Daslan Melo Lima
Você, leitor, leitora, já deve conhecer
parte desta história, contada aqui, nesta secção, em 24/02/2008. Mas antes de agregar fatos
novos a esta Sessão Nostalgia, preciso retornar ao túnel do tempo. Ano de 1964,
Ginásio São José, São José da Laje, a cidadezinha alagoana onde nasci. Quando Josenira de Albuquerque
Silva, carinhosamente conhecida como Nirinha, a nova professora de Português, entrou na sala para dar aula, um silêncio
tomou conta do ambiente. Ela era linda, simpática, elegante e extrovertida. Foi
complicado prestar atenção ao que ensinava, pois sua beleza tirava a atenção de
todos.
No ano seguinte, no dia 12/06/1965, no
Jaraguá Tênis Clube, em Maceió, minha professora era uma das quatro jovens
concorrentes ao título de Miss Alagoas. Tinha sido preparada por um ícone da
beleza alagoana, Bertini Motta, Miss Alagoas 1955, e suas concorrentes eram
Mary Grace Oiticica Bandeira, Miss Iate Clube Pajuçara, primeira colocada;
Maria Conceição de Alencastro, Miss Jaraguá Tênis Clube, segundo lugar; e Maria José Gomes, Miss Rio Largo. Nirinha deu um show de
simpatia e comunicação, foi aplaudidíssima na entrevista e voltou para São José
da Laje com o terceiro lugar.
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Algumas rainhas da beleza não gostam
de falar do passado, talvez porque suas vidas tomaram um rumo diferente e elas vejam
as passarelas como algo menor. Bobagem. Muitas alcançaram um status surpreendente exatamente por causa da visibilidade e das oportunidades que tiveram pelo fato de terem sido eleitas misses. Entendo que outras não gostam de relembrar o
tempo da fama pelo fato de não mais se
sentirem belas e atraentes como outrora. Ora, a sabedoria deixada pelos encontros e desencontros da caminhada tem suas vantagens. Miss para sempre Miss.
Em 2009, quando soube da matéria que lhe dediquei, telefonou agradecendo a homenagem. Na época, ela vivia alheia ao mundo virtual, diferente de hoje, quando no dia 17 do mês passado, em sua página no Facebook, ao me desejar feliz aniversário, escreveu “... Um abraço forte e carinhoso da Josenira.
Esta Josenira que você fez glamourosamente entrar no mundo virtual. Foi sem
dúvida um belo presente. Sem ele, eu não
teria despertado para este mundo novo, moderno, colorido e cheio de uma nova
aprendizagem. “
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O BEIJO DA MISS - “Quem está aqui
na festa é o menino, o poeta, o amigo ou o homem?” Antes que eu esboçasse a
resposta, Josenira deu-me um beijo cinematográfico. Ela beijou o homem-poeta-amigo,
mas quem recebeu o beijo foi o menino que passou quase meio século sem se encontrar com a sua professora. ***** Eu e ela, durante o 14º Encontro de Lajenses, em São José da Laje, AL, 11/01/2014.
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MINHA TERRA, MINHA GENTE - Quando
o conjunto musical começou a tocar os grandes sucessos dos anos 60, não me
contive e caí na pista de dança. “Menina linda eu lhe adoro / Menina pura
como a flor / Sua boneca vai quebrar / Mas viverá o nosso amor...” ***** Por um
momento, desejei que o pessoal tocasse “Os Estados brasileiros se apresentam /
nesta festa de alegria e esplendor. / Jovens misses seus Estados representam, /
seus costumes, seus encantos, seu valor. / Em desfile nossa terra, nossa
gente...” Motivo do meu desejo: quem estava dançando ao meu lado era a Miss São José da Laje 1965. *****Eu e ela, durante o 14º Encontro de Lajenses, em São José da Laje, AL, 11/01/2014.
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OUTRO BEIJO DA MISS - Em janeiro de 2015, no 15º Encontro
de Lajenses, um beijo intenso, inconcebível nos anos 60.
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WHISKY A GO-GO – Na minha
memória, sons, cores, imagens e sabores desfilam em câmara lenta e em
nostálgico branco e preto, quando o assunto é anos 60. Os valores eram outros,
o mundo era outro, os objetivos eram outros... E já que agora é tudo tão rápido
e colorido, um vento hedonista declama aos meus ouvidos um pensamento de
Georges Moustaki (1934-2013), cantor e compositor francês nascido no Egito:
“Temos a vida toda para divertir e toda a morte para repousar.” ***** Eu e ela no 15º Encontro de Lajenses, São José da Laje, AL, 10/01/2015, pausa para um flash, ao som de
“Whisky a go-go”. "... Senti na pele a tua
energia / quando peguei de leve a tua mão. / A noite inteira passa num segundo.
/ O tempo voa mais do que a canção." ***** Disse-me Josenira: "Ficar ao seu lado, Daslan, é viver
e reviver uma vida de glórias. Obrigada, querido Daslan."
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O vestido que Josenira usava naquela noite de 1964, no Ginásio São José, era um traje sóbrio que condizia com sua função e com a condição
de moça de família tradicional, ex-aluna interna do educandário católico
Santíssimo Sacramento, em Maceió. No entanto, ao se sentar e cruzar as pernas, deixou à mostra, involuntariamente,
uma pequena parte de suas coxas. Uma cena inesquecível que, guardando as devidas
proporções, remeteria anos e anos depois àquela de Sharon Stone (foto acima) no filme “Instinto Selvagem".
Josenira assina hoje o nome como Josenira Degroot (o Degroot por conta do seu casamento com um belga, falecido). Aposentada, sem filhos, vive em Maceió. Recentemente, passou vários dias na Europa e esteve em Paris, onde pousou para as lentes do cineasta Joaquim Alves, nosso conterrâneo- contemporâneo. Nos jardins do Louvre, ela se deixou fotografar descontraidamente mostrando as pernas, aquelas mesmas pernas que nos anos 60 encantaram os alunos da quarta série ginasial do Ginásio São José.
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Em nome das pernas de Josenira, minha professora Miss, saúdo todas as rainhas da beleza que são gratas aos fãs por serem lembradas tantos anos depois de terem sido eleitas. Em nome das pernas de Josenira, minha professora Miss, desejo vida longa a todas as Misses que, no outono das suas vidas, vivem de bem com a vida.
Nesta crônica, eu poderia ter usado o termo "minha ex-professora Miss", mas preferi escrever "minha professora Miss", pois ela ainda continua ministrando aulas para mim, não mais de Português, mas de vida, inusitadas e sábias lições de Vida.
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Crédito das imagens: Arquivo Pessoal/Facebook, Ladorvane Cabral e Joaquim Alves.
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