A não classificação de Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Grosso, em primeiro lugar no Miss Brasil 1965, gerou a maior revolta do público que se tem notícia na história do famoso concurso. Ela é a homenageada desta semana, com comentários e imagens que complementam a Sessão Nostalgia de 1º/11/2008, cuja matéria, sob o título “Maracanãzinho, 03/07/1965, A História de uma Vaia”, poderá ser conferida no final desta secção.
MARILENA, UMA ESTRANHA BELEZA DE GATA SELVAGEM
Quando Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Grosso, deixou o Maracanãzinho de madrugada após o concurso Miss Brasil, em que o júri a classificou em quarto lugar, ainda havia gente junto aos portões, esperando para aplaudi-la. A derrota não a abalou; sorria para os seus fãs como se tivesse sido a grande vitoriosa da noite. O pai a esperava à saída, para o abraço de solidariedade. O público quase rompeu os cordões de isolamento para vê-la mais de perto. Menos de duas horas antes, quando ainda desfilava, a multidão manifestava de maneira categórica sua preferência. A cada volta na passarela soavam aplausos. E a torcida não escondeu sua decepção quando descobriu que sua favorita não estava entre as três primeiras colocadas. Estrondosas vaiais encheram o estádio. Detentora de nove títulos de beleza, era a primeira competição que Marilena perdia. Mesmo derrotada, o público a consagrava: a vitória das palmas era sua.
Agora, Marilena voltará a Mato Grosso. Em Campo Grande, onde mora, continuará sua vida como ela tem sido: os estudos, os passeios a cavalo, os mergulhos na piscina do Rádio Clube e as fugas para caçadas nos fins-de-semana.
Corpo de Miss, aos 16 anos. Uma estranha beleza de gata selvagem. |
MARILENA, SONHO DE RONDON
Miss Mato Grosso, Marilena de Oliveira Lima, apresentou a alegoria Sonho de Rondon, concebida pelo costureiro Heck Santos. O cocar amarelo e azul é belíssimo. (Revista Manchete, 17/07/1965) |
MARILENA ENTRE AS OITO FINALISTAS DO MISS BRASIL 1965
MARILENA ENTRE AS 4 MAIS BELAS DE 1965
MARILENA, MISS BRASIL ADOTIVA DO POVO 1965
Marilena de Oliveira Lima, por motivos independentes da sua vontade, ficou no centro da controvérsia no Maracanãzinho. É a Miss Brasil Adotiva do Povo. A diplomacia decidiu fazer a felicidade de Miss Mato Grosso, Marilena de Oliveira Lima. No Ministério das Relações Exteriores, lhe deram o título de Miss Itamarati. E agora se anuncia que ela poderá ir a Maiorca, onde todos os anos se realiza, diplomaticamente, a eleição de Miss ONU.
No tempo de Sthendal, a forma mais espetacular de entrar para a sociedade era através de um duelo. Hoje em dia, a maneira mais prática de alcançar a fama é despertar controvérsia. Ou seja, na definição um tanto cínica de um escritor: “Falem mal, mas falem de mim.” Com Marilena, porém, a controvérsia é a favor. Todos falam bem dela. Ela é a miss que não ganhou a coroa; mas merecia ganhar. Assim ao menos julgou o povo, que lamentou ter sido ela prejudicada por uma inexistente lei das inelegibilidades. Miss Mato Grosso tem uma pele morena belíssima, e é toda encanto. Ela aceitou esportivamente a desclassificação. Mas, como vivemos numa democracia, foi procurada uma fórmula mais prática de fazer valer a vontade do povo. Assim, em Maiorca, poderá tornar-se Miss ONU. ***** ( Revista Manchete)
Segundo a revista Fatos & Fotos, após ser anunciado o resultado do concurso Miss Brasil 1965, a mãe de Marilena de Oliveira Lima, entre desconsolada e decepcionada, declarou: “ O Brasil acaba de perder o título de Miss Universo. Minha filha era a única que tinha condições de trazê-lo.”
Maria Raquel de Andrade, Miss Guanabara, Miss Brasil 1965, ficou entre as quinze semifinalistas do Miss Universo 1965, ano em que a vencedora foi Apasra Hongsakula, Miss Tailândia. Sandra Penno Rosa, Miss São Paulo, vice-Miss Brasil, foi a quinta colocada no Miss Beleza Internacional, vencido por Ingrid Finger, da Alemanha. Berenice Lunardi, Miss Rio Grande do Sul, terceira colocada no Miss Brasil, não obteve classificação no Miss Mundo, cuja vitoriosa foi a inglesa Lesley Langley. Como teria sido a performance de Marilena de Oliveira Lima em um desses concursos ? Não sei. Ninguém sabe. Só sei que Marilena de Oliveira Lima foi a Miss Brasil Adotiva do Povo 1965, um título original, feliz e único dado por Manchete, uma das mais importantes revistas que já circularam por este nosso imenso país-continente.
