos que aplaudiam Solange, o jovem Ivan Santiago. Enquanto os jurados saiam de
mansinho do clube, escoltados pela polícia, Solange desfilava como se fosse a
Miss Paraíba, com a faixa oficial. A bela Solange fora eleita, em 1973, Rainha
dos Jogos Universitários Brasileiros.
Os
sete jurados – todos homens – eram presidentes ou representantes das principais
instituições jurídicas, artísticas, políticas, educacionais e culturais do
Estado: Tribunal de Justiça, Ordem dos Advogados, Universidade Federal da
Paraíba, Academia Paraibana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico
Paraibano, Conselho Regional de Medicina e Instituto dos Arquitetos do Brasil.
O clima nas
arquibancadas do ginásio era realmente de tumulto, desde o início da festa. De
um lado, grande claque, gritando o nome de Elze, sob o comando do “agitador
social” Anchieta Maia. Do outro, numerosos grupos de campinenses, liderados por
Edvaldo do Ó. Criou-se um momento, mesmo antes da formação do corpo de jurados,
tão preocupante, que o secretário de Segurança do Estado, Afrânio Melo,
atendendo apelo do presidente Fernando Milanez, pediu reforço policial. O júri,
contrariando a opinião da grande maioria dos presentes, escolheu Elze,
provocando a maior confusão já registrada num concurso de beleza na Paraíba em
todos os tempos. Proclamada a vitória de Elze, o ginásio “veio abaixo”, lembra
Jader Franca, numa mesa anexa à da família da eleita, com boa parte dos
presentes protestando.
O governador Ivan
Bichara, preocupado com a repercussão negativa do resultado, tentou anular o
concurso, mas foi vencido pelo argumento do seu amigo e parente Augusto Maia
(homem forte junto ao SNI), de que isso era impossível, já que o regulamento
era claro ao especificar que não existia recurso da decisão do corpo de
jurados, presidido pelo desembargador Anísio Maia, presidente do Tribunal de
Justiça. No dia seguinte, domingo, Solange desfilou em carro aberto como se
fosse a Miss Paraíba. Elegendo Elze, o Cabo Branco promoveu diversas ações: seu
guarda-roupa foi todo montado pela boutique Chez Elle, da empresária Auristella
Teixeira de Aguiar. O traje típico (Pesca da Baleia) “constava de calça cocota,
com miniblusa em nuances de azul, rebordada com paetês gigantes, formando
escamas. Constava, ainda, de botas de prata, sendo também prateado o arranjo de
cabeça, tipo turbante”.
O concurso Miss
Paraíba-75 ocorreu quando era muito grande a rivalidade entre João Pessoa e
Campina Grande. Virgínius da Gama e Melo, como sempre bem humorado, retratou
muito bem o clima do concurso de então e a “briga” das duas cidades, ao
comentar: “Antigamente era difícil arranjar moça para se candidatar. Agora,
não, o concurso de Miss Paraíba está
muito bem – de um lado a neta de Heitor Gusmão, do outro, a neta do General
Quinderé, o concurso ganha alma. O Campinense lança Solange e a Capital Elza. É
o começo de uma guerra”.
---------- (Wills Leal, no livro “Elas só citavam O Pequeno
Príncipe”, João Pessoa-PB, 2003. ---- As imagens desta matéria, exceto as que constam os créditos nas legendas, foram reproduzidas desse livro).
SOLANGE COSTA,
VICE-MISS PERNAMBUCO 1975
No dia 13
de junho de 1975, no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães Melo, o Geraldão, no Recife, entre as 24 concorrentes ao título
de Miss Pernambuco estava Solange Gusmão, ou seja Solange Costa, como seu nome era
divulgado em Pernambuco. Muito aplaudida, conquistou o segundo lugar, perdendo para Maria de Fátima Mourato de Souza, Miss Serra Talhada.
As cinco finalistas
do Miss Pernambuco 1975. Da esquerda para a direita: Solange Costa, Miss
Vitoria de Santo Antão, segundo lugar; Martha Valeska Vasconcelos, Miss Grupo Jovem de Boa Viagem, quinta colocada; Maria de Fátima Mourato de Souza, Miss Serra Talhada,
primeiro lugar; Inês Régis de Melo; Miss Clube Internacional do Recife,
terceira colocada; e Edileide Maria
Vital Constantino, Miss Moreno, quarto lugar. (Foto: Diario de Pernambuco)
Solange Costa e Inês Régis de Melo. (Foto: Diario de Pernambuco)***** Detalhe: Em outubro de 1975, Fátima Mourato renunciou ao título de Miss Pernambuco para casar com José Ferreira dos Anjos, Major da Polícia Militar de Pernambuco. Caberia a Solange Costa assumir o reinado, mas a informação surgida na época era a de que estava prestes a casar. Coube então a Inês Regis de Melo, terceira colocada, a responsabilidade de ser oficialmente a Miss Pernambuco 1975. Soube há 10 anos que Solange Gusmão trabalhava como comissária de bordo em uma empresa de aviação sediada na Europa.
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Ao encontrar
nos meus álbuns de recortes fotos das candidatas ao Miss Brasil 1975, fico pensando nos mistérios do destino. Por pouco, Solange Gusmão não conseguiu ser Miss Paraíba ou Miss Pernambuco.
Fátima Mourato, Miss Pernambuco 1975. Imagem: revista Fatos & Fotos.
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Elze Quinderé, Miss Paraíba 1975. ***** Diz a legenda "Elze Quindere, da Paraíba, inspiração para os poetas." ***** Imagem: revista Fatos & Fotos.
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Solange Gusmão Ribeiro da Costa, vice-Miss Paraíba e vice-Miss Pernambuco 1975.
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Eu
estava no Geraldão naquela noite de 13 de junho
de 1975, assistindo ao Miss Pernambuco, e guardo entre as mais gratas recordações da minha vida a imagem de Solange Gusmão Ribeiro da Costa, ou Solange Costa, vice-Miss Pernambuco 1975, a mesma Solange Gusmão, vice-Miss Paraíba 1975.
Estive há uma hora escutando a música "A Lua e Eu", um dos
maiores sucessos daquele 1975, do cantor e compositor Cassiano,
paraibano de Campina Grande.
Vou ouvi-la novamente antes de dormir, enquanto lá fora a chuva cai na noite fria pernambucana, a
última deste julho de 2013 que logo mais também fará parte de um tempo que se foi.
Mais um ano se passou
e nem sequer ouvi falar seu nome,
a lua e eu.
Caminhando pela estrada,
eu olho em volta e só vejo pegadas,
mas
não são as suas, eu sei, eu sei, eu sei.
O vento faz eu lembrar você.
As folhas
caem mortas como eu.
Quando olho no
espelho,
estou ficando velho e acabado.
Procuro encontrar não sei onde está você,
você , você.
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