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NINGUÉM ME IMPEDIRÁ DE SONHAR
Durante recente festa, encontrei vários conterrâneos-contemporâneos desacompanhados dos seus cônjuges, por dois motivos predominantes: viuvez e divórcio. Mas havia outro motivo: seus esposos e esposas acharam melhor ficar em casa do que irem à festa.
No mesmo evento, entre os conterrâneos-contemporâneos acompanhados, encontrei minha prima Rosa e seu esposo Ranulfo Caldas, um dos casais da minha geração que continuam juntos. O primeiro presente que Rosa ganhou do namorado foi um disco de vinil, um LP da cantora Giane, então no auge do sucesso, nos mágicos anos sessenta. Na minha última viagem a Alagoas, levei de lembrança para Rosa um cd da cantora Giane. Os olhos de Rosa brilharam de emoção ao mostrá-lo ao Ranulfo, e logo passaram a cantarolar e relembrar as músicas que marcaram suas vidas.
Sonhar não é proibido. Apesar dos desencontros e desilusões que fazem parte da caminhada de todo ser humano, ainda acredito em grandes amores e sonho com um mundo de ventura. Tal como nos versos de "Longe do Mundo" (The End of the World, de Dee e Kent, versão de Fred Jorge) , uma antiga canção interpretada por Giane, ninguém me impedirá de sonhar.
Só me restou amargura, depois de ouvir teu adeus. / Só eu sei como é fácil dizer que um dia hei de te esquecer. / Quando a saudade caminha e vem minh´alma encontrar, / deixo então a saudade rolar na pranto que por ti vivo a sonhar. /// Talvez um outro amor te enlouqueça, te envolva e te abrace com calor, / mas sei tu és meu, nesse mundo irreal, que vives sonhos de amor. /// Lá onde mora a ventura, em um jardim de luar, / sei que irei outra vez te encontrar, / ninguém me impedirá de sonhar.
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O PARAÍSO DO MUNDO
Recentemente, estive em São José da Laje, a cidadezinha alagoana onde nasci. Sou um romântico-sentimental incorrigível. Para mim, o Rio Canhoto e seu imenso leito de pedras, cenário mágico da minha infância, é a mais bela paisagem do Planeta Terra.
São José da Laje é uma pequena aldeia, mas continua sendo o paraíso do mundo para o menino que um dia eu fui, e que continua ao lado do homem que sou.
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CONFIDÊNCIAS DO SOL
Um homem passa imprindo velocidade em seu carro possante rumo à praia. O Sol é causticante, mas o ar condicionado anula o intenso calor que lá fora faz.
Um homem caminha lento rumo ao seu trabalho no canavial. O Sol é causticante e a poeira aumenta o intenso calor que na estrada faz.
Estou de férias e na mesma estrada passo, ouvindo confidências do Sol. Ele me diz que o homem que no carro voa tem inveja da pele naturalmente bronzeada do homem que na estrada passa. Por sua vez, o homem que na estrada passa gostaria de estender-se sob o Sol de uma praia.
Eu, o homem do carro e o homem do canavial. Três destinos incomuns. Em comum, a condição humana e este momento numa estrada que leva à praia.
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QUERIDA, UMA CANÇÃO NA TARDE
..... Final de mais uma tarde morena em Timbaúba. Acompanhado de Rock’n Roll, meu cão boxer de cinco meses de idade, faço minha caminhada diária. Tenho inveja do meu cachorro. Ele não sabe que morre a cada dia. Só eu, na condição de ser humano, envolvido com os mistérios da vida e da morte, é que sei que morro a cada dia.
Uma bela voz na tarde interrompe minhas inquietações existencialistas. Um homem no bairro Jardim Guarany canta Querida, o maior sucesso da carreira de Jerry Adriani.
"Querida, quero lhe dizer, / que toda a minha vida entreguei a você. / Procure olvidar o que lhe fiz, / Querida perdoa-me, / Querida não vá.”
O homem está no terraço de sua casa, em pé, e ao seu lado, numa cadeira de balanço, uma mulher com cara de quem chorou. Trata-se de um casal idoso, a cena é teatral e a vontade que tenho é de perguntar o que aconteceu. Mas continuo minha caminhada torcendo para que haja um final feliz para a dupla.
"Oh, Querida relembre os momentos tão felizes / que juntinhos passamos sob a luz do luar. /
Diga ao menos meu bem, / que de mim não tem mais rancor, / pra que eu possa esquecer todo o meu amargor.
Diga ao menos meu bem, / que de mim não tem mais rancor, / pra que eu possa esquecer todo o meu amargor.
Apresso meu passo e começo a recitar baixinho um trecho da música do Jerry Adriani. Inexplicavelmente, meu cachoirro começa a latir. Suponho que esteja querendo penetrar nos meus segredos e que esteja dizendo que os humanos são complicados demais.
"Oh, Querida, você não sabe como eu me sinto em não tê-la mais ao meu lado. / Minhas noites são tão frias, / minhas horas tão vazias. / Mas se voltasse, se você voltasse, tão feliz eu seria.”
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DE CARA LAVADA, DE ALMA LAVADA
- "Você é igualzinho como aparece nas fotos. O mesmo rosto, sem photoshop", disse-me uma pessoa quando a ela fui apresentado. Satisfeito com a observação, respondi: - "De que adiantaria externar uma imagem ilusória? Não vale a pena. Isso se aplica ao aspecto físico e ao espiritual."
Tenho o maior respeito por quem opta em publicar suas imagens depois de as mesmas passarem por um tratamento especial, mas acho que não vale a pena. Outro dia, o redator de um site perguntou se poderia postar uma foto minha na internet e aplicar um efeito para retirar alguns sinais do meu rosto. Respondi que não e que preferia assumir o resultado do excesso de melanina, próprio de quem tem pele negra, herança dos meus ancestrais africanos.
Se você paga um preço muito alto por ser você mesmo, preço mais alto ainda pagaria para se enquadrar num perfil diferente daquele que o destino lhe deu. Essa foi a lição mais dolorosa e mais importante que a Vida me ensinou.
De cara lavada, com o rosto marcado por sinais, sem photoshop, eis como quero que minha imagem seja publicada. De alma lavada, externando no olhar marcas de charadas indecifráveis e saldos de sonhos/pesadelos/ilusões/desilusões/encontros/desencontros/amores e desamores, eis como desejo dar aos mãos aos anjos e aos demônios da minha caminhada.
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3 comentários:
O menino continua.A poesia existe por causa desse menino.Abraços, Japão
Comentário de José Maria Mattos, de Maceió-AL
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Incrível como de uma simples situação você faz uma "auê" mais do que formidável. Gostei muito da crônica, até porque o Jerry Adriani foi o meu ídolo na Jovem Guarda e essa música foi de todos...
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Olá! meu caro conterrâneo.
Olha, Já acompanho seu blog há algum tempo e cada vez que leio suas postagens fico maravilhado, principalmente com o seu amor por nossa querida São José da Laje. Saiba que pessoas como você é que nos faz também sentir orgulho de nossa terra.
Parabéns pelas crônicas de um modo geral, pois você está formidável em todas. Fico feliz de saber que existe um Lajense como você.
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