Daslan Melo Lima
O ano era 1962. O estado da Guanabara, antigo Rio de Janeiro-Distrito Federal, tinha sido criado em 1960 e ela foi a terceira Miss a representá-lo no concurso Miss Brasil. As outras foram Gina Macpherson, Miss Brasil 1960, e Alda Maria Coutinho, terceira colocada no Miss Brasil 1961. Morena, simpática, descendente de libaneses, Vera Lúcia Saba conquistou o terceiro lugar no Miss Brasil, perdendo para Maria Olívia Rebouças Cavalcanti, Miss Bahia (primeiro lugar) e Julieta Strausz, Miss São Paulo (segundo lugar). Hoje, chamaríamos Vera Lúcia Saba de Miss Brasil Mundo, por ter representado o Brasil no concurso Miss Mundo, em Londres. Na época, no entanto, as segundas e terceiras colocadas recebiam as denominações de Miss Brasil nº. 2 e Miss Brasil nº. 3, respectivamente.
Vera Lúcia Saba viajou a Londres levando a esperança de milhões de brasileiros que ansiavam ver uma Miss Brasil vencer um concurso de beleza internacional. A baiana Maria Olívia Rebouças Cavalcanti tinha conquistado um honroso quinto lugar no Miss Universo, Julieta Strausz não tinha obtido classificação no Miss Beleza Internacional e agora todo o interesse da mídia brasileira voltava-se para Vera Lúcia Saba. Quem sabe se ela não seria coroada Miss Mundo 1962?
Vera Lúcia Saba não se classificou em Londres e o título de Miss Mundo 1962 ficou com a holandesa Catherine Lodders, que depois se casaria com Chubby Checker, o “Rei” do Twist. Após o concurso, Vera foi a Damasco, acompanhada do pai, atendendo a um convite do Departamento de Turismo do Líbano. E foi lá que conheceu e se apaixonou pelo cabeleireiro libanês Georges Michel Khour, proprietário de um rico salão de beleza. Vera pediu a aprovação do pai para casar e recebeu um não. O pai foi contra aquele “impulso repentino do coração da Miss Brasil”, como assim definia os jornalistas. Seu pai alegava que Vera tinha um compromisso com o Brasil e teria de cumpri-lo antes de casar. Vera alegava que seu compromisso tinha terminado com sua participação no concurso de Miss Mundo. Mesmo amargando a tristeza de não ter conseguido a aprovação do pai, Vera fugiu de Beirute, onde se encontrava, para casar secretamente em Damasco, onde ficara o noivo, numa Igreja Maronita do subúrbio de Hazmiah.
No ano seguinte, em junho de 1963, grávida, morando com o esposo que tinha fixado residência no Brasil, Vera foi ao Maracanãzinho assistir ao concurso Miss Guanabara. Dado às circunstâncias, estava impedida de subir à passarela para passar a faixa para Vera Lúcia Maia, sua sucessora, contentando-se em posar ao lado da nova rainha no estúdio da revista Manchete. No dia 02 de maio de 1964, seus fãs ficaram felizes ao vê-la na referida revista (imagem acima, em foto de Aldyr Tavares), com a filhinha Kátia Virgínia. Kátia nasceu em 15/11/1963, com mais de quatro quilos e mais de cinqüenta centímetros. A menina foi batizada quando completou um ano de idade, em 15/11/1964, no mesmo dia do aniversário da mãe, e teve como madrinha Julieta Strausz.
Em 1962, eu era criança na alagoana São José da Laje, sem televisão e sem internet. Era um sonho esperar as revistas O Cruzeiro e Manchete com as noticias que pareciam chegar de um planeta glamouroso, movimentado e distante, muito distante. Eu não me dava conta que era testemunha de uma década que mudou a face do planeta. A atitude rebelde e romântica da Miss Guanabara 1962 é uma das minhas legendas dos mágicos anos 60.
Por outro lado, sua foto ao lado da filha Kátia Virgínia é a mais bela imagem que guardo de Vera Lúcia Saba, Miss Clube Monte Líbano, Miss Estado da Guanabara, terceira colocada no Miss Brasil e representante da beleza feminina brasileira no Miss Mundo 1962.
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Um comentário:
Daslan, parabéns por essa bela lembrança de Vera Lúcia Saba, ela merece por tudo o que representou e ainda representa, mesmo passando tantas agruras durante sua vida.Adoro esta sua "Sessão Nostalgia". Parabéns!
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