ABENÇOADO CACHORRO, ABENÇOADO PORCO
Daslan Melo Lima
Acostumei-me a andar com minha máquina fotográfica digital para onde quer que eu vá, a fim de registrar imagens inusitadas com as quais somos surpreendidos no dia a dia, como estas que ilustram esta crônica.
No final da tarde da última segunda-feira, ao sair da redação do Correio de Notícias, onde fui concluir a revisão de mais uma edição do jornal, encontrei um cachorro e um porco juntos, dividindo o mesmo espaço, sob a marquise de um prédio do centro da cidade, protegendo-se mutuamente da chuva e do frio.
Abençoado cachorro. Abençoado porco. Juro que tive vontade de deitar-me junto deles, como forma de agradecer a lição de humildade, tolerância e solidariedade que ambos estavam dando às pessoas que passavam.
Voltei para casa com a cena tomando conta de todos os meus pensamentos. Se os humanos fossem tão cachorros e porcos como aqueles animais, não tenho dúvida alguma que haveria menos cachorradas e menos lama neste conturbado planeta Terra.
Timbaúba-PE, no décimo terceiro dia de maio de 2011, quando ainda é outono no hemisfério sul.
*****MAIO DAS MÃES, MAIO DE MARIA
Durante muitos anos, na época do Dia das Mães, eu me perguntava o que seria de mim quando chegasse um segundo domingo de Maio sem minha Mãe ao lado. Este 2011 é o quarto ano que passarei o Dia das Mães sem a presença física do ser inesquecível que O Criador destinou para ser minha genitora.
Não estou triste e nem sinto vontade de chorar. Acho que todas as lágrimas que deveria chorar já chorei, na ocasião em que DEUS convocou minha Mãe para uma nova missão em outra dimensão. Existe dentro de mim apenas uma sensação inexplicável de vazio pela ausência do mais importante referencial da história da minha vida.
Neste Maio de Maria, Mãe de Jesus Cristo, símbolo de todas as Mães do mundo, peço a DEUS para prosseguir com sabedora a minha caminhada, até que, num Maio assim, ELE conceda-me a graça de com minha Mãe estar. Por isso, o menino que ainda sou canta com Fé e Esperança aquele velho hino religioso que diz: "Com minha mãe estarei na santa glória um dia, / ao lado de Maria no céu triunfarei. /// No céu, no céu, com minha mãe estarei. / No céu, no céu, com minha mãe estarei. /// Com minha mãe estarei aos anjos se ajuntando. / Do onipotente ao mando / hosanas lhe darei. /// Com minha mãe estarei e então coroa digna / de mão tão benigna feliz receberei. //// Com minha mãe estarei e sempre neste exílio / de seu piedoso auxílio, com fé me valerei. /// No céu, no céu, com minha mãe estarei. / No céu, no céu, com minha mãe estarei."
Timbaúba-PE, na véspera do Dia das Mães de 2011.
Timbaúba-PE, na véspera do Dia das Mães de 2011.
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A MOÇA QUE VEM E A MOÇA QUE VAI
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A MOÇA QUE VEM E A MOÇA QUE VAI
Daslan Melo Lima
Da minha casa até ao centro da cidade, a distância é relativamente curta. Durante o trajeto, passo na frente de seis imóveis onde as pessoas mergulham nos mistérios da vida e da morte: Igreja Pentecostal União Com Cristo, Igreja Evangélica Verbo da Vida, Igreja Batista, Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Congregacional Carismática e a Matriz de N.S. das Dores (Igreja Católica Apostólica Romana).
No final da tarde dominical, na calçada por onde caminho, lá vem aquela moça linda que freqüenta uma igreja evangélica, de cabelos compridos, sem maquiagem, Bíblia na mão e vestido abaixo dos joelhos. Na calçada do outro lado lá vai aquela moça linda que não perde uma missa aos domingos, de cabelos curtos, maquiada e saia na altura dos joelhos.
A moça que vem precisa tanto ir ao culto como eu preciso do vento que bate em meu rosto. A moça que vai precisa tanto ir à missa como eu preciso ouvir o silêncio. E enquanto passo meditando na minha caminhada até ao centro da cidade, peço a DEUS que conserve para sempre todas as igrejas da terra, que conserve para sempre o vento e o silêncio, a fim de suprir as necessidades espirituais dos poetas, da moça que vem e da moça que vai.
Timbaúba-PE, numa tarde dominical de abril de 2011.
FELIZ NAVEGANTE
Daslan Melo Lima
Na fria e chuvosa manhã paraibana de Mataraca, em Barra do Camaratuba, não almejo Sol, não almejo aplausos, não almejo nada. Permito-me apenas tirar uma foto na frente de uma pequena embarcação que tem um nome poético e lindo: Feliz Navegante, e navegar dentro de mim.
Se eu possuísse um barco igual ao Feliz Navegante talvez não tivesse os problemas que tenho como caminhante, mas teria como navegante, pois as marés oscilam e eu oscilaria com elas. Melhor caminhar sobre a terra firme, enfrentando as ondas das ilusões e desilusões, dos amores e dos desamores... Não tenho um barco e não quero um barco para navegar. Para mim, basta ser caminhante. E se não sou tão feliz como deveria ser, continuarei caminhando.
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Dei as costas ao barco sem olhar para trás, pisei firme na areia molhada e agora aqui estou, novamente navegando dentro de mim.
