Daslan Melo Lima
De vez em quando, recebo ligações telefônicas
e mensagens de pessoas querendo saber como vai e por onde anda Eveline Schroeter, Miss
Rio de Janeiro, Miss Brasil 1980, a quem dediquei a Sessão Nostalgia de
18/06/2011, época em que ela continuava lutando para reverter seus problemas de saúde numa clínica de Joinville, Santa Catarina.
Pelo que sei, a Miss Brasil 1980 ainda não está totalmente recuperada. Recentemente, recebi de Barros
Expedicuts, de Maceió, AL, cópia de uma matéria veiculada na revista Semanário, de 1992, cujo original faz parte do acervo de Ademir Leite, de São Paulo, SP. A reportagem
de Maria Luiza B. Dornelles, com a
colaboração de Francisco Alves Filho, fornece
dados de como teve início o drama de Eveline.
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Ela tinha tudo para ser tão ou mais
famosa que Xuxa, Marta Rocha, Adalgisa Colombo ou a estrela Vera Fischer. Mas a
vida reservou outro destino para Eveline Schroeter.
Loura, 1,80m, olhos expressivos, sorriso
largo... Curvas e mais curvas. A armadilha. Tudo começou em 1980, no Rio de
Janeiro.
Aos 17 anos, encorajada pelo pai, o
músico gaúcho Harri Oscar Schroeter, com quem morava no Rio, vencia o concurso
Miss Estado do Rio de Janeiro. Poucos dias depois veio o título de Miss Brasil
1980. Um peso que jamais pensou em carregar de maneira tão amarga.
O Miss Universo seria o próximo grande
passo. Caminho para a até então inatingível Coréia. Eveline enfrentou de tudo. Principalmente
a solidão. Voltou sem a coroa, mas com o
título de Miss Fotogenia Internacional. E com o sonho da maioria das jovens de
sua época: prestígio, sucesso, festas badaladas, amigos famosos e não era só.
Joias, roupas, carros, acessórios,
produtos dietéticos... Capas de revistas, patrocinadores, convites. A loira de
corpo escultural era uma sensação. Viriam as passarelas, o cinema. O reinado
durou pouco.
Um ano depois, a mãe Maria Helena –
pianista e professora da Universidade de Santa Maria (RS) -, resolveu
comemorar o primeiro aniversário da ex-miss.
“Naquele dia, notei algo estranho
nela. Estava descuidada, o olhar longe... Fiquei preocupada e disse à minha
filha que não se metesse em drogas. Só sei que ela estava tomando Inibex, um
moderador de apetite, lembra a mãe.”
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A indicação
do remédio seria do endocrinologista Paulo Sérgio, namorado de Eveline por
quatro anos. Mas veio o rompimento e o drama.
Eveline foi ao fundo do poço. Sozinha, vivendo
com a mãe, perdeu o controle. O uso indiscriminado do moderador de apetite
virou rotina.
A mãe conta que na ocasião recebeu um
telefonema: A filha estava internada numa clínica. Novas internações vieram e a miss perdeu dinheiro e até um
carro.
O músico Harri Oscar Schroeter se recusa a falar da filha. Já
o fotógrafo Antônio Guerreiro, que trabalhou com ela durante um ano, não
esconde o espanto.
“Ela
tinha um corpo bonito, um rosto expressivo e um lindo futuro pela frente.”
Hoje ela sofre de esquizofrenia e vive em
completo anonimato, no bairro de Camões, Santa Maria. Depois de muita
insistência, Maria Helena, que cuida da filha, resolveu falar a Semanário:
“ O que sei é que minha filha se decepcionou
demais. Se eu tivesse o tempo todo ao lado dela...”, diz.
Os pais de Eveline se separaram quando
ela tinha apenas 6 anos. A menina e os irmãos Harri e Guilherme foram viver com
o pai no Rio. (...)
Com muito sacrifício, a repórter obteve
algumas sílabas de Eveline. Mostrando algumas fotos do passado, perguntou;
“Tem saudades?”
"Não. A minha mãe comemorou meu
aniversário!”, respondeu a miss.
A médica Miriam Barbosa, chefe do Serviço
de Psiquiatria do Hospital Universitário Federal de Santa Maria diz que a doença de Eveline é reversível.
Maria Helena levou a filha a uma sessão
de “regressão de vidas passadas”. O médium diz que Eveline teria sido uma
rainha má na Alemanha para seus súditos. Nesta vida estaria pagando pelos erros
passados.
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Historia em outra versão – A reportagem dedicou um pequeno espaço a Flávia Cavalcanti, cuja vida tinha mudado radicalmente depois que
conquistou os títulos de Miss Ceará e Miss Brasil 1989. “Foi uma transformação. Depois que ganhei o
concurso, tive de mudar para São Paulo, larguei a faculdade. Virei modelo. Não fiquei deslumbrada. Apenas descobri que podia seguir uma carreira
profissional. Verdade também que minha família me ajudou muito, me
orientando, encaminhando. Além disso, sou uma pessoa muito segura. Sei o que
quero, não deixo que outros interfiram na minha vida. Talvez tenha sido isso
que tenha interrompido a carreira de Eveline."