Para você, Marilena de Oliveira Lima, Miss Brasil Adotiva do Povo 1965 , minha singela homenagem neste novembro de 2010 que logo mais será parte de um tempo mágico que se foi, como aquele julho de 1965, de tantas emoções e recordações.
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SESSÃO NOSTALGIA - MARACANÃZINHO, 03/07/1965, A HISTÓRIA DE UMA VAIA
Daslan Melo Lima
Maracanãzinho, Rio de Janeiro, 03/07/1965, noite da eleição da Miss Brasil 1965. A tradicional passarela em forma de ferradura foi substituída por outra com o símbolo do quarto centenário da cidade do Rio de Janeiro. A grega Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964, e mais de duas dezenas de jovens que participariam do Miss Universo 1965 eram convidadas especiais. Vinte e cinco lindas brasileiras desfilaram na passarela em busca do sonho mágico de ser eleita Miss Brasil 1965. A preferida do público era uma morena chamada Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Grosso, quarta colocada. Por causa dela, o Maracanãzinho, o templo da beleza nacional, conheceu a maior vaia de sua história.
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As oito finalistas do Miss Brasil 1965. Da esquerda para a direita:
Sandra Penno Rosa, Miss São Paulo, 2º lugar;
Berenice Lunardi, Miss Minas Gerais, 3º lugar;
Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Groso, 4º lugar;
Maria Raquel Helena de Andrade, Miss Guanabara, 1º lugar;
Rosemary Raduhy, Miss Paraná, 6º lugar;
Solange Leão, Miss Espírito Santo, 8º lugar;
Ilce Ione Hasselmann, Miss Estado do Rio, 5º lugar;
Marilda Mascarenhas da Silva, Miss Bahia, 7º lugar.
(Foto: revista Manchete)
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Pela primeira vez, na história da eleição do Miss Brasil, ninguém ficou satisfeito. O público vaiou o resultado final, os observadores autorizados acharam que alguma coisa estava errada, e os próprios jurados manifestaram, de diversas formas, o seu desagrado, dando a entender que o veredito não correspondia, de forma alguma, à vontade soberana do júri.
Acontece que o modo pelo qual é avaliada a opinião dos julgadores, obedece a um complicado critério aritmético, que mais tarde é submetido à manipulação por parte de uma pessoa que não pertence ao júri. Essa pessoa conta os diferentes pontos, faz a soma e tira a conclusão.
Alguns dos membros do júri deste ano confessaram que, tendo em vista o critério aritmético, tudo correu honestamente no Maracãnazinho.
“Mas – acrescentaram – o critério usado não é o melhor. Se temos oito finalistas, tudo seria muito simples se nos mandassem escolher nominalmente, entre as oito, as três favoritas. Então, cada um de nós indicaria: Fulana de Tal deve ser Miss Brasil. Aquela que obtivesse a maioria de votos seria naturalmente a eleita. No entanto, nada disso aconteceu. A eleição foi limpa, mas a verdade é que muitos de nós estávamos torcendo pela Miss Mato Grosso, e não podemos compreender como ela foi parar no quarto lugar.”
Conclusão: o concurso torna complicado o que deveria ser simples. Conseqüência: 12 minutos de vaia, e a necessidade de escolta policial para que os jurados podessem sair do estádio. E, no meio de tudo isso, uma graciosa pessoa teve que demonstrar extraordinária coragem moral. A nova Miss Brasil, Maria Raquel de Andrade, já ornada com a coroa e o manto real, desfilou lentamente, majestosamente, maravilhosamente, diante de 40 mil pessoas enfurecidas. Ela merecia a vitória e não teve culpa de nada. As vaias não lhe eram endereçadas. Foi necessário que ela vivesse esse momento dramático, esse terrível equívoco, para que a opinião pública começasse a exigir a modificação do regulamento de escolha de Miss Brasil. Esperemos que no ano que vem o povo possa voltar inteiramente feliz para casa, depois de ter visto a mais bela Miss desfilar sob os aplausos de todos.
- Revista Manchete, 17/07/1965
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Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Grosso
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Maria Raquel Helena de Andrade, Miss Guanabara.