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Barra do Camaratuba, Mataraca-PB, 24/04/2011
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Barra do Camaratuba, Mataraca-PB, 24/04/2011
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NO TEMPO DAS VERDADEIRAS SEMANAS SANTAS
Daslan Melo Lima
Confesso que não gosto do que os novos tempos fizeram com o período da Semana Santa. Independente de religião, este é o período propício para retiros espirituais e reflexões, se bem que todo dia é dia para meditarmos sobre os mistérios da vida e da morte. Não gosto de ver na televisão reportagens mostrando as pessoas correndo para os paraísos turísticos, os noticiários das farras, as badalações e os verdadeiros carnavais fora de época que acontecem em algumas cidades.
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Houve um tempo em que as pessoas deixavam de fazer muitas coisas nas Semanas Santas: comer carne, arrumar casa, tomar banho, fazer sexo, cortar cabelo... Convenhamos que, em alguns casos, havia exagero, mas o respeito à semana em memória do sacrifício de Jesus Cristo norteava todas as atitudes. Nas Igrejas, cobriam-se as imagens de roxo. Nas casas, os quadros dos santos eram virados para o lado da parede. Nas emissoras de rádio, a programação musical era totalmente dedicada às músicas sacras e clássicas.
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Só tem um detalhe traumático nas histórias das Semanas Santas do passado. No meu tempo de menino em São José da Laje havia uma história fantástica: se o padre não achasse a Aleluia o mundo se acabaria. Lembro-me das beatas passando na frente da minha casa e minha mãe perguntando se o padre já tinha achado a aleluia. Que medo me dava saber que o mundo poderia acabar a qualquer momento. A Aleluia seria o que? Ninguém me dava uma resposta convincente. Seria uma gota de sangue de Cristo dentro da Bíblia? A Aleluia era um mistério. E só. Ninguém tinha que perguntar mais nada. Mistério era mistério. E depois tinha a procissão do encontro, um andor com Nossa Senhora e outro com o seu Filho carregando a Cruz. Moças lindas da sociedade desempenhavam os papéis de Verônica e Maria Madalena. E depois tinha outra procissão, a do Senhor Morto.
Os costumes e a cultura das Semanas Santas do meu tempo de menino provocaram alguns traumas e sentimentos de culpa em muitas crianças sensíveis. Eu que o diga. No entanto, mil vezes aquilo do que os costumes de hoje, onde tudo pode nas semanas que poderiam ter outro nome, jamais o de Semana Santa.
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Ontem, o menino que fui tinha medo de ver o mundo se acabar se o padre não achasse a Aleluia. Hoje, o homem que sou tem medo dos castigos divinos que poderão cair sobre uma sociedade de consumo que idolatra o Ter e ignora o Ser.
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Ontem, o menino que fui tinha medo de ver o mundo se acabar se o padre não achasse a Aleluia. Hoje, o homem que sou tem medo dos castigos divinos que poderão cair sobre uma sociedade de consumo que idolatra o Ter e ignora o Ser.
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Timbaúba-PE, 15/04/2011
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As fotos que ilustram esta crônica foram feitas pelo arquiteto José Maria Mattos, conterrâneo-contemporâneo radicado em Maceió-AL. As imagens sacras estão guardadas na sacristia da Igreja Matriz de São José da Laje-AL e são as mesmas que saiam nas procissões das Semanas Santas do meu tempo de menino.
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DOZE MORTOS E CENTO E NOVENTA MILHÕES DE FERIDOS
DOZE MORTOS E CENTO E NOVENTA MILHÕES DE FERIDOS
Daslan Melo Lima
A tragédia ocorrida na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, provocada por um rapaz de 23 anos, mereceu do jornal Diario de Pernambuco, edição de ontem, sexta-feira, 08/04/2011, a seguinte manchete 12 MORTOS 190 MILHÕES DE FERIDOS, seguida do texto confuso da carta deixada pelo criminoso.
Busco entender os caminhos que semearam trevas na mente e no coração de Wellington Menezes de Oliveira e me perco em teorias.
O outono do hemisfério sul, em silêncio, revela ao outono da minha vida que chegará o inverno e não verei a PAZ ocupar todos os labirintos do Planeta Terra, a não ser em sonhos.
Cento e noventa milhões de brasileiros estão perplexos.
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Timbaúba-PE, na madrugada de 09/04/2011, enquanto a chuva lá fora cai, torrencialmente cai, talvez chorando por mim, por ti, por 190 milhões de brasileiros perplexos.
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5 comentários:
Simplesmente " CRÔNICA FANTÁSTICA!!!" mas eu já esperava...
Simplesmente "UMA CRÔNICA FANTÁSTICA!!!" Mil Parabéns!
Daslan,
Essa estória de Achar a Aleluia eu tive conhecimento através de meu saudoso sogro, mas ele contava que a Missa só acabava quando o Padre achava a Aleluia na Biblia por isso que a Missa de Aleluia sempre acabava depois da meia noite. São essas coisas que tem no interior e que somente a gente sabe.
Parabéns grande Daslan.
Mais uma vez vc expõe a alma através das recordações da sua infância.
Mais uma crônica e uma lição para os leitores mais jovens entenderem aquilo que vc chama de "um tempo que se foi".
Marcas ficaram e tatuaram sua alma, mas as lições que vc transmite... que beleza!
C. Rocha
Floripa
Linda crônica, hj muita gente não dá o verdadeiro valor a semana Santa, quando devemos praticar a caridade e fazer o bem, (não só nesse tempo, claro)mas, esquecem a verdadeira mensagem desse TEMPO.
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