Daslan Melo Lima
Na terceira
semana de fevereiro de 1981, a Placar, revista esportiva semanal da
Editora Abril, saiu nas bancas tendo como uma das chamadas de capa a foto
de Fernanda Boscolo de Camargo, Miss Santos, Miss São Paulo, vice-Miss Brasil e
nossa representante no Miss Beleza Internacional 1980, ao lado do noivo Claudio José Oddoni Agnello, o Claudinho, atacante do Santos Futebol Clube. A reportagem era de Fábio Sormani.
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VAI PRA CASA, CLAUDINHO!
Boa pinta e bom de bola,
Claudinho é noivo da Miss Brasil. No Santos, todo mundo barbariza; “Vai pra
casa, Padilha!” Fernanda foi convidada para ser estrela de cinema. Mas o ciumento
Claudinho, seu futuro marido, não quer dividi-la com ninguém. As fotos lhe dão
razão, vai pra casa...
A onda se espalhou: até fora de Santos estão pegando no pé
de Claudinho. É o par mais bonito da cidade. Além de Miss Brasil, é também
Rainha das Praias Brasileiras.
Fernanda Boscolo de Camargo, 18 anos,
Rainha das Praias Brasileiras, Miss Tanga Internacional, Miss Santos, Miss São
Paulo e Miss Brasil-80. Entre outras coisas, é também noiva do Claudinho, atacante
do Santos – que de uns tempos para cá passou, obviamente, a ser chamado de “Padilha”.
Quando Fernanda chega à Vila Belmiro para ver seu noivo jogar, com seu 1,71m,
54 Kg, 89 cm de busto, 90 de quadris, 63 de cintura, 54 de coxas, 21 de
tornozelo e pé tamanho 36, inspira toda torcida santista, que fica
esbravejando: “Vai pra casa, Claudinho!”. E o pior, segundo Claudinho, é que a
brincadeira já ganha contornos indiscretos: - estive jogando em Elias Fausto,
uma cidadezinha do interior paulista, e até lá o pessoal sabia da história, mas eu não
ligo, nem posso.
Mas há uma coisa que Claudinho, por mais que tente, não consegue
esconder: um terrível ciúme de Fernanda. É que ela, depois de todos esses
prêmios, recebeu vários convites para fazer filmes e televisão. Recusou todos:
- Entre o mundo artístico e o Claudinho, prefiro ele, é claro.
Depois dessa
prova definitiva de amor, novo beijo. Aí ela passa a falar de futebol, “esporte que
aprendi a gostar”. E Fernanda já está se preparando para ser mulher de jogador,
missão ao que não lhe parece tão difícil, “pois tudo é questão de costume”.
Claudinho, por sua vez, prepara seu espírito para ser marido de miss.
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A MULHER DE CLAUDINHO
Em 02/03/1987, a revista Placar, em reportagem de Márcia Pereira, voltou a focalizar em sua páginas Fernanda Boscolo de Camargo, por sua vitória no concurso "A Mais Bela Mulher Casada do Brasil".
Padilha era um personagem de Jô Soares que
fez muito sucesso no início dos anos 80. Casado com uma mulher estonteante,
Padilha vivia sendo aconselhado pelos amigos a não deixar um instante sua bela
cara-metade. “Vai pra casa, Padilha” tornou-se uma frase famosa no Viva o Gordo. Naquela época, o jogador
Claudinho, do Santos, começou a namorar Fernanda Bôscolo de Camargo. Não
demorou muito e seu sossego acabou. Era chegar nos treinos ou apresentar-se
para a concentração, lá vinha o coro de todo o elenco: “Vai pra casa, Claudinho”.
Pudera! Fernanda, então com 18 anos, já
havia sido Rainha das Praias Brasileiras, Miss Tanga Internacional, Miss
Santos, Miss São Paulo e Miss Brasil 1980. Suas medidas perfeitas – 1,71 m, 54
Kg, 89 cm de busto, 90 cm de quadris, 63 cm de cintura, 54 cm de coxas –
levaram-na até Tóquio, onde representou o Brasil no com curso Miss Beleza
Internacional.
Suas medidas perfeitas, também quase
deixam Claudinho maluco: em pouco tempo, não só os companheiros de clube, mas
as torcidas nos estádios não perdoavam o jogador. E era “Vai pra casa,
Claudinho” por todo lado. Pior: por mais que tentasse esconder, seu ciúme pela noiva
era terrível. Fernanda recebeu várias propostas para fazer filmes e televisão. Recusou
todas: entre o mundo artístico e Claudinho,
preferiu subir ao altar.
Casada há três anos, e hoje com um filho –
Bruno, de 1 ano e dois meses - , Fernanda nunca deixou de se manter em forma.