Médico adverte – Na mesma página,
o médico Efraim Olszewer, do Centro de Medicina Preventiva de São Paulo, alertou
sobre os perigos do uso indiscriminado de inibidores de apetite. "É preciso ter muito cuidado com os moderadores. Eles têm a capacidade de alterar muito o metabolismo da pessoa."
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Detalhes: Sua foto segurando um bebê pode dar a impressão de que segura um filho, mas Eveline não teve e nem adotou nenhuma criança. Eveline não é gaúcha. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 21 de fevereiro de 1962, no Hospital Santa Lúcia, no bairro carioca do Botafogo. Em 07/06/1980, ao ser eleita Miss Brasil, já tinha 18 anos de idade.
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Detalhes: Sua foto segurando um bebê pode dar a impressão de que segura um filho, mas Eveline não teve e nem adotou nenhuma criança. Eveline não é gaúcha. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 21 de fevereiro de 1962, no Hospital Santa Lúcia, no bairro carioca do Botafogo. Em 07/06/1980, ao ser eleita Miss Brasil, já tinha 18 anos de idade.
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Aos fãs e ex-colegas de passarela de Eveline Schoreter que desejaram maiores informações, sugiro que tentem fazer contato com a instituição CAPS III, Centro de Atenção Psicossocial Dê-Lírios, localizada na Rua Tubarão, 128, bairro América, Joinville, Santa Catarina. Telefone: (47) 3423-0245. Outra fonte: Jo Salgado, jo-salgados@hotmail.com
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Para recordar a coroação de Eveline no Miss
Brasil 1980, clique:
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Para recordar uma de suas participações no programa Os Trapalhões:
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Recebi este link de um
noticioso da RBS TV/SC abordando o drama de Eveline. Para assistir ao vídeo, produzido há quatro anos, é preciso um pouco de paciência, pois ela só aparece no meio do programa,
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Confira também Eveline Schroeter, Miss Brasil 1980, "coisa de cinema": http://passarelacultural.blogspot.com.br/2011/06/sessao-nostalgia_18.html
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"A Miss que o Brasil abandonou". Será que o título da matéria da revista Semanário foi apelativo? Será que o título que dei a esta Sessão Nostalgia foi muito forte? O que você, leitor, leitora, acha?
Eu entendo que nenhuma garota sonhadora merece viver um pesadelo assim, principalmente se foi a representante máxima da beleza do nosso amado Brasil.
Eu entendo que nenhuma garota sonhadora merece viver um pesadelo assim, principalmente se foi a representante máxima da beleza do nosso amado Brasil.
Leo e releio uma reportagem sobre Eveline Schroeter na revista Manchete, de 25 de abril de 1981, cujo texto transcrevi abaixo, e não consigo controlar minha emoção diante do que está escrito no final: "... foi uma pena que o Brasil não a tivesse curtido mais e devidamente."
Já houve tempo em que as misses estavam mais ou menos na moda. Depois, as pessoas inteligentes e cultas começaram a malhar as moças que só tinham lido O Pequeno Príncipe e deixavam-se medir e pesar como gado. Mas os curtidores de misses resistiram bravamente, e elas continuaram.
Com seu metro e oitenta de altura, 64 quilos e 19 anos de idade, Eveline Schroeter é Miss Brasil desde o ano passado. Sua biografia ainda é pequena: foi Miss Macaé e Rio de Janeiro. Ganhou o Miss Brasil, viajou para a Coréia do Sul e, embora estivesse cotada entre as cinco mais, voltou sem o título mundial. Nasceu em família de artistas: o pai toca violino na Rádio Ministério da Educação, a mãe é pianista e seu irmão também é violinista, por sinal já premiado. Professa religião séria: é protestante (luterana), mas sem exaltação. Um de seus interesses culturais é a parapsicologia.
Gosta de ouvir Sinatra e Roberto Carlos. Confessa, sem constrangimento, que preferia ter nascido dez anos antes, para pegar o ritmo de uma vida que ela aceitaria melhor e mais fundamente. Não gosta de rock. Nem considera a mulher discriminada na sociedade. Acredita, entre outros valores, no trabalho. É objetiva, simples, antiga e eficiente. Dá a impressão de fazer bem tudo o que quer. Não complica nem a própria a vida nem a vida dos outros. Não atropela ninguém, não tem pressa nem deslumbramentos. Mas gosta de desfilar, sente que pode seguir uma carreira na passarela, ou mesmo no cinema. Sua opinião sobre Miss Brasil é objetiva: ela deve ser uma embaixatriz da beleza.