(Fotos: Manchete)
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No Maracanãzinho mais cheio de todos os concursos de Miss Brasil, o público dividiu-se desde os primeiros momentos do desfile. De um lado, a favorita era Miss Mato Grosso, a morena Marilena de Oliveira Lima, que em todas as prévias feitas era apontada como a mais cotada para Miss Brasil-65; de outro, de narizinho arrebitado e doce sorriso, Miss Guanabara, Maria Raquel de Andrade, do Botafogo. As duas marcaram a grande noite, inspiraram vaias e aplausos. A desclassificação de Marilena provocou protestos como o Maracanãzinho não vira antes, chegando a assustar o júri.
Duas surpresas para o público: Miss Mato Grosso, que era a mais cotada desde o início, não figurou entre as três finalistas; e Miss Alagoas, uma das mais bonitas concorrentes, não ficou sequer entre as oito primeiras. A primeira, a morena Marilena, era a forte rival de Maria Raquel e a eleita do povo. A segunda, Mary Grace, contava com muita simpatia, inclusive entre as misses internacionais (Kiriaki Tsopei, Miss Universo-64, chegou a afirmar que Grace era a sua preferida para o mais alto título da beleza brasileira).
Ninguém pode contar o roteiro das vaias. Foram tantas e tão compactas, tão seguidas, que foi impossível cronometrá-las. Entretanto houve uma - um vaião - que ficou na memória do Rio. Foi uma das maiores dos últimos 10 anos. Esta vaia gigante foi assestada contra o júri, que optou pela loura do Botafogo e só deu o 4º lugar para a moça de Mato Grosso, a favorita das arquibancadas. Foi tão forte a vaia que os membros do júri ficaram com medo. E pensaram sair de mansinho. Pediram policiamento reforçado. E alguns trocaram de roupa, para não serem identificados.
Evandro Castro Lima, que foi do júri, disse que nunca mais aceitaria a missão. Discordou do tipo de julgamento – do processo de votação por notas – que possibilitou vitórias não previstas. Idem foi a opinião de Oscar Santamaría, juiz internacional, que criticou violentamente o sistema de votar. Claude Berr, coordenador do Miss Europa, figura também do júri, estava desesperado. “What can I do?”, repetia pelos corredores. Na sua opinião, o júri votou certo, mas errou na pontaria. Houve qualquer coisa – que não foi marmelada - que atrapalhou a votação. Naturalmente o processo de votação.
Todas as misses internacionais – exceção da risonha alemã – ficaram alarmadas com as vaias. Miss Áustria saiu dizendo, em inglês, que todo mundo ali era maluco. A suave Miss Índia chegou a tremer de susto. Idem as eslavas, com Miss Finlândia nervosa. Essas moças, que freqüentaram passarelas calmas, educadinhas, formais, não esperavam topar com o rompante espontâneo de uma platéia latina. O medo dominou-as. Elas chegaram mesmo a pensar que o povo, revoltado contra o veredicto do júri, fosse afinal estraçalhá-las.
- Revista O Cruzeiro, 24/07/1965
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Mary Grace Oiticica Bandeira, Miss Alagoas. (Foto: Manchete)
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Diante dos comentários acima, não há dúvida alguma que, se o critério de julgamento tivesse sido simples, direto e objetivo, Marilena de Oliveira Lima teria sido eleita Miss Brasil 1965. E a minha conterrânea Mary Grace Oiticica Bandeira teria ficado, no mínimo, entre as oito finalistas.
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7 comentários:
Parabéns, pela homenagem!Todas as misses devem ser homenageadas.E Marilena estrelou no MB.Aos 16 anos, está uma gatinha!Quanto ao concurso, em si, quanto mais fotos vejo, mais vejo a distância entre Maria Raquel e as outras candidatas.Mereceu o título.Das 8 semifinalistas,colocaria ES em 2° e MG em 3°.MB 65 merecia estar entre as 5 finalistas do MU.Se compararmos as fotos de 1965, ela é muito melhor entre as MBs que concorreram ao Miss Universo.Acho que só perde para Angela Vasconcellos.Abraços, japão
Caro Daslan,
Não conheci Marilena pessoalmente. Maria Raquel a vi algumas vezes muitos anos depois. Mas muitos que estiveram naquele Miss Brasil, com os quais conversei, são unânimes em dizer que Marilena era espetacular, juntamente com Mary Grace, a Miss Alagoas que não ficou nem nas oito. A frase de que naquele momento o Brasil tinha perdido uma Miss Universo muitos a atribuem a Mr Landon, o presidente do Miss U, presente no Maracanãzinho. Enfim, será que naqueles tempos já existiam as marmeladas tão denunciadas na atualidade? A vitória de Raquel teria sido um presente para o IV Centerário do Rio de Janeiro? Um abraço e boa semana, Roberto Macêdo
Comentário de Muciolo Ferreira, jornalista, Recife, PE, via e-mail
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Daslan,
complementando o que escreveu o Roberto Macêdo e respondendo ao seu questionamento, digo a ele que SIM. Mesmo naquela época já existiam - e muitas - maracutaias. Lógico e evidente que a Miss Mato Grosso, Marilena de Oliveira era, de longe, uma candidata espetacular e chegaria perto do trono como uma provável Miss Universo.