Faz natação e musculação todos os dias e nem na época da gravidez abandonou os
esportes. E, para não perder o hábito, venceu no mês passado o concurso “A Mais
Bela Mulher Casada do Brasil”, promovido pelo Ilha Porchat Clube, de São
Vicente, SP.
E Claudinho, onde anda? Depois de ter sido
campeão paulista pelo Santos em 1978, o atacante se transferiu para a portuguesa
em 1982, e no ano seguinte resolveu encerrar sua carreira na Portuguesa
Santista. Hoje, é um bem sucedido publicitário na agência de propaganda MPM, em
São Paulo. O ciúme por Fernanda ainda é o mesmo dos tempos de namoro. “Se
alguém olha para ela com segundas intenções, parto para a briga”, adverte.
Mas de uma coisa ele não escapa. Todos os
dias, no final do expediente de trabalho, antes de pegar a estrada para Santos,
onde mora, ouve a famosa frase de alguns colegas: “Vai pra casa, Claudinho”.
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POR ONDE ANDA FERNANDA BOSCOLO DE CAMARGO
Navegando na internet, encontrei uma
matéria sobre a vice-Miss Brasil 1980, no site luliculinariaarteedecor.wordpress.com , do restaurante Luli, datada de 23/10/2012. O Luli está
localizado em São Vicente, SP, junto à Ponte Pensil, ao final da Avenida
Saturnino de Brito, de onde se pode avistar as baías de Santos e São Vicente.
Divertindo-se com um grupo de amigas,
a Miss Brasil Internacional do ano de 1980, a santista Fernanda Bôscolo de Camargo,
curtia o Luli na noite de sexta-feira. Descontraída, aceitou falar sobre
carreira e a experiência de vida. Hoje atuando em representação comercial, ela
que abriu mão da carreira para casar com o ex-jogador Claudinho, da Seleção
Brasileira, e campeão paulista pelo Santos, não tem do que se queixar. Tendo se
projetado em um período em que não havia tanta mídia e a internet nem existia,
ela afirma que há aqueles que ainda duvidam de que ela foi Miss. Em um rápido
bate-papo, ela ensina que a vida é feita de opções. Confira a entrevista.
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Luli - Como foi o
inicio de tudo?
Fernanda - Eu nasci
em São Paulo e vim com seis anos para Santos. Quando eu tinha 15, fui para São
Paulo e aos 17, voltei. Começou a ter estes concursos no Ilha Porchat Club. Ai,
me falavam, participa, participa. Eu participei. Era o Rainha das Praias. No
começo, tinham 200 candidatas. O concurso foi feito em cinco semanas. A cada
semana eu era classificada e na final, entre 20, eu acabei vencendo. Eu nem
esperava, porque eu era uma garota de praia, nem sabia andar de salto alto. Foi
uma surpresa muito grande para mim.
Depois deste concurso, uma pessoa que se tornou minha amiga, queria que
eu fosse para Caracas, no Miss Tanga Internacional. Eu não usava nem tanga. O
biquíni era no estilo cocota, mais baixinho. Eu tinha conhecido o Claudinho
Agnelo, um dos meninos da Vila da década de 80. Ele jogou na Seleção Brasileira
e me emprestou um uniforme. No concurso, todas as meninas estavam arrumadas e
eu andando com uniforme da Seleção Brasileira. Eu nem liguei muito para o
concurso, eu era muito moleca, meninona. Então, eu fui Miss Santos, Miss SP e
Miss Brasil 2. Naquele ano de 80, a Miss Brasil 1 participou do Miss Universo,
a Miss Brasil 2, do Beleza Internacional, em Tóquio, e a 3, do Miss Mundo, em
Londres.
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Luli - Passado
este tempo, qual o aprendizado que fica desta experiência profunda?
Fernanda: Faz muito tempo,
são 32 anos, mas guardo na memória momentos maravilhosos que tive como Miss
Brasil. Eu fui a única Miss Brasil que ganhou um concurso internacional na
Venezuela. Lá, elas ficam o ano todo se preparando para serem misses. Elas já
venceram vários concursos. O país é uma fábrica de misses. E eu fui a única
brasileira que ganhou um concurso lá. Eu aprendi que não adianta só ser bonita,
tem de ter o conjunto, simpatia, saber desfilar…
Depois de ir para Tóquio, no Miss Beleza Internacional, e ver modelos
de todo o mundo, todas as belezas diferentes, eu percebi que o que vale é o conjunto.
Você tem de saber brilhar, saber se diferenciar das outras, saber se apresentar
na passarela. Tem de conquistar o público, e principalmente, o júri que está te
avaliando.