Resumindo: Eveline é uma moça que está fora do tempo e isso é uma glória. Não se contaminou com a turma, não foi na onda, pensa com a própria cabeça – certa ou errada, ela é ela e não o produto de um laboratório. A condição de Miss durou o espaço de um ano; antes e depois do seu curto reinado ela teve e terá oportunidades de viver a vida com simplicidade, sem muita empolgação, mas com lucidez e senso de honestidade. É bonita, cheira bem, tem gosto em conversar sobre assuntos pessoais. Mas algumas semanas ela deixará de ser Miss Brasil. E foi uma pena que o Brasil não a tivesse curtido mais e devidamente.
Já houve tempo em que as misses estavam mais ou menos na moda. Depois, as pessoas inteligentes e cultas começaram a malhar as moças que só tinham lido O Pequeno Príncipe e deixavam-se medir e pesar como gado. Mas os curtidores de misses resistiram bravamente, e elas continuaram.
Com seu metro e oitenta de altura, 64 quilos e 19 anos de idade, Eveline Schroeter é Miss Brasil desde o ano passado. Sua biografia ainda é pequena: foi Miss Macaé e Rio de Janeiro. Ganhou o Miss Brasil, viajou para a Coréia do Sul e, embora estivesse cotada entre as cinco mais, voltou sem o título mundial. Nasceu em família de artistas: o pai toca violino na Rádio Ministério da Educação, a mãe é pianista e seu irmão também é violinista, por sinal já premiado. Professa religião séria: é protestante (luterana), mas sem exaltação. Um de seus interesses culturais é a parapsicologia.
Gosta de ouvir Sinatra e Roberto Carlos. Confessa, sem constrangimento, que preferia ter nascido dez anos antes, para pegar o ritmo de uma vida que ela aceitaria melhor e mais fundamente. Não gosta de rock. Nem considera a mulher discriminada na sociedade. Acredita, entre outros valores, no trabalho. É objetiva, simples, antiga e eficiente. Dá a impressão de fazer bem tudo o que quer. Não complica nem a própria a vida nem a vida dos outros. Não atropela ninguém, não tem pressa nem deslumbramentos. Mas gosta de desfilar, sente que pode seguir uma carreira na passarela, ou mesmo no cinema. Sua opinião sobre Miss Brasil é objetiva: ela deve ser uma embaixatriz da beleza.
Resumindo: Eveline é uma moça que está fora do tempo e isso é uma glória. Não se contaminou com a turma, não foi na onda, pensa com a própria cabeça – certa ou errada, ela é ela e não o produto de um laboratório. A condição de Miss durou o espaço de um ano; antes e depois do seu curto reinado ela teve e terá oportunidades de viver a vida com simplicidade, sem muita empolgação, mas com lucidez e senso de honestidade. É bonita, cheira bem, tem gosto em conversar sobre assuntos pessoais. Mas algumas semanas ela deixará de ser Miss Brasil. E foi uma pena que o Brasil não a tivesse curtido mais e devidamente.
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5 comentários:
Muito triste tudo isso!
Talvez não seja bem assim, de que o Brasil abandonou Eveline Schroeter. Talvez o problema esteja nas dificuldades criadas para as pessoas chegarem até à Miss Brasil 1980.
C.Rocha de Floripa.
Daslan,
conheci pessoalmente Eveline em 1982, na cidade de Juazeiro do Norte, sul do Ceará, por ocasião do concurso Miss Ceará. Eu e ela fomos os únicos jurados hóspedes da mansão cinematográfica do então prefeito local e senhora Jaci e Airton Gomes de Alencar. Foi um agradabilíssimo final de semana.
Eveline era uma figura simpaticíssima. Contou estórias do seu tempo de reinado. Pense, Daslan. Estava mais bela do que na época em que foi eleita Miss Brasil. Mais magra, madura e com saudades do seu namorado americano, com o qual ficou horas matando as saudades num longo telefonema, depois que voltamos do clube onde ocorreu o concurso.
Passeamos bastante, rimos, conhecemos muitos lugares, como o morro onde está a estátua do Padre Cícero Romão Batista (o Padim Ciço, como falam os sertanejos romeiros). Por onde passávamos, chamava a atenção de todos e deixava que as pessoas se aproximassem dela. Beijava as crianças, cumprimentava os jovens se deixando fotografar.
Lamento muito o que aconteceu com a nossa miss. Lembrarei sempre dela com o maior carinho. Mas a vida nos surpreende com suas armadilhas. Ou talvez não tenhamos conhecimento nem sabedoria para entender o que já estava predestinado para ela. Só Deus sabe o que nos reserva. Mas não revela.
Uma boa ótima semana a todos os leitores.
Muciolo Ferreira - do Recife.
Lembro dela em sua despedida como Miss Brasil em 1981 no Palácio das Convenções do Anhembi e passou o título para outra representante do seu estado Rio de Janeiro. Lembro-me também de um comercial que ela fez de um adoçante, mas, quem ganha um título tão importante como ela ganhou entra pra história e embora se esqueça por algum tempo, sempre haverá momentos em que elas serão relembradas, como está acontecendo agora.
Triste essa historia
Hj ela mora em joinville Santa Catarina, conheço ela, ela tá doente ainda .
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