Daslan Melo Lima
PRÓLOGO
Uma nota divulgada por alguns sites
especializados em concursos de beleza há quinze dias semeou tristeza em todos
aqueles que, assim como eu, gostam muito de misses, particularmente daquelas que
fazem parte de um tempo mágico que se foi. A notícia falava da morte de Kátia Celestina Moretto, Miss Brasil
1976. Como nada sobre o assunto tinha sido veiculado em jornais ou nas
emissoras de televisão, ficamos na dúvida quanto à veracidade da notícia, haja
vista que postagens inverídicas de vez em quando são espalhadas na Internet. Infelizmente, uma matéria publicada recentemente
no jornal Cruzeiro do Sul, da cidade
paulista de Sorocaba, terra natal de Kátia Celestina, não deixa dúvida sobre
a veracidade do ocorrido. A Miss Brasil 1976 partiu para a Grande Viagem no dia 29 de abril, aos 56 anos de idade, vítima de
câncer no aparelho digestivo.
Nesta última SESSÃO NOSTALGIA de maio de 2013, maio de Maria, maio das Mães e das Noivas, rendo
um tributo a Kátia Celestina Moretto, ilustrado com imagens dos álbuns de recortes de Edi Corrêa Leite, leitor assíduo de PASSARELA
CULTURAL, fã incondicional desta secção, ex-coordenador do concurso Miss
Sorocaba e grande amigo de Kátia Celestina. Recebi um e-mail dele anteontem,
quinta-feira, 23, afirmando o seguinte:
“Você não imagina o quanto estou triste. A Kátia era maravilhosa, dona de um astral
maravilhoso. A presença dela era de descontração, de alegria, de uma
energia muito boa, dona de uma bondade fora do comum, muito generosa. Em
1996, quando coordenei o Miss Sorocaba, ela veio com os
filhos de São José dos Campos, distante
cinco horas de Sorocaba, somente para me prestigiar. A Kátia era fenomenal! As fotos
do meu acervo não são somente minhas, são suas também!”
DE SOROCABA
A HONG KONG
Katia Celestina Moretto nasceu em
Sorocaba, sudoeste do estado de São Paulo, a 87 km da capital, no dia 08 de
março de 1958. Era uma garota de 1,80 de altura, simples, e extrovertida,
estudante da OSE,
Organização Sorocabana de Ensino, e jogadora de basquete, quando recebeu o título de Miss da sua cidade.
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KÁTIA CELESTINA MORETTO NO MISS SÃO PAULO - Katia era motivo de orgulho para todos e viajou para
participar do Miss São Paulo levando as esperanças dos sorocabanos que até então tinham eleito duas misses São Paulo: Sandra Mara Ferreira, em 1973, Miss Brasil
e semifinalista no Miss Universo; e Célia Maria Carvalho, em 1971, quinto lugar
no Miss Brasil. Entre vinte e três candidatas, naquela noite de junho de 1976,
no Parque Anhembi, na capital paulista, ela foi eleita Miss
São Paulo.
Primeira página do jornal Cruzeiro do Sul, Sorocaba-SP, 06/06/1976.
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Primeira página do jornal Cruzeiro do Sul, Sorocaba-SP,
08/06/1976.
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A chegada
de Katia Celestina Moretto à Sorocaba, na condição de Miss São Paulo, foi uma apoteose.
Desfilou em cima de carro de bombeiros e foi alvo de muitas homenagens, entrevistas e destaque de primeira página no jornal Cruzeiro do Sul.
KÁTIA CELESTINA MORETTO
NO MISS BRASIL
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Ginásio de Esportes Presidente Médici, Brasília, 19 de junho de 1976. Kátia Celestina Moretto em traje típico, criação do estilista pernambucano Victor Moreira. |
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Em traje de gala. |
Da esquerda para a direita: Vionete Revoredo Fonseca, Miss Rio de
Janeiro, segunda colocada; Kátia Celestina Moretto, Miss São Paulo, eleita Miss
Brasil 1976; e Adelaide Fraga de Oliveira Filha, Miss Brasília, terceiro lugar.
Kátia Celestina Moretto no quarto do hotel, fazendo meditação, acima, e careta, abaixo.
Detalhe: a cena da sua coroação como Miss Brasil poderá ser conferida neste link,
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O educandário OSE, Organização Sorocabana de Ensino, orgulhoso de sua aluna, postou esta homenagem no Cruzeiro do Sul.
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Observação: Em várias publicações da época, por lapso, o nome da Miss Brasil 1976 foi escrito desta forma: Kátia Celestino Moretto. Eu mesmo, com base em revistas daquele tempo, só escrevia Celestino, mas Edi Corrêa Leite recentemente esclareceu-me que o correto é Celestina, tal como aparecia no Cruzeiro do Sul, jornal da sua terra natal.
KÁTIA CELESTINA MORETTO
NO MISS UNIVERSO
Primeira página do jornal Cruzeiro do Sul.
Kátia Celestina Moretto não obteve classificação no Miss
Universo, realizado em Hong Kong, no ano em que a vencedora foi Rina Messinger.
DRAMA NO GALEÃO, FEIJOADA E CAIPIRINHA
Na sua volta para o Brasil, Kátia Celestina Moretto viveu um drama antes de desembarcar no Rio de
Janeiro, conforme depoimento postado na revista Miss Brasil-A Glória de Uma
Cora, em 2004, uma publicação da empresa paulista De Francisco Promoções e
Eventos, abaixo transcrito, na íntegra.