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Luli - Há
influência dos bastidores?
Fernanda: Depende do
concurso. No Miss Beleza Internacional, não por mim, que não almejava ganhar,
mas a menina que venceu, não era a mais bonita. Ela era da Costa Rica e tinha
morado no Japão uns cinco anos. O pai dela era do consulado do Japão. Então,
era muito estranho, porque ela estava sempre envolvida em fotografias. A gente
ia para um lugar e ela não ia. Ela queria saber quanto custava uma gravação do
concurso para poder oferecer para o país dela. Ai, ela venceu e no palco houve
um telefonema da família, que ligou para comemorar. Parecia preparado. Mas
havia meninas lindas. Ai a gente vê que alguma coisa sempre tem. Hoje,
explora-se muito qualquer oportunidade de brilhar e aumentar os ganhos numa
eventual carreira.
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Luli - Como foi
aquele período pra você?
Fernanda: Como eu tinha
começado a namorar com o Claudinho, era muito fã dele, gostava muito do Santos
e dele, quando eu fui para a Venezuela, recebi muitos convites, como para a
Playboy e Rede Globo, inclusive. Eu estava namorando e ele me proibiu muita coisa.
Eu namorava e segui o caminho. Eu poderia ser rica e famosa ou eu casava. Em
preferi casar. Eu casei, casei duas vezes, tenho dois filhos, o Lucas, de 23
anos, arquiteto, e o Bruno, de 27, jogador. Ele jogou na primeira divisão do
futebol da Arábia.
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Luli - Poderia
ter feito algo diferente?
Fernanda: Eu era muito nova,
eu me relacionei muito cedo. Eu era muito amiga da Xuxa e eu sempre tenho isso
como exemplo. Ela seguiu um caminho, eu segui outro; ela seguiu o caminho da
fama, de ter dinheiro, eu quis casar e ter meus filhos. Ela está super bem, mas
ela é um pouco sozinha, solitária. Eu não sou rica, não sou famosa, mas eu
estou bem comigo, com meu coração, eu estou muito legal, tenho os meus filhos.
Cada um escolhe uma vida e eu escolhi essa.
Naquele período, nós não podíamos sair na rua. O Claudinho era jogador
famoso, tinha acabado de ganhar o título de campeão paulista pelo Santos, e uma
miss, a única miss de Santos, que foi Miss São Paulo e ganhou título de Miss
Brasil. A gente saia e ficava todo mundo em cima, conversando, dando autógrafo.
O Milton Neves, da Bandeirantes, vivia falando, vai para casa Padilha. Vai
deixar tua mulher em casa? No cinema, antes de começar o filme, apagavam as
luzes, e todo mundo ficava, “vai pra casa, vai pra casa”. Era uma coisa muito
louca. A gente acaba acostumando, depois, casa, tem filhos, torna-se dona de
casa e vai mudando.
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Luli - Alguém
cobra alguma coisa?
Fernanda - Quando passo na
rua, muita gente me conhece e não acredita tanto assim que eu fui miss, porque
normalmente uma miss é muito famosa e eu não fui tanto famosa, eu sou uma
pessoa normal, eu trabalho, tenho uma empresa de representação comercial.
Então, só as pessoas que me conhecem sabem o valor que tem. Eu não sei o valor
que eu tenho. Eu promovi concurso de miss no sul de Minas. Nas prefeituras,
quando eu falava que eu era miss, os prefeitos ficavam malucos. Oh, uma Miss
Brasil aqui. Tem realmente um peso, é uma coisa muito forte.
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Luli - Quem são
seus ídolos?
Fernanda - Ah, eu chorei muito com a morte do Ayrton
Senna. Para mim foi o top de tudo. Acho que igual a ele não existe. Eu era
muito fã.
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Luli - Um sonho?
Fernanda - O sonho é correr o
mundo, como sempre. Eu conheci muitos lugares, conheci os Estados Unidos quase
inteiro, a Europa, não muito. Então, o sonho pode ser esse, conhecer o mundo.
Eu fui casada duas vezes, acho que tenho muito ainda que curtir a minha vida.
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PASSARELA CULTURAL sabe do valor que você tem, Fernanda Boscolo de
Camargo, tanto que no dia 04/02/2012 rendeu um tributo à sua trajetória de rainha da beleza,
o que gerou comentários de várias partes do Brasil: de Mario J., do Rio Grande do Sul; Muciolo Ferreira, de Pernambuco; Roberta
Boscolo de Camargo, sua irmã, de São Paulo; e do Edison Oliveira Brandão, de Minas Gerais.
Uma vez Miss, sempre Miss. Miss para sempre Miss.
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