Daslan Melo Lima
PRÓLOGO
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Marta Rocha, a eterna Miss Brasil. (O CRUZEIRO) |
A baiana Maria Marta Haecker Rocha, ou
simplesmente Marta Rocha, o maior ícone da beleza brasileira de todos os
tempos, Miss Bahia, Miss Brasil e vice-Miss Universo 1954, é a deusa homenageada da semana. Nesta
primeira Sessão Nostalgia de setembro de 2012, rendo tributo àquela que no dia
19 deste mês estará celebrando idade nova. Reproduzo nesta matéria textos e fotos que as revistas MANCHETE e O CRUZEIRO
veicularam em suas páginas naquele distante julho de 1954, focalizando sua
eleição como Miss Brasil. Alguns trechos das reportagens são verdadeiros poemas.
À SOMBRA DE MARTA EM
FLOR
Miss
Brasil, Marta Rocha, leva para os Estados Unidos uma nova versão da beleza
brasileira. Loura e de olhos azuis: subvertida a tradição morena dos trópicos.
Não, ela não é morena, não encara a
clássica imagem da beleza baiana, sabendo a jambo e crosta de pão tostado,
gosto indolente de trópico nos olhos, nos cabelos, nas curvas que guardam
perfis de enseadas. Não é morena: os cabelos são louros: de tão ouro sonham
liquefeitas moedas antigas, topázios e abelhas, e o sol brilha e brinca nos
olhos lúcidos, nordicamente claros. Azuis? Verdes? Verdes, sim, cor de coisa
imatura, e, também do velho mar: reminiscências bálticas ou mesmo das simples
águas que lavam o litoral onde deram as caravelas do Descobrimento. Verdes
olhos, uns restos de Alemanha fulgindo nas pupilas equatoriais.
E as outras concorrentes? Lígia Beatriz,
gaúcha, de uma terra de mistura germânica e italiana, é morena, com a graça que
Deus lhe deu. E Patrícia? Patrícia pode ter mais solicitação de vida, a vida
rodeando-a de uma aura selvagem, explodindo violenta, numa afirmação de inusitados
apelos. Ela é um arremesso, um ímpeto.
Mas Marta, em Marta a vida é mais suave,
flui doce com uma canção do Reno. Não é uma beleza pagã, sim beleza em cultura
antiga, depurada em ouro e nórdicas mitologias. E isto também é Brasil. Porque
somos um caldeirão de etnias, fervendo tipos raros, faces diversas, sem imagem
fixa na sua ondulação mágica metamórfica. Oscilamos da morena cor de tâmaras às
claras levadas em auroras boreais. Assim Marta. Mãos de fada, sorriso de boneca
e corpo: estatuária viva, moldada artisticamente em matérias plástica
excepcional: a carne humana – o barro de onde saem deusas, ninfas, anjos.
(“À Sombra de Marta em Flor” - Franklin de Oliveira - O CRUZEIRO)
MISS
BRASIL VEIO DA BAHIA
A lourinha
baiana polarizou a atenção de todos, desde o início do desfile. Mocidade,
plástica, graça, beleza sem artifícios, Marta Rocha será nos Estados Unidos uma
digna representante da mulher brasileira. O júri acertou.
O concurso nacional promovido pelo Diário
Carioca e pelas Folhas de São Paulo, sob o patrocínio da Universal International
Films (que dará um contrato para o cinema à vencedora) terminou com a escolha
da Miss Brasil 1954, no dia 26 de junho último, na boite do Hotel Quitandinha.
Apenas seis finalistas estaduais se apresentaram: Lígia Beatriz Carotenuto (Rio
Grande do Sul), Dorama Cury Nasser (Goiás), Marta Rocha (Bahia), Baby Lomani
(São Paulo), Zaida Saldanha (Estado do Rio) e Patrícia Lacerda (Distrito Federal). Se o grupo era pouco numeroso, nem por isso
era menos expressivo... E as garotas se apresentaram ao júri, como de praxe, primeiro
em roupas de banho (atenção, não eram nem pareciam bikinis...) e depois em trajes
de noite. Houve também um contato individual com os juízes, pois, para o
resultado final, além da plástica, do rosto, da pele, dos cabelos, da elegância
no andar e no vestir, pesavam também a distinção de maneiras, a graça pessoal e
até a própria voz. Sete personalidades das letras e das artes formavam o tribunal
que escolheria a mias bela: o poeta Manuel bandeira, o pintor Santa Rosa, o
romancista Amando Fontes, a escritora Helena Silveira e os jornalistas Fernando
Sabino, Paulo Mendes Campos e Pompeu de Souza.
Não sabemos como decorreram os debates secretos
posteriores ao desfile, mas uma coisa poderemos afirmar: a decisão do júri veio
confirmar uma impressão que já se tornara geral antes de conhecido o resultado.
Até mesmo entre as candidatas só havia uma preocupação: a representante da Bahia.
