Eu e Martha Vasconcellos no Caxangá Golf & Country Club.(Fotos: Fernando Machado) |
Na quarta-feira da semana passada, 27 de maio, fui ao Recife, onde passei a maior parte do dia ao lado de um ícone brasileiro: a deusa baiana Martha Vasconcellos, Miss Brasil e Miss Universo 1968.
Martha Vasconcellos, que reside há nove anos em Boston, está de férias em Salvador e veio ao Recife com o objetivo de renovar o visto em seu passaporte. Martha desembarcou logo cedo no Aeroporto Internacional dos Guararapes Gilberto Freyre e foi recebida pelo jornalista Fernando Machado e por Tânia Spinelli Voogd, uma das grandes damas da sociedade pernambucana. Do aeroporto, o pessoal foi ao Consulado Americano, onde Martha recebeu um tratamento digno de uma majestade. Christopher Del Corso, Cônsul dos Estados Unidos, sabia tudo sobre Martha e tratou-a como rainha.
Martha Vasconcellos, Christopher Del Corso e Tânia Spinelli Voogd.(Foto: Fernando Machado)
Martha é serena, meiga, elegante e inteligente. Transmite carisma, classe, categoria e um elevado grau de humanismo e simplicidade. Não é à toa que ela foi agraciada recentemente com um prêmio da WBF, Women’s Bar Foundation, por seu trabalho como Supervisora do Programa de Violência Doméstica para a área de Boston da ONG MAPS, Massachusetts Alliance of Portuguese Speakers.
Vivi na quarta-feira uma realidade com gosto de sonho, um daqueles sonhos que superou alguns dos meus sonhos mais ousados. Mas antes de entrar em detalhes, vou contar como foram meus três encontros anteriores com a nossa Miss Universo 1968.
PRIMEIRO ENCONTRO
Era 1968. Martha Vasconcellos tinha sido eleita Miss Universo e veio ao Recife para um desfile no Clube Português. Eu morava no bairro de Afogados e estudava à noite no Ginásio Pernambucano, na Rua da Aurora, centro da cidade. Saí de casa logo após o almoço e fui direto para a Praça Maciel Pinheiro, onde posicionei-me na frente do Hotel São Domingos.
Preciso aqui fazer uma pausa para um desabafo. Eu estava frustrado pelo fato de não ter assistido pela televisão a vitória de Martha como Miss Universo. Em 1968, nem todo mundo possuía uma televisão. Um aparelho de TV era coisa de luxo, um bem de consumo inacessível para a realidade econômica da maioria dos brasileiros, inclusive para minha família. No dia da transmissão do concurso Miss Universo, a minha vizinha não tinha aberto a janela, chateada com as conversas paralelas dos televizinhos durante a exibição do Miss Brasil no mês anterior.
Era 1968. A multidão tomava conta do lugar. De repente, por conta das sirenes dos inúmeros veículos da polícia militar, todo mundo ficou sabendo que a mulher mais bela do mundo havia chegado. Dezenas e dezenas de policiais ficaram na frente do Hotel São Domingos, então um dos hotéis mais chiques de Pernambuco. Martha Vasconcellos estava com imensos óculos escuros e a multidão gritava:
Tira ! Tira ! Tira ! Com muito esforço, consegui aproximar-me da porta principal do hotel, ao tempo de ver de perto Martha abrir um sorriso encantador e tirar os óculos a pedido daquelas centenas de pessoas.
Praça Maciel Pinheiro, Recife. No prédio de esquina, à esquerda, funcionava o Hotel São Domingos. (Foto: www.meurecife.com.br)
Depois, da sacada do seu apartamento, no segundo andar, ela jogou beijos e acenou para a multidão. Fiquei muito tempo ainda por perto, imaginando como seria fantástico ficar ao lado da Martha e ouvir sua voz falando de sua trajetória de Miss. Antes de deixar o local, presenciei a saída de Maria Eunice Mergulhão Maciel, Miss Pernambuco 1968, e vi circulando na praça uma linda jovem morena, Nádia Lins de Albuquerque, Miss Sport Clube do Recife, finalista no Miss Pernambuco daquele ano e que meses depois seria eleita Miss Objetiva do Brasil e vice Miss Objetiva Internacional.
Naquele período, em entrevista à imprensa, Martha desmentiu com muita diplomacia uma notícia veiculada na coluna social de João Alberto, do jornal Diario de Pernambuco, de que teria nascido no Recife. Martha Vasconcellos disse mais ou menos assim: Seria uma honra também ser pernambucana, mas nasci na Bahia.. Durante o nosso almoço, na quarta-feira passada, no Caxangá Golf & Country Club, Mucíolo Ferreira relembrou esse assunto e Martha falou que tinha uns parentes distantes que nasceram em Pernambuco.
