Daslan Melo Lima
O nosso encontro estava marcado para as 17
horas da sexta-feira, 20 de fevereiro, num restaurante de Copacabana. Cheguei
com meu amigo Muciolo Ferreira, jornalista pernambucano, meia hora antes ao
local combinado. Cada minuto que passava, mais ansioso eu ficava para conhecer
pessoalmente aquela que ilustrou as mais importantes capas das revistas
brasileiras de 1969: Maria Helena Leal Lopes, Miss Telefônica Atlético Clube. Ela chegou acompanhada da filha Agnes Lealt. Abraçei
aquela mulher sorridente, brincalhona, e pedi que me beliscasse para eu ter certeza
de que não estava sonhando.
A Maria Helena Leal de hoje tinha me dito por telefone, muito antes de
agendarmos nosso encontro: “Daslan, esqueça aquela menina de cabelos longos que
você viu nas capas de revistas. Aquela garota não tem nada a ver com a mulher
de hoje. Aquilo já passou.” Já passou,
em termos, pois quem foi rainha nunca perde a majestade. Por isso vale a pena
recordar um pouco do passado dessa deusa carioca.
No dia 21 de junho de 1969, enquanto 32
candidatas desfilavam na passarela do Maracanãzinho disputando o título de Miss
Guanabara, milhares de pessoas lamentavam o fato de ali não estar desfilando a
linda morena Maria Helena Leal Lopes, Miss Telefônica Atlético Clube. Nascida
no dia 17/09/1951, Maria Helena não tinha ainda 18 anos completos, idade mínima
exigida para concorrer ao título. Uma determinação do Juizado de Menores, uma
semana antes, proibiu sua participação no certame.
Maria Helena Leal Lopes foi a
primeira garota a se inscrever no Miss Guanabara 1969 , e logo passou a ser
apontada como a grande favorita. Quando a revista O Cruzeiro divulgou suas fotos como
primeira candidata ao Miss GB, a reportagem afirmava que ela tinha 18 anos.
Aconteceu que no mês seguinte, alguém denunciou a sua menoridade. Comentou-se
na época que a denúncia poderia ter partido de um ex-namorado. O Presidente do
Telefônica Atlético Clube foi notificado que deveria provar a idade dela no
prazo de 24 horas. Seus advogados recorreram, pois jamais poderiam provar que
ela tinha 18 anos. Apresentaram um documento dos seus pais com firma
reconhecida, autorizando sua participação. A coisa serenou e Maria Helena deu
continuidade aos preparativos visando a disputa do Miss Guanabara. Seu pai
precisou resolver uns negócios pessoais nos Estados Unidos e viajou certo da
vitória da filha. Faltando apenas uma
semana, o Juizado de Menores fez prevalecer a proibição legal. Sorridente e sem
mágoas, ela compareceu ao Maracanãzinho para incentivar suas companheiras.
Quando o público percebeu sua presença, os aplausos foram muitos. Tirou fotos
nos estúdios das revistas ao lado da vencedora, Mara do Carvalho Ferro, Miss São Cristóvão Imperial, que não cabia
em si de alegria pelo título e pelo prêmio máximo: um automóvel Volkswagen de quatro portas. No Miss Brasil, Mara conseguiu
o quarto lugar, perdendo para Vera Fischer, Miss Santa Catarina,
primeiro lugar; Maria Lucia Alexandrinho dos Santos, Miss São Paulo, segunda
colocada; e Ana Cristina Rodrigues, Miss Rio Grande do Sul, terceiro lugar.
A repercussão da proibição de Maria Helena participar do Miss Gunabara 1969 rendeu matérias na imprensa nacional, lado
a lado com outros casos que marcaram o mês de junho do último ano da década de
60 : A derrota da seleção inglesa no Maracanã, que excursionava pela América
Latina, diante da Canarinha, aumentando a esperança de que o Brasil poderia ser
tricampeão mundial no ano seguinte; o encontro de Nelson Rockfeller e Costa e Silva,
no Palácio da Alvorada; a morte de Cacilda Becker; a eleição de Georges
Pompidou, presidente da França; o nascimento
de Carlo Ponti Jr, o esperado primogênito de Sophia Loren; a recepção ao Paulo VI em Genebra; e o sucesso do filme Buillit, estrelado por Steve
McQueen.
Moradora da Tijuca e aluna do 2º ano
clássico do Colégio Pedro II, Maria Helena tinha participado do concurso
“Senhorita Rio 1968”, onde foi vice de Ângela Catramby . Dona de um sorriso
encantador, extrovertida, inteligente, adorava lasanhas e massas de todos os
tipos, mas tinha a maior facilidade para emagrecer. Como seus sonhos de
participar do Miss Guanabara foram frustrados, ela não teve dúvida de
transferi-los para o ano seguinte. E em 1970, no Pavilhão de São Cristóvão, uma
vez que o Maracanãzinho tinha sofrido um incêndio, lá estava ela, tranquila,
linda, disputando o Miss Guanabara, representando o Telefônica Atlético Clube.
Perdeu para Eliane Fialho Thompson, Miss Floresta Country Clube, eleita depois Miss Brasil e uma das 15 semifinalistas do Miss Universo 1970,
vencido pela porto-riquenha Marisol Malaret Contreras. Para a maioria dos missólogos, Maria Helena Leal tinha tudo para ser a Miss Brasil 1969. "Se ela
tivesse disputado o título nacional, Vera Fischer não existiria”, dizem alguns.
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Vamos mudar de assunto e falar da Maria Helena Leal da Costa Pinto. Professora de Educação Física do Estado do Rio de Janeiro, onde dá aulas de natação e hidroginástica nas escolas de ensino fundamental e médio; viúva do médico
otorrino Jairo da Costa Pinto Filho, uma personalidade humanitária que dirigiu
um hospital carioca, falecido em 27/12/2001; e mãe de
Agnes Lealt, sua única filha, fruto do seu casamento com o Dr. Jairo Costa.
Muciolo Ferreira, eu, Maria Helena e Agnes
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Muciolo Ferreira, Maria Helena e eu
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Maria Helena, eu e Agnes Lealt
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A musa e sua herdeira
Durante umas quatro horas, Maria Helena falou sobre amaores, desamores, sonhos, ilusões, desilusões... Na juventude, seus valores eram outros, nunca fez concessões e a fama e a fortuna não estavam entre os seus objetivos. Citou até
fatos desconhecidos pela filha Agnes, uma jovem linda que nunca quis saber das
passarelas. Agnes é formada
em publicidade pela PUC/Rio, estudou em Londres e lida com produção de cinema e
televisão. Agnes folheou com atenção a revista Fatos & Fotos , de 03 de
julho de 1969, que eu tinha levado para sua mãe autografar, e ficou muito alegre ao ver em página dupla a equipe do seu Fluminense Futebol
Clube, campeão carioca de 1969.
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Autógrafo de Maria Helena. |
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Desde 1969, eu sonhava ficar frente a
frente com Maria Helena. Demorou, mas como
tudo é no tempo de Deus, agradeci ao Senhor do Universo por ter realizado mais um sonho do menino
alagoano de São José da Laje que um dia eu fui.
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Abaixo, tendo ao lado
os respectivos links, a relação das secções Sessão Nostalgia dedicadas a Maria Helena Leal.
02 de março de 2008
SESSÃO NOSTALGIA – Maria Helena Leal Lopes, vice-Miss Guanabara 1970,
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16 de outubro de 2010
SESSÃO NOSTALGIA - Concurso Miss Guanabara 1970,
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