E não era para menos, pois a baianinha loura era um desses casos muito sérios,
com a sua pele da cor do sol de Amaralina, os seus olhos em que parecem estar
refletidas as transparentes águas azuis de Itaparica, o seu corpo escultural de
menina-moça, o seu sorriso de dentes perfeitos, a sua graça tipicamente baiana,
tudo isso acondicionado num encantador volume de 1,70 m de altura, com 57
quilos de peso e 21 anos de idade. E assim foi que Maria Marta Hacker Rocha se
tornou Miss Brasil 1954 e está com a responsabilidade de representar a beleza
brasileira, entre dezenas de outras beldades estrangeiras, no concurso mundial
a ser realizado em Long Beach (Califórnia), na segunda quinzena deste mês de
julho. Marta é filha do professor da Escola Politécnica da Bahia, Engenheiro Álvaro
Pereira Rocha (ele talvez não se lembre de mim, mas eu me lembro dele e de suas
aulas de hidráulica, pois acontece que também sou baiano...) e da Sra. Hansa
Hacker Rocha. É neta, em linha materna, de alemães. Foi candidata no seu Estado
pelo Clube Baiano de Tênis (um dos melhores de Salvador) e pelo Clube Fantoches
(tradicional agremiação carnavalesca).***** ("Miss Brasil Veio da Bahia" - João Martins - O CRUZEIRO, 10/07/1954)
A BAHIA DE OLHOS AZUIS
Maria Marta Haecker Rocha, a Miss Brasil,
é baiana, tem 21 anos de idade e foi eleita Miss Bahia num grande concurso popular
realizado na Cidade de Salvador. Sua vitória foi conseguida com um total de
quase 200 mil votos. Apesar de baiana, é loura, herança de sua mãe, paranaense filha
de alemães. O pai de Marta – Prof. Álvaro Rocha, catedrático da Escola
Politécnica da Bahia – é um baiano autêntico. A menina nasceu na capital
baiana, no bairro grã-fino da Barra. E na beira da praia se criou: entre os
banhos de mar no Farol e o sorvete elegante no Oceania. Nota importante: Marta
tem seis irmãs, todas lindas e louras como ela. Algumas, já casadas, foram das
moças mais bonitas da Bahia. A Miss Brasil de 1954 representa, portanto, uma
linhagem de beldades. Poliglota – fala inglês, francês e alemão – Marta pretende
conseguir no grande concurso Miss Universo, em Long Beach, uma bela colocação. Quem
duvida que essa lourinha baiana venha a ser Miss Universo de 1954? Beleza e
graça não lhe faltam. Palavras de Manuel Bandeira sobre Miss Brasil: “Os olhos
da baiana são um poema, tem uma dentadura admirável, o corpo é de uma plástica irrepreensível
e os cabelos são louros, mas naturais, o que é raro hoje nesta época de
falsificações.”
A Bela e o Poeta - O poeta Manuel Bandeira, que presidiu a comissão julgadoras, consagrou Miss Brasil, após a proclamação, beijando as faces de Maria Marta Haecker Rocha, a loura baianinha vencedora.
Um júri de intelectuais escolhe a Miss Brasil. Seis homens e uma mulher escolheram entre seis candidatas a mais bela. O júri: Manuel Bandeira (poeta), Amando Fontes (romancista), Pompeu de Souza (jornalista), Santa Rosa (pintor), Helena Silveira (contista), Fernando Sabino (cronista), e Paulo Mendes Campos (cronista). Inédito: o júri sabatinou as candidatas com perguntas repetidas sobre literatura, geografia e arte.
A Bela e o Poeta - O poeta Manuel Bandeira, que presidiu a comissão julgadoras, consagrou Miss Brasil, após a proclamação, beijando as faces de Maria Marta Haecker Rocha, a loura baianinha vencedora.
Marta é francamente do mar. Uma vez foi
culpada de um naufrágio na Bahia. Acontece que pela praia da Barra passava uma
lancha cheia de rapazes. Marta sentada na areia. Os rapazes correram todas para
vê-la. A embarcação virou... ("Miss Brasil, a Bahia de olhos azuis" - Salomão
Scliar – MANCHETE, 03/07/1954)
EPÍLOGO
Marta Rocha nasceu em um 19 de setembro. A imprensa, na época do concurso Miss Brasil, divulgou que ela tinha 21 anos de idade. Como o certame foi realizado em 28 de junho, ela estaria com 21 anos completos, daí que, com base nas publicações, Marta teria nascido em 1932. Anos depois, em entrevistas, ela declarou que tinha sido eleita Miss Brasil com a idade de 18 anos. No livro Martha Rocha - Uma Biografia em depoimento a Isa Pessôa, a data do seu nascimento consta como 19/09/1936.
A beleza de
Marta Rocha continua através da sabedoria adquirida com as experiências da sua caminhada. Feliz Setembro, Feliz Aniversário, Marta Rocha, Bahia de olhos azuis!
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4 comentários:
Daslan,
se é verdade que para os cinéfilos e a indústria cinematográfica "nunca houve uma mulher como Gilda", numa referência a atriz Rita Haywworth, para nós brasileiros "jamais haverá uma outra miss como Martha Rocha". abraços.
Muciolo Ferreira
Vejo falar em Martha Rocha desde a infância. Na minha cidade fabricavam um pão, na padaria mais frequentada da cidade, que se chamava "pão Martha Rocha", recheado com goiabada.Sei que ela foi nome de tecido e letra de música.
Martha foi aplaudida de pé pelo público, no concurso Miss Brasil 2004, que comemorou o jubileu de ouro do concurso. Ela parece ser uma pessoa super acessível, já vi suas entrevistas em vários canais de televisão. Desejo que ela seja uma das juradas do próximo Miss Brasil, em Fortaleza. Será mais um brilhante para valorizar a festa.
Caríssimo DASLAN,
Falar de Martha Rocha é como ler um poema... é como saborear um sorvete de morango com creme de chantily! Que olhos azuis! Mais uma vez você arrasou na sua "Sessão Nostalgia"!!!
Abração
o brasil e isso mulheres notaveis de tempos e epocas.minha mae me apresentou marta rocha,adriana de oliveira,celice pinto marques,natalia guimaraes miss maria de lourdes silveira maria do carmo mulheres etrnas e vem leticia a s baena...u la la
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