Foi em uma manhã, meados de julho de
1976, voltando ´para o Brasil, em um voo que saiu de São Francisco por volta de
meia noite, depois de já ter voado 16 horas de Hong Kong aos Estados Unidos. O
fuso horário e a ansiedade não me deixaram dormir. Depois de 17 dias em um país
diferente, com horários contrários, alimentação exótica e um desgaste
indescritível, avistei o Corcovado, o Cristo Redentor e a Baía de Guanabara.
Meu coração disparou. Enfim de volta à Pátria.
Os
letreiros luminosos da aeronave indicaram para apertar os cintos de segurança e
o comandante pelo alto-falante comunicava que em 30 minutos estaríamos pousando
na cidade maravilhosa. Saquei a filmadora da valise e a preparei para, da
janela, filmar a aterrissagem. A aeromoça sentou-se à minha frente. Eu estava
sentada na primeira fila e ela naqueles bancos que se fecham encostados na
parede da cabine, ficamos joelho com joelho (diga-se de passagem o espaço
físico nas aeronaves para pessoas grandes é bem apertado). A aeromoça colocou o
cinto e começamos a conversar, antes mesmo dela terminar a frase, ouvimos um
barulho forte, o avião estremeceu, os luminosos piscaram e o comandante chamou
a tripulação.
O avião fez uma curva ao contrário
voltando para o mar, o pânico se instalou. Logo a aeromoça pelo microfone
anunciou um problema na turbina do lado esquerdo, o lado em que eu estava
sentada. A fumaça que saía de sob a asa era grande e todos já tinham notado.
Não demorou muito o comandante voltou a anunciar: “Dentro de 15 minutos estaremos pousando no Aeroporto
Internacional do Galeão. Era difícil acreditar, a sensação era que iríamos cair
na baía. Enquanto isso, o piloto fazia uma manobra espetacular para a esquerda
e apontou para a cabeceira da pista descendo com certa velocidade. A pista
estava branca, os bombeiros ainda colocavam espuma, ambulâncias se posicionavam
e havia grande movimentação de pessoas uniformizadas como seguranças,
policiais, enfermeiras, ente outros. A aeromoça voltando da cabine orienta os
passageiros a ajustar as poltronas na posição vertical e baixar a cabeça sobre
as pernas. Sentou-se novamente à minha frente
enxugando as lágrimas que corriam pelo seu rosto e fez o Sinal da Cruz.
Eu a acompanhei e com certa tranqüilidade estendi a minha mão em direção à
dela.
Foram só quatro minutos, o tempo que levou
para a aeronave pousar entre solavancos e gritos, que nesse momento não mais
eram de pavor e sim de alegria e êxtase. Durante esses quatro minutos a
sensação de impotência era tanta que só me restava acompanhar a aeromoça no “Pai
Nosso e na Ave Maria”. Percebi que todos os acontecimentos recentes, como a
fama, o sucesso, os três títulos, naquele momento nada tinha de importante. Era
tudo muito frágil. A minha vida corria por um fio e poderia acabar ali.
Reavaliei todos os meus valores, inclusive os materiais que até então almejava.
Tenho vivido com humildade, respeito e fé Naquele que me deu tudo que possuo.
Horas mais tarde conheci o comandante. Ele só tinha 34 anos e foi muito
elogiado pelos colegas mais velhos e experientes.
E
comemorei com feijoada e caipirinha!
Katia
Moretto, Miss Brasil 1976
EPÍLOGO
Kátia em 2004,
trinta e dois anos depois de ter sido eleita Miss Brasil.
Após cumprir o seu reinado, Kátia Celestina Moretto saiu de Sorocaba para residir na capital. Tempo depois, mudou-se para São José dos
Campos, a 94 Km, onde abriu o restaurante Via Moretto no distrito de São
Francisco Xavier. Kátia deixou uma filha, Anayan, de 33 anos, e um filho, Felipe, de 31
anos. A família pretende fazer uma cerimônia em Sorocaba e jogar suas cinzas na
cidade que ela tanto amou. Acredito que
esse gesto vai ao encontro dos sentimentos de Katia Celestina, a julgar pelo
que ela disse ao receber do prefeito Armando Pannunzio (1915-1985) o brasão de Sorocaba em 07/06/1976:
“Este
brasão que eu recebi vale mais que qualquer outro presente ou prêmio que eu ganhei até agora.Isto porque antes de
tudo eu sou sorocabana e meu coração está aqui.”
Anteontem, ao comunicar ao Edi Corrêa Leite que ia render um tributo á sua famosa conterrânea neste blog disse-me ele:
“A Kátia
merece a sua homenagem! A homenagem que você fizer para Kátia será
emocionante para todos nós que a amamos! A Kátia será inesquecível
para nós! Eu fico muito agradecido pela sua sensibilidade,
pelo seu amor e carinho para com a nossa eterna amigona
Kátia. Muito obrigado! Vou informar aos seus familiares. Eles
vão ficar muito emocionados. Deus te abençoe por tudo!” Detalhe: Edi Corrêa Leite tem um blog, o www.edicorrea.blogspot.com , e foi motivo de uma Sessão Nostalgia, em 20/08/2011, quando falou das suas memórias como ex-coordenador do Miss Sorocaba, http://passarelacultural.blogspot.com.br/2011/08/sessao-nostalgia_20.html .
Espero que esta Sessão Nostalgia tenha conseguido resgatar um pouco da história da bela sorocabana. No lugar de tristeza, vamos recordar sua trajetória
na terra apenas com saudades, pois DEUS convocou a Miss Brasil 1976 para outra missão na passarela de outra dimensão.
A ti, Kátia
Celestina Moretto, eu canto meu canto de nostalgia banhado de esperança,
enquanto o mês de maio de 2013 vai se despedindo da passarela das nossas vidas.
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