Um detalhe: muito anos após, fiz questão de passar um final de semana hospedado no Hotel São Domingos e da sacada daquele apartamento do segundo andar jogar beijos e acenos para o silêncio e o vento.
SEGUNDO ENCONTRO
Era 1972. Eu estava no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães Melo, o Geraldão, palco do concurso Miss Pernambuco 1972, cuja vencedora foi Maria Madalena Jácome da Costa Brito, e Martha Vasconcellos estava na comissão julgadora. Quando o evento terminou, dei um jeito de me posicionar por um corredor onde Martha deveria passar.
Cheguei a tempo de vê-la ao lado do seu esposo Reinaldo Loureiro e de vários policiais. De repente, Martha soltou um grito e procurou defender o rosto com as mãos. Um fã exaltado tinha se aproximado demais para beijá-la, mas foi contido pela polícia.
TERCEIRO ENCONTRO
Era 2000. Eu estava na sede do Sport Clube do Recife, palco do concurso Miss Pernambuco, cuja vencedora foi Djanira Barbosa, e Martha Vasconcellos estava na comissão julgadora. Consegui aproximar-me dela, ganhar um beijo e um autógrafo, com direito a foto.
Martha Vasconcellos e eu. Sport Clube do Recife, 2000.
Lamento não ter nenhuma fotografia dos dois primeiros encontros. Naquela época, eu não tinha máquina fotográfica convencional e as digitais pertenciam a um futuro muito distante.
QUARTO ENCONTRO
Enfim, o quarto encontro, esse da quarta-feira, uma realidade com gosto de sonho, um daqueles sonhos que superou alguns dos meus sonhos mais ousados.
Enquanto Martha Vasconcellos, Tânia Spinelli Voogd e Fernando Machado estavam no consulado americano, eu e o jornalista Mucíolo Ferreira ficamos no Shopping Boa Vista, aguardando o telefonema do Fernando Machado que passaria com Tânia e Martha para almoçarmos no Bar 10, o alinhado restaurante do Caxangá Golf & Country Club.
Vale salientar que Roberto Macêdo, missólogo e jornalista baiano, grande amigo da nossa Miss Brasil 68, foi o mediador desse encontro. Mucíolo, Fernando e Tânia cuidaram das boas vindas e convidaram-me para fazer parte do grupo.
Mucíolo Ferreira, Martha Vasconcellos e Fernando Machado.(Foto:DML)
Martha Vasconcellos autografando duas das revistas que levei para o encontro.(Fotos:DML)
Quando eu e Mucíolo entramos no veículo da Tânia, tive a impressão de estar vivendo um sonho. Ali, ao meu lado, estava uma das mulheres mais belas do mundo.
Levei de Timbaúba várias revistas do meu acervo que trazem a imagem de Martha nas capas. Foi mágico rever aquelas páginas tendo ao lado a nossa última Miss Universo brasileira. Pedi que ela autografasse uma Manchete para mim e uma publicação da Caras para o meu amigo Evandro, de Fortaleza, grande admirador de Martha.
Foi fascinante ouvir Martha falar com simplicidade e tranquilidade de sua trajetória de Miss Bahia, Miss Brasil e Miss Universo. Quando lhe perguntei quem ela achava que tinha sido sua maior concorrente ao título de Miss Universo, respondeu: Miss Finlândia. (Leena Marketta Brussin, Miss Finlândia, foi a terceira colocada).
Mucíolo Ferreira, Tânia Spinelli Voogd, Miguel Braga, Martha Vasconcellos, Marcos Sales, eu e Adriano Maia. (Foto: Fernando Machado)
No Caxangá Golf & Country Club, Miguel Braga, coordenador do Miss Pernambuco, Adriano Maia, coordenador, e Marcos Sales, professor do curso de moda da Faculdade Maurício de Nassau, reuniram-se a nós. Às 15 horas, saímos do Caxangá, pois Martha teria que repousar um pouco e às 20 horas precisaria estar no aeroporto para retornar a Salvador.
Página da revista MANCHETE, Ano 16, Nº 850, 03/08/1968, autografada por Martha Vasconcellos, onde se lê :
Para Daslan, com um beijo pela lembrança das horas alegres que passamos juntos no almoço do Caxangá
Beijo
Martha Vasconcellos
Miss Universo 68
Em 27 de maio, 2009
Martha Vasconcellos é uma daquelas pessoas que pertencem a uma classe que não precisa fazer esforço algum para se destacar, pois é naturalmente parte de uma luz especial.
Eu levarei comigo as lembranças dos meus encontros com Martha Vasconcellos - principalmente o quarto encontro - durante toda minha caminhada, por toda minha vida.
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