Sua beleza era etéria, sem retoques, lembrando o perfil da gaúcha Iêda Vargas. Acontece que o Miss Brasil de 1965 teria de ser de uma carioca, por ser o ano do 4º Centenário do Rio de janeiro, a capital internacional do Brasil. Fosse a candidata Maria Raquel de Andrade ou outra qualquer que tivesse representado o Estado da Guanabara seria eleita.
Alô, Roberto Macêdo! Vou citar dois exemplos antológicos de maracutaias daquela época: a vitória de Adalgisa Colombo, em 1958, e da paulista Carmen Sylvia Ramasco, em 1967. E o carioca que não é bairrista, mas junsto, reagia com vaias, vaias e muitos outros protestos infindáveis,
memoráveis e justas.
Em setembro de 1965, Maria Raquel esteve no Recife, onde se apresentou desfilando de vestido e maiô, no Programa "Você Faz o Show", no Canal 2, apresentado por Fernando Castelão. Meus pais eram presenças constantes no programa que era nas noites de domingo. Neste dia fiz tudo para ir com eles, mas por ser de menor, era proibido entrar nas dependências da emsissora.
Todavia, fui com minha irmã até à Rua do Lima, onde a TV Jornal localiza-se, e nos postamos no portão por onde passavam os artistas. Vi a Miss Brasil pessoalmente e era uma moça de beleza comum, bem diferente da beleza impactante da Vera Ficher que vi na Fecin(Feira do Comércio e Indústria do Nordeste), situada no atual Parque da Jaqueira, em dezembro de 1969, e nunca mais esqueci aquele rosto de deusa.
Uma boa semana a todos.
Muciolo Ferreira
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Lembro-me de ter assistido pela televisão o programa "Você Faz o Show", apresentado pelo saudoso Fernando Castelão.
Naquela noite inesquecível de domingo, vi em preto e branco as apresentações de Maria Raquel Helena de Andrade e de Mary Grace Oiticica Bandeira, Miss Alagoas, não classificada entre as oito finalistas do Miss Brasil 1965.
Bairrismo à parte,e sem tirar os méritos da carioca, Mary Grace, minha conterrânea, deu um show de beleza e foi mais aplaudida do que a Miss Brasil.
Detalhe: dias depois, li na prestigiadíssima coluna social do Alex, no Jornal do Commercio-Recife,um comentário onde ele dizia "...linda mesmo era Mary Grace, a Miss das Alagoas."
A propósito, para a grega Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964, presente no Maracanãzinho na noite da eleição da Miss Brasil 1965, a moça mais bela era Miss Alagoas, depois Guanabara e adiante Mato Grosso.
A não inclusão de Mary Grace entre as oito finalistas surpreendeu o público do Maracanãzinho e deixou uma mágoa eterna nos corações dos alagoanos.
Um abraço, com cheiro de nostalgia...
Daslan Melo Lima
Timbaúba-PE
Podiam pelo menos ter dado o terceiro lugar para a Miss Mato Grosso ter nos representado no Miss Mundo. Com certeza teria voltado de lá com uma boa colocação.
Como sou velhinho, acompanho o Miss Brasil de longa data. Na minha opinião, talvez tenham errado em 65, não elegendo a candidata do MT. Acho que também erraram em 84, quando elegeram Ana Elisa (SP) e não Suzy Rêgo (PE), em 86 quando elegeram Daise Nunes (RS) e não Solange Alves (SP), em 2014, quando elegeram melissa Gurgel (CE) e não Fernanda Leme (SP). Se entrarmos no âmbito internacional também vimos erros (em nossa) opinião, como em 2007.
Destaco que minha discordância dos resultados é respeitosa a todas as candidatas.
Pedro
esse ano teve mais de 5 que mereceriam ganhar, e o juri se equivocou...
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